Sigo com passos de pedra,
sigo compassos de samba.
Madureira em mim emana,
comigo vem a Portela.
Minha poesia é discreta,
Carioca e suburbana.
Mulata que a mim profana,
tornando a carne concreta.
Também ela fica em brasas,
minha poesia é de cama.
A mim ela me devassa,
transpassa com sua chama.
Quando a musa é a massa,
minha poesia é fulana.
Assim ela vem e me abraça,
com suas pernas de dama.
No ar a poesia tem asas,
voa, ferve, fere e plana.
Suada quando é amada,
tem corpo sujo de lama.
Minha poesia tem norte,
tem palavra que esfola,
deixa em mim tantos cortes,
sempre que tento ir embora.
Ela é a mesma cigana,
Quizomba de minha sorte.
Retoma em mim sua trama,
sem ela há risco de morte.
Assusta a minha poesia,
delira, derrama, expele.
Quem um pouco dela bebe,
pode sofrer de alegria.
Clamando é outra a poesia:
"Ela há de ser um sol tão novo,
como a gema de um ovo,
dentro da clara do dia."
Martelo por seu destino,
poema, porre, porrete.
Garganta d'agua na sede,
nela sou homem e menino.
Então sobrevivo dela,
sem ela nem vou prás ruas.
Segredos meus á desvenda,
meus versos são pele nua.
Estão nos rastros que deixo,
tatuados nos enganos,
por caminhar com desleixo,
os faço versos sem planos.
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