Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sábado, 28 de novembro de 2009

Aluvião( a puta me encantou)

                                Cabeça de proa- Ciron Franco-1982
Amada minha a quem peço perdão.
É do amante, ser obra incompleta.
Do incondicional fluiu a ilusão.
Essa névoa que perpassa o desejo,
olhando para alem de nossos corpos,
dizendo quando há medo, o quanto não.
No vão concreto entre mim e o seu beijo,
tão sério quanto o realejo,
brilha o amor de aluvião.

Ecológico( o trago da seda)

Retirantes-1947-Candido Portinari

A casa é o concreto privado do homem.
Para onde se vai quando o mundo some.
Se ele não tem casa, há que ver seu ontem.
Se ele não tem terra, há que ver seus pés.
Sem terra aonde é que se pisa?
Pensa junto, assim se organiza,
ele se agrupa, e em grupo voa.
Voa sem brisa, ousadia boa.
ainda que o evento estiver quase à toa.
Quando não venta, abafa.
Então o movimento não some,
no barco que se chama terra.
Nessa terra que nivela o mar.
O mar de veras tem caprichos.
Iemanjá, feminina, tem seus vícios.
Mulher é assim, solta os bichos.
Para o Co2 abaixar.

As ondas do mar são salgadas.
Vagas saltam, aonde não têm que molhar.
Encharcam, quando vão ao cume,
queimam de sal, alagam de ciúme,
até ficaram cheias de febre.
Aí onde a Gaia é movimento, é greve,
só o homem pra lhe salvar.
Tem terra, há que ter bioma inteiro.
Tem mata a proteger, aléia,
mateiro gosta de embrenhar.
Mas deram de raspar tudo ligeiro,
acerca desse lugar.

O lavrador que é sem terra,
na lona é que se encerra,
mas nela não quer ficar.
Então ele pula a cerca.
Mas seja com habilidade,
assim vai cavar quimera,
nela plantar semente,
de olhar olho no olho,
colhendo sem ter ferrolho,
sem dela ser penitente.

domingo, 22 de novembro de 2009

Circo literal(perna bamba é do samba)

O grande Circo- 1997- Juarez M\chado

Sempre andei por aí meio bambo.
Nunca tenho ninguém por traz de mim.
Levanto-me maior quando caio
no mundo, esse grande balaio,
"quem quiser gostar de mim eu sou assim".
Com os passos afinados nesse samba.
Quando faço um verso, mordo raios,
na poesia do cordel da corda bamba.

Se eu fosse um anão de circo,
seria alem do palhaço e o equilibrista,
também seria o atirador de facas.
O combo disso tudo é o poeta ativista
Espadachim afiado das palavras,
ilusionista de rimas na avenida dos riscos.
Mas não o poeta maior, o hedonista,
o literato de seda, no papel de capa.

Caudilho dos livros, das academias,
dos chás, das alfazemas.
Outrossim o poeta pequeno,
surgido do dia a dia,
no poema solar e pleno
das licenças de corriqueiras fisionomia.
Essas licenças poéticas sempre eternas,
porquanto valem a pena.

A poesia popular tem pernas,
quando a todo mundo encanta.
Mesmo com pouca rima, é tanta.
Enquanto houver poesia, eu a quero terna
Mesmo quando ela passa por minhas ruas,
e me desdenha com suas mantas.
Parece a mim ela estar nua.
Ela não me espanta, ela canta, canta, canta...
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