Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Uma dose ( O olhar da carranca)

Fotografia: Catador de caranguejos-  Brasil invisível- Valdemir Cunha

Minha poesia tem o interior desvairado.
Seus significantes fogem da cadeia nos versos.
Deixando em sobressalto e abertos os significados.
Nesse desatino de sujeito, então, miro o diverso.
Ela se apropria dos signos e os revira, os distorce
para um outro olhar diferente. Mais liberto.
A quem os sentimentos decifre, ou chegue perto.
Meus versos são um veio, ou são só um recado
para esse olhar ao alheio, mais aflito de gnose.
Na solidão de um saber mais  aberto, disserto.
Eles que sirvam de pequenas doses.

Estivando as palavras para outros barcos.
Reanimando objeto, nenhum eu fica vazio.
A história é o segredo, da minha aldeia,
a memória é o que sou, é o leito do rio.
Pavio  que se transmite em poderio não alienado.
Quando vista em pertinência e atavismo,
toda linguagem abriga em si o seu abismo.
Mas antes, decerto,  tece seu abraço emaranhado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A função no circo da alma

Fotografia: O circo partiu. Os palhaços permaneceram...-Viesturs link

A tristeza quando vem furando a lona,
sentando á frente na cadeira de pista,
quando em sempre é invasiva essa senhora
de semblante taciturno e intimista.

Tão sombria por aonde passa, que odora
seu perfume próximo à melancolia.
Seu pesar contrasta o leve da alegria.
Seu olhar de mina d'água sempre aflora.
Tem no ventre o embrião da tragédia,
como um vulto contraparente da morte.

Gesta a dor, o dissabor e a má sorte,
quando ao pulso ela nos toma a rédia.
Traz a cor de cinza chumbo dessa hora,
seu poder pode nublar a luz do dia.
Quem a segue vai jurar que não queria
e o desejo é mais que ela vá embora.









quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Flor de sal ( O trago da seda)

Fotografia: Flor de sal- Ezequiel Vieira

À água de sal da Barra levei meus olhos,
para que não se furtassem às curvas do mundo.
Na calmaria do mar lavei meus pés
já tão cançados do chão dos homens.
Do sol maior da tarde louvei a pele
numa oração de carne abrasada e de vento.
Na sombra dos desconhecidos lavrei poemas
que ficarão guardados em nuvem, como digitais.
Na latitude do desejo lacei seu corpo,
e nele tatuei as tintas temperadas do prazer.
Na longitude da vida lancei a sorte,
essa senhora que de sí não dá a todos.
A atitude de amar resiste à morte,
mote que contempla à toda a humanidade.
Nas dobraduras da sorte reside o amor,
sentimento inteiro de todas as suas partes.






segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Paradoxo ( A puta me contou)

Fotografia: Circulo humano- Henrique Caleira

A amizade é  uma gastronomia repartível
Solidão é uma erosão sem curva de nível
Cumplicidade é mesmo um silêncio audível
E o amor? Ah! O amor!
É de todos, o paradoxo mais incrível!



O palhaço no circo da alma

Fotografia:Palhaço-A. Vieira

A alegria é um brilho diamante
encrustado profundo no sorriso.
É um espelho público sem Narciso.
O sorriso é seu aviso brilhante,
iluminando o ar por um instante.
Mesmo breve, largo, mesmo conciso,
seu calor dissolve o grão granizo,
em uma efusão de alastrar contagiante.

Quem o tela, sendo seu o apanágio,
faz da clareza fácil o abrigo.
Faz do próximo o melhor amigo,
por natureza, liberdade ou contágio.
A alegria não se encobre em verniz,
não tem vergonha, preparo ou estágio,
não se copia, arremeda ou faz plágio.
É só o ato saudável de ser feliz.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Diabo no corpo ( A puta me contou)


                                                                                                                             Fotografia: É o Diabo- Jomar 

Meus olhos de cair noite e cama
têm energia de sol na lua.     
Minhas mãos, de lavrar suas ancas,
descendo formão em neblina.
forjam a ferro essas rimas,
deixando a calma insana.

O desejo se insinua.
a carne já não sublima.
Pulsão de vida é uma dama
deslavada em seu perfume.
Então você vem e reclama,
derruba o pau da cabana,
querendo que eu me acostume.

Ardendo sou tocha humana,
queimando a pele na sua.
em REM o seu corpo plana,
meditação tibetana,
enquanto eu só diabruras.

Tesão que o diabo não cura.
Combustado em gasolina,
disposto em adrenalina.
que a madrugada quer nua.