Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ano novo ( O trago da seda)

Foto: Fernando Quevedo / O Globo

O que há de novo no ano novo
é o que há de bom no ano bom.
Que surpresa haverá dentro do ovo?
Qual cantiga haverá? qual é o tom?
O poeta já o viu dentro da gente,
escondido num cantinho sem ter som.
Todo dia é um ano novo emergente,
renovado no ano tempo como um dom.
O que há no ano novo é tão presente,
é o que está desde antes adentro à mente,
com o que já acostumamos de estar com.
Quando os fogos lá no céu espalham luzes,
nos avisam que a hora é a da felicidade.
Mas ela vem de aonde está, não vem de alhures,
externa apenas os sorrisos das verdades.
De comum o ano novo é uma festa
diluída nos desejos da cidade.
Das fanfarras que a alegria assim orquestra
soprem ventos de mais solidariedade.
Outrossim nos reinventamos nesse sopro
a que nos mesmos chamamos realidade.
Quanto mais a vida segue e ganha corpo,
mais inteira, mais soma, menos metade.
Sempre o ano novamente nos começa,
enquanto o outro finda dentro da saudade.



domingo, 23 de dezembro de 2012

Dos caminhos do amor.( O trago da seda)

               Salvador Dali- Poster : Winter and summer Patient Lovers-1973

Coração é terra imprecisa.
A conhece quem nela se aventurou.
Só quem sofre de amar o avaliza,
até o assina em nome desse amor.
Cada um fale do seu, mesmo à guisa
de desdenhar ou de haver valor.
Paixão é quando a alma se anarquiza,
vai ao chão, leva uma pisa.
A ilusão é água mole em pedra lisa,
e há quem diga que o afeto é uma flor.
Pobre é aquele que no amor economiza,
não se entrega, fica só, não alça voo.
A saudade é uma distancia poetisa,
e a solidão quando chega não avisa,
é um vazio de feitio sem calor.
O sorriso dos amantes é uma brisa,
tem segredos de olhar da Monalisa,
tem razões que a própria razão nem notou.






sábado, 22 de dezembro de 2012

O malabarista no circo da alma



De acordo com o movimento
pendular no círculo dos pratos,
há mesmo que se equilibrar
na atitude da sensatez.
A realidade ao se debruçar
total e inteira na ordem dos fatos,
faz girar a vida que se equilibra
em sua cigana rapidez.

Vai quase cai não cai,
segue seu mistério,
seu artesanato.
Gira como um passista
mestre nos critérios,
faz a sua vez.

Sendo o discernimento
próprio ao bom momento,
ou na acidez.
Requer bem mais atenção,
calma e coração,
como aparato.

Mesmo se estando triste,
e a tristeza  insiste
como embriaguez.
Segue, passo vai por passo,
construindo o novo
no sentido lato.

Pode parecer bem árduo,
dia a dia, ano a ano,
hora a hora, mês a mês.
Mas,  isso é o que fascina,
aflorar estima,
ativo e sensato.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Noturno (Banguelê)

Imagens obtidas pelo laboratório hubble da ag. espacial americana
                                                                                                                              
hoje estou apenas noite, sopro e silêncio.
Não resgato dúvidas passadas, nem afago o futuro.
hoje respiro a vida apenas guardada no tempo.
Poderia ter feito muitas coisas nele, mas não as fiz,
e ao não faze-las paralisei desejos, abdiquei relatos,
cometi erros financeiros, levei tombos, perdi razão,
guardei sorrisos, desdenhei abraços, briguei no salão.
Guiando a história contra a maré acumulei escuros, hiatos.
Do que nunca me coube em outra época, não sou eu agora.
Ao meu amor dedico o perfume da pele da realidade.
trago no peito rabiscos sem rescunhos.
Mas relato que a realidade é sonora, é grande.
Tão vasta é a sua capacidade que ela abriga os sonhos,
desses sonhos eu nunca me salvei.
Hoje estou apenas noite quietude e silêncio.
Lavado dos rancores, sem alegrias nem tristezas,
sem ignorâncias nem sabedorias,
leve e vazio de plenitude;
Estou imerso no real incomensurável dos fatos.
Apenas um homem e seu silêncio
esvaziado de coragem e de medo.
Apenas um homem composto de suas horas, seus dias,
um homem construído do seu tempo.
Mas se essa é a asa da vida, o tempo é um voo inacabado.
Ele sempre se reinicia, que sempre é outro,
sempre é novo, nunca se repete, tão pouco é urgente.
Não tenho passos largos, mas tenho caminhos á frente,
ando apoiado no coração, apenas homem,
apenas me trago, lanterna, dentro da noite.


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cheesecake ( Banguelê)

Fotografia: O Globo- Imagens/AFP -12-2012

No Pais do Bang-bang,
aonde a arma é sagrada,
liberdade lava a sangue
a infância desarmada.

O liberalismo à bala
Não cabe em eufemismo.
Na cultura mais privada
está  a origem do abismo.

Quando o valor das crianças
perante fatal cinismo
patenteia um mimetismo
perigoso e fatal;

Reproduz-se na matança
o tacanho niilismo,
emendando o civilismo
em armamento legal.

O ordenamento, a trança
do tecido social,
é permissivo no perigo
em favor do individuo,
faz da América o abrigo
do poderio letal.

Somente é a ponta da lança,
vista assim de modo tal,
conserva um terrorismo
de amplitude nacional.

Nas escolas, nos cinemas,
almejando o universal.
Qualquer mocinho oprimido,
qualquer desvio ao  normal
tem gatilho concedido,
apelo constitucional.

No Texas, na Califórnia,
em Oklahoma, na Flórida.
Luby's, Virgínia Tec, in memória.
Atlanta já não espanta
Amishs da Pensilvânia.
Wisconsin os acompanha.
Lá vai Rambo Columbine.

Em mira mal camuflada,
Batman do Colorado vai.
Ao massacre de Nevada.
A história só repete o"inside".
Com cristãos de Oakland,
os Sikhs de Oak Creek,
essa cultura e a sanha
Neo nazista do CheeseCake.




terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Espelho ( O olhar da carranca)


                                                                                                                                                                                                                               Fotografia: Carlos Amaral

Quanta força há no outro que eu precise,
por saber minha a maior necessidade?
Quanto do outro algo é a minha verdade,
que eu a reveja e absorva em mais reprise?
Qual a medida dessa adversidade?
Do que eu não sei, ele o saiba e me avise.
Pois ao invadi-lo cometo o meu deslise,
ao qual nomeio como afetividade.

Qual a energia que do outro tomo a mim,
fazendo-a minha, nessa força, em propriedade.
Sem saber mesmo qual motivo, meio ou fim.
Eu a permeio por fazer minha vontade
Qual a medida, na linha realidade,
dessa cobiça emocional forjada assim?
Domino a caça em que resulta tal butim,
quando o que é meu, quero no outro por saudade.




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vagas ( O olhar da carranca)

    Fotografia: Ai mar alto- Vitor M. F. Estrelinha

Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face,
sempre terá que tateia-la em si mesmo; Isso leva tempo.
Leva tempo para se construir um olhar.
Às vezes se parece com o nadar
em busca da curvatura do mar, nas dúvidas,
nas vagas marinhas  da humanidade.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Despignatari ( O trago da seda)

Fotografia: O globo 03/12/2012

Pignatari não é mais concreto
Agora está no céu de lona
                                                                                                                    Noigrandes grades Coca-cola
                                                                                                                    Nessa hora Décio cala e cola
                                                          Concretamente na memória
Semântica forma sonora
                                                                                                                 Plano piloto pouso repouso
Pleno ouso dizer Despignatari.
                                                                foi embora em Carrossel
                                                                                                                                                para o céu
Signo da linguagem.
                    Paraocéuparocéuparocéuparocéuseucéuparocéuapareceuparaocéuparocêparaocéuparaocéubeleleuparaocéuparaucéuparouparaocéu...


sábado, 1 de dezembro de 2012

Despertos ( O olhar da carranca)

  Fotografia: Quando tiveres medo lança-te- Vera Vilas-Boas

Nunca me foi permitido ter medo,
fraqueza diante da vida tão pouco.
A fragilidade  em mim, nesse enredo,
foi uma desconhecida desde cedo,
falando assim parece algo louco.

Porque o medo é senso necessário,
no mínimo para o abraço protetor,
fazendo o ser humano mais gregário,
mais gentil, mais ancho, mais solidário,
mais profundo na largura do amor.

Não me foi permitido, por degredo,
esse sentimento genuíno e puro.
Incapaz de desvendar o segredo,
decifrar tão mal desassossego,
ao vê-lo em minha amada fico duro.

Aonde a dureza é cega, há poesia,
e a palavra é pedra dura, é rochedo.
Mesmo não sendo aquela que eu queria,
pois não saber não serve à valentia,
acho que temo mesmo em arremedo.

Sentindo assim como caricatura
eu vou em frente, e acho, vai dar certo.
Porque a vida é a melhor ventura
proponho as fichas nessa assinatura,
resiliência é o que nos faz despertos.







quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Marchinha para o Joaquim ( Perna bamba é do samba)

.
Vai Barbosa...  click para ouvir
Charge do Aroeira


Vai Barbosa
Veste essa toga e mostra ao povo seu valor
Vai, vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Põe na cadeia quem virou corruptor
Vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Passa o rodo em quem foi um Mensaleiro
Vai, vai, vai Barbosa ...
Faça a faxina pelo povo brasileiro
É camburão...
-
Vai Barbosa...
Mostra pra gente que é valente sem perdão
Vai, vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Bota algemas no punho do Mensalão
Vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Põe na cadeia quem pagou quem recebeu
Vai negão, vai prosa.
Tem sol quadrado na quadrilha do Dirceu
É camburão... 
Vai Barbosa...vai, vai, vai, vai...
    

Va

sábado, 24 de novembro de 2012

Mocotó de Bacana ( Beco da fome)


Um caldo de mocotó
pode ser a solução,
para quem gosta de amar
mas falta disposição.
É bom pra desamarrar
trabalho de coração.
Levanta cobra morta,
do desejo abre a porta,
na mulher da aflição.

Precisa de um pé de boi,
dos quatro quero um só.
Lave, mas não ensaboe,
qual segredo de Ebó.
Esfregado no limão,
lavado com as próprias mãos,
bem serrado, bem cotó.
Essa água se lhe coe.
é mais benta, deus perdoe,
pois desmancha catimbó.

Bastante pasta de alho,
da melhor gosto depois.
Marinada em vinha d'alhos,
coisa feita, passo dois.
Facilitando o trabalho,
deixe soar qual orvalho
no vinagre de arroz.
Refogado de cebola,
ralada de forma atoa,
e anéis de alho Poró

Três tomates, sem sementes,
cortados em Brunoise.
Esse é nome bonitinho,
mas para encurtar caminho,
passando por essa fase,
pode cortar em cubinhos,
de jeito que a coisa case
da forma mais diligente.
Formando um fundo, ou base,
quando a vida da um nó,
pimenta do reino em pó,
saída de um moinho,
da branca é mais pertinente.

Uma colher de Urucúm,
mais dois cravinhos, ou um.
De alho a  mais dois dentes.
Um tanto em vinho branco,
de paio cortado um tanto,
nacos de lombo acrescente.
Uma pitada em cominho,
mais duas folhas de louro,
isso provoca um estouro,
abrindo qualquer caminho.

Deixe o pé descansando
no limão vinte minutos,
depois ponha a pressão,
para resultado astuto
atenção no fogo brando,
e agora é com o fogão.
Não pode errar na mão,
o tempo é absoluto.

Se cozinhando em trinta,
esse caldo é fervoroso,
acredite , a carne é linda,
de se comer bem gostoso.
Quando tudo acaba em gozo,
de se comer com tesão,
não há quem diga que não,
qualquer loucura é distinta.

Se o calor lhe sobe às tampas
com força de apitar,
é que a força é maior, é  tanta,
com o sal que vem do mar.
Mais um pouco só de amido,
para um caldo mais grosso,
Junte amigas com amigos.
Sem ser angu de caroço,
isso é mais que um colosso,
para  um santo Iorubá.

Com salsinha e cheiro verde,
um pouco de hortelã,
no chão, na cama, na rede
se ouve a flauta de Pan.
Mata a fome e mata a sede
de amor até de manhã.










quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Vida na dobra ( Perna bamba é do samba)

Fotografia: A voz do morro- Rodrigo molina

Levei minha nega para uma fita legal no cinema,
numa sala bacana e pequena lá perto do Galo.
Aonde a coruja dorme o barulho é a boca pequena.
Nesse bairro elegante e charmoso que é  Ipanema,
a levei com carinho pois eu sei que a santa é de barro.

A fita estrelava o Bezerra da Silva como ator na cena.
Ela disse vou ver esse filme porque ele é um desagravo.
Mas o samba povão deixou minha moça de fato grilada.
Ela chega a fechar os olhos por motivo de grande emoção,
quando viu na telona o sambista real na sua vida privada.

Na primeira cena, o começo, é ligado com um rabecão.
Eu falei: Minha nega o samba é coisa de gente bem séria.
Garateia de ideias do censo comum do mundo povão,
aonde a cultura rasga o verso no código João da Gomea,
quando a crítica vem do olhar afinado do homem peão.

Segue em frente o pagode tocado em cavaco de ouvido,
descrevendo o cotidiano do morro e de seus cidadãos.
Na caixinha de fosforo o toque é bemol sustenido,
despistando a lei que não vem com a macaca e o bandido.
Porque o bicho que pega aparece é com um Tresoitão.

O Jeitinho é a forma mais publica desses barretes.
Nas vielas e becos e bicos de tantas Catraias.
Solução é silencio melhor do que ser "caguete".
O Pagode provem desses duros e dos rabos de saia.
Minha nega se assusta com a justa nesses palacetes.

Essa laje elegante é pro samba do mestre  da obra,
a poesia ali esta longe de qualquer verbete.
O malandro é malandro e o mané é aquele calhorda.
ser gourmet é legal, mas na fome farofa de areia é banquete.
Quem não quer entender faz carinho no peito peludo da sogra.

Para sede do espírito um salgado e conhaque sovaco de cobra.
Quem discute a origem da erva é o Genoma semente.
Se tem gente safada no morro, essa gente manobra.
Pois procure mudar o olhar com a visão dessa fala latente,
sem ter constrangimento diante da vida na dobra.










segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A acrobata no circo da alma

                              Fotografia: O circo da beleza- Maba

Kãma fazendo o convite
ao instinto passional
Divindade em Afrodith
Fuga aos demonios de Lilith
Pior pecado capital
Anuket deusa do egito
Aonde Pan põe o apito
da alegria interracial
Sob as camisas de Venus
sopram os desígnos de Eros
sobram gemidos e berros
alguns mais e outros menos
Dionísico ritual
feito ao luar Muísca
impossivel a onanistas
Tlazotéotl imortal
Seja em que povo for
Sade é prazer na dor
Luxúria é Carnaval.
Mas ao fim dessa paixão
vazia vai sem virtude
quem dela vive se ilude
na solidão amoral.
.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O globista no circo da alma


Fotografia: Inclusão social já- Míriam  C. de Souza

O que digo pode ser bem duro, mas quem tem que lutar por dignidade todos os dias não possibilita perjuro. O que é vivo assim, tende mais cedo a ficar maduro.
Conquistar sua inclusão depende ademais da força diligente da valentia.
Para muitos a vida é a resistência de um enduro, é precisão de energia, é na pressão  da resiliência . Esses não têm tempo para futuro, descobrindo a existência no agora, na realidade sem anestesia.
Seja nos dias claros ou escuros, seja nos abusados absurdos, seja nas vilanias, nas tragédias, seja lá nos piores apuros, seja no que houver de comédia, Seja na hipocrisia dos turvos, seja nas ventanias das rédeas das minorias, nos muros mais indiscretos dos preconceitos burros da covardia de quem só fingia ser, na resistência de cunho absoluto.
O humano é a fonte e o desgaste da ecologia.
Se a vida no fundo é traquicardia, o criativo é passar pelo mundo sem a perda natural da alegria.





quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O Cospe fogo no circo da alma

Fotografia: O cospe fogo- Armindo Vicente

Ira não é coisa que se adquira
por conta de episódios.
Não se conta no relógio,
não se amarra com embira.

Não se vira nem revira.
Sentimento monocórdio.
Não contem troféu nem pódio,
nem visão. É erro em mira.

Também tem por nome ódio,
rancor, aversão ou fúria.
Diarreia tão espúria.
Doentio monopólio.

Pois quem o sofre sem saber
tem uma dor descomunal,
amargando o desprazer
de um pecado capital.






terça-feira, 6 de novembro de 2012

O elefante no Circo da alma

                                                                                     Fotografia: Elefante no Tsavo- Maria José T. Gonçalves

Gula é estômago compulsivo
Faz do afago digestivo
cerimônial glutão.
Um farnel farto e abusivo
ao paladar atrativo,
gastro gosto bem gordão.

À entrada vemos um aperitivo,
ao couvert já bem fornido,
Foie gras, vinho e pão.
Sem contar o prato da entrada,
depois vem macarronada,
pururuca no leitão.

Cinco chopes, Ciabatta,
muito azeite na Burrata,
ou até sardinha em lata,
para a gula é um quinhão.
Muito açucar com certeza
tem que ter a sobremesa,
sendo em calda é uma beleza,
chocolate, mel, mamão.

Quem degusta se entope,
tem glicose alterada,
tem pressão mais elevada,
muita massa, muito inhoque.
Se lhe cabe o escalope,
maionese com batatas,
ou maminha de alcatra,
é questão de puro enfoque

LDL é o cão
nas dietas mais erradas.
É questão de opinião,
um deboche na salada.
Tem gordura em profusão
no deguste da rabada.
Coronárias, coração,
são coroas complicadas.

Com o tempo as enzimas
param tudo, fazem greve
excedendo as proteínas.
exercendo a clara em neve,
indo mesmo ao suicídio.
Por comer mais que se deve,
por querer triglicerídeos.
a obesidade atreve.

Nesse aumento estomacal
elas são complexadas,
vão ficando mais culpadas,
no limite passam mal.

Se o sujeito come muito,
não evita o Vatapá.
Não despensa um torresmo
com bomba de Guaraná.
Até não caber no mesmo
cumbuca de Tacacá.
Contribui com o presunto,.
Para fechar o assunto
ainda come um Abará.

Pá de cal é aonde isso finda,
no final que coisa linda,
na cidade do pé junto.
Já sem sal, saúde míngua.
Boca em bolo de fubá.
Salivando até no olhar.
Pouca fala sem assunto,
que a língua é de mastigar.

Tal barriga na berlinda
fica tão descomunal,
devo dizer: Cabe ainda
acidente cerebral
alguns goles mais de Pinga
faz gordura acumulada,
por ter causa dilatada
em  pecado Capital.













segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A bruxa no circo da alma


                                                                                                            Fotografia: Retrato da bruxa-Flávio oliveira

Avareza é um medo pecuniário.
Uma falta, um déficit estrutural.
Com certeza vem do imaginário,
num profundo vetor solitário,
é temor inseguro e pouco original.

O acúmulo tem maior valor primeiro,
no apego retensivo ao bem material,
A sovinice sorrateira é ato pouco visionário,
até mesmo doentio, de cunho patrimonial.
Mesquinhez guardando o inteiro
afeto pelo dinheiro, de modo individual.

A avareza é uma praga
que seca o homem pelo centro,
todo o tanto é algo por cento,
seja por fora ou por dentro
ou qualquer forma de paga.
Ela carrega uma incerteza,
um pseudônimo de riqueza,
mas mendiga a falta de paz.

A avareza é a correnteza
vertendo sempre para dentro.
Guarda em si um mal tormento
se todo o gasto é ladravaz.
tornando  pobre ao avarento,
esse é seu grau contrassenso,
quanto mais guarda,mais falta faz





quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A contorcionista no circo da alma

                               Fotografia: A contorcionista Paulo Coimbra Amado

A preguiça é sempre a inquieta
e difícil arte de não fazer nada.
 É a ocupação mais completa,
é capacidade do atleta
focado em única meta
da essência desocupada.

Há que respeitar o seu ritmo,
olhando a vida com calma,
Potência de logaritmo,
é assim que ela é.
Ocupa dos dedos dos pés
até o fundo da alma.

A preguiça tem seus mistérios,
precisa concentração mesmo,
não basta ficar parado
com o olhar estacionado,
não é fazer nada a esmo.
É mesmo um assunto sério,
nem todos são preparados.
Para muitos há espinhos cardos
que impedem seus privilégios,
em muitos causa tenesmo.

Essa virtude tão sábia
por si já da tanto trabalho,
que muitos lhe metem malho,
que muitos lhe gastam lábia
contrários à sua batalha.
Os tantos querem cangalha,
ou murro em ponta de faca.
Depois reclamam do talho,
guardado em fronte grisalha.

Preguiça é o drible da vaca,
é a perfeição mais asceta
que a nossa vida arquiteta,
não tem erro, nunca falha.
Sendo atitude completa,
ela não permite atalho
onde o trabalho se meta
armando sua barraca.

Essa tão nobre atitude
não é dada a qualquer ser.
É preciso ter virtude,
É preciso merecer.
Ter latitude e longitude,
ou mesmo aptidão,
ser dono maior do tempo,
saber degusta-lo lento,
não o deixar ser patrão.

Qualquer movimento rude,
se o puder, faça não.
Acalme a respiração.
Cuidado, não se assuste
com o feitio do prazer.
Tenha-o por premissa,
concentre-se na preguiça,
deixe-a tomar você.







quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O levantador de peso no circo da alma

Fotografia: O circo III- Gustavo Longo

Mágoa é um ressentimento,
é tralha de fundo de sótão.
Crava seus dentes na gente,
queimando em larva candente
derramada no coração.

Concreto armado em silêncio,
construindo ao longo do tempo
um monumento ao descontente.
Pobre de quem o sente,
é um inimigo do perdão.

Tragedia interna e tardia
que dista do arrependimento,
na lenta dramaturgia
percorrida em passos lentos,
rumo ao culto do sofrimento
revido em mais solidão.

Resultado de um agravo
do qual se torna escravo
o fígado pertinente.
Chicana da afetividade
petrificada no vento.
Sua triste fisionomia,
ganha um maior acento
na solução sem solução




terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Mágico no Circo da alma

Fotografia: Da cartola!- Ribeiro


O orgulho é por si um autoimune.
Vagueia entre os olhos e a mente.
Para muitos é mal de semente,
quando é pura soberba impune.

É um ilusionista, o insolente,
quando ilude no que é aparente,
como jeito qualquer em que se arrume
outra força maior, e mas silente.

O orgulho paramenta um perfume.
Quando é altivez tem lá razão,
mas perdido, em defesa, é estrume.
Se é limite, é pobreza e presunção.

A arrogância é casca, um tapume.
Escondendo algo na escuridão
da cartola negra dos costumes,
nas couraças com odor de curtume,
depositárias de uma outra tenção.






quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Bailarina no circo da alma

Fotografia: Bailarina- João Pinto Vieira da Costa

Vaidade, essa criança sapeca.
Penteia-se junto ao espelho,
mesmo que sendo careca.
Prima dileta do orgulho,
tão solitária, é um balão.
Vive se vendo no céu,
vive seu mundo alçapão.
Quando é excesso, é entulho.
Quando sem corpo é barulho,
Quando sem faro é ilusão.
Essa levada da breca,
sempre vestida em vermelho,
pode quebrar-lhe o joelho
com seu charme de maneca.
Muitos lhe perdem as cuecas,
Por ela queimam salários,
causando males tão vários,
dor de barriga ou congestão.
Vaidade, essa boneca,
esconde o que introjeta
como sendo solução.
Porque dança essa bailarina?
Se na próxima esquina,
pode bem cair no chão.






segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O anão no circo da alma

Fotografia:Circo I- Gustavo Longo

A inveja é trêmula,
apequena, é falha de gosto.
Não tem aparente rosto.
Quando ataca não é amena.
A inveja quer do outro, o posto.
Não sabe cantar canção,
não pede, mete a mão,
age mal, parece encosto.
Ataca na escuridão,
essa mesquinha impúbere.
Deseja o que não tem,
tão infantil e insalubre.
Estéril fronte em alguém,
cuja arte é um desgaste.
Não soma, rouba uma parte
sem sombra e sem mesmo alarde.
Cuidados há que se ter
com o sentimento invejoso.
Não pode ser musculoso,
esse estranho jeito e prazer
de querer do outro o gozo,
e não dedicar repouso
enquanto não o puder ter.
Cuidado com o falso, amigo,
que por não conter umbigo,
não sabe o cordão romper.
Da mãe será  sempre um filho,
na falta de um estribilho
melhor que se possa dizer.
 Esse sujeito invejoso
cujo voo não sai do pouso
fica velho sem crescer.



sábado, 20 de outubro de 2012

Arco do tempo no circo da alma

Fotografia: Sequencia - André Cameron

O arco do tempo faz a memória
hereditariamente per si.
Excluindo quem dela é notória
deselegância  ao existir.
A conta final dessa história,
a qual vivemos por reproduzir,
nossa genética arbórea,
cujo Genoma nos diz
que uma sequente vitória,
codificada em diretriz,
faz da vida compulsória,
guerreira qual flor de lis.
Cuja única trajetória
nos destina a ser feliz.

Mas sendo contraditórias
as forças da realidade,
às vezes tem palmatória,
vem o dragão da maldade.
Não basta jaculatória,
Preciso é tenacidade.
Vivemos sem moratória,
o predestino é a senilidade.
Ao juizo é a declinatória
da Juventude na eternidade.
Por força eliminatória
uma e outra se invadem,
e essa luta por glória
nos destina à felicidade.







sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fome de ser ( Olhos nus)

Fotografia: Quimera olhando Eiffel- Gabriel Martins


Você tem fome de ser
um boque de belas cores.
Mas quantas e quantas dores
compõem de fato você?

Nesse perfume de flores,
comum a um cara, o que
um comercial de TV,
compõe nos seus bastidores?

Você não sabe o prazer,
de refazer os valores,
à luta dos estentores,
na voz que fala o sofrer.

Pareço mesmo uma fera
A monstruosa Quimera
das ilusões, são janelas,
pintadas em aquarela,
No coração de quem vê.

Quando seus beijos são lágrimas,
causadas assim tão cedo,
fotografo em mim o seu medo
de um vacilo matinê.

Não há lugar para lástimas
não cabe nenhum segredo
que se aponte com o dedo,
a um solitário Zabelê.













sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Corações e mentes. ( Banguelê)

Fotografia: Segurança em Manguinhos- Roberto Moreyra - O Globo/ 10-2012 

Abstração:   Operação intelectual por meio da qual se separam, apenas no pensamento, elementos ou aspectos de uma totalidade que não podem subsistir isoladamente. (Dicionário Aulete Digital).
...
A vida é em si mesma um absurdo, a natureza dela, pelo que se saiba até o momento, é privilégio do planeta terra. Agora, com ela se organiza é uma outra história.
Sendo gregário o ser humano se socializa para sobreviver  e exercer a mais importante tarefa que a natureza lhe confere, que é a reprodução da espécie.
Nessa organização social uma superestrutura se faz necessária, aonde as regras e ideais também são produzidas e reproduzidas seguindo as necessidades do grupo social a que se destinam.
A mais bem elaborada ideia , ou menos ruim forma de se organizar conhecida é a democracia e seu conjunto de preceitos e regras de convivência de um povo.
Mas, é importante salientar que sendo um atributo do plano das ideias ela não existe fisicamente.
Ninguém jamais a viu atravessando a rua Delfim Moreira vestida para ir á praia pegar um sol, O seu corpo escultural jamais foi observado de biquini jogando altinho na orla de Ipanema, nem tão pouco jamais alguém viu esta suposta senhora que por definição tem origem na Grécia, vestida com trajes de turista fotografando as ruelas da Comunidade do Pavão- Pavãozinho, agora oferecida nas agências de viagem como roteiro turístico Carioca.
Parece óbvio que isso não ocorra, Mas Porque?
A resposta também é óbvia: A democracia tem seu corpo na escultura das idéias.
É uma Abstração humana, Ocupa um lugar nas Ideologias, a saber, no pensamento.
Mas para que a sociedade possa viver essa abstração precisa, como qualquer bem, ser produzida e reproduzida de acordo com o grupo social a que se destina.
A forma mais refinada dessa reprodução se da na organização de uma outra abstração, o Estado.
Este não é diferente, também ele não é visto atravessando a rua a caminho da praia no posto nove de Ipanema, como não é visto em certas comunidades pobres ainda reféns da violência e do poder discricionário do crime.
O Estado nada mais é que uma forma de aparelhar o grupo social a que se destina para manter domínio e controle de acordo com interesses de produção e reprodução da vida de forma determinada.
Quanto àquela moça escultural jogadora de altinho, ou a velha turista Grega chamadas, ambas, Democracia, podem também elas não serem tão belas ou idosas quanto imaginamos, podem se apresentar mais feias, mal vestidas, pouco atraentes e até fardadas, e ou armadas, para o confronto em litígio.
A democracia esta mulher invisível, e o estado este Deus poderoso, na verdade são organizações humanas com especificidades que refletem o grau de reconhecimento que um povo tem de si mesmo.
Quanto mais agregado, quanto mais solidário, quanto mais educado, quanto mais participativo, mais cheia estará a praia aonde a musa Democracia vai se banhar, ou aonde essa senhora caminha com maior ou menor desenvoltura.
Quanto ao poderio do Estado, este se organiza de forma a atender aos interesses de quem? Como instrumento de força, vai dar significação às necessidades  sociais às quais representa. A pergunta que aqui se faz é: Quais são?
Se uma comunidade social se agrupa sobre o guarda-chuva da violência, se a nossa musa se apresenta mal trajada, acanhada, ou tem hábitos pouco sociais, estará ela encarcerada em dois tipos de habitáculo, a se observar:
Ou enclausurada em palácios, guardados por grades, excluídos em condomínios de elites, clubes fechados, carros blindados, e guardas, e regras, e insegurança, e guetos, num regime disciplinar diferenciado, ou na outra ponta estaremos diante de uma multidão de  excluídos não cidadãos, também enclausurados em comunidades sitiadas por milícias ou  em presídios, e regras de convivência mínima, e disciplina controlada pelo estado poderoso e indiferente, organizado por conveniência.
São dois pesos de uma mesma medida social, que se vigiam e se punem de modo  violento, e regras de agressividade brutal, assim de algum modo se completam.
O ideário dessa organização é a desigualdade, é a violência que assim se reproduz alijando como descarte humano aqueles que não são necessários à primeira vista, mas de fato estam contribuindo para o barateamento da mão de obra em ultima instância. São responsáveis pela desqualificação do trabalho e pela distribuição altamente concentrada da riqueza material.
A forma como isso se da ?  Esta intimamente ligada à correlação de forças que irão se espelhar na produção de leis. leis essas que serão aplicadas para atender a um maior ou menor grupo de poder, em maior ou menor peso, de acordo com as forças de interesses a que compõem.
Leis casuísticas não o são por acaso, ou incompetência de juristas ao produzi-las. Há quem diga que o acaso não existe.
Descaso social com suas variantes também não é coincidência.
O crime e o castigo são primos entre si, e se correspondem na frequência da organização  de um povo que se pauta não por sua inclusão, mas por sua exclusão. As diferenças de um regime reproduzem seus danos, as vezes de forma irreversível, em corações e mentes.







quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Hora tércia ( Banguelê)

Fotografia: Camões...-Tânia Almeida


Já se viu numa situação dessas?
Como se o mundo virasse ponta cabeça,
e a gente vivesse às avessas ?
O Talibã financeiro executando a Grécia.
Enquanto Cayman solar recebe outra remeça.
Um gol no Maracanã vai nos tirar da inércia ?
Não sei onde isso vai dar, nem bem aonde começa.
No flamboaiã Paqueta? No Aiatolá lá da Pérsia?
Se alguém quiser lá orar, deve se virar à Meca.
Morrer no jardim de Alá, aonde o Torá não versa.
Os clãs do mundo são o limo, são o destino da mércia.
O peixe que está no mar será a futura Muqueca.
Água de ser, camará, leio em Camões na hora tércia.







sábado, 6 de outubro de 2012

O olhar da Carranca ( O olhar da carranca)


Fotografia: olhar da Carranca-Ricardo Araujo

 Depois caiu a noite. No lusco-fusco da orquestra tocando Solamente una vez Pedro leiloeiro bateu o martelo, dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três, Vendido,  na existência roubada como cabrito assado enfeitado em laço e celofane na quermesse de paróquia dos preconceitos que viriam, era o começo de uma história.  Ele vai dizer que não, nenhuma história fica pronta ao ponto de findar lembrança, isso lhe bastava por tudo que já não havia escrito, no mais  a cerveja perdia espuma no balcão.
Frei Leto lhe vinha à memória com o colorido de seu sarcasmo franciscano e sua fisionomia jovial de Fradinho do Henfil.
O frade foi a primeira observação de que era possível viver com bom humor diante de dificuldades, o frei era feliz.
Ele se lembrava dos primeiros movimentos para superar a timidez, para recriar  condução própria, tinha um caminho rumo ao mar, havia muito que aprender a andar, pois o Porque se faz é andando.
Enquanto a tarde morria, a nova classe média funcional passeava pela calçada esburacada de pedras portuguesas, na esquina da Duvivier com a Barata o universo cosmopolita girava em tour.
Na banca de revistas o sol e o vazio dos leitores modorrava.
_Ai de ti Copacabana! Ele pensava.
Depois do terceiro gole pousara o copo americano na bancada, e no silêncio interno de si mesmo,  deu-se conta de que o tempo havia passado.
Já a muitos anos o Expresso Sayonara dobrara a esquina e contornara a praça Coronel Ramos rumo à estrada da memória, ao pó avermelhado do destino.
Chegada a hora de fazer o balanço geral dos sonhos nas contas da realidade, essa soberana implacável já reinara tempo bastante a se haver contar.
A vida se agrisalhara e a hora era essa, Ítaca sera passado, essa memória iluminada à luz de velas.
_Olha a vela...
_Olha a vela...
_Orai vela...
Serpenteava a procissão, enquanto os bolsos iam se enchendo com o peso das moedas. As notas miúdas daquela gente devota, também ela miúda e fervorosa, abasteciam a franzina fé financeira do menino. Eram os sonhos de brinquedo.
Enquanto a banda soprava um bombardino fúnebre e o surdo respondia com a dor das desumanidades, ele faturava sua própria infância mercantil.
_Olha a vela...
Diante da desventura do senhor morto, a alegria das primeiras mercancias era evidente naquele infante sem trono, sentia-se um gigante sem prumo.
Ele era diferente, haveria de o ser por toda a vida, estava descrito, era inevitável. Chamava atenção quando não queria, trazia a indiferença dos olhos na pele, nos passos, até nos ossos. Mas havia a esperança, a tecelã de todos os futuros.
A noite ardia à parafina.
_Senhor tende piedade de nós...
Como contar uma história cronificada de experiências e tentativas? O incerto fica encrustado por sobrevivência no inconsciente.
Como trazer o caminho à memória?
O apito do vapor aportara sua carranca trazendo rio acima a Bahia, Pernambuco, o Nordeste, a fome pendurada por cinco dias de farinha, de rede e lenha das caldeiras.
O burburinho geral no cais perfumava à boas vindas diante dos seus olhos.
Alguém haveria de chegar, algo haveria de acontecer, mas quem? O que?
Aquela gente morena, cansada e altiva, era tudo.
Subiam as barrancas do Chico buscando e trazendo vida, buscando e trazendo histórias, buscando e trazendo desejos. Eram pescadores, eram canoeiros, eram lavadeiras nas pedras, eram as lembranças do sabão Tingui, era o Brasil profundo, era ele, o próprio, trazendo na proa dos olhos o olhar dado das carrancas...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mergulho ( O trago da seda)

Fotografia: Quase pronto- Antônio Soares

Não se expõe ao ridículo?
Não tropeça no acaso?
Nunca trocou um passo?
Nunca pagou um mico?
Nunca foi um palhaço?

Nunca queimou o filme?
Nunca perdeu razão?
Jamais errou na mão?
Há algo que o desafine?
Quem não perdeu ilusão?

Quem nunca cometeu gafe?
Nunca deu maior mancada?
Quem nunca cai na cilada?
Quem não sofreu xeque-mate?
Quem não entrou na roubada?

Quem nunca pisou na bola?
Nunca foi um desastrado?
Quem nunca foi questionado?
Quem nunca disse e agora?
Quem nunca foi o culpado?

Nunca falou uma bobagem?
Quem nunca desdenhou fé?
Quem nunca foi um lelé?
Quem nunca manchou imagem?
Quem nunca falhou até?

Quem é total e desperto?
Sem um vacilo qualquer?
Quem é maior que Javé?
Ou é normal tão de perto?
Quem nunca caiu dos pés?

O erro é o pai do acerto.
Salvo o menor engano,
meu caro amigo fulano,
o ser humano  é conserto,
e o mundo é a falha do plano.


sábado, 29 de setembro de 2012

Poema do erro no amor ( O circo da alma)

Fotografia: Macrofotografia vs  soneto Vinícius de Moraes
Epígrafe do Poema dos olhos da amada de Vinícius de Moraes
.
Ah! Minha amada
que aos olhos sofreu.
Procura verdades
trocando metades,
como indo a Deus...
Tem desesperanças,
na contradança,
por erros meus...

Ah! minha amada
Não sou fariseu
Se acaso não sabe
a calamidade,
o desastre, sou eu.
Tão velho e criança,
quebrei confiança,
no que aconteceu...

Ah! minha amada.
Se o cristal rompeu,
abriu-se a cratera
na flor mais bela
do nosso apogeu.
O sal sobre a terra
sobrou a quem erra,
e o erro é meu...

Ah! minha amada
não me diga não.
Se todo o desgosto
distante e torto
te fere a razão.
Fiz triste seu rosto,
de alma e de corpo,
eu peço aqui perdão...




terça-feira, 11 de setembro de 2012

Prato cômico ( Beco da fome)

      Fotografia: Laranja mecânica- Telmo Ruy Fernandes

Não é caldo de galinha, não é Canja.
Não é nada que se sirva no almoço.
Mas tem casca, sem semente ou caroço.
Se parece mas não cresce igual toranja.

Não se pode definir, não há um laudo,
que nos diga se é bolo ou se é doce.
Eu não sei como  surgiu ou quem o trouxe,
Mas eu sei que é gostoso e tem respaldo.

Tem a massa bem cremosa de laranja.
Pedacinhos de um queijo  derretido.
Tem três ovos que devem ser bem batidos.
O açúcar próprio, a fruta  nos arranja.

Junte a tudo uma colher boa de amido,
com três xícaras bem cheias de farinha.
Ponha sal, bem pouquinho, a pitadinha,
bata bem até ficar tudo unido.

Não se esqueça de juntar também manteiga,
duas colheres que é para fazer a liga.
Tendo feito, vá com calma, vá sem briga.
Não tem nome mas não é receita leiga.

Sendo bolo, doce, ou antropológico,
o que importa é o prazer que á coisa cause.
Aprendi ouvindo um blues da Amy Winehouse
não esqueço do fermento biológico .

Unte a forma com manteiga por inteiro,
polvilhando com mais farinha  de trigo.
Ligue o forno e  o mantenha aquecido,
com água quente dentro de um tabuleiro.

Nessa forma jogue então a nossa massa,
sobre o fundo de uma forma uniforme.
Tendo tudo isso feito, e nos conformes,
cento e oitenta graus e a coisa assa.

Quem puder lhe dar um nome gastronômico,
que o faça porque o nome lá não tem.
É saboroso, é saudável e faz tão bem.
Na receita mais parece um prato cômico.




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Eu não vou desistir ( O olhar da carranca)

Fotografia: voo sincronizado- PPS

Os meus olhos trazem ao vivo
O que do mundo puderem olhar.
Observam teus olhos altivos
do universo da libido,
qual uma explosão solar.

Meus olhos estão contidos,
nos olhos que são os teus.
Meus olhos só têm ouvidos
para todos os mil sentidos,
de descortinar os teus véus.

Meus olhos não tremem sustos
com os barulhos dos céus.
Não fazem conta dos custos,
nem se escondem nos arbustos
das trilhas do mundaréu.

O amor que trago comigo
foi colhido no olhar teus olhos
neles colho meus sentidos
deles faço meus abrigos
nas tormentas dos abrolhos

Não temas medos antigos,
os vãos, as intrigas do tempo.
Estarei sempre contigo
aonde fores, a sigo
independente dos ventos.







quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Atenção ( O olhar da carranca)

Fotografia: Mau tempo, Bom tempo- Paulo Dias

Com a vida se passando, na escola do  simplesmente, é que pude desvendar em mim mesmo, aquilo que de mim não sabia; Pois dos outros tenho sempre a informação vencedora a título de realidade, é o aparente do mundo ao meu lado, nunca o velado.
Foi preciso acalmar assombros, foi vital soerguer escombros, foi legal aprumar os ombros e colher a minha própria solução.
Se a divergência é um universo, minha história é do caminho, do chão, sou divergente manifesto.
Foi preciso aprender a respeitar onde piso, para poder encaminhar mais acurada a atenção do que sou no tempo e espaço.
Foi com a vista se alastrando, com a força do destino, só assim pude laborar o acaso, me apoiando no então do improviso, foi assim mesmo, sem nenhum aviso.
Necessário foi, dissolver os grumos da vergonha instalada à revelia  do querer próprio, em água morna, para não encaroçar em ilusão, para não me queimar na fumaça da insegurança, foi pertinente ter opinião, ter atitude, Quebrar a ponta da lança com a minha ginga, com a minha dança, com a pulsação.
Meu tempo é de alegria, de não me afogar no caldo insossego e calado do mundo dos lamentos.
Foi com ciso que aprendi a tirar o guizo do leão do dia, foi com essa alegria, com sorriso, e com tesão.
Na vida é urgente ter peito para achar um jeito sem perder a mão, sem puxar o cão, sem fechar o coração; Nessa lida ponho os olhos nos olhos, ponho as mãos nas outras mãos, ponho corpo a corpo, e no amor presto muita, mas muita tenção.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Narciso S/A ( O circo da alma)

                                    Fotografia: Narciso-Brunna Guimarães


Escraviza-se no espelho
imaginário, sem o olhar,
no que se mantem de joelhos,
ensimesmado num altar.

Mas o escravo, por conselho,
não se espelha ao não se ver.
Nesse momento aparelho
sega os olhos ao prazer.

Num tal desvio, nessa onda,
flexiona o seu desejo.
Narcotizado, nessa lombra,
entorpece ao sombrear
a própria sombra,
em satânico cortejo.

Nas pedras paredes de Eco,
do erótico fulcro, o sobejo,
grita à ausência do objeto
tão aclamado, é um adejo.

Sendo o desejo o sabor
que se externa no alheio
no outro há de estar o veio
O doce e o leve do amor

Se a vida é de ser breve,
não se a perde em solipsismos.
Só narciso à imagem deve,
e a solidão é um abismo.
A beleza é uma tênue flor,
O tempo do amor é conciso










sábado, 18 de agosto de 2012

Um pão de Queijo e um beijo (Beco da fome)

                                                  Fotografia: Pão de queijo- Sandra Lapertosa

Vou dizer o que aprendi para aguçar o desejo
afrodisíaco souvenir, o afamado  pão de queijo
feitos por vovó Bibi, a quem de cá mando beijos.

Tem que ter três copos cheios alem da borda sem medo.
O beijo pode ser doce, mas o polvilho é o azedo.
Um óleo que já bem quente, a mais de um  copo, dois dedos.

Escaldada essa fécula com o calor do óleo quente,
deve-se também fazer, com outro tanto em água fervente,
para a goma então formar quase a massa eminente.

Pois que o bom sabor mineiro, seja o que se o aproveite
quem de água não gostar pode usar opção leite.
Uma colher vai de sal, que ao carimã se deite.

Observe o principal, que vem dar ao pão o nome
também é o fundamento do prazer de quem o come
Queijo Minas, Roquefor, Parmesão ou Provolone.
Mussarela, Emmental, misturado ou Mascarpone.
Qualquer queijo vale a pena para o tamanho da fome.

Depois disso vem os ovos, para início quebre cinco
No prato ou batedeira, bata e espume com afinco.
Junte tudo e mão na massa, nosso pão já vem surgindo.

Apalpe, amasse, aperte, use a força se quiser.
Sove, alise, deslize como em bunda de mulher .
Use toda a expertise, a massa pede, ela quer.

Depois, ainda batidos, mais três ovos e vontade.
Continue, mão na massa, até dar cremosidade,
dar leveza ao pãozinho, dar memória, dar saudade.
Para tal, ponha carinho, ponha amor, mas de verdade.

Feito isso não se esqueça de pré aquecer o forno.
Deixe-o quente, quente mesmo, ele não pode ser morno.
Pois se acaso ficar frio, a receita é sem retorno.

Prepare os tabuleiros para receber nosso pão
faça bolinhas esparsas usando as duas mãos
redondas ou ovaladas, a forma não faz questão.

Deixe espaço entre elas para haver crescimento.
ponha então tudo ao forno e dê tempo ao próprio tempo.
De vinte a trinta minutos sem abrir pra não ter vento.

Depois disso é a hora de retirar a iguaria.
Agora deixe ao descanso dois minutos na bacia.
Com café, suco ou chá, fiz o mimo pra Maria.







quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Aqui jaz Samba 1925-2012 ( Perna bamba é do samba)

                                                     Samba- Di Cavalcante 1925

O Samba tinha negritude.
O Samba tinha sol na saia
das femininas virtudes,
também de chapéu de palha.
No brilho a pele morena,
bem antes era toda nua,
o Samba ganhou a cena
nas roupas alvas e cruas.

O Samba era brasileiro
de corpos tão elegantes.
Pierrete veio primeiro,
22  e modernizante.
Antecedeu ao Pierrô,
sem ser menos importante.
Só depois Di Cavalcante
no Samba pôs azul cor.

Havia-lhe um sol maneiro,
pictórico no sabor,
tão mulato, tão inteiro,
cheirando a trabalhador.
À direita um violeiro,
ao fundo um estivador,
dois corpos luzem brejeiros,
são duas mulatas em flor.

Os homens sentados fitam
o que hoje é uma tristeza.
Fumaças ao fundo ditam
o destino dessa riqueza.
Queimada na intimidade
das coleções de cultura,
a irônica privacidade
do patrimônio é a clausura.

Na fuligem, no braseiro,
o azul virou fumaça.
Arquiva a Barata Ribeiro
mais uma ode à desgraça.
Perde um povo em ignorância,
as referências de laia.
nas paredes dessa instância
a relevância desmaia.

O Brasil perde altaneiro
mais uma peça notória.
Num destino traiçoeiro
O Samba virou memória
Do outro lado da praça,
quase de frente ao Metrô.
distante do olhar da massa.
a arte se suicidou.





domingo, 5 de agosto de 2012

Bolt

Fotografia- O globo

Zunindo como bala Colt
São pernas asas
Geniais de Usain Bolt
.

Silente ( Perna bamba é do samba)


Fotografia: Ausência - Inka


Ai como dói uma ausência  na gente,
como machuca um estrago de amor.
Quando eu trago um sorriso nos dentes,
tão somente evidente, escondendo a dor.
Se a alegria que vês é janela aparente,
tem semente em algo que machucou.
Essa festa do fim é dos quase contentes,
são as sobras frias e silentes de calor.
Como reflete esse espelho, essa lente,
mostrando o real fato no fino pente,
essa imagem restante, sem sal, sem sabor.
Nem de longe lembra as juras ardentes,
ai como dói esse fim comovente,
quando não se sabe sequer quem errou.
Nessa farsa em brinde o chope é quente,
quem saúda o ruim da paixão diferente,
quebra um verso onde a rima assim acabou.






quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Micróbio do Samba ( Perna bamba é do Samba)

Fotografia: Amor de Cavaquinho- PP de Almeida

Se o seu peito chorar baixinho,
com a sequencia afinada em Si,
vá nas cordas de um cavaquinho,
até a tristeza cansar, desistir.
Ouvir samba pode ser caminho,
para a vida voltar a sorrir,
no perfume sonoro do pinho,
um bom samba vai te redimir,
Cincopado ou no Miudinho.
No contágio maior da alegria.
Se o dissabor se tornar vizinho,
houver dor onde não mais havia,
deixe o samba assumir seus carinhos
melhor mesmo é cair na folia
e deixar o sofrimento sozinho.







Meia Boca (O olhar da carranca)

Fotografia: Verdades? Onde? João Zero


A vida como ela é,
pode bem vir a ser outra.
O tempo é uma porta aberta,
e o agora é coisa pouca.
Quem fala meia verdade,
guarda metade na boca.

Essa verdade encoberta,
se vista com acuidade,
silente,calada, quieta,
com face de coisa morta,
aparentemente incerta,
outra verdade denota.

Se uma parece incorreta,
a outra verdade é torta.
Uma na outra se infecta
numa atitude devota.
Se a primeira não despe fé
a segunda já pouco importa.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Bifocal ( A olhos nus)


                    Fotografia:Escrevo sem pensar- Skarlath


Meu ramo de atividade,
agora sem gritaria,
é fazer da poesia
a minha realidade.
Sem menor leviandade,
sem falsa aleivosia,
me sirvo dessa alegria,
talvez por necessidade.

É capa pra ventania,
fragmentos em clivagem,
blasfêmia contra a heresia,
coisa de alta voltagem.
Descarga de energia.
É lente à visão miopia,
luz de sol meio dia,
outro jeito, outra abordagem.


Nela eu busco valia,
unindo minhas metades,
nessa verbal cirurgia
destilo afetividade.

Até quando não queria,
em minha adversidade,
de mim ela faz serventia,
quando me invade.

A palavra em libertinagem
Vem como a teimosia.
Causada por bruxaria,
silenciosa e em alarde.
O inconsciente a guia,
da corpo, contagia,
na forma e fisionomia,
retraduzida em linguagem.







segunda-feira, 16 de julho de 2012

Laço vivo ( A olhos nus)

Fotografia: Quando a vida é cor de rosa- MLSP


O mundo dos laços cor de rosa, trazendo a vida às sérias
de mim fizera à Tirésias, prever femininas vitórias.
Na força afeita à alegria mais sólida e luminosa,
muito mais forte se cria à mais saudável trajetória
Carcinoma é anomalia da célula indecorosa,
que perderá teimosia, sumindo na ventania
como a erosão das falésias, perseverando as Magnólias.
No mundo, os laços das Rosas desafiando a insurreta crise,
o refazer é uma expertise estampada em peito e prosa.
Em cada novelo de linha, em cada ideal de cuca,
uma coragem novinha se alinha à nova peruca.
Revisionando as histórias, fortalecendo as meninas,
em preciosa auto estima a vida vem valiosa.
Nessas mulheres guerreiras há uma cadência zelosa
de ternura em laço rosa, ventura em boa companhia.
Se vida é coisa venosa, perpetuante é a cura.
E em cada olhar leitura o movimento se entrosa
Pois quem aposta na vida jamais a vê perigosa.
Na força que está unida à bossa de ser gostosa.
A vida boa de briga é a mesma vida dengosa.
Abram alas na avenida de abraços aqui e agora
São solidárias queridas com soluções amorosas.
Em atitudes proativas as moças dos laços rosa,
que sigam sempre altivas, de suas vidas senhoras.





segunda-feira, 9 de julho de 2012

Na lata ( O trago da seda)

Fotografia: Da lata- O Globo 14-07-2012

Quando eu me chamar saudade
Ja não serei mais que uma data
A vida não tem estorno, nem errata
ao fim, a aventura real é inexata;
Sujeita ao ajuste impuro da liberdade
Se saudade for, não serei bravata saudade

Mas enquanto eu me chamar idade
não passarei meu tempo em casamata.
Trago na pele madura a textura tacta,
sem a forca de seda e nu de gravatas.
De  encontros é o meu caminho, minha verdade.

De tantas outras  pegadas se faz estrada,
tão múltipla, e tão infinita é a veracidade.
Se ontem fui levedura, hoje sou pura nata,
a cada nova ternura, ou cada bala de prata,
sou ácido e o meu carinho é grão Ciabatta.

Em poema um ruim o verso não desata
perdido no pavio e meio da casualidade
sincronicidade,em Jung, parece mesmo cascata
Alguma coisa que lembra o verão da lata,
inundado num mar de alegria e felicidade regata








sábado, 7 de julho de 2012

Gabo ( O trago da seda)

                                Fotografia: Gabo- Alexandre Torezan
O fantástico de Gabriel faz história
no realista, o poder  de ser mais que o real.
Na língua branca paginada do  Latino papel,
lembranças perdidas não matam memória.
A imagem  literária tem escala anormal
ao trançar as alturas desatadas de um rapel.
Em cujas linhas o humor é a carta precatória
e o simpático Garcia assim se afia em jornal.

Da Colômbia Macondo a cor é do azul céu.
Vivem  avó desalmada e sua neta notória,
nas mágicas vestes verdes trópico bananal,
nos lombos de Arcádio caminha todo tropel.
Tais vidros de tais espelhos refletem a história,
Márques bem soube criar uma obra genial
nas sombras do amor dos tempos do cólera.
Assim, que mais ninguém escreva ao coronel


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Viva São João ( O trago da seda)

                                     Fotografia- noite de são joão- Cristina Neves

O frio é elegante na festa de São João
Laços e botas, chapéu de palha e terno.
Saias rodadas giram os tempos modernos,
sem terra é asfalto e passeata em  céu aberto.
Nas cidades se agregam a refinaria e o balão.

Desgraça pouca é uma bobagem atrevida
saltando fogueira e pisando os pés na brasa.
A natureza tem suas digitais corrompidas,
o fogo é de morro abaixo, a água é poluída
na desventura da realidade carcomida.
A vida dos ventos fica no crivo das asas.

Nesse instante de sanfona e de baião,
grande é a noite abraçando a madrugada.
Olha pro céu meu amor, diz o refrão,
chama e calor provento a solução.
Serei ao seu lado, mesmo caindo ao chão,
nocivas são as vias aéreas constipadas.

Brisas juninas pedem frio à madrugada.
Olhe para o céu que a tristeza acabou.
Full HD em lua despedaçada
na cinegrafia da imagem privada
há de haver quadrilhas imaginárias
pela mirada do olhar que as filmou.










terça-feira, 3 de julho de 2012

É aqui Ó ( Banguelê)

                                         Imagem - AFP


A partícula de Deus
brevemente anunciada,
esta em qualquer calçada.
Já seguem suas pegadas
os cientistas e eu.

Argila pré-animada
Fração de Prometeu,
Divina tese ao ateu,
última vela no breu,
pedaço de quase nada.

O universo é meu e seu,
na origem despedaçada.
Da ciência revoltada,
até a próxima Intifada
entre a Judeia e o Caldeu.

Nas explosões do Nobel
da ciência consagrada
a vida surge atinada,
sai dúvida enamorada
de como o universo se deu.

Da heresia de Galileu
até a última charada.
Por vaticínio a escada,
assim vai, sendo escalada
ao Bóson de Higgs europeu







segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mariatos ( Olhos nus)

                             Fotografia:Desejo de Arsénio Melo

Todo olhar é um desejo debruçado na janela
basta observar os olhos com o lustre da flanela
vai-se notar o salto ornamental que há nas ideias
Se os olhos falam tamanho, mais parecem tagarelas,
para quem os observa não existem palavras meias
Pois olhos sabem sorrir, sabem chorar, sabem ser veias
Os seus em particular me soam canto à capela,
bandeiras, são Mariatos falando entre o mar e a terra.


terça-feira, 19 de junho de 2012

O sol à mão ( Barril Diógenes)

                                    Fotografia: O sol na minha mão-Manuel Joaquim Bastos

Desejar ter amigos
não é ter amizades.
A acessibilidade
àquilo que é abrigo,
na essência e no perigo,
custa a afetividade.
Amigos de verdade
provêm duo arrimo,
sem o susto do limo
das adversidades.

Cultuado na saudade,
o afeto é um dom divino.
A amizade é um exercício
bem maior que seu desejo.
Projeção é só um almejo
do real, que é mais difícil.
Aonde o temor é vício
limita-se o solfejo.
À palavra branda,
uma outra é esbravejo.

Seguem o mesmo realejo.
Se a amizade se espanta,
é que a graça não é tanta
em um pequeno gracejo.
A amizade é um braço
antes do precipício,
ante o chão movediço,
a forma do afeto é um laço,
como a cama e o cansaço,
elo em ouro maciço.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Apresto ( O olhar da carranca)

                         Fotografia: Apresto-Antonio Costa
Minha vida não cabe em um pôster.
O meu corpo não gosta de palco.
Minha poesia não é um "Blocbuster",
meu verso descamba em socalco.
Se apenas é um manifesto,
não tendo censura ou recalque,
descrevo num rosto sem talco
as marcas que o sombreiam; De resto
não faço disso um embuste,
por mais que isso me custe.
Nem tudo que brilha é ilustre,
às vezes sobra o indigesto.
Tenho versos que parecem chiques,
tenho outros aonde eu não presto.
Como finanças a pique,
somo o descarte imodesto.
Com um Descartes moderno,
depois de os ler verifique,
o que lhe restou de apresto.


terça-feira, 29 de maio de 2012

É o bicho pagando( Perna bamba é do samba)


fotografia: Museu da Polícia civil 

Sobre o céu azul das terras brasileiras,
na asa delta do descobridor Cabral.
Nas cascatas e nas grandes cachoeiras,
tanta agua e tanta sede nos jornais.
Contra o vento banham muitos animais,
avestruz, águia, burro, borboleta,
nessa nau fantasma qual Catarineta,
o zoológico contábil faz Carnaval,.

Tem cachorro, tem cabra, e tem carneiro,
tem político atolado em atoleiro,
tem perilo, pirâmide, tem um mal cheiro,
empreiteiro fornicando no quintal.
Na corcova do camelo entra a cobra,
superfaturando a custo nossas obras,
Da cartola do coelho o capital.
Agneologia é algo escondido,
a cidade de Queiroz tem um zumbido,
tem cavalo dado com cela e estribo,
solapando o fràgil erário nacional.

Pra cacique cavalgar como elegante,
misto público e privado é gritante.
O elefante esta escondido no embornal.
Senador ganhando mimos de regalo,
esse almoço devo lhes dizer é caro,
cada cidadão aqui perde um galo,
para o gato ficar rico no final.
Desse jeito a sociedade é ré,
sofre o custo da mordida ao Jacaré.
Nos impostos, e em tantos outros custos,
onde a seca faz sofrer lá no Assaré.

Aonde a agua molha a mão mais que aos pés,
a saúde e educação tem gastos curtos.
É preciso desvendar a solução.
O desvio morde mais que o leão,
tem macaco pendurado no arbusto.
As divisas decolam do aeroporto,
depois voltam da offshore bem mais limpinhas.
São de ouro os ovos dessa galinha,
A tomada não é focinho do porco.
O ladrão de colarinho não tem rosto,
se me perguntarem, nego, eu digo não.

O meu voto anda valendo tão pouco,
colorida e azul é a calda do pavão.
CPI é um senado em fogo morto,
cheio de pau velho que já nasceu torto,
pleiteando a arte na televisão.
Nessa jogatina o pobre entra com o cu,
sete e sete à oitenta entra peru.
A gaiola das loucas toma o tesouro,
do eleitor presado que não é panaca.
A gente não tem cara de babaca,
aceitar isso é aparecer mais tolo.

É preciso tourear, vencer o touro,
é melhor chutar o pau dessa barraca.
Na vitória e no feijão ficam os louros,
para ver se a política progride.
Tantas fezes ha nos ombros desse tigre,
pois escrevo indignado com a caca.
Nos sabemos distinguir o amigo urso,
quando descobrimos  roubo deslavado.
Depois vem o senador e o deputado
dizer aquilo que lhes parece justo.
Às dezenas, ás centenas, blá, blá,blá.

Corrupção é algo feito em par.
Nas apostas desse assunto delicado,
servidor anda se servindo um bocado,
faz a vida na propina do milhar.
Ha mais chifre de cavalo em veado,
por consórcio os quatro lados são cercados,
dominando o sistema do cerrado,
basta olhar num sobrevoo ao governar.
Poesia é uma absurda maritaca,
a palavra é um bom drible da vaca,
conta a história do Real de algum lugar.















domingo, 27 de maio de 2012

Afago ( O olhar da carranca)

                                Fotografia: Afago Sereno- Pedro Antônio Scharam

Nasci da linhagem do anjo torto
das avenidas de nuvens, mas no fundo
o chão é a prótese do meu corpo.
O bonde que hoje passa, é perigo.
Expande o viés trágico do mundo,
nas máquinas doidas de caçar niqueis.
Cresci na aragem de pedra desse  porto.
Já o conheço tanto, já o conheço pouco.
Os que têm abrigo que se curvem,
a ousadia é mais que conforto.
No tempo da estiagem não trago sorriso morto.

Meu amor briga, quer paparico.
Ela tem dores até na alma, eu a sigo
aonde  o amor cala mais fundo.
Ah... minha amada, o amor é louco!
É aonde estão as asas, o resto é aborto.
Muitos amam mesmo é a si, e não ao outro.
Choram, sofrem, gozam o desgosto.
A tranquilidade é um susto, mas é algo rico.
Eu preciso ficar atento, meu amor quer  paparico.

Não tenho sete faces que embaralhem meu rosto
Não conheço nada fácil, às vezes me complico.
Num único olhar procuro deixar tudo exposto.
Ninguém leu a minha mão, o mundo é o ombro amigo.
Trago-lhe as flores da primavera de agosto.
Quem não tem coragem de amar, não põe o bico.
Deixando isso bem claro diante  do aviso rouco,
sei do sussurro do corpo muito mais que do grito.
Sei da vontade de amar se meu amor quer paparico.






sexta-feira, 25 de maio de 2012

Homepage ( O beco da fome)

                          Fotografia: Saudável- Willian Lana


O doutor tem o poder sobre mim nesta hora.
Tenho a saúde publicada num pedaço de papel.
Está escrito em pílulas o que de resto é o que me sobra,
o doutor é quem define o que mais vale como obra.
Impera aos rins o domicílio da acidez úrica, o fel.
A gnose adocicada da glicose faz agora mais um réu.

Como trio de ataque, me avançam os intrépidos glicerídeos,
dando ao nobre médico todos, fartos, tantos, gordos subsídios.
Pronto, o colesterol se afasta do que vale ser, é "Creu", normal !
Também ficam exilados os sabores do tempero que há no sal,
proibidas, sobretudo por pressão, as delícias evitando o Beleléu.

Alcaloides ficam por um tempo longe, quase todos suprimidos.
Carboidratos afastados, sem degustação ungida em boca e céu.
Quanto á carne avermelhada, já me sobra é somente o mugido,
do bom vinho vou sofrer a má sorte da ausência do tonel.
Tomates, rúcula, light orégano, as folhas buscam meus sentidos.

O que apraz ao meu regalo vai embora, se perde, some, é limbo.
Limítrofe ao chope, ao torresmo, aos sabores nobres da costela,
vou tentar trazer ao alquebrado corpo a saúde nova de menino.
Em estrofes minha vida é consumida no integral, sem as moelas.
Quem me vê cantando, pensa de fato estar indo tudo lindo.

O prazer de glutão da lugar à essa tal transaminase, em tese.
Pobre, em mim se instala agora um gastro irônico destino.
Vascular LDL se associa sendo agora mais gordura em greve,
Há que mudar tudo via a alface dominando o intestino,
ainda bem que me sobrou por fim a receita útil da Caprese.