Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

O circo da alma


O tempo no circo da alma
O tempo, no circo da alma,
não tem gás paralisante.
Nos seus músculos inexatos
ressaltam os beijos dos fatos,
num descarte deselegante.

O destaque mais provocante
quebra o salto na avenida,
e o ar que respira é a vida,
ocupada na sua própria lida,
em suas horas mais ofegantes.

O tempo, no circo da alma,
deixa nos ossos desgastes
de cujas paredes resgates,
se avincam quaisquer semblantes,
no afogadilho do trauma.

Salvando o que pode ou pôde,
como andarilho errante,
se descobre, o itinerante,
que a vida ferve na calma
do que será sempre o hoje.

A confiança no circo da alma


A confiança
sempre esta
aonde a coloque
a coragem de ser
indivíduo consciente
de si mesmo
e plural no universo
de todos.

E nessa andança
faz o lugar.
Sem ter recalque,
encara o tal que
a história
há de coser.

ponta de lança
salto da dança
perseverança
com um sorriso
nos dentes.

E sem ter aviso
do improviso
dói como um ciso
abrindo espaço
na gente.

Vai simplesmente
seguindo, em frente
do eu que habita você.




O falso self no circo da alma

Quem não vive
não serve
quem não serve
não ferve
Quem não ferve
não verve
Quem não verve
não escreve

Vive como quem deve,
quem não é leve.
Não tem força com F
Fica ausente,
escondido e excludente.
Fita o fora de si,
não se entorna evidente.

No entorno age como quem decora.
Não se atreve no real, no agora,
diante do outro apenas evapora.
Causa sem calças e com a realidade breve,
se a vida for feita na farsa do "FALSO SELF".




Transferência


Perdi o sono e o sonho
produtos de uma minha alegria.
Cujo consumo tão rápido
foi raptado nos fatos do hoje em dia.

Tudo se foi, eu suponho,
qual juventude da mercadoria.
E hoje eu me recomponho
do conteúdo trágico,
de um real que eu não queria.

Mas nega-lo por ser medonho,
ou no mínimo enfadonho,
não mesmo, não poderia.
Portanto minhas mãos lhe ponho
resoluto e pragmático.
Vou fazer desse antipático
uma outra fisionomia.

Dessa prisão, com a teresa,
sairei virando a mesa,
transformado em valentia.
Resgatando como magia,
com a força que há na certeza,
do tombo farei firmeza,
do estrago sabedoria.
Acabada essa tristeza,
não haverá tibieza,
Eu vou fazer o outro dia.


Gastrópoda




Depois de um pedaço já gasto da vida,
já se pode desfazer a mala de sustos.
A cada peça de roupa saída
a cada ideia esfoliada nas marcas da pele,
mais leves ficam meus ossos.
Mais livre e comprometida
com a dignidade, fica a face encrespada.
Mais claros ficam os pensamentos do incerto.

Evidentes e calmos, os meus olhos
aprenderam a olhar, em silêncio.
Depois de um pedaço de vida já gasto,
aprende-se a respirar a paz mais de frente.
A respeitar o tempo deposto, mas figurado de sol.

Nesse pedaço da vida,
as mensagens do mar
já não cabem nas garrafas.

Elas grafam aos ouvidos com as mãos
aproximadas em concha.
assim elas falam os havidos
da precisão marinha e do cais.
É nas histórias dos filhos
que estão inscritos os pais.


Passos



O quanto erramos no tanto, é fissura de nos mesmos.
Comuns enganos são dados das posturas meio a esmo.
Às vezes planos guardados, na arquitetura aonde os lemos,
provocam danos de fato, como a gordura do torresmo.

Se no entanto o tempo avisa a tempo antes tais erros,
por mais ou maior espanto que no real soprem os ventos,
saber voltar ao principio é o caminho mais inteiro.
Somente plenos, inteiros, é que nos vem sabedoria

Mercadoria que não o é, pois não se vende ou se compra.
Também se sabe, na vida, ela não vem qual coisa pronta,
a sua origem total esta no que não se sabia.
Há que busca-la aqui, outra hora é ali seu paradeiro.
Pois a ninguém é dado ao fim, nem a mim, sua moradia



Paradoxo



A amizade é  uma gastronomia repartível
Solidão é uma erosão sem curva de nível
Cumplicidade é mesmo um silêncio audível
E o amor? Ah! O amor!
É de todos, o paradoxo mais incrível!

 

A função no circo da alma




A tristeza quando vem furando a lona,
sentando á frente na cadeira de pista,
quando em sempre é invasiva essa senhora
de semblante taciturno e intimista.

Tão sombria por aonde passa, que odora
seu perfume próximo à melancolia.
Seu pesar contrasta o leve da alegria.
Seu olhar de mina d'água sempre aflora.
Tem no ventre o embrião da tragédia,
como um vulto contraparente da morte.

Gesta a dor, o dissabor e a má sorte,
quando ao pulso ela nos toma a rédia.
Traz a cor de cinza chumbo dessa hora,
seu poder pode nublar a luz do dia.
Quem a segue vai jurar que não queria
e o desejo é mais que ela vá embora.



Uma dose



Minha poesia tem o interior desvairado.
Seus significantes fogem da cadeia nos versos.
Deixando em sobressalto e abertos os significados.
Nesse desatino de sujeito, então miro o diverso.
Ela se apropria dos signos e os revira, os distorce
para um outro olhar diferente. Mais liberto
a quem os sentimentos decifre, ou chegue perto.
Meus versos são um veio, são só um recado
para esse olhar mais aflito de gnose.
Na solidão de um saber mais  aberto,
eles que sirvam de pequenas doses.
Estivando as palavras para outros barcos.
Reanimando objeto nenhum eu fica vazio.
A história é o segredo, da minha aldeia é o leito do rio.
Pavio  que se transmite em poderio não alienado.
Quando vista em pertinência e atavismo,
toda linguagem abriga em si o seu abismo.
Mas antes, decerto,  tece seu abraço emaranhado.



Ponte



A vanguarda não é um prato, é a fome.
A estrada não é o passo, é o destino.
O adolescente não é o homem, nem menino.
Crescer não é guardar a criança no limbo,
e o adulto tem o domínio desse nome.

O caráter não tem cunho alcalino.
As lembranças são os arquivos de ontem,
participam do futuro que se monte.
Fazer anos é atravessar uma ponte,
e crescer é refazer o figurino.

Ver um filho crescer é uma lida.
Apoia-lo é um cuidado que se tome.
Se oriente rapaz, diz a cantiga.
Pois no mundo onde há paz, o couro come.

Sem que a dignidade o abandone,
ser feliz é a busca e a batida,
porque a vida é vulcão em pedra-pomes.
Expandi-la é dobrar novas esquinas.


Falha tectônica



Olho para mim e me assusto sempre.
Pois em mim já não sou o que pensava.
Nesse susto vejo o quanto é chapa quente,
Não a idéia nova por vir, futura,
Mas aquelas que guardei passadas.

Nelas queimei os meus roteiros desmedidos, tortos.
Algo que minha cabeça pensava não serem nada.
Dessas cinzas reunidas forjei o esquecimento.
Tola idéia sobre arquivos das idéias maltratadas.

Enganando-me no tempo,
elas se reavivam noutro tempo.
Como o olhar das outras noites
sobre a hora azul da nova madrugada.

Olhar próprio de um Deus nativo de meu jeito,
Onde sorrateiramente essas idéias se instalaram.
Inquilinas inconcientes não denunciadas
de morada e desejos próprios,

Historiando assim e arrastando mesmo a mim,
àquilo que em minha boca em forçado desajeito,
Insistentemente em silêncio se calara.
Como um Deus demônio de alma safada.

Fazendo de meu forte o texto mudo
Calabouço profundo de águas paradas.
Penhora pobre de uma vida ilustrada em tudo
Luta louca tão atualmente obstinada.

Sigo assim, embora nessa luta,
Eu apenas de mim sou o egoísta.
Pensava sair de ombros, ileso.
Quando de fato inutilmente nos escombros,
apenas fartamente me enganava.


Pontos de vista




Se passo pelo meu tempo,
é o meu tempo que passa por mim.
O que respiro é o invento,
que passeia no meu intento
de ser, e sou meu desejo assim.
Não há nem tarde, nem cedo
na coragem dos meus medos.
Não aguardo nenhum segredo,
são eles que entre os dedos,
escorrem indo à um fim.

A cada certeza havida,
corresponde à paz de um engano.
As certezas são finitas,
até o cair do pano.
Entre o ar e o trampolim,
Nas trocas do pensamento,
o que não sei é o que dita,
pois se o saber mede um tento,
a dúvida em mim levita,
num rastilho passarim.

No rosto os riscos dos planos,
como a evidência  aflita,
desregrados e mundanos,
serão no saldo humano,
o que a realidade me quita.
Esse tempo que em mim deixa os danos,
também me é causa bem quista.
descordo de falsos manos,
dos egoísmos urbanos
nos pontos vastos de vista.


O palhaço no circo da alma



A alegria é um brilho diamante
encrustado profundo no sorriso.
É um espelho público sem Narciso.
O sorriso é seu aviso brilhante,
iluminando o ar por um instante.
Mesmo breve, largo, mesmo conciso,
seu calor dissolve o grão granizo,
em uma efusão de alastrar contagiante.

Quem o tela, sendo seu o apanágio,
faz da clareza fácil o abrigo.
Faz do próximo o melhor amigo,
por natureza, liberdade ou contágio.
A alegria não se encobre em verniz,
não tem vergonha, preparo ou estágio,
não se copia, arremeda ou faz plágio.
É só o ato saudável de ser feliz.



Espelho



Quanta força há no outro que eu precise,
por saber minha a maior necessidade?
Quanto do outro algo é a minha verdade,
que eu a reveja e absorva em mais reprise?
Qual a medida dessa adversidade?
Do que eu não sei, ele o saiba e me avise.
Pois ao invadi-lo cometo o meu deslise,
ao qual nomeio como afetividade.

Qual a energia que do outro tomo a mim,
fazendo-a minha, nessa força, em propriedade.
Sem saber mesmo qual motivo, meio ou fim.
Eu a permeio por fazer minha vontade
Qual a medida, na linha realidade,
dessa cobiça emocional forjada assim?
Domino a caça em que resulta tal butim,
quando o que é meu, quero no outro por saudade.



O malabarista no circo da alma


De acordo com o movimento
pendular no círculo dos pratos,
há mesmo que se equilibrar
na atitude da sensatez.
A realidade ao se debruçar
total e inteira na ordem dos fatos,
faz girar a vida que se equilibra
em sua cigana rapidez.

Vai quase cai não cai,
segue seu mistério,
seu artesanato.
Gira como um passista
mestre nos critérios,
faz a sua vez.

Sendo o discernimento
próprio ao bom momento,
ou na acidez.
Requer bem mais atenção,
calma e coração,
como aparato.

Mesmo se estando triste,
e a tristeza  insiste
como embriaguez.
Segue, passo vai por passo,
construindo o novo
no sentido lato.

Pode parecer bem árduo,
dia a dia, ano a ano,
hora a hora, mês a mês.
Mas,  isso é o que fascina,
aflorar estima,
ativo e sensato.


Despertos




Nunca me foi permitido ter medo,
fraqueza diante da vida tão pouco.
A fragilidade  em mim, nesse enredo,
foi uma desconhecida desde cedo,
falando assim parece algo louco.

Porque o medo é senso necessário,
no mínimo para o abraço protetor,
fazendo o ser humano mais gregário,
mais gentil, mais ancho, mais solidário,
mais profundo na largura do amor.

Não me foi permitido, por degredo,
esse sentimento genuíno e puro.
Incapaz de desvendar o segredo,
decifrar tão mal desassossego,
ao vê-lo em minha amada fico duro.

Aonde a dureza é cega, há poesia,
e a palavra é pedra dura, é rochedo.
Mesmo não sendo aquela que eu queria,
pois não saber não serve à valentia,
acho que temo mesmo em arremedo.

Sentindo assim como caricatura
eu vou em frente, e acho, vai dar certo.
Porque a vida é a melhor ventura
proponho as fichas nessa assinatura,
resiliência é o que nos faz despertos.


O acrobata no circo da alma



Kãma fazendo o convite
ao instinto passional
Divindade em Afrodith
Fuga aos demonios de Lilith
Pior pecado capital
Anuket deusa do egito
Aonde Pan põe o apito
da alegria interracial
Sob as camisas de Venus
sopram os desígnos de Eros
sobram gemidos e berros
alguns mais e outros menos
Dionísico ritual
feito ao luar Muísca
impossivel a onanistas
Tlazotéotl imortal
Seja em que povo for
Sade é prazer na dor
Luxúria é Carnaval.
Mas ao fim dessa paixão
vazia vai sem virtude
quem dela vive se ilude
na solidão amoral.






O globista no circo da alma



O que digo pode ser bem duro, mas quem tem que lutar por dignidade todos os dias não possibilita perjuro. O que é vivo assim, tende mais cedo a ficar maduro.
Conquistar sua inclusão depende ademais da força diligente da valentia.
Para muitos a vida é a resistência de um enduro, é precisão de energia. Esses não têm tempo para futuro, descobrindo a existência no agora, sem anestesia.
Seja nos dias claros ou escuros, seja nos abusados absurdos, seja nas vilanias, nas tragédias, seja lá nos piores apuros, seja no que houver de comedia, Seja na hipocrisia dos turvos, seja nas ventanias das rédeas das minorias, nos muros mais indiscretos dos preconceitos burros da covardia de quem só fingia ser, na resistência de cunho absoluto.
O humano é a fonte e o desgaste da ecologia.
Se a vida no fundo é traquicardia, o criativo é passar pelo mundo sem a perda natural da alegria.


O cospe fogo no circo da alma



Ira não é coisa que se adquira
por conta de episódios.
Não se conta no relógio,
não se amarra com embira.

Não se vira nem revira.
Sentimento monocórdio.
Não contem troféu nem pódio,
nem visão. É erro em mira.

Também tem por nome ódio,
rancor, aversão ou fúria.
Diarreia tão espúria.
Doentio monopólio.

Pois quem o sofre sem saber
tem uma dor descomunal,
amargando o desprazer
de um pecado capital.


O elefante no circo da alma



Gula é estômago compulsivo
Faz do afago digestivo
cerimônial glutão.
Um farnel farto e abusivo
ao paladar atrativo,
gastro gosto bem gordão.

À entrada vemos um aperitivo,
ao couvert já bem fornido,
Foie gras, vinho e pão.
Sem contar o prato da entrada,
depois vem macarronada,
pururuca no leitão.

Cinco chopes, Ciabatta,
muito azeite na Burrata,
ou até sardinha em lata,
para a gula é um quinhão.
Muito açucar com certeza
tem que ter a sobremesa,
sendo em calda é uma beleza,
chocolate, mel, mamão.

Quem degusta se entope,
tem glicose alterada,
tem pressão mais elevada,
muita massa, muito inhoque.
Se lhe cabe o escalope,
maionese com batatas,
ou maminha de alcatra,
é questão de puro enfoque

LDL é o cão
nas dietas mais erradas.
É questão de opinião,
um deboche na salada.
Tem gordura em profusão
no deguste da rabada.
Coronárias, coração,
são coroas complicadas.

Com o tempo as enzimas
param tudo, fazem greve
excedendo as proteínas.
exercendo a clara em neve,
indo mesmo ao suicídio.
Por comer mais que se deve,
por querer triglicerídeos.
a obesidade atreve.

Nesse aumento estomacal
elas são complexadas,
vão ficando mais culpadas,
no limite passam mal.

Se o sujeito come muito,
não evita o Vatapá.
Não despensa um torresmo
com bomba de Guaraná.
Até não caber no mesmo
cumbuca de Tacacá.
Contribui com o presunto,.
Para fechar o assunto
ainda come um Abará.

Pá de cal é aonde isso finda,
no final que coisa linda,
na cidade do pé junto.
Já sem sal, saúde míngua.
Boca em bolo de fubá.
Salivando até no olhar.
Pouca fala sem assunto,
que a língua é de mastigar.

Tal barriga na berlinda
fica tão descomunal,
devo dizer: Cabe ainda
acidente cerebral
alguns goles mais de Pinga
faz gordura acumulada,
por ter causa dilatada
em  pecado Capital.




A bruxa no circo da alma




Avareza é um medo pecuniário.
Uma falta, um déficit estrutural.
Com certeza vem do imaginário,
num profundo vetor solitário,
é temor inseguro e pouco original.

O acúmulo tem maior valor primeiro,
no apego retensivo ao bem material,
A sovinice sorrateira é ato pouco visionário,
até mesmo doentio, de cunho patrimonial.
Mesquinhez guardando o inteiro
afeto pelo dinheiro, de modo individual.

A avareza é uma praga
que seca o homem pelo centro,
todo o tanto é algo por cento,
seja por fora ou por dentro
ou qualquer forma de paga.
Ela carrega uma incerteza,
um pseudônimo de riqueza,
mas mendiga a falta de paz.

A avareza é a correnteza
vertendo sempre para dentro.
Guarda em si um mal tormento
se todo o gasto é ladravaz.
tornando  pobre ao avarento,
esse é seu grau contrassenso,
quanto mais guarda, falta mais.



A contorcionista no circo da alma



A preguiça é sempre a inquieta
e difícil arte de não fazer nada.
 É a ocupação mais completa,
é capacidade do atleta
focado em única meta
da essência desocupada.

Há que respeitar o seu ritmo,
olhando a vida com calma,
Potência de logaritmo,
é assim que ela é.
Ocupa dos dedos dos pés
até o fundo da alma.

A preguiça tem seus mistérios,
precisa concentração mesmo,
não basta ficar parado
com o olhar estacionado,
não é fazer nada a esmo.
É mesmo um assunto sério,
nem todos são preparados.
Para muitos há espinhos cardos
que impedem seus privilégios,
em muitos causa tenesmo.

Essa virtude tão sábia
por si já da tanto trabalho,
que muitos lhe metem malho,
que muitos lhe gastam lábia
contrários à sua batalha.
Os tantos querem cangalha,
ou murro em ponta de faca.
Depois reclamam do talho,
guardado em fronte grisalha.

Preguiça é o drible da vaca,
é a perfeição mais asceta
que a nossa vida arquiteta,
não tem erro, nunca falha.
Sendo atitude completa,
ela não permite atalho
onde o trabalho se meta
armando sua barraca.

Essa tão nobre atitude
não é dada a qualquer ser.
É preciso ter virtude,
É preciso merecer.
Ter latitude e longitude,
ou mesmo aptidão,
ser dono maior do tempo,
saber degusta-lo lento,
não o deixar ser patrão.

Qualquer movimento rude,
se o puder, faça não.
Acalme a respiração.
Cuidado, não se assuste
com o feitio do prazer.
Tenha-o por premissa,
concentre-se na preguiça,
deixe-a tomar você.



O levantador de peso no circo da alma


Mágoa é um ressentimento,
é tralha de fundo de sótão.
Crava seus dentes na gente,
queimando em larva candente
derramada no coração.

Concreto armado em silêncio,
construindo ao longo do tempo
um monumento ao descontente.
Pobre de quem o sente,
é um inimigo do perdão.

Tragedia interna e tardia
que dista do arrependimento,
na lenta dramaturgia
percorrida em passos lentos,
rumo ao culto do sofrimento
revido em mais solidão.

Resultado de um agravo
do qual se torna escravo
o fígado pertinente.
Chicana da afetividade
petrificada no vento.
Sua triste fisionomia,
ganha um maior acento
na solução sem solução


Mergulho no circo da alma




Não se expõe ao ridículo?
Não tropeça no acaso?
Nunca trocou um passo?
Nunca pagou um mico?
Nunca foi um palhaço?

Nunca queimou o filme?
Nunca perdeu razão?
Jamais errou na mão?
Há algo que o desafine?
Quem não perdeu ilusão?

Quem nunca cometeu gafe?
Nunca deu maior mancada?
Quem nunca cai na cilada?
Quem não sofreu xeque-mate?
Quem não entrou na roubada?

Quem nunca pisou na bola?
Nunca foi um desastrado?
Quem nunca foi questionado?
Quem nunca disse e agora?
Quem nunca foi o culpado?

Nunca falou uma bobagem?
Quem nunca desdenhou fé?
Quem nunca foi um lelé?
Quem nunca manchou imagem?
Quem nunca falhou até?

Quem é total e desperto?
Sem um vacilo qualquer?
Quem é maior que Javé?
Ou é normal tão de perto?
Quem nunca caiu dos pés?

O erro é o pai do acerto.
Salvo o menor engano,
meu caro amigo fulano,
o ser humano  é conserto,
e o mundo é a falha do plano.


O mágico no circo da alma



O orgulho é por si um autoimune.
Vagueia entre os olhos e a mente.
Para muitos é mal de semente,
quando é pura soberba impune.

É um ilusionista, o insolente,
quando ilude no que é aparente,
como jeito qualquer em que se arrume
outra força maior, e mas silente.

O orgulho paramenta um perfume.
Quando é altivez tem lá razão,
mas perdido, em defesa, é estrume.
Se é limite, é pobreza e presunção.

A arrogância é casca, um tapume.
Escondendo algo na escuridão
da cartola negra dos costumes,
nas couraças com odor de curtume,
depositárias de uma outra tenção.



Forno íntimo




Meti a mão na cartola
e não saiu o coelho.
Corri no fio das horas
do esmeril do ferreiro.
Bati no ferro a bigorna,
busquei mil e um conselhos.

Tentei fazer a macumba
mas me faltou o terreiro.
Desfilei cinco escolas
e não achei o pandeiro.
O pique não vai embora
porque ombreia o guerreiro

É a minha vida na mola,
na correria danada.
Agora é que fuma a cobra,
dentro do cesto enrolada.
Se a roda não colabora
com os buracos da estrada.

Não adianta revolta,
não adianta intifada.
Zerando no noves fora
a conta não está fechada.
Dentro do calor do agora
a solução é assada.



A bailarina no circo da alma



Vaidade, essa criança sapeca.
Penteia-se junto ao espelho,
mesmo que sendo careca.
Prima dileta do orgulho,
tão solitária, é um balão.
Vive se vendo no céu,
vive seu mundo alçapão.
Quando é excesso, é entulho.
Quando sem corpo é barulho,
Quando sem faro é ilusão.
Essa levada da breca,
sempre vestida em vermelho,
pode quebrar-lhe o joelho
com seu charme de maneca.
Muitos lhe perdem as cuecas,
Por ela queimam salários,
causando males tão vários,
dor de barriga ou congestão.
Vaidade, essa boneca,
esconde o que introjeta
como sendo solução.
Porque dança essa bailarina?
Se na próxima esquina,
pode bem cair no chão.


O anão no circo da alma



A inveja é trêmula,
apequena, é falha de gosto.
Não tem aparente rosto.
Quando ataca não é amena.
A inveja quer do outro, o posto.
Não sabe cantar canção,
não pede, mete a mão,
age mal, parece encosto.
Ataca na escuridão,
essa mesquinha impúbere.
Deseja o que não tem,
tão infantil e insalubre.
Estéril fronte em alguém,
cuja arte é um desgaste.
Não soma, rouba uma parte
sem sombra e sem mesmo alarde.
Cuidados há que se ter
com o sentimento invejoso.
Não pode ser musculoso,
esse estranho jeito e prazer
de querer do outro o gozo,
e não dedicar repouso
enquanto não o puder ter.
Cuidado com o falso, amigo,
que por não conter umbigo,
não sabe o cordão romper.
Da mãe será  sempre um filho,
na falta de um estribilho
melhor que se possa dizer.
 Esse sujeito invejoso
cujo voo não sai do pouso
fica velho sem crescer.



Narciso no circo da alma



Escraviza-se no espelho
imaginário, sem o olhar,
no que se mantem de joelhos,
ensimesmado num altar.

Mas o escravo, por conselho,
não se espelha ao não se ver.
Nesse momento aparelho
sega os olhos ao prazer.

Num tal desvio, nessa onda,
flexiona o seu desejo.
Narcotizado, nessa lombra,
entorpece ao sombrear
a própria sombra,
em satânico cortejo.

Nas pedras paredes de Eco,
do erótico fulcro, o sobejo,
grita à ausência do objeto
tão aclamado, é um adejo.

Sendo o desejo o sabor
que se externa no alheio
no outro há de estar o veio
O doce e o leve do amor

Se a vida é de ser breve,
não se a perde em solipsismos.
Só narciso à imagem deve,
e a solidão é um abismo.
A beleza é uma tênue flor,
O tempo do amor é conciso


Meia boca



A vida como ela é,
pode bem vir a ser outra.
O tempo é uma porta aberta,
e o agora é coisa pouca.
Quem fala meia verdade,
guarda metade na boca.

Essa verdade encoberta,
se vista com acuidade,
silente,calada, quieta,
com face de coisa morta,
aparentemente incerta,
outra verdade denota.

Se uma parece incorreta,
a outra verdade é torta.
Uma na outra se infecta
numa atitude devota.
Se a primeira não despe fé
a segunda já pouco importa.



Vagas



Sem ter aonde se espelhar ninguém vê a própria face,
sempre terá que tateia-la em si mesmo; Isso leva tempo.
Leva tempo para se construir um olhar.
Às vezes se parece com o nadar
em busca da curvatura do mar nas dúvidas,
nas vagas marinhas  da humanidade.


O leão no circo da alma


O desejo é o leão na jaula dos corpos bem educados.
De certo sua liberdade é unida à nossa cultura.
Na carnadura de ideias do edifício da criatura,
o desejo pode ser regrado para não queimar em fervura.
Sendo tolhido na origem forma o existir acanhado
Pode ficar  na vertigem, contaminado é a loucura,
queimado traz na fuligem a origem do que o segura.
Ele é aonde o ser restaura sua existência madura.
Encorporando o então, vivo, no pleno do realizado.



O humor no circo da alma

O humor é um ato espontâneo,
contínuo e maior quanto mais leve.
Um olhar gaiato sobre o instantâneo,
quando o coração é meio moleque.
Surge de repente como um ato falho,
colcha de retalhos da imaginação.
Afiado ao dente, riso de escangalho,
vem quebrando o galho como solução.

Nobreza corcunda no seu baronato,
um  autorretrato  nobre, o Itararé.
Tem da ironia todo bom olfato,
olhar de um gaiato, sábio é o que ele é.

Pobre é o sujeito sem esse valor,
quem toca o hilário, toca a humanidade.
Todo humorista ri da própria dor,
pobre sou eu mesmo de comicidade.
Minha veia acena para outra vontade.
Sofro o enfisema desse mal humor,
pois de engraçado tenho na verdade,
somente a metade, a outra me escapou.


Os fatos no circo da alma


Os fatos, no circo da alma,
não têm gás paralisante.
Nos seus músculos inexatos
ressaltam os beijos dos atos,
num descarte deselegante.

O destaque mais provocante
quebra o salto na avenida,
e o ar que respira é a vida,
ocupada na sua própria lida,
em suas horas mais ofegantes.

Os fatos, no circo da alma,
deixam nos ossos desgastes
de cujas paredes resgates,
se avincam quaisquer semblantes,
no afogadilho do trauma.

Salvando o que pode ou pôde,
como andarilho errante,
se descobre, o itinerante,
que a vida ferve na calma
do que será sempre o hoje.


A dependência no circo da alma



A dependência é um muro alto
para as exigências mais  básicas.
A sua natureza pode não ser mágica
para a existência, só um desfalque.
O hiato de viver não é atitude sabática,
é sim, o desvendar de coisas trágicas.
Por mais que se esteja incauto,
sob o céu azul do cobalto,
ou que a trilha seja errática.
Os fatos têm carne enfática.
e a dependência é antipática.
Há que se suprir do fácil,
descortinado sem palco.
O dependente, esse ilustre fidalgo,
ao não saber a gramática corporal,
em qualquer passada lunática,
desatenta ou pouco prática,
produz marcas em seu tátil.
É o corpo nos dizendo algo:
_Ah! Como a vida é frágil!



A gente


Diferente do senso comum,
o ato involuntário
não faz acordo nenhum.
É um  revolucionário,
e está dentro de qualquer um.
Abrigado do pensamento,
provoca á lente, faz zum.
Agente, como o vento,
foca o real do momento
como quem mostra o bumbum



Filosofando no circo da alma



O cheiro doce da fruta da feira que trouxe o outono.
Na fúria rápida do tempo digital do relógio,
também trouxe, em nome da crueldade de Kronus,
o inteiro entorse da luta sem eira, nem beira, nem sono, nem pódio.
Eu confessional, que fui sagrado pela corte real do mundo de Momo,
aonde a alegria insiste nas formas daquilo que é bom,
vou buscando a vida no seio das forças sem julgo, sou único dono.
Ressignificando a existência, faço soma à divindade de Aion.
Pois se essa existência não é dádiva, sem dúvida ela é ávida
na essência; Resistente, ela é livre  no feito entre um e outro jeito.
O sorrir e o carpir se abraçam no esquerdo de dentro do peito.
Do sujeito entrecortado entre o pão, a comédia e a arte dramática,
vou buscar o melhor; Se a felicidade é o fim objeto da prática!




Hoje no circo da alma


Uma pequena atitude de felicidade numa pitada simples de carinho.
A lucidez da surpresa boa em um afago feito sem motivo aparente.

Um olhar qualquer, mas que seja comovente, com o tato melhor no gestual das palavras.
Um presente singelo e cheio de afeto é a plena brincadeira recheada de alegria.

O tempo é o a mais da disponibilidade para uma tarde de estar junto com.
Umas horas passadas sem ponteiros, laçando o abraço de matar saudades.

O cuidado de um com o outro, apenas por que isso é bom assim.
A certeza da solidariedade tem cumplicidade no cheiro.

O tempo de andar devagar derrete o sorvete pelo calor do peito.
E o beijo, que é próprio do amor, é um pedaço doce de leite do prazer.

A mais absoluta e agradável inutilidade, faz a tranquilidade do verídico da vida.
E a pele do corpo, com sabor de ser, é somente isso, só ser.

O sol cuja luz vem do outro, é o outro, que em nós,  nos faz maior.
O balsamo cessa  a possibilidade da dor e para o domingo, que não acabou.

O braço confidente é radiante, a delicia do chamego erotizante.
A beleza leve da companhia, bole a fervura inconsequente dos amantes.

O absurdo de ser humano despe o que se apura, no inconsciente
do por acaso da existência. É o destino por mais um dia.






Sinapse no circo da alma


Há em nos algo que somos e não sabemos tanto o quanto.
A consciência é na origem um labirinto em segredos.
Quão celular o cérebro é, um emaranhado arvoredo.
A se saber o que nos difere em relação a outros bandos.
No intra córtex habita esse segredo, misterioso tamanho.
A se desvendar na hercúlea chama da neurociência.
Quantos bilhões de neurônios haverão? qual competência?
Em número e em ordem basal é desconhecido tal ganho.
Tanto se sabe, e esse tanto ainda é pouco, tanta é a pesquisa.
E o que se sabe é parte de um quebra cabeça em tantas peças.
O interior do interior como funciona, é um desvendar que resta.
Essa certeza da incerteza, esta na mesa, a riqueza mais imprecisa.
Quanta beleza  Suzana, essa operária em sua sábia oficina.
No desafio que conduz o homem por força e fome, ou curiosidade.
Tudo se sabe, tudo se esquece, muda de nome, o falso e a verdade.
Todo o inteiro no cerebelo, mais que um cabelo, mais que a glicina.
Nesses bilhões, nesses sertões, neuro grotões portais inclusos,
Só dez por cento não é verdade da utilidade mais cerebral
Sinapse anatômica libidinal forjando a tônica com seus impulsos
diz ao poeta da natureza em seu tormento: Esse é o quintal!



Poema do erro no amor



Epígrafe do Poema dos olhos da amada de Vinícius de Moraes
.
Ah! Minha amada
que aos olhos sofreu.
Procura verdades
trocando metades,
como indo a Deus...
Tem desesperanças,
na contradança,
por erros meus...

Ah! minha amada
Não sou fariseu
Se acaso não sabe
a calamidade,
o desastre, sou eu.
Tão velho e criança,
quebrei confiança,
no que aconteceu...

Ah! minha amada.
Se o cristal rompeu,
abriu-se a cratera
na flor mais bela
do nosso apogeu.
O sal sobre a terra
sobrou a quem erra,
e o erro é meu...

Ah! minha amada
não me diga não.
Se todo o desgosto
distante e torto
te fere a razão.
Fiz triste seu rosto,
de alma e de corpo,
eu peço aqui perdão...



Trilogia no circo da alma



O neurótico recalca.
O psicótico delira.
O perverso não sente.

Um é óptico e desloca
O outro é involição ou ira.
O perverso é indecente.

A pulsão realojada em um.
Tresloucada no outro vagueia
Enquanto o perverso se alheia

Ao neurótico a norma decide
O psicótico em dois se cinde
A perversão tem requintes

O último é cálculo à guisa
O segundo em si alucina
O primeiro bem simboliza

Três sementes
em solo de gente
germinam imprecisas
É a vida que se realiza...



Leveza no circo da alma



A leveza é incomum ao hábito
Também ela não se aparenta à beleza
não tem perfume e nem hálito
Suas janelas estão distantes da avareza
Nunca se suporta como algo tácito
È uma forma flúida por natureza
Não significa descompromisso,
nem desafeto, nem anarquismo,
posto que só se firma na certeza.
Somente a leveza vive daquilo
que sua falta de peso faz resistência no piso.
Leve plana no ar, qual plano pleno de aviso.
Leveda em um jeito de ser, não é estilo.
Prima pela tranquilidade da clareza.
Estima a atenção, não é cochilo.
Tão pouco é uma desatenção, nem um vacilo.
Princípio dativo da correnteza de um amor vivo.



O beijo no circo da alma



Um beijo é a fala dos amantes
Ou mesmo o afeto dos amigos
Na face beijo é coisa elegante
Tradição na história, é bonito

Um beijo se dá a quem vai embora
A quem chega o beijo é bem vindo
Também se beija o rosto de quem chora
Beija-se em pares quando o amor é lindo

Beijar é ato de maior humana glória
Mostrando um ao outro em convite
Correspondido ele fica na memória
Beijo roubado não é algo que se evite

Beijo à face, beijo às costas, beijo à nuca
Beijo a filhos, do desejo e de novelas
Beijo bobo ou de língua, longa ou curta
Beijam-se eles e também se beijam elas

Todo tempo, todo dia, toda hora
Todos beijam desde o tempo de criança
Juventude de senhor e de senhora
Pois o beijo na idade não se cansa

Beijo aberto ou beijo de amor bandido
Beijo doce, beijo sempre tem sabor
Por vergonha tem o beijo escondido
Qualquer beijo vale a pena como for




Versatilidade no circo da alma



Ter coragem na vida é obrigação ímpar.
O que não quer dizer que seja algo fácil.
Encarando trancos vividos de cara limpa,
sem ter medo dos riscos que nisso é portátil.
O choro é agua que desfaz a tinta,
quando no rosto a tristeza tem volume tátil.
Viver é beber agua de moringa,
respirando a natureza do que é volátil.
A beleza da vida nela mesma se dissipa.
Participar dessa trama visível é versátil.



O extremismo no circo da alma



O Extremismo no circo da alma,
tem origens milenas e agressivas;
Na humanidade forma amálgama,
sinistralidade sem muita esquiva.
A parcialidade é mesmo nociva,
mostrando o como a vida não é alva.
O radical nunca é um homem livre,
pois está preso à ortodoxia.
Repete a noite e não sabe o dia,
sendo um reflexo de como vive.
Se as crenças são provas dos nove,
na matemática kalashnkov,
aqui, Alá e Alí os desative.
Somente a existência há que se comprove;
Nenhuma ideologia pode ter xerife.
Se é a liberdade o que nos move,
a igualdade é um fundo sem glose
e a semente da fraternidade não é um esquife.
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