Retirantes-1947-Candido Portinari
A casa é o concreto privado do homem.
Para onde se vai quando o mundo some.
Se ele não tem casa, há que ver seu ontem.
Se ele não tem terra, há que ver seus pés.
Sem terra aonde é que se pisa?
Pensa junto, assim se organiza,
ele se agrupa, e em grupo voa.
Voa sem brisa, ousadia boa.
ainda que o evento estiver quase à toa.
Quando não venta, abafa.
Então o movimento não some,
no barco que se chama terra.
Nessa terra que nivela o mar.
O mar de veras tem caprichos.
Iemanjá, feminina, tem seus vícios.
Mulher é assim, solta os bichos.
Para o Co2 abaixar.
As ondas do mar são salgadas.
Vagas saltam, aonde não têm que molhar.
Encharcam, quando vão ao cume,
queimam de sal, alagam de ciúme,
até ficaram cheias de febre.
Aí onde a Gaia é movimento, é greve,
só o homem pra lhe salvar.
Tem terra, há que ter bioma inteiro.
Tem mata a proteger, aléia,
mateiro gosta de embrenhar.
Mas deram de raspar tudo ligeiro,
acerca desse lugar.
O lavrador que é sem terra,
na lona é que se encerra,
mas nela não quer ficar.
Então ele pula a cerca.
Mas seja com habilidade,
assim vai cavar quimera,
nela plantar semente,
de olhar olho no olho,
colhendo sem ter ferrolho,
sem dela ser penitente.