Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

Beco da fome

Desforra



Aquelas jabuticabas frondejantes,
com os caules revestidos em negritude,
floriam brancas flores, qual gigantes,
plenas de alegrias e altitudes.

Toda a virtude, das arvores doces,
traziam ao farfalhar do tempo infante.
Ceifadas, desfolhada, as elegantes,
ficaram só memórias, e acabou-se.

Por conta dos tijolos e das paredes,
telhados como muros habitantes,
que vivem do progresso seco em sede,
contêm brutalidade impressionante.

Agora quem por lá passa, não sabe,
o quanto ali viveu tanta aventura.
Sobrou a cara dura da cidade,
de pedra, de descarte e de  clausura.

Desmata esconde na sua conjuntura,
amarras de uma história inacabada.
E a natureza perde em sua altura
abaixo foram as jabuticabas.

A quem só vê no vento a cor do agora.
A lápide é a virtude, mesmo errada,
e as árvores tão sábias, tão senhoras,
nas tombas ignaras viram toras.

Com elas foi embora à luz dos tempos,
num outro tempo feito de outra hora.
Aqui chora o poema num lamento,
Pois a lembrança é  um tipo de desforra.




Apanhei de ovo frito


Essa é para quem é Mané
Até de ovo frito apanha
vou ensinar como é
o filé do Oswaldo do Aranha
Vai impressionar a mulher
Quem não a tiver, uma ganha.
Comer gostoso em talher
Pois vou lhes mostrar a façanha

Precisa gostar da carne
A boa é um filet Mignon
Maciota sem alarde
Para comer é tão bom
O corte é um bife alto
no modelo de chorizo
Como a riqueza de Fausto
alarga qualquer sorriso

Mas antes vem as batatas
cortadas à portuguesa
fininhas bem delicadas
enxugadas frita e secas
Também o alho laminado
dourado, mas sem queimar
reservado em tanto farto
vão dar gosto ao paladar

O prato é coisa rica
é uma tradição carioca
vem lá do Cosmopolita
Mas tem em qualquer birosca
Prestem atenção meus amigos
Concentrem, a ideia foca
não vão se prender no visgo,
agora vem a farofa.

Manteiga clarificada,
não pode queimar jamais.
Juntar azeite é a sacada,
pois é assim que se faz.
Bacon, o bom venenoso,
bem pouco, para a saúde,
pois o danado é gostoso,
e artéria não tem virtude.

Soar cebola em cubinhos
Um alho, e Jalapenã.
Também do reino, um pouquinho,
para não faltar em pimenta.
Farofa não tem amarras
tudo vale é tudo pode.
Um pouco de alcaparras
vai ao gosto do bigode.

Picado vai um tomate,
rúcula rasgada a mão,
azeitonas pro arremate,
sem caroço à dentição.
Uma xícara de chá, padrão,
carregada em farinha crua.
Mexam, mexam, meus irmãos,
pra cozinhar com ternura.

Agora é fundamental
dois ovos quebrados antes.
Corrijam o gosto do sal,
coisa muito importante.
Aqui ponho a banana,
ela entra sem censura.
Faz da farofa uma dama,
com a minha assinatura.

Peguem um pouco de arroz,
desse que tenha sobrado,
para ser usado depois,
replicante em outro prato.
Finalizando o serviço
a cebolinha e a salsa
para comer sem juízo
como quem ouve uma valsa

Na montagem cada prato
deve conter a beleza
Os olhos comem de fato
a carne, essa realeza,
Dediquem muito carinho
no serviço à la carte
Um Cabernet é bom vinho
harmonizando com arte.



Dejejum


Tendo fome ela grita aos meus ouvidos
Despertando a sonolência dos justos
Ela gira a baiana em mil sentidos
Taca fogo no circo, o pavio é curto

Ela metralha o sono com dez mil tiros
Ela é light somente na margarina
Mas que fome há de haver nessa menina
sobrepondo à emergência os seus custos?

Todo dia ela faz tudo desigual
Acordando-me para fazer o café
Tem a fome dos monges lá do Nepal
Tem na fala as vantagens de ser mulher.

Todo dia ela insiste para eu levantar
Fica na cama mais tempo de colher
Quer um creme de queijo, quer se fartar
Três torradas ao ponto, quer Camembert

Se não tem iogurte do Panamá
Se não tem fruta fresca, ela quer Jambé
Se não tem pão fresquinho no samburá
Ela faz desatino ou coisa qualquer

Essa fome parece não se aplacar
Ela tira do sério a esse Zé Mané
Cuja vida se aplica em ser do lar
Às seis horas da manhã estará de pé

Para não engordar, ela come pouco
Pura satisfação de um passarinho
Mas se entorna em água o que era vinho
Meus ouvidos de ouvir vão ficando roucos

Se ela não come, a fúria toma lugar
Se preparo a comida, ela diz que não
Se tem papos de anjo, ela quer manjar
Se ofereço, ela diz que não faz questão

Vou botar a comida num alguidar
Para meu santo de maior devoção
Na esquina um despacho eu vou deitar
Em jejum vou pedir por nossa união

Amanhã quando o dia abrir  janelas
Serei eu o motivo dos seus desejos
Pois café matinal não terá mazelas
Vou cobrir sua ira com os meus beijos

Essa ira é embira pra se amarrar
Essa birra é intriga de oposição
Esse papo não tem nem colher de chá
Vou fazer amor, essa é a refeição.




Sem limão



O sol sobre as barracas dos homens.
Verdura, a três por um, provoca empurro.
Tempero é urucum, vermelho puro.
O alho, a granel, é roxo escuro
e as frutas damas doces que se come.
Um olho na freguesa, lá vem ela!
Maçã, morango doce ou melão,
chicória, rabanete ou salsão.
Pechincha pode ser: Já esta na mão,
alface, cebolinha, berinjela.

Os gritos são cantigas pregoeiras.
Carrinhos se atropelam por saúde.
Legumes veneráveis de amplitude
na festa das sardinhas, dos quitutes,
bem cedo se barulha toda a feira.

Ao tempo da manhã, o abacate.
Mascate traz nas mãos maracujás.
Tem coco da Bahia e tem cajás.
Giló, abobora boa pro Jabá.
Cebola pra quem quer levar tomates.

Quem come o pede, frango no caixote,
quem gosta do Carré ou das bananas,
laranja e tangerina são Veganas,
Pastel olímpico e o caldo de cana,
ao som do fruteiro que é um Pavarotti.

Mas antes que o festim descubra a tarde,
como um filé de peixe assado em brasa,
os preços caem todos, perdem asas,
e  a xepa abastece tantas casas,
ao fim tudo se vale ao que arrecade.

Já pouca flor nos baldes do florista.
Da salsa, do agrião, já  pouco resta.
E a couve meio murcha manifesta,
deitada ao tabuleiro faz a sesta,
qual renegada ao sabor consumista.

O feirante arrima com a gelada,
num cantinho de copo americano.
Depois da luta, como um espartano,
depois que a barraca fecha o pano,
relaxa da missão que lhe foi dada.

Por fim o chão consome tanta sobra,
para a alimentação pode ser útil!
Jogada ao não, como objeto fútil,
riqueza sem limão, mas inconsútil,
onde a questão dos ciclos não desdobra.
Os cheiros, como magica, já somem.
Peixeiro já levou seu caminhão.
E a rua desvanece, perde o nome.
Agora é só um caminho e todos vão.
sem cheiros, sem perfume, solidão.




Espaguete à reciclagem



Vamos pelar uns tomates excluindo-lhes as sementes.
Se não me falha a memória por falta de calafate,
as sobras da geladeira serão de um alto quilate.
Meio pimentão murcho, o que sobrou da chicória,
uma abobrinha é luxo, uma berinjela é a glória.
Uma cebola inteira picadinha é excelente,
amassagado bastante de alho vão cinco dentes.

Aquele champinhom de ontem, guardado e resistente,
dará ao molho nobreza francesa por arremate.
Uma colher de manteiga ao azeite leniente,
refogados em conjunto pimenta e sal à vontade.
Se a carne sobrou moída é bem vinda no empate.
Proteína prometida provem porem paridade.
Salsinha e cebolinha vão trazer perfume às partes.

Uma colher de mostarda, se puder seja Dijon;
Juntar à ela o caldo tropical de uma laranja,
dará assim um total sabor cítrico por franja.
Numa pitada de açúcar  a acidez perde o tom,
vamos somar mais massa do tomate que é bom.
No fogo brando uma hora toda coisa se arranja,
Com um dedinho de moça vermelhinha igual batom.

Por fim a pasta ao dente não pode passar do ponto,
de seis a oito minutos na água já bem fervente.
Salgada ao gosto de mar, quem dele sabe o sente,
na textura deverá ela ficar sem desconto.
Pois é nesse paladar que o prazer faz seu apronto.
Da Itália esse manjar se come até ficar tonto,
servido com parmesão ralado bem fartamente.



Goiabada com queijo



A vida é uma magia
despida em alto relevo.
Ela é escola e avenida
uma na outra contida.
É vassourinhas no frevo.

A moça é desinibida.
para quem gosta ela é linda.
Sabendo o quanto é querida,
o sangue lhe corre nas veias.
Nela, como homem menino,
adentra um tal de destino
ferrando o zangão à abelha.

O mel que desce é o tempo,
nele é que tudo se liga
sonoramente em cantiga.
Fervendo a massa em cortejo.

O amor é força sem brida.
Quando vem correspondida
é a goiabada no queijo.
E a felicidade é parida
de dentro de uma barriga
a qual chamamos desejo.



Forno íntimo



É a minha vida na mola,
na correria danada.
Agora é que fuma a cobra,
dentro do cesto enrolada.
Se a roda não colabora
com os buracos da estrada.

Não adianta revolta,
não adianta intifada.
Zerando no noves fora
a conta não está fechada.
Dentro do calor do agora
a solução é assada.



Prato cômico



Não é caldo de galinha, não é Canja.
Não é nada que se sirva no almoço.
Mas tem casca, sem semente ou caroço.
Se parece mas não cresce igual toranja.

Não se pode definir, não há um laudo,
que nos diga se é bolo ou se é doce.
Eu não sei como  surgiu ou quem o trouxe,
Mas eu sei que é gostoso e tem respaldo.

Tem a massa bem cremosa de laranja.
Pedacinhos de um queijo  derretido.
Tem três ovos que devem ser bem batidos.
O açúcar próprio, a fruta  nos arranja.

Junte a tudo uma colher boa de amido,
com três xícaras bem cheias de farinha.
Ponha sal, bem pouquinho, a pitadinha,
bata bem até ficar tudo unido.

Não se esqueça de juntar também manteiga,
duas colheres que é para fazer a liga.
Tendo feito, vá com calma, vá sem briga.
Não tem nome mas não é receita leiga.

Sendo bolo, doce, ou antropológico,
o que importa é o prazer que á coisa cause.
Aprendi ouvindo um blues da Amy Winehouse
não esqueço do fermento biológico .

Unte a forma com manteiga por inteiro,
polvilhando com mais farinha  de trigo.
Ligue o forno e  o mantenha aquecido,
com água quente dentro de um tabuleiro.

Nessa forma jogue então a nossa massa,
sobre o fundo de uma forma uniforme.
Tendo tudo isso feito, e nos conformes,
cento e oitenta graus e a coisa assa.

Quem puder lhe dar um nome gastronômico,
que o faça porque o nome lá não tem.
É saboroso, é saudável e faz tão bem.
Na receita mais parece um prato cômico.




Um pão de queijo e um beijo


Vou dizer o que aprendi para aguçar o desejo
afrodisíaco souvenir, o afamado  pão de queijo
feitos por vovó Bibi, a quem de cá mando beijos.

Tem que ter três copos cheios alem da borda sem medo.
O beijo pode ser doce, mas o polvilho é o azedo.
Um óleo que já bem quente, a mais de um  copo, dois dedos.

Escaldada essa fécula com o calor do óleo quente,
deve-se também fazer, com outro tanto em água fervente,
para a goma então formar quase a massa eminente.

Pois que o bom sabor mineiro, seja o que se o aproveite
quem de água não gostar pode usar opção leite.
Uma colher vai de sal, que ao carimã se deite.

Observe o principal, que vem dar ao pão o nome
também é o fundamento do prazer de quem o come
Queijo Minas, Roquefor, Parmesão ou Provolone.
Mussarela, Emmental, misturado ou Mascarpone.
Qualquer queijo vale a pena para o tamanho da fome.

Depois disso vem os ovos, para início quebre cinco
No prato ou batedeira, bata e espume com afinco.
Junte tudo e mão na massa, nosso pão já vem surgindo.

Apalpe, amasse, aperte, use a força se quiser.
Sove, alise, deslize como em bunda de mulher .
Use toda a expertise, a massa pede, ela quer.

Depois, ainda batidos, mais três ovos e vontade.
Continue, mão na massa, até dar cremosidade,
dar leveza ao pãozinho, dar memória, dar saudade.
Para tal, ponha carinho, ponha amor, mas de verdade.

Feito isso não se esqueça de pré aquecer o forno.
Deixe-o quente, quente mesmo, ele não pode ser morno.
Pois se acaso ficar frio, a receita é sem retorno.

Prepare os tabuleiros para receber nosso pão
faça bolinhas esparsas usando as duas mãos
redondas ou ovaladas, a forma não faz questão.

Deixe espaço entre elas para haver crescimento.
ponha então tudo ao forno e dê tempo ao próprio tempo.
De vinte a trinta minutos sem abrir pra não ter vento.

Depois disso é a hora de retirar a iguaria.
Agora deixe ao descanso dois minutos na bacia.
Com café, suco ou chá, fiz o mimo pra Maria.


Mocotó de bacana



Um caldo de mocotó
pode ser a solução,
para quem gosta de amar
mas falta disposição.
É bom pra desamarrar
trabalho de coração.
Levanta cobra morta,
do desejo abre a porta,
na mulher da aflição.

Precisa de um pé de boi,
dos quatro quero um só.
Lave, mas não ensaboe,
qual segredo de Ebó.
Esfregado no limão,
lavado com as próprias mãos,
bem serrado, bem cotó.
Essa água se lhe coe.
é mais benta, deus perdoe,
pois desmancha catimbó.

Bastante pasta de alho,
da melhor gosto depois.
Marinada em vinha d'alhos,
coisa feita, passo dois.
Facilitando o trabalho,
deixe soar qual orvalho
no vinagre de arroz.
Refogado de cebola,
ralada de forma atoa,
e anéis de alho Poró

Três tomates, sem sementes,
cortados em Brunoise.
Esse é nome bonitinho,
mas para encurtar caminho,
passando por essa fase,
pode cortar em cubinhos,
de jeito que a coisa case
da forma mais diligente.
Formando um fundo, ou base,
quando a vida da um nó,
pimenta do reino em pó,
saída de um moinho,
da branca é mais pertinente.

Uma colher de Urucúm,
mais dois cravinhos, ou um.
De alho a  mais dois dentes.
Um tanto em vinho branco,
de paio cortado um tanto,
nacos de lombo acrescente.
Uma pitada em cominho,
mais duas folhas de louro,
isso provoca um estouro,
abrindo qualquer caminho.

Deixe o pé descansando
no limão vinte minutos,
depois ponha a pressão,
para resultado astuto
atenção no fogo brando,
e agora é com o fogão.
Não pode errar na mão,
o tempo é absoluto.

Se cozinhando em trinta,
esse caldo é fervoroso,
acredite , a carne é linda,
de se comer bem gostoso.
Quando tudo acaba em gozo,
de se comer com tesão,
não há quem diga que não,
qualquer loucura é distinta.

Se o calor lhe sobe às tampas
com força de apitar,
é que a força é maior, é  tanta,
com o sal que vem do mar.
Mais um pouco só de amido,
para um caldo mais grosso,
Junte amigas com amigos.
Sem ser angu de caroço,
isso é mais que um colosso,
para  um santo Iorubá.

Com salsinha e cheiro verde,
um pouco de hortelã,
no chão, na cama, na rede
se ouve a flauta de Pan.
Mata a fome e mata a sede
de amor até de manhã.




Galinha Capitú


Os pretéritos do Algarves saíram pelas conquistas
Deixaram após Ourique, a boa galinha Mourisca
Com vinho de boa cave do Rei Afonso Henriques
Pretérito fora Al-Garb deixando se identifique
Se a cultura é antiga, dela fica o que lhe cabe

Nos sabores da comida. a receita vence o sabre
Ao fazê-la é necessário uma lista que a confira
Gaste um pouco do salário em galinha caipira
Três colheres de manteiga  num bom pedaço de bacon
Uma boa frigideira, uma Cebola é de bom tom

Um buquê de Hortelã, com Coentro num amarrado
Cebolinha, Salsa e Cravos, não seja do sal tão fã.
Use-o com mais cuidado, para que a vida seja sã
Vinho branco um bocado, faça um caldo com elã.
Da galinha em separado isso aquece como a lã

Não se esqueça de um limão, de onde queremos o sumo
São Seis fatias de pão, duas gemas pra consumo
Somam seis ovos pochés, Picadinho de gengibre
Mais manteiga de colher, Pimenta de gosto livre
Junte isso e vai com fé dar sabor ao prato chique.

Mas finalizando os fatos como qualquer bom gourmet
Não haveria esse prato, sem um amor a comer.
No céu da boca o palato, no céu do corpo o prazer
Depois do amor, o regalo só vale a pena cozer.
Amada, se sem recatos, Mourisca  foi pra você




Alecrim



O poeta de carne e de ossos passou por mim.
Sem contato, sem barulhos, sem conversa palavra.
Andava atento à gôndola do mercado aonde estava.
Aparentemente procurava o arroz, ou algo assim.
O poeta, apenas homem, queria ser  alimentado.
O poeta, apenas homem, apenas estava ao lado.
O poeta, apenas homem, parecia um poema calado.
Com o tempo parece que agregou poemas ao corpo.
Com a idade, poeta e poema quase se confundem num todo.
Mais que poema, o poeta precisa comer por ser animado.
Mas se o poeta não é um poema, parece dele revestido,
pois ao se ver o poeta, é o poema concreto que faz sentido.

O poeta magro e calado, tem o tempo de vida no corpo grafado,
O poema está nessa pele, nesses ossos, de carne já seca do sol do tempo.
O poeta é presente nos versos, hoje dele exalados  do passado.
Com eles atravessa a rua e sai, com um ar de preocupação.
Será um poema que o aflige? O poeta sera ele mesmo ou não?
Nessa hora não é fome de sígnos que conta, é fome de feijão.

Mas quando se olha para o homem, os versos aparecem nele enfim, seu corpo ali ao lado é cheio de presença e de significado; Posto que o poeta, com sua fome, talvez os procure entre os temperos. Não uma rima certa fechada ou aberta, mas apenas o perfume ou alecrim.

Talvez o poeta com sua fome apenas, aplaque o espanto
do que a vida exige, por se mover por tempo quanto.
Só, o homem não tem os versos que ao poeta são dados tantos.
No entanto o poeta some, escorrendo no homem de cabelos brancos, no intento o poeta transborda com a face vincada de poemas, seu manto.
Nessa hora o poeta é só, o homem é só o que procura, o de comer no seu canto.
Nessa hora é a simplicidade da vida que se transmite em seu encanto.




Ta chovendo Hambúrguer



A cidade decide lá fora seus destinos
Os seus perigos urbanos comoventes
sobra aos ombros dos homens, o mundo
Sobre o mundo dos homens, os meninos
Reproduzem seus destinos salientes
Dos sorrisos encandecestes,dois caninos
Nos embrolhos o olhar vê em segundos
Cobra a lei de olho a olho dente a dente.

Há quem tenha por conta e dom divino
Um terreno fértil e bem fecundo
JÁ Prevendo contar contas corrente
A cidade é de sangue e tem taninos
Dizem que assim se vai à frente
Quanto mais se parecer um prato fino
Sobre o qual só quem come é pouca gente
No sabor dos tais motivos oriundos.

A cidade assim, a mim, me faz cansado
Ela é um templo erguido à multidão
Tanta gente correndo a tantos lados
Tanta gente quer a sua solução
Cada um por si é só ,e vai tão ausente
Construindo essa tal própria virtude
Nas calçadas passam múltiplos contentes
Mas a cada um o que sobra é um Fast-Food.




Poema da panela de barro



Bem que pode rolar uma salsinha.
Para perfumar um boquet manjericão.
Junto disso picar cebolas bem fininhas.
Sem chorar as tristezas da vida no fogão.
Se quiser pode pedir pimenta da vizinha.
Depois descascar um vermelho pimentão.
Peneirar três colheres, das boas, de farinha.
Reservar a cabeça, no caldo, pro pirão.

Um tomate cortado em cubinhos ou tirinhas.
Para tudo se espreme o sumo de um limão.
Tem um alho poró anelado em fatias.
Mais dois dentes de alho picados com paixão.
Cinco folhas de sálvia e alfavaca bem verdinhas.
Depois disso limpar, meio quilo, o camarão.
Também tem pimenta do reino moidinha.
O molho de tomate na manha de antemão.

Juntar à aquela salsa um maço de cebolinha.
Botar agua no fogo e ferver o caldeirão.
azeite extra de boa origem advinha.
Se a rima é pobre, no sal, é uma degustação.
Quem não tiver Namorado no dia faz Tainha.
A cerveja gelada antecipa um violão.
Deixe o samba rolar, no quintal, toda a tardinha
A felicidade encantará à barriga e ao coração.




Sem baba



Hoje teremos frango com quiabo
Para quem não quer pecar pela gula
Isso é um perigoso beijo do diabo
Depois não se preocupe com a cintura
Deixe o regime um pouco de lado
O prazer da boca é a descompostura
Angu mineiro é demônio com ternura
Para os estômagos apaixonados




Receita incompleta para encontrar o amor



Nesses tempos de valores individuais,
são de lenços de papel  feitos os abraços.
Nessa velocidade a vida dos normais
vai esculpindo um jeito duro, um jeito aço.
O amor cospe um veneno contumaz,
desconsertando muito os jovens no desejo.
Querem amar mas não o sabem, são sem paz.
O amor os espanta na semente de um beijo.

Nesses templos que são redes sociais,
o fecundo é um coração adstringente.
Corre o tempo, corre a vida, escorre o cais.
Não há mais bala na agulha, há um pente.
Facas nos dentes onde todos são rivais.
Como dizer um eu te amo simplesmente?
É comovente, na descrença dos casais,
a rapidez não permissiva dos descrentes.

Sendo esses moços, pobres moços, tão legais.
Levarão tempo para achar o amor no outro.
Visto que amar é dar de si a desiguais,
para fundir um só calor no corpo a corpo.
Nesse mormaço das devassidões carnais,
não se permite deslizes de ouvidos moucos.
Mas quem quiser dele saber um pouco mais
tem que arriscar, alem de ser um pouco louco.



Homepage



O doutor tem o poder sobre mim nesta hora.
Tenho a saúde publicada num pedaço de papel.
Está escrito em pílulas o que de resto é o que me sobra,
o doutor é quem define o que mais vale como obra.
Impera aos rins o domicílio da acidez úrica, o fel.
A gnose adocicada da glicose faz agora mais um réu.

Como trio de ataque, me avançam os intrépidos glicerídeos,
dando ao nobre médico todos, fartos, tantos, gordos subsídios.
Pronto, o colesterol se afasta do que vale ser, é "Creu", normal !
Também ficam exilados os sabores do tempero que há no sal,
proibidas, sobretudo por pressão, as delícias evitando o Beleléu.

Alcaloides ficam por um tempo longe, quase todos suprimidos.
Carboidratos afastados, sem degustação ungida em boca e céu.
Quanto á carne avermelhada, já me sobra é somente o mugido,
do bom vinho vou sofrer a má sorte da ausência do tonel.
Tomates, rúcula, light orégano, as folhas buscam meus sentidos.

O que apraz ao meu regalo vai embora, se perde, some, é limbo.
Limítrofe ao chope, ao torresmo, aos sabores nobres da costela,
vou tentar trazer ao alquebrado corpo a saúde nova de menino.
Em estrofes minha vida é consumida no integral, sem as moelas.
Quem me vê cantando, pensa de fato estar indo tudo lindo.

O prazer de glutão da lugar à essa tal transaminase, em tese.
Pobre, em mim se instala agora um gastro irônico destino.
Vascular LDL se associa sendo agora mais gordura em greve,
Há que mudar tudo via a alface dominando o intestino,
ainda bem que me sobrou por fim a receita útil da Caprese.




Bacalhau espirito de porco



Bacalhau espírito de porco
é feito para quem não teme.
No leite do fresco creme
devem ser deixadas  lascas,
de modo que o bicho ao gosto
dê prazer a quem as cata.
Num azeite extra virgem,
Cebolas douradas pouco.
Com pimenta sem vertigem,
mas que deixa um cabra rouco.

Refogando nesse douro
umas cenouras raladas,
dando a tudo a cor do ouro,
num sal pouco quase nada.
Se Portugal é a origem,
logo tem que ter Batatas.
Com alho e folha de louro,
manteiga em Rú na água.
Para que bem se aproveite
queijo ralado sem mágoa.

Não pode faltar o leite
para os pães já pernoitados.
Nesse rico caroteno,
substância classe A,
vitamina sem veneno
cheias C e de H.
Um vinho branco mais pleno
dará sabor ao maná,
se Deus não estiver vendo
aproveite para pecar.




Receita incompleta para encontrar o amor



Nesses tempos de valores individuais,
são de lenços de papel  feitos os abraços.
Nessa velocidade a vida dos normais
vai esculpindo um jeito duro, um jeito aço.
O amor cospe um veneno contumaz,
desconsertando, muito, os jovens no desejo.
Querem amar, mas não o sabem, são sem paz.
O amor os espanta na semente de um beijo.

Nesses templos que são redes sociais,
o fecundo é um coração adstringente.
Corre o tempo, corre a vida, escorre o cais.
Não há mais bala na agulha, há um pente.
Facas nos dentes onde todos são rivais.
Como dizer um eu te amo simplesmente?
É comovente, na descrença dos casais,
a rapidez não permissiva dos descrentes.

Sendo esses moços, pobres moços, tão legais.
Levarão tempo para achar o amor no outro.
Visto que amar é dar de si a desiguais,
para fundir um só calor no corpo a corpo.
Nesse mormaço, das devassidões carnais,
não se permite deslizes de ouvidos moucos.
Mas quem quiser dele saber um pouco mais,
tem que arriscar, alem de ser um pouco louco.



Peixe na Bagunça


Caiu na rede é peixe, de sardinha a tubarão.
Na pimenta do reino deite, com a aguinha de um limão.
Sal grosso de moinho ajeite, na médida da pressão.
Bagunça ao paladar  vem das ervas do pilão.
Caiu na rede em azeite, bem fácil de preparar
Pimentão, alho, cebola, cenoura não vem do mar
um pouco de vinho branco, perfeito pra deglaçar
o fundinho da panela,  tem sabores de avatar

As ervas alucinantes, páprica, açafrão terra
Pimenta dedo de moça, manjerona e citronela
Louro e capim limão, solução que nunca erra
Tomilho ,sálvia e tudo ao gosto dessa quimera.

Não podemos esquecer de picar bons dois tomates
O qüentro com talo e tudo, salsinha por arremate,
umas gotas de pimenta de esconjurar o covarde.
Leite, de côco mesmo, natural tem mais quilate
Fritando a posta em amido, no azeite já bem quente.
Depois a cebola, o alho, pimentão e cenoura ao dente
no banho de vinho branco, de valor mais condizente
voltando postas ao fogo, baixo agora, menos quente.
Um creme então se forma, é gostoso de colher.
Sabores à alma afloram, acredite quem quizer
com arroz branco, senhores, não sobra nem pro café.
Esse é o peixe na bagunça, é de bater palmas em pé.



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