Fotografia- Olhar- Caco Alves
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O que é de dentro da gente demora uma vida para ir embora,
como coisa pertinente, se fixa solidária, mas isso é outra história.
Pode ter cheiro, perfume, odor, aroma ou até fragrância.
O que sobra de nós, mesmo assim, as vezes é uma deselegância.
São coisas de dentro, das víceras da alma, traços de nossa tragetória.
Marcas que queremos que desçam, que vão para longe, para fora.
Esperamos que caiam para sempre no ralo sanitário do esquecimento.
Mas ficam, ficam grudadas em nossas paredes duras de louça,
como a pedir clemência, e que de alguma forma alguém as ouça.
Coisas agrupadas vindas do interno, agarradas como nódoas concretas, cimento.
Por mais que as lavemos, joguemos agua, não passam, não morrem, não evaporam.
São coisas intimas que sempre engolimos vida afora; Com ou sem conhecimento.
Elas resistem ao ponto de aborrecer, ou mesmo de nos dar muito, muito trabalho.
Expostas como descartes involuntários, cartas sobradas de um jogo, como lixo do baralho sobre a mesa. Essas coisas ficam sempre retornando vorazes, incômodas, contidas.
Não querem ser exiladas do corpo de nossa existência privada.
Comuns às lembranças de alimentos, são os pratos da infância.
Elas permeiam a memória, como arquivos girando por pura implicância.
São as sobras de tudo dentro da gente, quando resistem a serem nada.
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