Fotografia: Trabalho e poesia- Lilian Moura
O dono da tabacaria sorriu para o Esteves.
Não sei muito bem porque, a que propósito.
O universo humano tem suas infinitudes,
mesmo que a humanidade se detenha em paredes.
Certos princípios já nascem com o gene do seu óbito.
Até mesmo o pensamento é vulneravel. Tem latitude e longitude.
A vida é um fato que só se costura no tecido das suas próprias atitudes.
Ainda que o Esteves ganhe um sorriso óbvio,
ainda que a humanidade tenha se limitado em redes.
Tem-se que querer ousar, buscar aos afetos como quem tem sede.
Buscar a felicidade lavando os desejos com os próprios olhos,
a partir daí, somam-se o quantum das virtudes.
Eu não poderia amar à filha de minha empregada,
sequer tive a felicidade real de conhece-la.
Nem a ela e nem á menina de Cacau lambuzada.
Amo a mulher a quem divido com a psicanálise.
Desse amor me faço em chamas verdadeiras, a fundo.
Mais de mim á ela trago no pó da estrada.
Mais que isso, eu não poderei ser nada.
Nada alem do que há em mim, dos sonhos desse mundo.
Ela sim é capaz de ver as coisas que há por baixo das pedras dos seres.
Já eu sei apenas dos sonhos, no que são reais por dentro,
sei apenas dos outros, no que são reais por junto,
sei também dos tantos, no que são reais por fora.
Pelo tempo, penso que já o saberia.
Saí de casa muito cedo, muito cedo verti poesia.
Eu que quando jovem fui descaso das certezas,
porquanto nunca as tive próximas.
Hoje conquisto o mundo todas as manhãs,
com ou sem a metafísica das pessoas.
Causa porque elas me são mais, sem ringue na sobrevivência,
sem "timing" da concorrência, também sem proclamas de marketing,
e sem os estragos desumanos do universo financeiro.
Não trago em mim até agora nenhuma desonra nisso.
Quanto à Tabacaria !
Deixo-a aos fumantes que desejam a morte pelos pulmões,
pois o Esteves nunca lá esteve, morava longe de fato.
Por sintonia a mim mesmo, me deixo com os meus desejos
nos abraços de Maria.