Depois caiu a noite. No lusco-fusco da orquestra tocando Solamente una vez Pedro leiloeiro bateu o martelo, dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três, Vendido, na existência roubada como cabrito assado enfeitado em laço e celofane na quermesse de paróquia dos preconceitos que viriam, era só o começo de uma história.
Ele vai dizer que não, nenhuma história fica pronta totalmente, ao ponto de virar somente lembrança, isso lhe bastava por tudo que já não havia escrito; No mais a cerveja perdia espuma no balcão e o calor de 40 graus á sombra, mordia a tarde com os dentes úmidos do verão Carioca.
Frei Leto lhe vinha à memória com o colorido de seu sarcasmo franciscano e sua fisionomia jovial de Comprido do Henfil. O frade foi a primeira observação de que era possível viver com bom humor diante de dificuldades, isso o fazia lembrar dos primeiros movimentos para superar a timidez e reinventar sua ergometria afetiva individual, tinha um caminho rumo ao mar, havia muito que andar, havia mais chão que pernas na poeira vermelha e seca de pedras do semi-árido torto e seco dos mineiros de Guimarães Rosa.
Migrantes trazem na bagagem um povo todo eclodido do ovo de sua história, assim se constitui como depositário de distâncias.
Enquanto a tarde morria, tendo o pescoço abocanhado pela noite , a nova classe média funcional passava pela calçada esburacada de pedras portuguesas na esquina da Duvivier com a Barata, na banca de revistas aquele sol e o vazio de leitores. Ai de ti Copacabana, ele pensava sisuda e embragadamente, enquanto observava a rua.
Depois do terceiro gole pousara o copo americano na bancada, e no silêncio interno de si mesmo, deu-se conta de que o tempo havia passado. Já a muitos anos o Expresso Sayonara dobrara a esquina e contornara a praça Coronel Ramos rumo à estrada, também esburacada da memória, e aos solavancos inevitaveis seguira o rumo incorreto do destino.
Chegava a hora de fazer o balanço geral dos sonhos nas contas da realidade, essa soberana implacável já reinara tempo, tempo bastante a se contar. A vida se agrisalhara e a hora era essa, Ítaca sera passado, essa memória iluminada à luz de velas.
Olha a vela..., Olha a vela... Orai velas...Serpenteava a procissão devota,enquanto os bolsos iam se enchendo com o peso das moedas, das notas miúdas daquela gente fervorosa e também miúda.
Abasteciam de fé financeira ao menino puro e sonhador, era o fetiche da mercadoria.
Enquanto a banda soprava um bombardino fúnebre e o surdo respondia com a dor das desumanidades, essa lhe furtava sua própria infância no exigir ambulante mercantil.
Olha a vela...
Diante da desventura do senhor morto, a alegria das primeiras mercancías era evidente naquele infante sem trono, sentia-se assim um gigante sem prumo.
Ele era diferente, haveria de o ser por toda a vida, estava descrito, era inevitável.
Chamava atenção quando não queria, trazia a indiferença na pele, nos passos, nos ossos, no aquiles semideus dos calcanhares. Mas havia a esperança, a tecelã preservada de todos os futuros.
Assim a noite ardia à parafina, Senhor tende piedade de nós.
Como contar uma história cronificada de experiências e tentativas? O incerto fica encrustado por sobrevivência no inconsciente. Como trazer ao caminho a memória?
O apito do vapor aportara sua carranca trazendo ao rio acima a Bahia, Pernambuco, o Nordeste, a fome pendurada por cinco dias de farinha, de rede e de lenha nas caldeiras. O burburinho geral no cais perfumava a boas vindas diante dos seus olhos. Alguém haveria de chegar, algo haveria de acontecer, mas quem?
Aquela gente morena, cansada e altiva era tudo, subia as barrancas do Velho Chico buscando e trazendo vidas em estado bruto, buscando e trazendo sobreviventes, eram pescadores, eram canoeiros, eram moleques nús magrelos e cabisbaixos, eram lavadeiras nas pedras, eram as putas pobres amarrotadas na juventude , eram as suas fomes todas, lavadas nas lembranças do sabão Tingui, do arroz quebradinho, gente de terceira, da argila do barro, cascalhos, era o Brasil profundo.
Na antroposcopia o homem se copia pela sua própria imagem, assim se percebe no outro, mas também nela pode negar suas diferenças por maior que seja esse contra- senso. Os iguais se incluem, se repetem, se organizam, se normalizam e se perpetuam petrificando -se. Aos desiguais a Indiferença exótica e excludente das adaptações ao desconhecido.
Nos paralelepípedos quentes o bater daquela chapa de aço nos sapatos, produzia um som estridente da silenciosa desigualdade, pesado em cada passo, O olhar penalizado penalizava mais, produzindo um misto de raiva e vergonha. Preço caro a ser pago por alguem Já homem apesar de menino; Já previsto e duro o impar destino. Os cuidados excessivos do exagero o incomodavam tanto quanto a ausência de zelo do olhar aterrador do alheio assustado.
Na indiferença chegavam os retirantes rumo ao sul para construir o milagre de concreto, quem são eles? Esses são os navegantes do Pau de arara fluvial. Para que servem? Braços da mão de obra, para atender ao milagre econômico da concentração privilegiada a se realizar ao sul escravocrata das maravilhas .
Na primeira triagem, à fila do trem, eram escolhidos os de melhor saúde, os que tivessem dentes, os de algum ofício ou maiores aptidões. Quanto aos outros, restavam, a sobra humana, o fim da linha, a mendicância e a loucura de Cheira homens dos excluídos, afinal o sonho do mundo é só um sonho, a realidade não é olfato para todos.
A seleção entre a especie humana se amplia de acordo com a magnitude do conhecimento e da cultura a que pertence o perfume carnal de anthropos.
_Você trouxe pão?
_Que bom!
O mundo lhe queimando a pele, o suor escorrendo pela têmpora negra, a juventude tendendo ao desânimo, o desejo era tempoário, apenas um gole de café, algo a mais era Vampira, nunca ouvira falar em Bertold Brecht, não possuía nenhum vintém, sorria largo e branco, tinha o nada, isso era tudo pela frente, alem da fome, é claro. Mas cheirava à dignidade...
Nada trazia de seu alem das próprias roupas, nada oferecia ao mundo alem de um sorriso branco, nada era além de uma personalidade deserdada e pedinte. _Você trouxe pão, que bom!
Viera do Kuêto em ancestralidade, se despossuía um tudo na vida, andava nas ruas com a altivez dos intocáveis, como uma rainha em seu mundo, falava pouco e educadamente, agradecia um café e um pedaço de pão, a felicidade resvalou alí por esse momento e isso era tudo.
Tempos cinzentos se costuravam nesses dias em que os sustos eram inadmissíveis e a coragem inevitável, capoeira onde as tropas e os fugitivos se mesclavam aos espinhos do Pequí da história. As nuvens se avolumavam em cinza, e um silêncio sem ar pairava no quintal.
As folhas das mangueiras pareciam prever a tempestade, enquanto os pássaros costumeiros se aquietavam. Apenas o perfume doce da manga rosa se atrevia invasivo nesse temor verde oliva.
A manhã do outono daquele ano não seria diferente, mais uma vez partiria sem vontade, mais uma vez se submeteria obediente às experiências heterodoxas dos doutos, mais uma vez. Mais uma vez seria responsável pela esperança alheia, apesar de sua pouca idade, mais uma vez a mala pronta, a cabeça a prêmio e a vida levada muito mais a sério do que se devia.
Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face, sempre terá que a tateiar em si mesmo, o apreender leva tempo, leva tempo para se construir um olhar, às vezes isso se parece com nadar em busca da curvatura do mar. Nas dúvidas, nas vagas humanas a onda é onda grande.
Inclusão é uma palavra ampla pois guarda similaridade com amplidão, como recepção em algo ou algum lugar, ou grupo, ou pluralidade. Quanto mais incluso mais homogêneo mais integrado mais afinado mais civil ou civilizado. Pessoa humana é um pleonasmo plasmado na possibilidade da sua própria desumanidade. Nas diferenças é que se constroem as civilizações, desagregação é diáspora, segregação é uma espécie de exílio interno e solitário, a rejeição é uma brutalidade exercida pelo medo; Viver em meio à brutalidade não é fácil, principalmente quando velada no silêncio aonde a humanidade se estranha aos seus...
Destino é um piso em falso, não é caminho, se não há comprometimento. O restante é natureza, o restante é sobrevivência, o que resta é a vida.
_Você trouxe pão? Que bom!
Hora da razão
A vida que se segue,
é a que a gente faz.
Por mais que a coisa pegue,
no pulso ela quer mais.
Da energia alegre
à ventania audaz.
Ela não tem air-bag,
por isso desapegue
do que não lhe da paz.
Por pouco que se enxergue,
o tempo sempre esvai.
Na carga sobre os ossos,
bacilos canibais.
Dos dias perigosos,
áridos e arenosos,
hashtags carnavais.
Dois olhos hoje laços
em latitude abraços,
e os restos são banais.
João bobo
Mais uma vez vem a noite e me abraça;
Quente com seus braços de bruma e breu.
E a invalidez me ronda a calma, inata,
como imagem que passa, somos ela e eu.
Uma têmpora maior que três dias me exclui
de alguma alegria reflexo, no espelho.
A história está feita, ou serei eu a refazer
de novo, como fora antes, e o será.
Ainda dizem as crendices populares
que um raio nunca cai no mesmo lugar.
Tudo que penso é que de novo não sei,
como de fato nunca me soube, num jogo.
Sou homem feito de minhas tentativas,
nenhum futuro me garante à frente por consenso.
Vencer recusas do corpo nunca foi tarefa fácil,
agora é o que me falta, é o que caminhar suspenso .
Não sei bem para onde, não sei nem como, se frágil.
Tenho que fazer o refazer da vida, não me açodo ao vento.
Às vezes tenho a impressão que há em mim um mar todo.
A teimosia, a faísca alma, a queda de um João bobo.
Assoalho pélvico
Para Helen, que busca dar forma ao pastelão
.
Quando o corpo em si limita,
encurta o rumo da estrada.
O comum é a vida finita,
no espaço que ela habita,
e no possível é reconquistada.
Por mais que assim seja aflita,
que a noite não seja bonita,
Há sempre um sol madrugada.
Sempre a esperança é esperada
n'alguma palavra que é dita,
diante da postura errada
perante o pó da passada,
haverá uma tal saída.
Haverá de surgir, qual do nada,
realinhando a prumada,
uma seta que diga siga.
Como algo em que se mitiga
o percalço da jornada,
aliviando a fadiga,
reabilitando essa vida,
como prendendo a mijada.
Em uma atitude amiga,
qual da Guiné venha figa,
com as mãos mais apropriadas.
Eu vou
Ijexá
Afoxé
Vou rezar
Vou ter fé
Abará
Candomblé
Vou voltar
a andar
Vou correr
qual Pelé
Nas calçadas
do mar.
Vou rumar
os meus pés.
Ver o sol acordar
Ver a lua mulher
Quem viver me verá.
Como um homem qualquer.
Vou daqui
Chego la
Caminho Guarani
eu vou te caminhar.
Bactéria doida
No teto o branco, sob a sanca, o lustre,
de cuja luz vazia escorre o tempo e só.
A vida para sua atitude, plena e física,
e a realidade contaminada, é tísica,
como é o bacilo a ser derrota, o Koch.
Nesse vazio reina a bactéria doida,
reina invasiva, lerda e lesionária.
Comum aos pobres povos ela se acoita,
entre o descaso e a saúde precária.
Invasiva, deletéria tanatológica e afoita.
Sob o teto calvo do homem resta a sede,
aonde o antibiótico é de domínio público.
Essa solidão madruga e tece tais paredes,
formando as janelas qual o vão mais lúcido.
Retirando a fórceps esse intruso súbito.
Quanta introjeção, fisioterapia,
lenta solução, falta de harmonia,
de cuja vazão jaz sentido único.
Tanta é a solidão, tanta é a alopatia
tanta é expectativa de uma solução.
A jogar no chão essa tal moléstia,
muita paciência, quase tibetana.
Quando isso é tudo o quase que me resta,
trágico contágio, desvirtude urbana,
fora com essa besta bacteriana.
Solo de cordas
Um solo Stratocaster abre a fenda,
por onde tu passaste, e foste embora.
Na porta a realidade ainda evapora.
E na solidão, o amor volta a ser lenda.
Qual sopro de um trompete, a alma é sonora,
e o humano coração que a entenda.
Das roupas devolveste só fazendas,
ficaste com o suor de quem namora.
Assim sobrou o menor que a encomenda,
pois vá buscar quem melhor surpreenda,
na corte o rei deposto não implora.
Ao fim nada mais há que se adenda,
outra que me ensine a fazer renda,
e a mim, somente a mim, sobrou o agora.
Calhau
Com o tempo e com peito aberto, é o que penso,
com a experiência viva das datas tantas passadas,
aprende-se, assim, a identificar preconceitos;
Quando lâminas afiadas na pedra amolada do silêncio.
Rasgam a realidade, de um só jeito, disforme.
evidente no que o corte é exposto e pre-propenso.
A nudez é trajada de medo do momento
a atitude é gritante e fria, mais velada.
A desumanidade individual humana toma assento,
ou é o que dela resta, como leito seco do prévio ou do nada.
Desce o rio que corre em silencioso intento,
de quem quer se socorrer no incorrer da falha,
e sem saber, já de pronto descortina a imagem revelada.
Soneto de então é natal
Chegou o Natal cheio de metades.
Ele é tropical, ele é tão presente.
Luzes na cidade. e o Assis Valente?
Pediu para a gente a felicidade.
Nesse o bom Noel veio mais urgente
na velocidade virtual dos tabletes,
nos Smartphones doces diabetes.
Tudo se consome em Shoppings emergentes.
Data universal para o Ocidente
Há o velho abraço, que una mais as partes.
Que o material seja menos comovente
E os afetos sejam mais alardes,
e que a gente seja só mais gente,
e o Natal mais solidariedade.
GPS_ Para Cláudio Upiano
A literatura é a tentativa,
ou mais, é a iniciativa
de criar um procedimento
constituindo rotas
para o pensamento.
No que podemos chamar
de amplitude maior
dos passos do homem,
em um processo
de coordenadas para a vida,
na impossível retenção
da viagem humana
no tempo espaço.
Alem do limite contemporâneo
há um pré e um pós
em qualquer tópico
ou ponto ótico.
São bases, são suposições,
das afinidades históricas
e das finitudes existenciais,
nada menos e nada mais.
O analfabeto funcional
O analfabeto funcional
tem sua consistência política,
quebrada na rua a pau
de forma bem pouco artística.
Maracanã sem geral ,
família sem hospital,
escola vai muito mal,
parou o trem da central,
como é que ele se explica?
O analfabeto funcional
sabe aonde a corda estica,
ficou sem plano real,
não sabe ler um jornal,
falta-lhe o fundamental,
mas bem conhece o lalau,
e quer saber como fica.
É o cenário nacional.
No que é consciência crítica,
tem gente que sabe os clássicos,
tem gente que vê Fantástico.
tem gente que é o escambau.
Com seu salário enxuto,
Sem inclusão digital,
põe fogo no matagal
e são chamados de brutos.
A classe C, alijada,
se mostra bem calejada,
na força provoca sustos
enquanto ganha merreca.
Joga as pedras das calçadas,
Vê Dólar em outra cueca,
no tanto que a PEC peca.
melando a marmelada.
No tanto que diz não sei,
desconhece a cura gay.
Ao pobre só resta a lei,
da farda ou da Milícia.
Sem ter a doce delícia,
tão sub- reptícia,
explode como seus custos.
Cansada dos três e vinte
Grita forte: É o seguinte!
Levanta-se contra o acinte
deseja um Brasil mais justo.
A multidão, como em Meca,
não quer mais corrupção.
O que ela quer é escola,
não aceita bolsa esmola,
quer ter mais educação.
Enquanto quebra a vidraça
mostra o quanto perdeu graça,
vandalizando a questão.
Desnuda mais um mistério,
quer público o ministério,
e grita com o pau na mão.
Escolhe quebrar o banco
enquanto o banco lhe quebra.
No ato que foge à regra,
o milagre perde o santo.
O povo é o bem de raiz
que reconstrói o pais.
Povo, mais povo em fúria,
um ao outo vis a vis.
Renega assim os desmandos
da politicagem espúria.
Explode em força e bando,
assim descobre o manto
social das suas penúrias.
Deixando de ser passivo,
com sua voz de gigante
todo o Brasil grita vivo,
heroico e retumbante.
Esse ato forte é ativo
entra na história e nos livros,
de forma pura e nua.
Um aviso, é um aviso, é um aviso.
É o povo tomando as ruas
exigente e importante.
É o povo, esse gigante,
é vasão, é um povo vivo.
Autorretrato
No real impregnado mergulhei o que sentia.
Craquelê do observado, no mundo fiz moradia;
Desse caco apaixonado entrei noite e sai dia.
La no aonde tudo é certo meu errado principia.
Quando dói fico calado então a língua me afia.
Quando choro o meu choro tem o cloro da azia.
Do amor que trago tanto contrabando a alegria.
Se alguns dos meus recados tem sua fisionomia,
de mim mesmo é que lhes falo se o invento é a poesia.
O mundo da lua
Ponho meus pés na rua,
já me observam os carros.
Dura natureza de ferro.
Gritam seus códigos berros
na algazarra confusa.
Ponho minhas pernas duras
nos caminhos sem anteparos.
Tropeço meu olhar na lua,
que humanizada é gazua,
para um poema de Manuel de Barros.
De outra maneira
O ato ultimo pode ser tão forte,
na vida a coisa final, derradeira.
Um pai deve achar seu norte,
quando ao filho se lhe chama a morte
e do mundo leva embora a um menino.
Lembranças sejam o que lhe conforte
no vazio da forma a mais inteira.
Desse desvio em tamanho porte,
a natureza humana inverte o corte
e a esse pai elege a tal destino.
A dor tem nela mesma o aporte
da energia, a força na algibeira.
Se a cobra vida preparou o bote
faço da rima a estima frente à sorte
e o abraço, em alma, dessa outra maneira.
Muito obrigado
Para Maria da Conceição Fernandes e Márcia Mendes
Ainda é assim mesmo, diante de uma dificuldade.
Soando como um solfejo elegantes com suas forças
ouço vir duas mulheres encantadas de habilidades.
São duas damas inteiras, duas personalidades.
Unidas por causa alheia, avante vão essas moças,
com atos de tal grandeza, transcendem humanidade.
Ainda, é assim mesmo, que a mim a vida as concede,
sou gratidão em apreço, não sei se tanto as mereço
atitude que não se esquece, afeto que não tem preço.
Venha-lhes por tal bondade, grandeza de coração,
muito em tudo a felicidade por conta dessa razão.
As duas somam em mim nesse ato que agradeço
pela frente pelos lados por fora, dentro e avesso.
O homem, companheiro, pai, poeta e amigo, calados,
esperam que a gratidão a dizer pelo ancho abrigo
caiba na simplicidade, pequena, de um obrigado.
Dois cérebros combativos, exemplos de atividade.
Que bom te-las ao meu lado, conforto trazem consigo.
Nada nelas é pouco, são lindas, o são de verdade
dois corações criativos, exemplos, solidariedade.
Forno íntimo
Meti a mão na cartola
e não saiu o coelho.
Corri no fio das horas
do esmeril do ferreiro.
Bati no ferro a bigorna,
busquei mil e um conselhos.
Tentei fazer a macumba
mas me faltou o terreiro.
Desfilei em cinco escolas
e não achei o pandeiro.
O pique não vai embora
porque ombreia o guerreiro
É a minha vida na mola,
na correria danada.
Agora é que fuma a cobra,
dentro do cesto enrolada.
Se a roda não colabora
com os buracos da estrada.
Não adianta revolta,
não adianta intifada.
Zerando no noves fora
a conta não está fechada.
Dentro do calor do agora
a solução é assada.
Transferência
Perdi o sono e o sonho
produtos de uma minha alegria.
Cujo consumo tão rápido
foi raptado nos fatos do hoje em dia.
Tudo se foi, eu suponho,
qual juventude da mercadoria.
E hoje eu me recomponho
do conteúdo trágico,
de um real que eu não queria.
Mas, o negar por ser medonho,
ou no mínimo enfadonho,
não mesmo, não poderia.
Portanto minhas mãos lhe ponho
resoluto e pragmático.
Vou fazer desse antipático
uma outra fisionomia.
Dessa prisão, com a teresa,
sairei virando a mesa,
transformado em valentia.
Resgatando com magia,
com a força que há na certeza,
do tombo farei firmeza,
do estrago sabedoria.
Acabada essa tristeza,
não haverá tibieza,
Eu vou fazer o outro dia.
Direto ao ponto
Há um poema em teus olhos de enamorar, neles é que me deito com a força da chuva da noite, neles me deito com essa herança negroide das constelações, neles faíscam uma história que é tua e a quero minha.
Há alguma coisa nesses olhos que foi tecida na memória, como uma luz de estrela que brilha, quando no tempo tirita luz, mas ela já está morta e na lembrança continua.
Mesmo nesse momento o amor é tua trajetória. O enamorar desse momento é um trato de nobreza em um corpo de rainha.
Nobreza de palavras querendo explodir grandezas, como as estações ensolaradas de simplicidade e de alumbramento.
Não,não, não e não! Não há frigidez, mas fluidez de teu afeto.
Não há rigidez na tua voz de natureza divina e bela.
Ah! Esse poema de olhos a assaltar teu rosto e te dominar a fala.
Agora fala, fala qualquer coisa a um poeta cego, fala qualquer coisa, mas fala!
Diz o que aos teus olhos te pareça certo, que em teus lábios a palavra é sorriso.
Costure teus versos com elas. Uma a uma, outra e outra, frase a frase, quando a quando.
Eles são quentes e sol, são precisos e mar, eles derretem granizo, eles ecoam no ar.
Os teus poemas de crônicas de almoços de domingo, ainda os trago no palato, ainda os trago num tinto. Há um, sempre fugindo desses olhos de abraçar, há um sempre florindo na feira de quinta.
Um há, o sei, de me olhar de esgueira.
Esses são teus olhos de andar por, esses são os olhos de desanuviar cegueiras, brilho que os meus vão de encontro.
São os olhos do meu amor, que os tem servido direto ao ponto.
Uma dose
Minha poesia tem o interior desvairado.
Seus significantes fogem da cadeia nos versos.
Deixando em sobressalto e abertos os significados.
Nesse desatino de sujeito, então, miro o diverso.
Ela se apropria dos signos e os revira, os distorce
para um outro olhar diferente. Mais liberto.
A quem os sentimentos decifre, ou chegue perto.
Meus versos são um veio, ou são só um recado
para esse olhar ao alheio, mais aflito de gnose.
Na solidão de um saber mais aberto, disserto.
Eles que sirvam de pequenas doses.
Estivando as palavras para outros barcos.
Reanimando objeto, nenhum eu fica vazio.
A história é o segredo, da minha aldeia,
a memória é o que sou, é o leito do rio.
Pavio que se transmite em poderio não alienado.
Quando vista em pertinência e atavismo,
toda linguagem abriga em si o seu abismo.
Mas antes, decerto, tece seu abraço emaranhado.
Espelho
Quanta força há no outro que eu precise,
por saber minha a maior necessidade?
Quanto do outro algo é a minha verdade,
que eu a reveja e absorva em mais reprise?
Qual a medida dessa adversidade?
Do que eu não sei, ele o saiba e me avise.
Pois ao invadi-lo cometo o meu deslise,
ao qual nomeio como afetividade.
Qual a energia que do outro tomo a mim,
fazendo-a minha, nessa força, em propriedade.
Sem saber mesmo qual motivo, meio ou fim.
Eu a permeio por fazer minha vontade
Qual a medida, na linha realidade,
dessa cobiça emocional forjada assim?
Domino a caça em que resulta tal butim,
quando o que é meu, quero no outro por saudade.
Vagas
Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face,
sempre terá que tateia-la em si mesmo; Isso leva tempo.
Leva tempo para se construir um olhar.
Às vezes se parece com o nadar
em busca da curvatura do mar, nas dúvidas,
nas vagas marinhas da humanidade.
Despertos
Nunca me foi permitido ter medo,
fraqueza diante da vida tão pouco.
A fragilidade em mim, nesse enredo,
foi uma desconhecida desde cedo,
falando assim parece algo louco.
Porque o medo é senso necessário,
no mínimo para o abraço protetor,
fazendo o ser humano mais gregário,
mais gentil, mais ancho, mais solidário,
mais profundo na largura do amor.
Não me foi permitido, por degredo,
esse sentimento genuíno e puro.
Incapaz de desvendar o segredo,
decifrar tão mal desassossego,
ao vê-lo em minha amada fico duro.
Aonde a dureza é cega, há poesia,
e a palavra é pedra dura, é rochedo.
Mesmo não sendo aquela que eu queria,
pois não saber não serve à valentia,
acho que temo mesmo em arremedo.
Sentindo assim como caricatura
eu vou em frente, e acho, vai dar certo.
Porque a vida é a melhor ventura
proponho as fichas nessa assinatura,
resiliência é o que nos faz despertos.
Atenção
Com a vida se passando, na escola do simplesmente, é que pude desvendar em mim mesmo, aquilo que de mim não sabia; Pois dos outros tenho sempre a informação vencedora a título de realidade, é o aparente do mundo ao meu lado, nunca o velado.
Foi preciso acalmar assombros, foi vital soerguer escombros, foi legal aprumar os ombros e colher a minha própria solução.
Se a divergência é um universo, minha história é do caminho, do chão, sou divergente manifesto.
Foi preciso aprender a respeitar onde piso, para poder encaminhar mais acurada a atenção do que sou no tempo e espaço.
Foi com a vista se alastrando, com a força do destino, só assim pude laborar o acaso, me apoiando no então do improviso, foi assim mesmo, sem nenhum aviso.
Necessário foi, dissolver os grumos da vergonha instalada à revelia do querer próprio, em água morna, para não encaroçar em ilusão, para não me queimar na fumaça da insegurança, foi pertinente ter opinião, ter atitude, Quebrar a ponta da lança com a minha ginga, com a minha dança, com a pulsação.
Meu tempo é de alegria, de não me afogar no caldo insossego e calado do mundo dos lamentos.
Foi com ciso que aprendi a tirar o guizo do leão do dia, foi com essa alegria, com sorriso, e com tesão.
Na vida é urgente ter peito para achar um jeito sem perder a mão, sem puxar o cão, sem fechar o coração; Nessa lida ponho os olhos nos olhos, ponho as mãos nas outras mãos, ponho corpo a corpo, e no amor presto muita, mas muita tenção.
Eu não vou desistir
Os meus olhos trazem ao vivo
O que do mundo puderem olhar.
Observam teus olhos altivos
do universo da libido,
qual uma explosão solar.
Meus olhos estão contidos,
nos olhos que são os teus.
Meus olhos só têm ouvidos
para todos os mil sentidos,
de descortinar os teus véus.
Meus olhos não tremem sustos
com os barulhos dos céus.
Não fazem conta dos custos,
nem se escondem nos arbustos
das trilhas do mundaréu.
O amor que trago comigo
foi colhido no olhar teus olhos
neles colho meus sentidos
deles faço meus abrigos
nas tormentas dos abrolhos
Não temas medos antigos,
os vãos, as intrigas do tempo.
Estarei sempre contigo
aonde fores, a sigo
independente dos ventos.
Meia boca
A vida como ela é,
pode bem vir a ser outra.
O tempo é uma porta aberta,
e o agora é coisa pouca.
Quem fala meia verdade,
guarda metade na boca.
Essa verdade encoberta,
se vista com acuidade,
silente,calada, quieta,
com face de coisa morta,
aparentemente incerta,
outra verdade denota.
Se uma parece incorreta,
a outra verdade é torta.
Uma na outra se infecta
numa atitude devota.
Se a primeira não despe fé
a segunda já pouco importa.
Apresto
Minha vida não cabe em um pôster.
O meu corpo não gosta de palco.
Minha poesia não é um "Blocbuster",
meu verso descamba em socalco.
Se apenas é um manifesto,
não tendo censura ou recalque,
descrevo num rosto sem talco
as marcas que o sombreiam; De resto
não faço disso um embuste,
por mais que isso me custe.
Nem tudo que brilha é ilustre,
às vezes sobra o indigesto.
Tenho versos que parecem chiques,
tenho outros aonde eu não presto.
Como finanças a pique,
somo o descarte imodesto.
Com um Descartes moderno,
depois de os ler verifique,
o que lhe restou de apresto.
Afago
Nasci da linhagem do anjo torto
das avenidas de nuvens, mas no fundo
o chão é a prótese do meu corpo.
O bonde que hoje passa, é perigo.
Expande o viés trágico do mundo,
nas máquinas doidas de caçar niqueis.
Cresci na aragem de pedra desse porto.
Já o conheço tanto, já o conheço pouco.
Os que têm abrigo que se curvem,
a ousadia é mais que conforto.
No tempo da estiagem não trago sorriso morto.
Meu amor briga, quer paparico.
Ela tem dores até na alma, eu a sigo
aonde o amor cala mais fundo.
Ah... minha amada, o amor é louco!
É aonde estão as asas, o resto é aborto.
Muitos amam mesmo é a si, e não ao outro.
Choram, sofrem, gozam o desgosto.
A tranquilidade é um susto, mas é algo rico.
Eu preciso ficar atento, meu amor quer paparico.
Não tenho sete faces que embaralhem meu rosto
Não conheço nada fácil, às vezes me complico.
Num único olhar procuro deixar tudo exposto.
Ninguém leu a minha mão, o mundo é o ombro amigo.
Trago-lhe as flores da primavera de agosto.
Quem não tem coragem de amar, não põe o bico.
Deixando isso bem claro diante do aviso rouco,
sei do sussurro do corpo muito mais que do grito.
Sei da vontade de amar se meu amor quer paparico.
Por aí
A conquista do banal
é o que faz de um homem
sujeito às provocações do simples, do normal
Os livros de ontem
são faces cediças do vício intelectual
outros que os comprem,
eu fico com a beleza de um olhar casual.
Vacas frias
A felicidade na adversidade, ninguém acredita.
Bem como os temores, somem com as cores de um laço de fita.
A simples maldade não vence a verdade, apenas lhe irrita,
e a firmeza é parte da paternidade, é coisa benquista.
A força do tempo há de ser o alento, o forte abraço.
Os filhos um dia terão, como os ventos, os seus próprios passos.
Pois o mundo é grande e não cabe na ponta curta de um laço.
A medir esses passos, com a dignidade, a trena é o compaço.
As dificuldades saindo de cena, por mais que tardias,
serão só lembranças, na ponta da lança serão vacas frias.
A vida então, como na canção, vai ter outro dia
Assim quem viver haverá de ver reinar a alegria.
Ponto de vista
Se passo pelo meu tempo,
é o meu tempo que passa por mim.
O que respiro é o invento,
que passeia no meu intento
de ser, sou meu desejo assim.
Não há nem tarde, nem cedo
na coragem dos meus medos.
Não aguardo nenhum segredo,
são eles que entre os dedos,
escorrem indo à um fim.
Rastros
Nas minhas memórias de palha,
onde guardo o que se passou,
achei uma pequena agulha.
Almoço em domingo pirralho,
Dos tempos do tio "Nonô".
Para quem não tinha família,
onde a vida não era uma flor,
Comer bife com ervilhas,
era agua fresca de bilha,
pequeno tempero de amor.
Saudades feitas nas curvas
arquitetadas da Pampulha,
modernista assim, sem pudor.
Recordo tirando as luvas,
aonde a lembrança fagulha,
do mar, que em que Minas faz turra,
e a infância em mim preservou.
Quem vai ficar na berlinda
Não exijo nada do tempo, que o tempo não possa me dar,
suas exigências são no momento, o que aguardo na pele visível.
Enquanto tudo que me foi dado, cabe num gesto seu do olhar.
Amo esse ato enviesado, esculpido no seu rosto a cinzel.
Se esse tempo não faz de conta, não finge ser só de vinda,
o viver fica dentro dele, na sua história como uma foz desagua.
Se o tal tempo da vida é de barro, o afago dele é a cacimba,
não há trégua no espaço, mesmo no mundo das mágoas.
Falar do tempo é vago, se o tempo é por ele imprevisível.
Inclemente nesse enclave do que não se sabe onde finda,
para-lo é teima grave , quem tenta esbarra no impossível.
A resistência do amor é que nele refaz uma outra berlinda.
Surreal
Eu danço na corda bamba desde o dia em que nasci,
pois no ritmo desse samba eu cheguei até aqui.
Se há amores que choram, também há neles que rir.
Tsunami ou pororoca em New York ou Merití.
Dedo de moça arde e o espinho vem no Pequi.
O amor é coisa de louco em peito de Juqueri,
quem não se arrisca ao seu gozo tem medo de Piriri,
não se dispondo ao outro, não saberá nem de si.
Ceição queria um Antônio e Joaquim amava Lili
O beijo que traz Maria tem gosto de Açaí.
O mundo treme la longe e se aquieta logo ali.
Quando um verso vai embora é que não tinha que vir.
Desenho universal
O que existe dentro do silêncio não fica calado.
iluminando, também, quem está posto ao seu lado.
O mundo acolhe o dentro altaneiro ou agachado.
Na coragem ou no medo, a realidade é externa.
O mundo muda todo dia a cada minuto, a cada hora.
Deste universo real eu tenho um lugar, não sou o único.
Sofro o custo fatal de cada dose bebida em ácido úrico.
Tudo que escrevo, apenas poucos leem, embora público.
Assim palavra é pensamento na sua forma mais sonora.
Quando escrita pode servir como saudável barbitúrico.
Para vazar aquilo que no verso é a vida que evapora.
Assim servida em prato quente, sai ao dente e vai embora.
Enquanto minha alma ri, no dedão do pé, a calma chora.
A poesia vem comum, sério evento em um tato lúdico.
Lábia
Corações e mentes II
Quando os homens ficam fracos,
as armas ficam mais fortes.
Na essência desses fatos
a vida é bem menos nobre.
Menos nobre de alegria,
menos de felicidade.
De tanta voracidade
mais turvam a luz do dia.
Na falta de maior sorte
pintam seus auto retratos,
mas porem por outros lados,
têm outra fisionomia.
Se um inteiro tem metades,
o mundo tem valentia
diante da crueldade,
por força de mais valia.
De naves não tripuladas
viram, como todos sabem,
as culturas contaminadas
pela força que as invadem.
Enquanto o erro se consome,
a riqueza muda de nome,
tantos outros corpos ardem.
Pentágonos são cinco lados,
apontam para outros nortes.
Senhores carregam mortes
um tanto despreocupados.
Mas a vida, sendo mais forte,
tem direções mais tamanhas.
Quem bate também apanha,
num viéz de um outro corte.
Passo a passo
Deixe um sorriso escapar entre seus dentes,
hoje é primavera, carrega um céu tom de azul.
Goste mais dos carecas que não carecem de pentes.
Tente ser eloquente sem se rosnar pitibull.
Como é surpreendente a paz branca de papel,
Olha que a vida segue e as fotos mudam a lente
Só os inteligentes têm onde por o chapéu.
Quem do amor é crente vive em lua de mel.
Caso você não saiba, agora fique ciente
Mais que um palmo à frente tem gente que é bem legal
Quem quer viver disso nunca é indiferente
Posto que está no outro, o que nos cresce afinal.
Planta baixa da inveja
Na fé você é só isso,
Trancelim
Desço eu de mim mesmo
no passo de um trancelim.
No que me desconheço,
ao meu lado, quase assim.
Vejo no silêncio, o começo,
se o poema é trampolim.
Seu destino web, a esmo,
temperado em botequim.
Palavras de sal, torresmo,
arrimam em boa ou ruim,
cobrando em sentido, o arresto.
Pedaços de mim em mim.
Um do outro me descrevo.
Eixo virabrequim,
na explosão dos apreços,
sou o rosto do arlequim.
Flutuo no chão, o tropeço,
o destro do Bandolim.
No meu corpo de Hefesto,
cruza o poema carmim.
Rimando o amor honesto
com sua pele de cetim.
Não me preocupa o resto,
pois volto a me estar no fim.
Conflito
Francamente discuto com o poeta sua arte inacabada.
Com fragmentos de vida ele rebate essa desimportancia.
Se o preço do feijão não cabe nas estrofes do poema,
o poema se ilimita, na capacidade descrita nessa ânsia.
O poema não quita débitos anteriores das palavras.
O poema apenas berra, onde o silêncio do poeta o depara.
Pode até ser, que o poema escolha as palavras pouco claras.
Sua fragrância, francamente eu discuto, nessa flor inadequada.
O poema fura o ar do imaginário como a ponta de uma lança.
O poeta usa a palavra, no que dela, o diafragma é ofegante.
Um no outro se esfrega, corpo a corpo, em inafável contradança.
Ilusionista, ele aponta no espelho, o espelho do espelho.
Cuja imagem só reflete se há luz, no escuro é delirante.
Para que um haja no outro, o aviso é o impreciso da escala.
Discuto, eu com o poeta, se ele é sua palavra nesse instante;
Ou se aponta simplesmente, nesse escuro, um olhar ignorante.
O poeta é caótico, e o seu sorriso patológico é vermelho.
Sua boca diz a mim, o quanto, em mim, o seu poema é interessante.
Digo então para o poeta, aonde a ausência da palavra é seu destelho.
O poema quer passar pelo buraco da agulha, paquidérmico, gigante.
Eu discuto com o poeta, se a palavra é ele mesmo em vocábulo elegante.
Se na ponta da caneta, a ele mesmo, a palavra é um cinismo provocante.
O poeta me revida com uma rima de palavras proeminentes,
me instiga, ao me dizer que elas são feitas da união tempo e história.
Ele briga com as palavras boca a boca, olho a olho, dente a dente;
Até que elas saltem quentes, diferentes, da barriga da memória.
A poesia é mulher nessa palavra iluminada, ela é parturiente.
Quando nua, a poesia, é coisa viva, é erogenia humana, é glória.
O poema, insistente em ser poema, sai sem pena, inconsciente à trajetória.
Vão poema e poeta, estão, bebidos de sentido e aguardente, vão embora.
O poeta e o poema se esfaqueiam numa briga em sangue quente;
Pelos pulsos do poeta, o poema, ganha vida alucinante nessa hora.
Eu discuto com o poeta se a palavra é de tamanho elefante.
O poema e o poeta se percutem um no outro em codinome.
Eles são, os dois unidos, o som de mil auto-falantes.
Já eu sei que o poema é o humano, na razão pura de Kant.
Ao poeta eu fustigo, para que ponha logo fogo no poema, e nesse fogo o detone.
Ele diz que as palavras são compostas no real, são o real com outro nome.
Assim cada uma delas tem um ciclo, nesse ciclo se consomem.
Da cultura o poema nos acena, como magma nos aquece.
Se o poeta e a poesia vivem juntos, é como a crença e a prece.
A poesia e o poeta se conduzem, em ambas partes dessa ponte.
Se atravessam no caminho com o amor de um casal que se merece.
Depois disso cada um vai pro seu lado, como a vida fosse ontem.
Mas traduzem nesse encontro, tão presente, o futuro que há no homem.
Somos
Meu tempo no seu se repõe e se confunde,
nesses braços da Nuvem de Valparaiso.
Eu me apoio nos sorrisos que me deste amiúde,
trago a vida no que é feito desse efeito inteiriço.
Caminho desconhecido, essa é a onde que tenho.
Sou dos fatos, e assim fulge tudo o que mais creio.
No carinho que há em mim cabe um taparro Portenho.
Sou dos vinhos, sou Cinzano, sou nos passos Bamboleio.
Quando enfim o eu somos nós, é que mais me realizo.
Sermos dois é sermos juntos onde tudo é atitude.
O amor enceta a vida com seu dardo mais preciso.
Sobre as fotos os registros desse tempo altitude.
Onde os pés beirando nuvens, avisam aonde piso,
serei sempre mais feliz, sendo nós sem solicitude.
Umbigo
Ifé é o berço do homem,
nascente da sua fé.
As crenças se iniciam ontem,
o futuro só as põe de pé.
A pé caminham aonde
o próprio homem as quer.
Quando ele quer as esconde,
na pergunta que responde
em nome de um Deus qualquer.
Das redes
Sempre é preciso cuidado, com muita atenção,
para a possibilidade da paralisia travestida
na aparência de conteudo, ou movimento de vida.
Essa falsa amplitude pode esconder apenas uma ilusão.
A letargia imobilizante nas telas, pode ser custo ou caução,
cobrados à uma geração que tenta matar a sede,
com a água imaginária que a virtualidade lhes concede.
Indivíduos se agarram aferrolhados, como ganchos nas paredes
existentes no psiquismo social das redes.
Tornando-se apenas evidentes condenados à colorida,
maquiada, e mais desumana face moderna da antiga solidão.
Visão de mundo
Eu e o que é de mim, em tudo, não sei sempre.
Vivo o tempo dividido, ele mesmo, em partes três.
O passado guardo o quanto à memória o venha.
O presente é um fogo a queimar em carne lenha.
O futuro não vem sempre no rosto que imaginei.
Os dias meus nunca o são da eterna idade.
O tempo venta na cabeça em que o raspei.
Mundana e curta é a má perversidade.
Trago às narinas o ar da felicidade.
Porque a vida é um fato forte, e mais não sei.
Aos inimigos tempo nenhum dediquei.
Aonde eu vivo é aonde areja a vida.
Trago nos versos o punho da mão direita.
Doença alheia em meu corpo não se ajeita.
Pobre é o despeito, e a inveja é uma ferida.
Não vendo à Deus as respostas dos meus erros
Os meus segredos são para quem deixo entrar
Outros desfazem dos detalhes dos seus medos
Ah! Como é alegre o engano ao ledo
Não chego cedo para não me atrasar
Poucos me dizem quantos Eus existem quentes
Um por dentro, outro por fora, e ao outro a lei
Se Europeu, Nagô, Judeu ou Tupiniquim
O meu começo não tem o endereço do fim
Eles que ponham olhos onde não olhei.
Olhar paisagem
Ficam-me olhando com esse olhar de janelas.
Pessoas como eu quebram no corpo, suas fronteiras.
Fazem-no, eles, os que não conseguem passar por elas.
Mas quem enfim não as têm?
São precipícios!
Aquém de si próprios tangem-se nas falésias, pelas beiras.
Miram assustados o universo do tudo que não sabem.
Preservam-se do que não sabem, protegidos pelo sossego,
garantido do que é o óbvio, é paisagem.
São as fumaças do medo.
Santas essas pessoas calmas, distraídas nos recatos dos seus centros.
Sem correr riscos imponderáveis por princípios.
Protegem seus rostos de vidro, contra desconhecidos ventos.
Quem de si não sai por um único momento, viverá apenas normal,
viverá apenas morrendo.
Sujeito objeto
Agora o peso do corpo exerce o domínio.
Frei Leto lhe vinha à memória com o colorido de seu sarcasmo franciscano e sua fisionomia jovial de Comprido do Henfil. O frade foi a primeira observação de que era possível viver com bom humor diante de dificuldades, isso o fazia lembrar dos primeiros movimentos para superar a timidez e reinventar sua ergometria afetiva individual, tinha um caminho rumo ao mar, havia muito que andar, havia mais chão que pernas na poeira vermelha e seca de pedras do semi-árido torto e seco dos mineiros de Guimarães Rosa.
Migrantes trazem na bagagem um povo todo eclodido do ovo de sua história, assim se constitui como depositário de distâncias.
Enquanto a tarde morria, tendo o pescoço abocanhado pela noite , a nova classe média funcional passava pela calçada esburacada de pedras portuguesas na esquina da Duvivier com a Barata, na banca de revistas aquele sol e o vazio de leitores. Ai de ti Copacabana, ele pensava sisuda e embragadamente, enquanto observava a rua.
Depois do terceiro gole pousara o copo americano na bancada, e no silêncio interno de si mesmo, deu-se conta de que o tempo havia passado. Já a muitos anos o Expresso Sayonara dobrara a esquina e contornara a praça Coronel Ramos rumo à estrada, também esburacada da memória, e aos solavancos inevitaveis seguira o rumo incorreto do destino.
Chegava a hora de fazer o balanço geral dos sonhos nas contas da realidade, essa soberana implacável já reinara tempo, tempo bastante a se contar. A vida se agrisalhara e a hora era essa, Ítaca sera passado, essa memória iluminada à luz de velas.
Olha a vela..., Olha a vela... Orai velas...Serpenteava a procissão devota,enquanto os bolsos iam se enchendo com o peso das moedas, das notas miúdas daquela gente fervorosa e também miúda.
Abasteciam de fé financeira ao menino puro e sonhador, era o fetiche da mercadoria.
Enquanto a banda soprava um bombardino fúnebre e o surdo respondia com a dor das desumanidades, essa lhe furtava sua própria infância no exigir ambulante mercantil.
Olha a vela...
Diante da desventura do senhor morto, a alegria das primeiras mercancías era evidente naquele infante sem trono, sentia-se assim um gigante sem prumo.
Ele era diferente, haveria de o ser por toda a vida, estava descrito, era inevitável.
Chamava atenção quando não queria, trazia a indiferença na pele, nos passos, nos ossos, no aquiles semideus dos calcanhares. Mas havia a esperança, a tecelã preservada de todos os futuros.
Assim a noite ardia à parafina, Senhor tende piedade de nós.
Como contar uma história cronificada de experiências e tentativas? O incerto fica encrustado por sobrevivência no inconsciente. Como trazer ao caminho a memória?
O apito do vapor aportara sua carranca trazendo ao rio acima a Bahia, Pernambuco, o Nordeste, a fome pendurada por cinco dias de farinha, de rede e de lenha nas caldeiras. O burburinho geral no cais perfumava a boas vindas diante dos seus olhos. Alguém haveria de chegar, algo haveria de acontecer, mas quem?
Aquela gente morena, cansada e altiva era tudo, subia as barrancas do Velho Chico buscando e trazendo vidas em estado bruto, buscando e trazendo sobreviventes, eram pescadores, eram canoeiros, eram moleques nús magrelos e cabisbaixos, eram lavadeiras nas pedras, eram as putas pobres amarrotadas na juventude , eram as suas fomes todas, lavadas nas lembranças do sabão Tingui, do arroz quebradinho, gente de terceira, da argila do barro, cascalhos, era o Brasil profundo.
Na antroposcopia o homem se copia pela sua própria imagem, assim se percebe no outro, mas também nela pode negar suas diferenças por maior que seja esse contra- senso. Os iguais se incluem, se repetem, se organizam, se normalizam e se perpetuam petrificando -se. Aos desiguais a Indiferença exótica e excludente das adaptações ao desconhecido.
Nos paralelepípedos quentes o bater daquela chapa de aço nos sapatos, produzia um som estridente da silenciosa desigualdade, pesado em cada passo, O olhar penalizado penalizava mais, produzindo um misto de raiva e vergonha. Preço caro a ser pago por alguem Já homem apesar de menino; Já previsto e duro o impar destino. Os cuidados excessivos do exagero o incomodavam tanto quanto a ausência de zelo do olhar aterrador do alheio assustado.
Na indiferença chegavam os retirantes rumo ao sul para construir o milagre de concreto, quem são eles? Esses são os navegantes do Pau de arara fluvial. Para que servem? Braços da mão de obra, para atender ao milagre econômico da concentração privilegiada a se realizar ao sul escravocrata das maravilhas .
Na primeira triagem, à fila do trem, eram escolhidos os de melhor saúde, os que tivessem dentes, os de algum ofício ou maiores aptidões. Quanto aos outros, restavam, a sobra humana, o fim da linha, a mendicância e a loucura de Cheira homens dos excluídos, afinal o sonho do mundo é só um sonho, a realidade não é olfato para todos.
A seleção entre a especie humana se amplia de acordo com a magnitude do conhecimento e da cultura a que pertence o perfume carnal de anthropos.
_Você trouxe pão?
_Que bom!
O mundo lhe queimando a pele, o suor escorrendo pela têmpora negra, a juventude tendendo ao desânimo, o desejo era tempoário, apenas um gole de café, algo a mais era Vampira, nunca ouvira falar em Bertold Brecht, não possuía nenhum vintém, sorria largo e branco, tinha o nada, isso era tudo pela frente, alem da fome, é claro. Mas cheirava à dignidade...
Nada trazia de seu alem das próprias roupas, nada oferecia ao mundo alem de um sorriso branco, nada era além de uma personalidade deserdada e pedinte. _Você trouxe pão, que bom!
Viera do Kuêto em ancestralidade, se despossuía um tudo na vida, andava nas ruas com a altivez dos intocáveis, como uma rainha em seu mundo, falava pouco e educadamente, agradecia um café e um pedaço de pão, a felicidade resvalou alí por esse momento e isso era tudo.
Tempos cinzentos se costuravam nesses dias em que os sustos eram inadmissíveis e a coragem inevitável, capoeira onde as tropas e os fugitivos se mesclavam aos espinhos do Pequí da história. As nuvens se avolumavam em cinza, e um silêncio sem ar pairava no quintal.
As folhas das mangueiras pareciam prever a tempestade, enquanto os pássaros costumeiros se aquietavam. Apenas o perfume doce da manga rosa se atrevia invasivo nesse temor verde oliva.
A manhã do outono daquele ano não seria diferente, mais uma vez partiria sem vontade, mais uma vez se submeteria obediente às experiências heterodoxas dos doutos, mais uma vez. Mais uma vez seria responsável pela esperança alheia, apesar de sua pouca idade, mais uma vez a mala pronta, a cabeça a prêmio e a vida levada muito mais a sério do que se devia.
Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face, sempre terá que a tateiar em si mesmo, o apreender leva tempo, leva tempo para se construir um olhar, às vezes isso se parece com nadar em busca da curvatura do mar. Nas dúvidas, nas vagas humanas a onda é onda grande.
Inclusão é uma palavra ampla pois guarda similaridade com amplidão, como recepção em algo ou algum lugar, ou grupo, ou pluralidade. Quanto mais incluso mais homogêneo mais integrado mais afinado mais civil ou civilizado. Pessoa humana é um pleonasmo plasmado na possibilidade da sua própria desumanidade. Nas diferenças é que se constroem as civilizações, desagregação é diáspora, segregação é uma espécie de exílio interno e solitário, a rejeição é uma brutalidade exercida pelo medo; Viver em meio à brutalidade não é fácil, principalmente quando velada no silêncio aonde a humanidade se estranha aos seus...
Destino é um piso em falso, não é caminho, se não há comprometimento. O restante é natureza, o restante é sobrevivência, o que resta é a vida.
_Você trouxe pão? Que bom!
Hora da razão
A vida que se segue,
é a que a gente faz.
Por mais que a coisa pegue,
no pulso ela quer mais.
Da energia alegre
à ventania audaz.
Ela não tem air-bag,
por isso desapegue
do que não lhe da paz.
Por pouco que se enxergue,
o tempo sempre esvai.
Na carga sobre os ossos,
bacilos canibais.
Dos dias perigosos,
áridos e arenosos,
hashtags carnavais.
Dois olhos hoje laços
em latitude abraços,
e os restos são banais.
João bobo
Mais uma vez vem a noite e me abraça;
Quente com seus braços de bruma e breu.
E a invalidez me ronda a calma, inata,
como imagem que passa, somos ela e eu.
Uma têmpora maior que três dias me exclui
de alguma alegria reflexo, no espelho.
A história está feita, ou serei eu a refazer
de novo, como fora antes, e o será.
Ainda dizem as crendices populares
que um raio nunca cai no mesmo lugar.
Tudo que penso é que de novo não sei,
como de fato nunca me soube, num jogo.
Sou homem feito de minhas tentativas,
nenhum futuro me garante à frente por consenso.
Vencer recusas do corpo nunca foi tarefa fácil,
agora é o que me falta, é o que caminhar suspenso .
Não sei bem para onde, não sei nem como, se frágil.
Tenho que fazer o refazer da vida, não me açodo ao vento.
Às vezes tenho a impressão que há em mim um mar todo.
A teimosia, a faísca alma, a queda de um João bobo.
Assoalho pélvico
Para Helen, que busca dar forma ao pastelão
.
Quando o corpo em si limita,
encurta o rumo da estrada.
O comum é a vida finita,
no espaço que ela habita,
e no possível é reconquistada.
Por mais que assim seja aflita,
que a noite não seja bonita,
Há sempre um sol madrugada.
Sempre a esperança é esperada
n'alguma palavra que é dita,
diante da postura errada
perante o pó da passada,
haverá uma tal saída.
Haverá de surgir, qual do nada,
realinhando a prumada,
uma seta que diga siga.
Como algo em que se mitiga
o percalço da jornada,
aliviando a fadiga,
reabilitando essa vida,
como prendendo a mijada.
Em uma atitude amiga,
qual da Guiné venha figa,
com as mãos mais apropriadas.
Eu vou
Ijexá
Afoxé
Vou rezar
Vou ter fé
Abará
Candomblé
Vou voltar
a andar
Vou correr
qual Pelé
Nas calçadas
do mar.
Vou rumar
os meus pés.
Ver o sol acordar
Ver a lua mulher
Quem viver me verá.
Como um homem qualquer.
Vou daqui
Chego la
Caminho Guarani
eu vou te caminhar.
Bactéria doida
No teto o branco, sob a sanca, o lustre,
de cuja luz vazia escorre o tempo e só.
A vida para sua atitude, plena e física,
e a realidade contaminada, é tísica,
como é o bacilo a ser derrota, o Koch.
Nesse vazio reina a bactéria doida,
reina invasiva, lerda e lesionária.
Comum aos pobres povos ela se acoita,
entre o descaso e a saúde precária.
Invasiva, deletéria tanatológica e afoita.
Sob o teto calvo do homem resta a sede,
aonde o antibiótico é de domínio público.
Essa solidão madruga e tece tais paredes,
formando as janelas qual o vão mais lúcido.
Retirando a fórceps esse intruso súbito.
Quanta introjeção, fisioterapia,
lenta solução, falta de harmonia,
de cuja vazão jaz sentido único.
Tanta é a solidão, tanta é a alopatia
tanta é expectativa de uma solução.
A jogar no chão essa tal moléstia,
muita paciência, quase tibetana.
Quando isso é tudo o quase que me resta,
trágico contágio, desvirtude urbana,
fora com essa besta bacteriana.
Solo de cordas
Um solo Stratocaster abre a fenda,
por onde tu passaste, e foste embora.
Na porta a realidade ainda evapora.
E na solidão, o amor volta a ser lenda.
Qual sopro de um trompete, a alma é sonora,
e o humano coração que a entenda.
Das roupas devolveste só fazendas,
ficaste com o suor de quem namora.
Assim sobrou o menor que a encomenda,
pois vá buscar quem melhor surpreenda,
na corte o rei deposto não implora.
Ao fim nada mais há que se adenda,
outra que me ensine a fazer renda,
e a mim, somente a mim, sobrou o agora.
Calhau
Com o tempo e com peito aberto, é o que penso,
com a experiência viva das datas tantas passadas,
aprende-se, assim, a identificar preconceitos;
Quando lâminas afiadas na pedra amolada do silêncio.
Rasgam a realidade, de um só jeito, disforme.
evidente no que o corte é exposto e pre-propenso.
A nudez é trajada de medo do momento
a atitude é gritante e fria, mais velada.
A desumanidade individual humana toma assento,
ou é o que dela resta, como leito seco do prévio ou do nada.
Desce o rio que corre em silencioso intento,
de quem quer se socorrer no incorrer da falha,
e sem saber, já de pronto descortina a imagem revelada.
Soneto de então é natal
Chegou o Natal cheio de metades.
Ele é tropical, ele é tão presente.
Luzes na cidade. e o Assis Valente?
Pediu para a gente a felicidade.
Nesse o bom Noel veio mais urgente
na velocidade virtual dos tabletes,
nos Smartphones doces diabetes.
Tudo se consome em Shoppings emergentes.
Data universal para o Ocidente
Há o velho abraço, que una mais as partes.
Que o material seja menos comovente
E os afetos sejam mais alardes,
e que a gente seja só mais gente,
e o Natal mais solidariedade.
GPS_ Para Cláudio Upiano
A literatura é a tentativa,
ou mais, é a iniciativa
de criar um procedimento
constituindo rotas
para o pensamento.
No que podemos chamar
de amplitude maior
dos passos do homem,
em um processo
de coordenadas para a vida,
na impossível retenção
da viagem humana
no tempo espaço.
Alem do limite contemporâneo
há um pré e um pós
em qualquer tópico
ou ponto ótico.
São bases, são suposições,
das afinidades históricas
e das finitudes existenciais,
nada menos e nada mais.
O analfabeto funcional
O analfabeto funcional
tem sua consistência política,
quebrada na rua a pau
de forma bem pouco artística.
Maracanã sem geral ,
família sem hospital,
escola vai muito mal,
parou o trem da central,
como é que ele se explica?
O analfabeto funcional
sabe aonde a corda estica,
ficou sem plano real,
não sabe ler um jornal,
falta-lhe o fundamental,
mas bem conhece o lalau,
e quer saber como fica.
É o cenário nacional.
No que é consciência crítica,
tem gente que sabe os clássicos,
tem gente que vê Fantástico.
tem gente que é o escambau.
Com seu salário enxuto,
Sem inclusão digital,
põe fogo no matagal
e são chamados de brutos.
A classe C, alijada,
se mostra bem calejada,
na força provoca sustos
enquanto ganha merreca.
Joga as pedras das calçadas,
Vê Dólar em outra cueca,
no tanto que a PEC peca.
melando a marmelada.
No tanto que diz não sei,
desconhece a cura gay.
Ao pobre só resta a lei,
da farda ou da Milícia.
Sem ter a doce delícia,
tão sub- reptícia,
explode como seus custos.
Cansada dos três e vinte
Grita forte: É o seguinte!
Levanta-se contra o acinte
deseja um Brasil mais justo.
A multidão, como em Meca,
não quer mais corrupção.
O que ela quer é escola,
não aceita bolsa esmola,
quer ter mais educação.
Enquanto quebra a vidraça
mostra o quanto perdeu graça,
vandalizando a questão.
Desnuda mais um mistério,
quer público o ministério,
e grita com o pau na mão.
Escolhe quebrar o banco
enquanto o banco lhe quebra.
No ato que foge à regra,
o milagre perde o santo.
O povo é o bem de raiz
que reconstrói o pais.
Povo, mais povo em fúria,
um ao outo vis a vis.
Renega assim os desmandos
da politicagem espúria.
Explode em força e bando,
assim descobre o manto
social das suas penúrias.
Deixando de ser passivo,
com sua voz de gigante
todo o Brasil grita vivo,
heroico e retumbante.
Esse ato forte é ativo
entra na história e nos livros,
de forma pura e nua.
Um aviso, é um aviso, é um aviso.
É o povo tomando as ruas
exigente e importante.
É o povo, esse gigante,
é vasão, é um povo vivo.
Autorretrato
No real impregnado mergulhei o que sentia.
Craquelê do observado, no mundo fiz moradia;
Desse caco apaixonado entrei noite e sai dia.
La no aonde tudo é certo meu errado principia.
Quando dói fico calado então a língua me afia.
Quando choro o meu choro tem o cloro da azia.
Do amor que trago tanto contrabando a alegria.
Se alguns dos meus recados tem sua fisionomia,
de mim mesmo é que lhes falo se o invento é a poesia.
O mundo da lua
Ponho meus pés na rua,
já me observam os carros.
Dura natureza de ferro.
Gritam seus códigos berros
na algazarra confusa.
Ponho minhas pernas duras
nos caminhos sem anteparos.
Tropeço meu olhar na lua,
que humanizada é gazua,
De outra maneira
O ato ultimo pode ser tão forte,
na vida a coisa final, derradeira.
Um pai deve achar seu norte,
quando ao filho se lhe chama a morte
e do mundo leva embora a um menino.
Lembranças sejam o que lhe conforte
no vazio da forma a mais inteira.
Desse desvio em tamanho porte,
a natureza humana inverte o corte
e a esse pai elege a tal destino.
A dor tem nela mesma o aporte
da energia, a força na algibeira.
Se a cobra vida preparou o bote
faço da rima a estima frente à sorte
e o abraço, em alma, dessa outra maneira.
Muito obrigado
Para Maria da Conceição Fernandes e Márcia Mendes
Ainda é assim mesmo, diante de uma dificuldade.
Soando como um solfejo elegantes com suas forças
ouço vir duas mulheres encantadas de habilidades.
São duas damas inteiras, duas personalidades.
Unidas por causa alheia, avante vão essas moças,
com atos de tal grandeza, transcendem humanidade.
Ainda, é assim mesmo, que a mim a vida as concede,
sou gratidão em apreço, não sei se tanto as mereço
atitude que não se esquece, afeto que não tem preço.
Venha-lhes por tal bondade, grandeza de coração,
muito em tudo a felicidade por conta dessa razão.
As duas somam em mim nesse ato que agradeço
pela frente pelos lados por fora, dentro e avesso.
O homem, companheiro, pai, poeta e amigo, calados,
esperam que a gratidão a dizer pelo ancho abrigo
caiba na simplicidade, pequena, de um obrigado.
Dois cérebros combativos, exemplos de atividade.
Que bom te-las ao meu lado, conforto trazem consigo.
Nada nelas é pouco, são lindas, o são de verdade
dois corações criativos, exemplos, solidariedade.
Forno íntimo
Meti a mão na cartola
e não saiu o coelho.
Corri no fio das horas
do esmeril do ferreiro.
Bati no ferro a bigorna,
busquei mil e um conselhos.
Tentei fazer a macumba
mas me faltou o terreiro.
Desfilei em cinco escolas
e não achei o pandeiro.
O pique não vai embora
porque ombreia o guerreiro
É a minha vida na mola,
na correria danada.
Agora é que fuma a cobra,
dentro do cesto enrolada.
Se a roda não colabora
com os buracos da estrada.
Não adianta revolta,
não adianta intifada.
Zerando no noves fora
a conta não está fechada.
Dentro do calor do agora
a solução é assada.
Transferência
Perdi o sono e o sonho
produtos de uma minha alegria.
Cujo consumo tão rápido
foi raptado nos fatos do hoje em dia.
Tudo se foi, eu suponho,
qual juventude da mercadoria.
E hoje eu me recomponho
do conteúdo trágico,
de um real que eu não queria.
Mas, o negar por ser medonho,
ou no mínimo enfadonho,
não mesmo, não poderia.
Portanto minhas mãos lhe ponho
resoluto e pragmático.
Vou fazer desse antipático
uma outra fisionomia.
Dessa prisão, com a teresa,
sairei virando a mesa,
transformado em valentia.
Resgatando com magia,
com a força que há na certeza,
do tombo farei firmeza,
do estrago sabedoria.
Acabada essa tristeza,
não haverá tibieza,
Eu vou fazer o outro dia.
Direto ao ponto
Há um poema em teus olhos de enamorar, neles é que me deito com a força da chuva da noite, neles me deito com essa herança negroide das constelações, neles faíscam uma história que é tua e a quero minha.
Há alguma coisa nesses olhos que foi tecida na memória, como uma luz de estrela que brilha, quando no tempo tirita luz, mas ela já está morta e na lembrança continua.
Mesmo nesse momento o amor é tua trajetória. O enamorar desse momento é um trato de nobreza em um corpo de rainha.
Nobreza de palavras querendo explodir grandezas, como as estações ensolaradas de simplicidade e de alumbramento.
Não,não, não e não! Não há frigidez, mas fluidez de teu afeto.
Não há rigidez na tua voz de natureza divina e bela.
Ah! Esse poema de olhos a assaltar teu rosto e te dominar a fala.
Agora fala, fala qualquer coisa a um poeta cego, fala qualquer coisa, mas fala!
Diz o que aos teus olhos te pareça certo, que em teus lábios a palavra é sorriso.
Costure teus versos com elas. Uma a uma, outra e outra, frase a frase, quando a quando.
Eles são quentes e sol, são precisos e mar, eles derretem granizo, eles ecoam no ar.
Os teus poemas de crônicas de almoços de domingo, ainda os trago no palato, ainda os trago num tinto. Há um, sempre fugindo desses olhos de abraçar, há um sempre florindo na feira de quinta.
Um há, o sei, de me olhar de esgueira.
Esses são teus olhos de andar por, esses são os olhos de desanuviar cegueiras, brilho que os meus vão de encontro.
São os olhos do meu amor, que os tem servido direto ao ponto.
Uma dose
Minha poesia tem o interior desvairado.
Seus significantes fogem da cadeia nos versos.
Deixando em sobressalto e abertos os significados.
Nesse desatino de sujeito, então, miro o diverso.
Ela se apropria dos signos e os revira, os distorce
para um outro olhar diferente. Mais liberto.
A quem os sentimentos decifre, ou chegue perto.
Meus versos são um veio, ou são só um recado
para esse olhar ao alheio, mais aflito de gnose.
Na solidão de um saber mais aberto, disserto.
Eles que sirvam de pequenas doses.
Estivando as palavras para outros barcos.
Reanimando objeto, nenhum eu fica vazio.
A história é o segredo, da minha aldeia,
a memória é o que sou, é o leito do rio.
Pavio que se transmite em poderio não alienado.
Quando vista em pertinência e atavismo,
toda linguagem abriga em si o seu abismo.
Mas antes, decerto, tece seu abraço emaranhado.
Espelho
Quanta força há no outro que eu precise,
por saber minha a maior necessidade?
Quanto do outro algo é a minha verdade,
que eu a reveja e absorva em mais reprise?
Qual a medida dessa adversidade?
Do que eu não sei, ele o saiba e me avise.
Pois ao invadi-lo cometo o meu deslise,
ao qual nomeio como afetividade.
Qual a energia que do outro tomo a mim,
fazendo-a minha, nessa força, em propriedade.
Sem saber mesmo qual motivo, meio ou fim.
Eu a permeio por fazer minha vontade
Qual a medida, na linha realidade,
dessa cobiça emocional forjada assim?
Domino a caça em que resulta tal butim,
quando o que é meu, quero no outro por saudade.
Vagas
Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face,
sempre terá que tateia-la em si mesmo; Isso leva tempo.
Leva tempo para se construir um olhar.
Às vezes se parece com o nadar
em busca da curvatura do mar, nas dúvidas,
nas vagas marinhas da humanidade.
Despertos
Nunca me foi permitido ter medo,
fraqueza diante da vida tão pouco.
A fragilidade em mim, nesse enredo,
foi uma desconhecida desde cedo,
falando assim parece algo louco.
Porque o medo é senso necessário,
no mínimo para o abraço protetor,
fazendo o ser humano mais gregário,
mais gentil, mais ancho, mais solidário,
mais profundo na largura do amor.
Não me foi permitido, por degredo,
esse sentimento genuíno e puro.
Incapaz de desvendar o segredo,
decifrar tão mal desassossego,
ao vê-lo em minha amada fico duro.
Aonde a dureza é cega, há poesia,
e a palavra é pedra dura, é rochedo.
Mesmo não sendo aquela que eu queria,
pois não saber não serve à valentia,
acho que temo mesmo em arremedo.
Sentindo assim como caricatura
eu vou em frente, e acho, vai dar certo.
Porque a vida é a melhor ventura
proponho as fichas nessa assinatura,
resiliência é o que nos faz despertos.
Atenção
Com a vida se passando, na escola do simplesmente, é que pude desvendar em mim mesmo, aquilo que de mim não sabia; Pois dos outros tenho sempre a informação vencedora a título de realidade, é o aparente do mundo ao meu lado, nunca o velado.
Foi preciso acalmar assombros, foi vital soerguer escombros, foi legal aprumar os ombros e colher a minha própria solução.
Se a divergência é um universo, minha história é do caminho, do chão, sou divergente manifesto.
Foi preciso aprender a respeitar onde piso, para poder encaminhar mais acurada a atenção do que sou no tempo e espaço.
Foi com a vista se alastrando, com a força do destino, só assim pude laborar o acaso, me apoiando no então do improviso, foi assim mesmo, sem nenhum aviso.
Necessário foi, dissolver os grumos da vergonha instalada à revelia do querer próprio, em água morna, para não encaroçar em ilusão, para não me queimar na fumaça da insegurança, foi pertinente ter opinião, ter atitude, Quebrar a ponta da lança com a minha ginga, com a minha dança, com a pulsação.
Meu tempo é de alegria, de não me afogar no caldo insossego e calado do mundo dos lamentos.
Foi com ciso que aprendi a tirar o guizo do leão do dia, foi com essa alegria, com sorriso, e com tesão.
Na vida é urgente ter peito para achar um jeito sem perder a mão, sem puxar o cão, sem fechar o coração; Nessa lida ponho os olhos nos olhos, ponho as mãos nas outras mãos, ponho corpo a corpo, e no amor presto muita, mas muita tenção.
Eu não vou desistir
Os meus olhos trazem ao vivo
O que do mundo puderem olhar.
Observam teus olhos altivos
do universo da libido,
qual uma explosão solar.
Meus olhos estão contidos,
nos olhos que são os teus.
Meus olhos só têm ouvidos
para todos os mil sentidos,
de descortinar os teus véus.
Meus olhos não tremem sustos
com os barulhos dos céus.
Não fazem conta dos custos,
nem se escondem nos arbustos
das trilhas do mundaréu.
O amor que trago comigo
foi colhido no olhar teus olhos
neles colho meus sentidos
deles faço meus abrigos
nas tormentas dos abrolhos
Não temas medos antigos,
os vãos, as intrigas do tempo.
Estarei sempre contigo
aonde fores, a sigo
independente dos ventos.
Meia boca
A vida como ela é,
pode bem vir a ser outra.
O tempo é uma porta aberta,
e o agora é coisa pouca.
Quem fala meia verdade,
guarda metade na boca.
Essa verdade encoberta,
se vista com acuidade,
silente,calada, quieta,
com face de coisa morta,
aparentemente incerta,
outra verdade denota.
Se uma parece incorreta,
a outra verdade é torta.
Uma na outra se infecta
numa atitude devota.
Se a primeira não despe fé
a segunda já pouco importa.
Apresto
Minha vida não cabe em um pôster.
O meu corpo não gosta de palco.
Minha poesia não é um "Blocbuster",
meu verso descamba em socalco.
Se apenas é um manifesto,
não tendo censura ou recalque,
descrevo num rosto sem talco
as marcas que o sombreiam; De resto
não faço disso um embuste,
por mais que isso me custe.
Nem tudo que brilha é ilustre,
às vezes sobra o indigesto.
Tenho versos que parecem chiques,
tenho outros aonde eu não presto.
Como finanças a pique,
somo o descarte imodesto.
Com um Descartes moderno,
depois de os ler verifique,
o que lhe restou de apresto.
Afago
Nasci da linhagem do anjo torto
das avenidas de nuvens, mas no fundo
o chão é a prótese do meu corpo.
O bonde que hoje passa, é perigo.
Expande o viés trágico do mundo,
nas máquinas doidas de caçar niqueis.
Cresci na aragem de pedra desse porto.
Já o conheço tanto, já o conheço pouco.
Os que têm abrigo que se curvem,
a ousadia é mais que conforto.
No tempo da estiagem não trago sorriso morto.
Meu amor briga, quer paparico.
Ela tem dores até na alma, eu a sigo
aonde o amor cala mais fundo.
Ah... minha amada, o amor é louco!
É aonde estão as asas, o resto é aborto.
Muitos amam mesmo é a si, e não ao outro.
Choram, sofrem, gozam o desgosto.
A tranquilidade é um susto, mas é algo rico.
Eu preciso ficar atento, meu amor quer paparico.
Não tenho sete faces que embaralhem meu rosto
Não conheço nada fácil, às vezes me complico.
Num único olhar procuro deixar tudo exposto.
Ninguém leu a minha mão, o mundo é o ombro amigo.
Trago-lhe as flores da primavera de agosto.
Quem não tem coragem de amar, não põe o bico.
Deixando isso bem claro diante do aviso rouco,
sei do sussurro do corpo muito mais que do grito.
Sei da vontade de amar se meu amor quer paparico.
Por aí
A conquista do banal
é o que faz de um homem
sujeito às provocações do simples, do normal
Os livros de ontem
são faces cediças do vício intelectual
outros que os comprem,
eu fico com a beleza de um olhar casual.
Vacas frias
A felicidade na adversidade, ninguém acredita.
Bem como os temores, somem com as cores de um laço de fita.
A simples maldade não vence a verdade, apenas lhe irrita,
e a firmeza é parte da paternidade, é coisa benquista.
A força do tempo há de ser o alento, o forte abraço.
Os filhos um dia terão, como os ventos, os seus próprios passos.
Pois o mundo é grande e não cabe na ponta curta de um laço.
A medir esses passos, com a dignidade, a trena é o compaço.
As dificuldades saindo de cena, por mais que tardias,
serão só lembranças, na ponta da lança serão vacas frias.
A vida então, como na canção, vai ter outro dia
Assim quem viver haverá de ver reinar a alegria.
Ponto de vista
Se passo pelo meu tempo,
é o meu tempo que passa por mim.
O que respiro é o invento,
que passeia no meu intento
de ser, sou meu desejo assim.
Não há nem tarde, nem cedo
na coragem dos meus medos.
Não aguardo nenhum segredo,
são eles que entre os dedos,
escorrem indo à um fim.
Rastros
Nas minhas memórias de palha,
onde guardo o que se passou,
achei uma pequena agulha.
Almoço em domingo pirralho,
Dos tempos do tio "Nonô".
Para quem não tinha família,
onde a vida não era uma flor,
Comer bife com ervilhas,
era agua fresca de bilha,
pequeno tempero de amor.
Saudades feitas nas curvas
arquitetadas da Pampulha,
modernista assim, sem pudor.
Recordo tirando as luvas,
aonde a lembrança fagulha,
do mar, que em que Minas faz turra,
e a infância em mim preservou.
Quem vai ficar na berlinda
Não exijo nada do tempo, que o tempo não possa me dar,
suas exigências são no momento, o que aguardo na pele visível.
Enquanto tudo que me foi dado, cabe num gesto seu do olhar.
Amo esse ato enviesado, esculpido no seu rosto a cinzel.
Se esse tempo não faz de conta, não finge ser só de vinda,
o viver fica dentro dele, na sua história como uma foz desagua.
Se o tal tempo da vida é de barro, o afago dele é a cacimba,
não há trégua no espaço, mesmo no mundo das mágoas.
Falar do tempo é vago, se o tempo é por ele imprevisível.
Inclemente nesse enclave do que não se sabe onde finda,
A resistência do amor é que nele refaz uma outra berlinda.
Surreal
Eu danço na corda bamba desde o dia em que nasci,
pois no ritmo desse samba eu cheguei até aqui.
Se há amores que choram, também há neles que rir.
Tsunami ou pororoca em New York ou Merití.
Dedo de moça arde e o espinho vem no Pequi.
O amor é coisa de louco em peito de Juqueri,
quem não se arrisca ao seu gozo tem medo de Piriri,
não se dispondo ao outro, não saberá nem de si.
Ceição queria um Antônio e Joaquim amava Lili
O beijo que traz Maria tem gosto de Açaí.
O mundo treme la longe e se aquieta logo ali.
Quando um verso vai embora é que não tinha que vir.
Desenho universal
O que existe dentro do silêncio não fica calado.
Os olhos fechados avistam a paisagem interna.
Conhecer a si mesmo é ascender suas lanternas,iluminando, também, quem está posto ao seu lado.
O mundo acolhe o dentro altaneiro ou agachado.
Na coragem ou no medo, a realidade é externa.
Compondo dúbio enredo no segredo da caverna.
uns apreendem mais cedo outros são mais acanhados.
A vida abre os lajedos
nesse mundo azul esfera.
Tem gente que é mentira,
tem gente que é à vera.
Tem gente cega sem mira,
tem gente que mira e erra.
Enquanto há quem delira,
há quem põe os pés na terra.
O ar da vida é levedo
para quem o respira ledo
Eu venho de terras férreas
Dos vivos não trago medo
Meu rio é Paraopeba
Não tenho muitos segredos
nem vivo cagando regras
Não gosto de acordar cedo
e bom cabrito não berra
Evito os arremedos
O amor não é um brinquedo
quem o alcança nunca espera
cachaça
.
Barbitúricoe bom cabrito não berra
Evito os arremedos
O amor não é um brinquedo
quem o alcança nunca espera
cachaça
Tenho que reagir a meus desgovernos
Organizar a solução já por princípio
Desgovernos se agarram como os vícios,
instalados em nossos recantos ermos
Nesses termos se parecem precipícios
Desses pontos não se chega a bom termo
Perco o tempo nesse fato desperdício
Com sequelas de fundo até creditício,
Vendo a vida sobre a ótica de um enfermo.
Devo achar comigo nisso um armistício
Parar de brigar eu comigo mesmo
Escrever é agora o meu ofício
Meu abrigo, cachaça boa, torresmo
Em cada verso ponho a palavra difícil,
nos caminhos das linguagem como sesmo
Um poema foge do meu hospício,
occipício de um louco vitalício,
aonde as rimas escapulem sempre a esmo
.
O mundo muda todo dia a cada minuto, a cada hora.
Deste universo real eu tenho um lugar, não sou o único.
Sofro o custo fatal de cada dose bebida em ácido úrico.
Tudo que escrevo, apenas poucos leem, embora público.
Assim palavra é pensamento na sua forma mais sonora.
Quando escrita pode servir como saudável barbitúrico.
Para vazar aquilo que no verso é a vida que evapora.
Assim servida em prato quente, sai ao dente e vai embora.
Enquanto minha alma ri, no dedão do pé, a calma chora.
A poesia vem comum, sério evento em um tato lúdico.
Lábia
A palavra encantada é a que ainda falta ao poeta,
como a orquídea falseando a morte quando não floresce.
No olhar desavisado não se vê a resistência tão quieta,
quando se furta no vago da memória de forma encoberta.
É a fala gestando seus fatos na barriga da noite aberta.
Sem palavras não há poema, como não há Deus sem prece;
Sem poesia a vida pena, adia a festa assim insurreta.
A explicação de um verso está no que dele se introjeta.
Da noite restam só os rastros de fadiga na porta incerta.
O poema passa ausente quando se cala no que dele houvesse.
Foge nessa porta dos fundos como um amor em desenlace.
Cabe ao poeta a busca no que o disfere a alegação doentia.
Qual a palavra que falta, a dar ao verso nova fisionomia,
quando na folha de rosto expressa seu gosto ou sua atrofia.
Como um diálogo louco que refaz aos poucos a nua interface
Para encontrar o a dizer, o poeta ousa em recurso rimar.
O dia rasga seus fardos na barricada bruta dessa luta alerta.
O poeta lança seus dardos e forma falanges que a norma deleta.
O Rep, o repente é a roupa nova da fala semi-analfabeta
Se a palavra fosse minha eu a usava, eu mandava labiar.
Heróis da resistência
Heróis da resistência
O que é de dentro da gente demora uma vida para ir embora,
como coisa pertinente, se fixa solidária, mas isso é outra história.
Pode ter cheiro, perfume, odor, aroma ou até fragrância.
O que sobra de nós, mesmo assim, as vezes é uma deselegância.
São coisas de dentro, das víceras da alma, traços de nossa tragetória.
Marcas que queremos que desçam, que vão para longe, para fora.
Esperamos que caiam para sempre no ralo sanitário do esquecimento.
Mas ficam, ficam grudadas em nossas paredes duras de louça,
como a pedir clemência, e que de alguma forma alguém as ouça.
Coisas agrupadas vindas do interno, agarradas como nódoas concretas, cimento.
Por mais que as lavemos, joguemos agua, não passam, não morrem, não evaporam.
São coisas intimas que sempre engolimos vida afora; Com ou sem conhecimento.
Elas resistem ao ponto de aborrecer, ou mesmo de nos dar muito, muito trabalho.
Expostas como descartes involuntários, cartas sobradas de um jogo, como lixo do baralho sobre a mesa. Essas coisas ficam sempre retornando vorazes, incômodas, contidas.
Não querem ser exiladas do corpo de nossa existência privada.
Comuns às lembranças de alimentos, são os pratos da infância.
Elas permeiam a memória, como arquivos girando por pura implicância.
São as sobras de tudo dentro da gente, quando resistem a serem nada.
.
Quando os homens ficam fracos,
as armas ficam mais fortes.
Na essência desses fatos
a vida é bem menos nobre.
Menos nobre de alegria,
menos de felicidade.
De tanta voracidade
mais turvam a luz do dia.
Na falta de maior sorte
pintam seus auto retratos,
mas porem por outros lados,
têm outra fisionomia.
Se um inteiro tem metades,
o mundo tem valentia
diante da crueldade,
por força de mais valia.
De naves não tripuladas
viram, como todos sabem,
as culturas contaminadas
pela força que as invadem.
Enquanto o erro se consome,
a riqueza muda de nome,
tantos outros corpos ardem.
Pentágonos são cinco lados,
apontam para outros nortes.
Senhores carregam mortes
um tanto despreocupados.
Mas a vida, sendo mais forte,
tem direções mais tamanhas.
Quem bate também apanha,
num viéz de um outro corte.
Quantos veus cobrem condutas
escondidas nessas burcas
que a história não vai contar.
Quantas guerras, nunca justas,
nas memórias ficam curtas.
Quanta gente a se matar
nas armas dos aviões.
Nas mentes e nos corações
Quanta paz há de respirar.
Passo a passo
Deixe um sorriso escapar entre seus dentes,
hoje é primavera, carrega um céu tom de azul.
Goste mais dos carecas que não carecem de pentes.
Tente ser eloquente sem se rosnar pitibull.
Como é surpreendente a paz branca de papel,
Olha que a vida segue e as fotos mudam a lente
Só os inteligentes têm onde por o chapéu.
Quem do amor é crente vive em lua de mel.
Caso você não saiba, agora fique ciente
Mais que um palmo à frente tem gente que é bem legal
Quem quer viver disso nunca é indiferente
Posto que está no outro, o que nos cresce afinal.
Planta baixa da inveja
Você é o que você diz
quando vê alguém feliz?
Qual a sua graça
quando um amor se abraça?
Seu juízo você o tem
diante do sorriso de alguém?
Você é o que se faz
diante de quem está em paz.
O que te contagia é a afronta
na alegria que em outros é pronta?
O que é mesmo que te arde
diante de tamanha tranquilidade?
Como é essa a sua certeza
distante da simples beleza?
Com ela é que você se guia
ao observar a harmonia.
Também é como você lida
com as pessoas queridas?
O que define a arquitetura
de tamanha caricatura?
Na fé você é só isso,
Isso é o que será.
Sendo o que é,
vivendo é só.
Simplesmente
tão somente
Design em pó.
Segue o baile
Segue o baile
O quanto nos passa, mais custos provem a propósito a vida.
Mais a história invade os nossos ossos com seu ofício de carne,
mais o tempo se apropria do nosso peito de guardar os afetos,
e ainda mais nos arde a tarde no calor alheio de outros tantos olhos.
Quando o custo da existência reside no que houver a mais de próximo, o desejo finca solerte sua cunha de sonhos, sobre tudo que está em nós, e seguimos.
As diferenças nos dividem em únicos e indivíduos, públicos e solidários, antes e após.
Numa solidão dos tais fatos, somos como pequenas peças de quebra cabeças.
A vida se compõe dos riscos fáceis nos cadastros das nossas conjecturas, amarrados nos feixes conseguidos das nossas relações mais íntimas. Assim nos forjamos como criaturas que a realidade deforma com o passar tempo.
Entre o livre arbítrio que temos, e os outros, nós nos construímos de fatos.
Entre um fato e outro seguimos edificando resistências, são dignidades.
Entre um fato e outro perdemos ilusões, como despojos de nossa passagem.
Entre um fato e outro cosemos história, com as linhas resistentes do possível.
Entre um fato e outro irrigamos o tempo, com o sangue quente da felicidade.
Múltipla epiderme
Múltipla epiderme
No tempo, a existência veste tantas roupas,
muitas vezes não sei bem o que despir.
Quantas peles podem traduzi-me ao fim,
se tantas vozes contradizem roucas,
tantas ideias compõem o que já vivi.
Quanta gente, na gente mesmo, se parecem loucas.
Se sou eu, esse eu é minha luta de classes.
Transformando a pessoa em tal ou qual situação,
sou de mim mais que evoca ao sol minha realidade,
comigo mesmo trago a mais um todo, toda uma cidade,
Na unicidade sempre em bruma há multiplicação.
.
Com fusão
O poema, para o menino da laje,
tem o cerol, a linha e a pipa.
O poema do balconista da lanchonete
vem no avental, e no pedaço de pizza.
O poema da faxineira
esta na casa que outro habita.
O poema do moço pedreiro
traz nas mãos as marcas da brita.
O poema da mulher amada
põe na boca perfume de brisa.
O poema da moça que passa
tem a rima bonita, bonita.
O poema do estudante, litúrgico,
no futuro da vida se aplica.
O poema para o metalúrgico
esta na peça que ele fabrica.
O poema para o porco corrupto
esconde favores, xixica.
O poema da paz entre os povos,
hoje é contemporânea Guernica.
O poema do chope cremoso
fica la no Adonis, Benfica.
O poema se vale em si mesmo,
não é algo que a palavra explica.
Coisa minéria
Coisa minéria
Grande é o perigo e maior é o mistério.
Maior que o mistério, enorme é o castigo.
Aonde se instala o ladrão Ministério,
para sustentar essa ação entre amigos.
A coisa é grave, o assunto é sério,
porque o ladrão tem sempre um abrigo.
Sabe-se aonde está, e qual o critério.
Melhor não opinar, dizer eu não ligo.
A coisa e dos vivos, os fatos bactérios.
Propina é vulgar, é um simples delito.
Quem despe a República, descobre adultério.
Vai tudo ficar no dito por não dito.
Grande é o perigo e maior é o mistério.
Podendo pegar o que é da viúva
Maior que o mistério, enorme é o castigo.
Problema maior são as mesmas saúvas.
A se sustentar essa ação entre amigos,
ninguem vai notar suas mãos sob as luvas.
Impune, o ladrão tem sempre um abrigo,
o mistério esta na raposa das uvas.
Melhor não opinar, e dizer eu não ligo.
A verba é lugar da horta e da chuva.
Propina é vulgar, é um simples delito.
Vai tudo ficar o dito por não dito.
Superfaturar ao piaba e à manjuba.
A se sustentar essa ação entre amigos,
se não marolar a agua não turva.
Pra que reclamar, pra que fazer grito.
Melhor não opinar e dizer eu não ligo.
Problema maior são as mesmas saúvas,
propina é vulgar, é um símples delito.
Quem pode pegar o que é da viúva.
Já não se discute tamanho absurdo.
Quem pode pegar o que é da viúva,
melhor não falar, não ver, ficar mudo.
O mistério esta na raposa das uvas
Ninguém vai notar as mãos sob as luvas,
ao desconhecer, não se é cornudo.
O mistério está na raposa das uvas,
se o rei ficar nu nunca vai mostrar tudo.
A verba é o lugar da horta e da chuva,
ao não se notar, não haverá furto.
Superfatura ao piaba e à manjuba,
denunciar fatos é rasgar veludo.
Se não marolar a agua não turva,
diz o popular que o governo é mamudo.
A verba é o lugar da horta e da chuva
Se o rei ficar nu nunca vai mostrar tudo.
Já não se discute tamanho absurdo.
Qual é o mistério da licitação,
melhor não falar, não ver, ficar surdo.
Lá no Ministério quem é o ladrão.
Ao desconhecer não se é cornudo.
Vencer concorrência por combinação.
Se o rei ficar nu, não vai mostrar tudo.
Se disserem sim, é que então dirão não.
Ao não se notar não haverá furto.
Propina não rima com a inflação,
denunciar fatos é rasgar veludo.
Se o bem é do público quero meu quinhão.
Diz o popular que o governo é mamudo.
As vias de fato têm mão contra mão.
Ao não se notar não haverá furto,
qual é o mistério da licitação.
Parece piada parece pilhéria,
lá no ministério quem é o ladrão.
Se é mesmo piada, parece ser velha,
vencer concorrência por combinação.
Essa é a política da moléstia venérea
se disserem sim é, que então dirão não.
A impunidade se desaconselha,
propina não rima com a inflação.
Se o bem é do público, quero meu quinhão.
Quem rouba mais faz reconhece a matéria,
as vias dos fatos têm mão contra mão.
Como se repara coisa tão minéria?
Somos todos
Somos todos
Fico vazio se não resido no outro, como homem pleno e aprendiz.
Nesse trânsito busco a vida, e dela mesma a felicidade é filha.
Colho no que está fora de mim o que me compõe e me partilha.
Contenho, pelo vivido até aqui, mais do que se aparenta ao mel verniz.
Articulando o que venho com o que recebo em troca mútua de cartilha.
Entre o que sou, e o outro que me é útil, o fascínio e o milagre da linguagem.
Na linguagem me expresso, dividido, inteiro e múltiplo, no aqui e no agora.
O que sou é o que troco, no que de mim segue no outro e faz a história.
A linguagem interna é prisão, se o ser humano não a divide, é carceragem.
O que sou, é o que guardo desse encontro, eu o levo preso na memória.
Nada valho, se desisto dessa troca e seu afável, o poeta o disse e corrobora.
Minha cidade esta no outro, no outro meu princípio se compõe e se inicia.
Sem a atitude de interdependência solidária a vida seria inútil e inodora.
Sem paixão, sem solução, só uma ilusão onde o indivíduo evapora.
Hoje trago meus versos como objeto aonde o inevitável comemora.
Trancelim
Desço eu de mim mesmo
no passo de um trancelim.
No que me desconheço,
ao meu lado, quase assim.
Vejo no silêncio, o começo,
se o poema é trampolim.
Seu destino web, a esmo,
temperado em botequim.
Palavras de sal, torresmo,
arrimam em boa ou ruim,
cobrando em sentido, o arresto.
Pedaços de mim em mim.
Um do outro me descrevo.
Eixo virabrequim,
na explosão dos apreços,
sou o rosto do arlequim.
Flutuo no chão, o tropeço,
o destro do Bandolim.
No meu corpo de Hefesto,
cruza o poema carmim.
Rimando o amor honesto
com sua pele de cetim.
Não me preocupa o resto,
pois volto a me estar no fim.
Conflito
Francamente discuto com o poeta sua arte inacabada.
Com fragmentos de vida ele rebate essa desimportancia.
Se o preço do feijão não cabe nas estrofes do poema,
o poema se ilimita, na capacidade descrita nessa ânsia.
O poema não quita débitos anteriores das palavras.
O poema apenas berra, onde o silêncio do poeta o depara.
Pode até ser, que o poema escolha as palavras pouco claras.
Sua fragrância, francamente eu discuto, nessa flor inadequada.
O poema fura o ar do imaginário como a ponta de uma lança.
O poeta usa a palavra, no que dela, o diafragma é ofegante.
Um no outro se esfrega, corpo a corpo, em inafável contradança.
Ilusionista, ele aponta no espelho, o espelho do espelho.
Cuja imagem só reflete se há luz, no escuro é delirante.
Para que um haja no outro, o aviso é o impreciso da escala.
Discuto, eu com o poeta, se ele é sua palavra nesse instante;
Ou se aponta simplesmente, nesse escuro, um olhar ignorante.
O poeta é caótico, e o seu sorriso patológico é vermelho.
Sua boca diz a mim, o quanto, em mim, o seu poema é interessante.
Digo então para o poeta, aonde a ausência da palavra é seu destelho.
O poema quer passar pelo buraco da agulha, paquidérmico, gigante.
Eu discuto com o poeta, se a palavra é ele mesmo em vocábulo elegante.
Se na ponta da caneta, a ele mesmo, a palavra é um cinismo provocante.
O poeta me revida com uma rima de palavras proeminentes,
me instiga, ao me dizer que elas são feitas da união tempo e história.
Ele briga com as palavras boca a boca, olho a olho, dente a dente;
Até que elas saltem quentes, diferentes, da barriga da memória.
A poesia é mulher nessa palavra iluminada, ela é parturiente.
Quando nua, a poesia, é coisa viva, é erogenia humana, é glória.
O poema, insistente em ser poema, sai sem pena, inconsciente à trajetória.
Vão poema e poeta, estão, bebidos de sentido e aguardente, vão embora.
O poeta e o poema se esfaqueiam numa briga em sangue quente;
Pelos pulsos do poeta, o poema, ganha vida alucinante nessa hora.
Eu discuto com o poeta se a palavra é de tamanho elefante.
O poema e o poeta se percutem um no outro em codinome.
Eles são, os dois unidos, o som de mil auto-falantes.
Já eu sei que o poema é o humano, na razão pura de Kant.
Ao poeta eu fustigo, para que ponha logo fogo no poema, e nesse fogo o detone.
Ele diz que as palavras são compostas no real, são o real com outro nome.
Assim cada uma delas tem um ciclo, nesse ciclo se consomem.
Da cultura o poema nos acena, como magma nos aquece.
Se o poeta e a poesia vivem juntos, é como a crença e a prece.
A poesia e o poeta se conduzem, em ambas partes dessa ponte.
Se atravessam no caminho com o amor de um casal que se merece.
Depois disso cada um vai pro seu lado, como a vida fosse ontem.
Mas traduzem nesse encontro, tão presente, o futuro que há no homem.
Somos
Meu tempo no seu se repõe e se confunde,
nesses braços da Nuvem de Valparaiso.
Eu me apoio nos sorrisos que me deste amiúde,
trago a vida no que é feito desse efeito inteiriço.
Caminho desconhecido, essa é a onde que tenho.
Sou dos fatos, e assim fulge tudo o que mais creio.
No carinho que há em mim cabe um taparro Portenho.
Sou dos vinhos, sou Cinzano, sou nos passos Bamboleio.
Quando enfim o eu somos nós, é que mais me realizo.
Sermos dois é sermos juntos onde tudo é atitude.
O amor enceta a vida com seu dardo mais preciso.
Sobre as fotos os registros desse tempo altitude.
Onde os pés beirando nuvens, avisam aonde piso,
serei sempre mais feliz, sendo nós sem solicitude.
Umbigo
Ifé é o berço do homem,
nascente da sua fé.
As crenças se iniciam ontem,
o futuro só as põe de pé.
A pé caminham aonde
o próprio homem as quer.
Quando ele quer as esconde,
na pergunta que responde
em nome de um Deus qualquer.
Das redes
Sempre é preciso cuidado, com muita atenção,
para a possibilidade da paralisia travestida
na aparência de conteudo, ou movimento de vida.
Essa falsa amplitude pode esconder apenas uma ilusão.
A letargia imobilizante nas telas, pode ser custo ou caução,
cobrados à uma geração que tenta matar a sede,
com a água imaginária que a virtualidade lhes concede.
Indivíduos se agarram aferrolhados, como ganchos nas paredes
existentes no psiquismo social das redes.
Tornando-se apenas evidentes condenados à colorida,
maquiada, e mais desumana face moderna da antiga solidão.
Visão de mundo
Eu e o que é de mim, em tudo, não sei sempre.
Vivo o tempo dividido, ele mesmo, em partes três.
O passado guardo o quanto à memória o venha.
O presente é um fogo a queimar em carne lenha.
O futuro não vem sempre no rosto que imaginei.
Os dias meus nunca o são da eterna idade.
O tempo venta na cabeça em que o raspei.
Mundana e curta é a má perversidade.
Trago às narinas o ar da felicidade.
Porque a vida é um fato forte, e mais não sei.
Aos inimigos tempo nenhum dediquei.
Aonde eu vivo é aonde areja a vida.
Trago nos versos o punho da mão direita.
Doença alheia em meu corpo não se ajeita.
Pobre é o despeito, e a inveja é uma ferida.
Não vendo à Deus as respostas dos meus erros
Os meus segredos são para quem deixo entrar
Outros desfazem dos detalhes dos seus medos
Ah! Como é alegre o engano ao ledo
Não chego cedo para não me atrasar
Poucos me dizem quantos Eus existem quentes
Um por dentro, outro por fora, e ao outro a lei
Se Europeu, Nagô, Judeu ou Tupiniquim
O meu começo não tem o endereço do fim
Eles que ponham olhos onde não olhei.
Olhar paisagem
Ficam-me olhando com esse olhar de janelas.
Pessoas como eu quebram no corpo, suas fronteiras.
Fazem-no, eles, os que não conseguem passar por elas.
Mas quem enfim não as têm?
São precipícios!
Aquém de si próprios tangem-se nas falésias, pelas beiras.
Miram assustados o universo do tudo que não sabem.
Preservam-se do que não sabem, protegidos pelo sossego,
garantido do que é o óbvio, é paisagem.
São as fumaças do medo.
Santas essas pessoas calmas, distraídas nos recatos dos seus centros.
Sem correr riscos imponderáveis por princípios.
Protegem seus rostos de vidro, contra desconhecidos ventos.
Quem de si não sai por um único momento, viverá apenas normal,
viverá apenas morrendo.
Sujeito objeto
Agora o peso do corpo exerce o domínio.
Fascínio é a ideia, no tempo, vizinha da paixão.
Represado em limites, os músculos só desafinam.
Trafegam sem rima destoando os pés, o tropeço e o chão.
Mas se o tempo, senhor de mim, me fez seu desatino,
Mas se o tempo, senhor de mim, me fez seu desatino,
se destino virei, faço eu mesmo objeto e regeneração.
Todo lento, devagar, devagar, devagar, devagarinho...
Todo lento, devagar, devagar, devagar, devagarinho...
Num carinho que possa trazer-me por rota alguma solução.
Eu comigo, sou o atributo do equilíbrio ausente.
Eu comigo, sou o atributo do equilíbrio ausente.
Desconhecido do meu próprio corpo, meu sozinho,
na nudez do desejo, de noite, de rua, de amor e de taça de vinho.
Desespero um sorriso de humor, que gargalhe da dor simplesmente.
Quero de volta a torta visão que me fez desde antigamente;
No esquerdo do peito e no abraço, da trêmula mão, o caminho
desentrave em mim a barreira, e me devolva ao precipício da razão.
na nudez do desejo, de noite, de rua, de amor e de taça de vinho.
Desespero um sorriso de humor, que gargalhe da dor simplesmente.
Quero de volta a torta visão que me fez desde antigamente;
No esquerdo do peito e no abraço, da trêmula mão, o caminho
desentrave em mim a barreira, e me devolva ao precipício da razão.
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