Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Sem planos(perna bamba é do samba)

Fotografia:Paulo Costa

Sigo com passos de pedra,
sigo compassos de samba.
Madureira em mim emana,
comigo vem a Portela.

Minha poesia é discreta,
Carioca e suburbana.
Mulata que a mim profana,
tornando a carne concreta.

Também ela fica em brasas,
minha poesia é de cama.
A mim ela me devassa,
transpassa com sua chama.

Quando a musa é a massa,
minha poesia é fulana.
Assim ela vem e me abraça,
com suas pernas de dama.

No ar a poesia tem asas,
voa, ferve, fere e plana.
Suada quando é amada,
tem corpo sujo de lama.

Minha poesia tem norte,
tem palavra que esfola,
deixa em mim tantos cortes,
sempre que tento ir embora.

Ela é a mesma cigana,
Quizomba de minha sorte.
Retoma em mim sua trama,
sem ela há risco de morte.

Assusta a minha poesia,
delira, derrama, expele.
Quem um pouco dela bebe,
pode sofrer de alegria.

Clamando é outra a poesia:
"Ela há de ser um sol tão novo,
como a gema de um ovo,
dentro da clara do dia."

Martelo por seu destino,
poema, porre, porrete.
Garganta d'agua na sede,
nela sou homem e menino.

Então sobrevivo dela,
sem ela nem vou prás ruas.
Segredos meus á desvenda,
meus versos são pele nua.

Estão nos rastros que deixo,
tatuados nos enganos,
por caminhar com desleixo,
os faço versos sem planos.

terça-feira, 30 de junho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Outro( o trago da seda)

"Bandeirinhas estruturadas com mastros”-dec. de 70-Alfredo Volpi




Gosto de conversar com estranhos,
pessoas conhecidas a poucas horas.
É um momento perfeito para ouvir.
De bom nisso, está a imparcialidade;
Parte do pensamento humano rara.
Gosto de ouvir frases ditas de forma
que pareçam soltas, mas não estão.
As ideias alheias, a mim contribuem,
é um momento rápido, é fugaz.
Tenho que absorver o dito, assim,
como se inspirando o ar novo.
O desconhecido é livre, mesmo quando
não é leve, é descompromissado.
Guardo às vezes uma frase,
uma virgula qualquer.
Um detalhe.
Uma pequena ideia vinda do casual,
pode ser uma onda em mim, que se agiganta, e eu cresço.
Uma intonação diferente, outra versão.
Como se fazendo em mim outra respiração.
È assim que em alguns momentos saboreio
um pouco mais de eu mesmo, em outra opinião.
.

Leminsk(a puta me encantou)

Os amantes do Leminsk
cantam-no três vezes à loa.
Bebem-no como whiske,
Goles em gelo nas ruas.

Vou(a puta me encantou)

Jorge Vieira (1922-1998) Sem título, 1947

Há no meu peito um templo em fúrias,
deixo-as guardadas com as certezas.
talvez porque tenho as vergonhas,
talvez porque ao virar a mesa
desse amor sobra enfadonha,
tenha notado nele: Só tristezas.

Agora é noite e chove muito,
vou porque não amo com riqueza.
Desse amor falta-me assunto.
Saio pela porta e levo junto,
na escuridão da vela acesa,
o que dele mesmo hora defunto,
tenha ficado: Só tristezas.

Não tendo paz na minha vida,
vou caminhar na noite escura.
Levando a carne e as feridas,
em solidão buscarei cura.
Na morte desse amor havida,
cambaleante em correnteza,
dessa união mal sucedida,
tenha sobrado: Só tristezas.

Fim de amor é vida inglória
acaba aqui essa centúria
decreto o fim da nossa história
Há no meu peito um templo em fúria.

domingo, 28 de junho de 2009

Contradição(a puta me encantou)


Incomodandodrumond- s/d- sem autor

Sei não!!!
Estou brigando comigo,
todo enfiado em solidão.
Há algo errado, eu me digo,
ando caindo no chão.
Parece que busco um pecado,
para obter um perdão.
Num coração complicado
Isso é contradição,
Sei não!!!
.

Poema chinfrim(a puta me encantou)

Sem título-1963-Pablo Picasso

Todo inicio do fim
é do outro lado começo.
Paixão é pedra no rim,
amor é algo diverso.

Ela não esta em mim
e eu não estou no seu verso.
Pólvora fogo em estopim,
finda a ilusão nesse resto.

Então ficamos assim,
num samba de manifesto.
E o couro de um tamburim,
apanha como protesto.

Vai num poema chinfrim,
é o que lhe cabe por certo.
Explode coisa ruim,
que eu vou no caminho inverso.

amizade(a puta me encantou)

Auto-retrato-1972-P. Picasso


Plantei amizade com a vida, seu fruto tem gosto e tesão.
um pedaço cura as feridas, outro as farpas da ilusão.

Seu vinho bom é de Baco, bebido no ato com pão.
Sou único desse retrato, não tenho reprodução.

Olha que o mar tem um fato, em cada arrebentação.
Hoje nos somos hiato, aonde ontem fomos paixão.

Abri a janela em açoite, entrei pela porta humorada.
Na fenda solar de um corte, vibrei sua gargalhada.

Colhi da boa alegria, a muito encabulada.
Por uma paixão ventania, que deixa a paz dominada.

Fui homem de fino trato, sem patente e sem perdão.
Quem fica bem ao meu lado, aprende a cair no chão.

Beijar a boca da noite, deixando a manhã bem molhada,
enquanto ouve pandeiros, amando de madrugada.

Quando o sol vem pelo cheiro do corpo de quem é amada,
o amanhecer é um tinteiro, pintado na noite estrelada.

Vou caminhando de leve. A minha amizade é nua.
Se vou, sei que volto em breve, para regar a que é sua.

Há um samba que me descreve quando venho, é quando passo,
sinto meu peito em neve, por falta do seu abraço.

A minha vida é de rua, a quem ela é emprestada.
Mas como as pegadas na lua, eu deixo a amizade plantada.