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A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A contorcionista no circo da alma

                               Fotografia: A contorcionista Paulo Coimbra Amado

A preguiça é sempre a inquieta
e difícil arte de não fazer nada.
 É a ocupação mais completa,
é capacidade do atleta
focado em única meta
da essência desocupada.

Há que respeitar o seu ritmo,
olhando a vida com calma,
Potência de logaritmo,
é assim que ela é.
Ocupa dos dedos dos pés
até o fundo da alma.

A preguiça tem seus mistérios,
precisa concentração mesmo,
não basta ficar parado
com o olhar estacionado,
não é fazer nada a esmo.
É mesmo um assunto sério,
nem todos são preparados.
Para muitos há espinhos cardos
que impedem seus privilégios,
em muitos causa tenesmo.

Essa virtude tão sábia
por si já da tanto trabalho,
que muitos lhe metem malho,
que muitos lhe gastam lábia
contrários à sua batalha.
Os tantos querem cangalha,
ou murro em ponta de faca.
Depois reclamam do talho,
guardado em fronte grisalha.

Preguiça é o drible da vaca,
é a perfeição mais asceta
que a nossa vida arquiteta,
não tem erro, nunca falha.
Sendo atitude completa,
ela não permite atalho
onde o trabalho se meta
armando sua barraca.

Essa tão nobre atitude
não é dada a qualquer ser.
É preciso ter virtude,
É preciso merecer.
Ter latitude e longitude,
ou mesmo aptidão,
ser dono maior do tempo,
saber degusta-lo lento,
não o deixar ser patrão.

Qualquer movimento rude,
se o puder, faça não.
Acalme a respiração.
Cuidado, não se assuste
com o feitio do prazer.
Tenha-o por premissa,
concentre-se na preguiça,
deixe-a tomar você.







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