Olhos de pedra
Meu poema ambiental teve a palavra queimada.
Meu verso de ouro teve a impureza lavada no mercúrio fluvial.
Minha rima caçada de tráfico, veio silvestre bioma passarada.
O meu rio se sorrio, é assoreio; Ausência ciliar no capinzal.
Minha poesia foi sina, foi biodiversidade menina, roubada de prima,
foi mina de lavra, foi palavra de eucalipto no Fantástico.
Sou um poeta de usina suja e natureza alagada, fogo e matagal.
Há amor em mim, eu o acho, entre o chorume e o lençol freático.
Comi da genética poética, com o semem transmodificado Monsanto.
A energia fóssil queimou meus olhos monóxidos.
A industria suja surge rude na fronteira Bric de araque.
Fazendo a palavra mais fácil de ser comprada, é prático.
A lógica não precisa da realidade, mas do Descartes mágico.
A vida é simples quando vem com lacre, plastificada.
A face do homem que sou, teve a numeração raspada.
A beleza do consumo é a classe média engalanada.
Mídia Deusa minha, bem ou mal, boca falada.
A madeira dessa farpa no meu peito,
teve algum jeito de nunca ser certificada.
O ar de sobra do amianto fez chiar meu canto.
De fuligem, de barro, de cigarro e de carros,
fez-se a vida na fumaça sonora.
Máxima alegoria no ouvido culto dos satisfeitos.
O lixo estrangeiro veio perfumar narinas com seu cheiro.
Nos containeres fazem rima aqui na Bolívia ou na África.
Na extinção do animal humano o poeta sobra.
A sirene avisa o avanço das águas fáticas
O mar pega fogo de óleo negro e morte,
talvez a vida resista sobre meus olhos de pedra.
Musica
Em memória de Chico Mário
A língua da música esta lambendo meus ouvidos agora,
Isso tira cracas de dentro dos meus pensamentos.
Notas musicais organizam minha paz de dentro para fora.
Mudam os gabaritos que engenharam o indivíduo a tempos.
Quando uma música toca, em mim dilui qualquer tormento,
restaurando os tons à vida pelas claves soltas mais sonoras.
Se um instrumento toca é algo maior que brisa a vento.
Sobre as pautas dançam em harmonias, minha alma junto com o meu centro.
Um solo de guitarra grafa a fender fotos de porta retratos
prometendo o salto surpresa implícito no rítmo dessa nau felicidade.
Entra o conversa de cordas, couros, paletas e metais, me invade.
Metamorfoses singram meu espírito e a calma é tento.
Até que esse velho marinheiro de cais, cidadão de corpo hiato,
voe emoções chorando um improviso Sebastian Bach de alarde
Como um pássaro de sons impregnado desses instrumentos.
Crooner
A voz do Milton
é trompete de Miles.
Parece um rio
de sonoridade.
O trompete
Miles na voz
do Milton,
enche o vazio,
dá felicidade.
O Milton Miles.
O Miles Milton.
Mil tons.
Mil Davis.
Mil dádivas.
O improviso é o sopro
Para quem quer se soltar........
Rilk
Meus olhos de fim de tarde observam ensimesmados
Os poderes parecem caber numa xícara de chá
O mundo despenca de suas bolsas enquanto anda de lado
E o tempo tem nos papeis um movimento indelicado
Herdaremos dos ortodoxos um único jeito de olhar
Os poetas estampam pardos os seus poemas inaptos
Enquanto a intranquilidade é instigada em dois Clicks
A coisa fica estranha se consequências antecipam os fatos
Não importa o caminho,o chegar, mas os modelos dos sapatos.
A sanha individual desmorona o seu perfil neo chique.
A solidariedade resiste nesse momento agrotóxico
Ministros tiram férias enquanto a casa incendiada pega fogo
A vida segue seu rumo desvairado, na cotação do monóxido
Pelas ruas definham as sobras queimadas em baratos tóxicos
A existência se define em um saque como o software do jogo
O império do consumo se abala, os jovens põem fogo em Londres.
A primavera Árabe atinge a clássica Abbey Road.
Tudo esta bem, posso ver do alto de minha janela, ao longe.
Os vandalismos financeiros dos títulos não mais respondem.
Mas não se trata de fim dos tempos, é só mais um Round.
Nos ventos da vida, o que é rápido se descarta na história.
O pânico tenciona à todos sem calma, ou algo que o explique
Qualquer custo vale a pena, por .cinco minutos de glória.
A melhor fotografia Humana é a que fica na memória
Enquanto tudo acontece, leio em paz Réiner Maria Rilke
Poema desvairado
O abandono é sem dono
A solidão não tem mão
O não saber é sem como
Perdido é sem solução
Qual a resposta da vida
Se a pergunta sei não?
Quando desejo e desdita
Trilham caminhos sem chão
A calma esconde brigas
despidas na desilusão.
Má sorte a ser comida
sem o calor da paixão.
O copo encobre feridas.
O tempo tapa tesão.
A noite salta saídas,
pecados e expiação.
No corpo zine a bebida.
No peito soçobra invento.
Não há no mundo medida
para a solidão lá de dentro.
Num trago da erva maldita,
neurônios bailam sem pistas.
Do embargo cegando a vista
ao aniquilar a conquista.
Sem seleção, sem ternura,
vagando vai vela avulsa.
Num bar procurar a cura
da vida de si expulsa.
Morrer de amor
Dor de amor se vacina com outro.
Universo novo e feito diferente.
Fio condutor da mais alta corrente
abraçando em união dois indecentes.
A solidão assim se esvazia em troco,
nos poros abertos dos combatentes.
Dois corpos juntos se chocam, prontos,
como cabelos no pente envoltos,
ávidos a unir nesse coito
a rima feita e o repente.
Língua úmida que é leniente,
a rima em lábios abre-se toda,
de cuja boca o verso entorna.
E a água pura da fala gosa.
Sem a leitura sagaz e quente,
cortante e teso o repente aponta.
Adentrando firme a rima porta
com a força bruta que lhe apronta.
O aríete duro irreverente a monta,
infiltrando-se bem contente,
como quem cava a colher na horta
da rima rica, as palavras postas.
Desfalecendo-as em tons candentes,
Gemidas, gritadas, chiadas e mortas
De mãos dadas para o vazio
Por um segundo de calor em um lapso instigante.
De vitrinas vivas houvera o reclame rápido,
como um raio involuntário.
Enquanto nossas mãos chamaram pela união dos corpos.
Mas eles não estavam prontos.
Detiveram-se nas fronteiras da negação fria, éramos só normais.
Num labirinto de formas nos desintegramos, se tanto.
Como a um estalo de ferro, comum ao ranger dos músculos armados.
Como a uma inversão dos brios, comum à descrença dos inacabados.
Como a barragem dos rios corrompidos na energia, para validar a luz
na cidades dos sonhos dos seres de terra.
Devastamos aguas e morremos na praia.
Ah! Se não houvessem tantas regras, tantas ideias prévias,
tantas banalidades de solidão.
Ah! se houvessem só coragem e coração.
Mas houvera apenas um único segundo desvairado,
num olhar único, denunciante. O olhar de um beijo.
Por um momento de segredo infiel, fugidio e passado.
Amamos-nos, como a onda quebrada no momento do mar,
é da areia.
Porque é da areia e do mar o tempo de sal de todo e qualquer amor,
por menos ou quase.
Nós que não soubemos ser do desejo, não beberemos desse sol,
dessa coragem. Fomos fracos.
Mas nós dois, por um átimo de instante rápido qualquer,
nos amamos.
O amor vem primeiro nos pequenos atos falhos,
quando fogem sussurros no silêncio.
O amor vem bem antes na sedução, inesperado.
Amamos no que houvera de perdido e assustador,
amamos onde o amor nos saiu do controle,
antes de se esvaziar no ar.
Como dois abandonados em temor.
Ficamos desligados, estancamos no inacabado.
Mas amamos.
Nesse espaço vazio, nesse início finado, que agora é desbota.
Nessa cortina de fumaça que nos afasta, e desenlaça,
desfazemos como a uma réstia ácida
encoberta em suas cascas de medo,
como as couraças e seus segredos.
Resta agora a distância, como é longa a distância! diz o poéta!
Como é vazia!
Se não soubemos amar, amamos a dúvida.
Hoje não restamos dádiva do delírio, e talvez nunca o sintamos.
Não soubemos mais que esse couro sem pele de nossos pobres estáticos braços.
Esse será o nosso pecado replicante.
Não soubemos mais que o prévio combinado de medo,
na delicadeza dos infelizes.
Talvez já o saibamos.
Estivemos nus desse desejo encabulado, dentro das nossas roupas de carne,
dentro dos preconceitos pétreos, dentro de nossas censuras.
Fomos só distantes, e de distantes ficamos pequenos.
Com nossas poucas palavras exiladas, mas condenadas à libido.
Nossa nobreza será essa, disperta de disparates entre os dedos da elegância.
Nossa pobreza será essa, nossa união será essa,
essa será nossa extravagância.
Essa distância que nos aproxima, num brilho de erogenidade,
enquanto olhamos para o nada disso tudo,
pois o tempo do amor nos atos não se conta em ábacos.
Affair
Desejei seu beijo em vão,
pois ele era fumaça.
Fiquei no caminho do não,
sei bem o que nos afasta.
Francisco diz na canção,
um poeta quando passa,
sabe ver na escuridão.
Mais uma cena se embaça,
mais uma desilusão.
Feliz não sou quem lhe faça,
vou guardar meu coração.
Mas esse olhar de vidraça,
vai ficar sem solução.
Se a vontade por pirraça,
formar brasa em seu colchão,
se o dia for o da caça,
se lhe faltar com a paixão,
não se envergonhe em ameaça,
utilize os dedos da mão.
Pode vir prazer aguaça
até escorrer pelo chão.
Enquanto em meus braços graça
o Abraço do violão
Eu canto um samba que laça
o seu calor solidão.
Entrando de sola
O que empenho para viver
é uma vida
O que venho para contar
é uma história
Se o que trago para sorrir
Fazem feridas
O que tenho para chorar
são minhas glórias
A minha palavra sim
é atrevida
Meu abraço dedico
à escória
Se você não me vê
não deixo pistas
Vai ter que puxar
pela memória
Nenhuma saudade
é idealista
Nenhuma maldade
me degola
Resiliência se paga
so a vista
Para quem não me crê
já fui embora
Se o carinho não tem
rota prevista
É que o amor foi poeira
que evapora
No caminho não tenho
avalistas
Em cada passo que dou
faço o agora
Nos sapatos que uso
pisa um artista
Trazendo o assombro
em suas solas
Forno íntimo
Meti a mão na cartola
e não saiu o coelho.
Corri no fio das horas
do esmeril do ferreiro.
Bati no ferro a bigorna,
busquei mil e um conselhos.
Tentei fazer a macumba
mas me faltou o terreiro.
Desfilei cinco escolas
e não achei o pandeiro.
O pique não vai embora
porque ombreia o guerreiro
É a minha vida na mola,
na correria danada.
Agora é que fuma a cobra,
dentro do cesto enrolada.
Se a roda não colabora
com os buracos da estrada.
Não adianta revolta,
não adianta intifada.
Zerando no noves fora
a conta não está fechada.
Dentro do calor do agora
a solução é assada.
Capiroto
Eu cuja vida já me avança
Franquiei-me em Sancho Pança
escudeiro do porque.
Eu quase assim pessoa mansa
tenho em mim a esperança
de reaver seu prazer.
Meu é o tudo que te tenho
mas se faltar um desenho
pinto a cor do zabelê.
Zeus esse Deus que não desdenho
num deserto jalapenho
de sonar cateretê.
Venho eu apenas e meu corpo
parte ereta, parte torto
tenho o salmo do incorreto.
Beijo o que a vida traz de perto
tenho a água e o deserto.
trago um amor a te dizer.
Parto do incerto em parte horto.
melhor vida que aborto
Sou bem mais do que se vê.
Eu cujo filme a censura
esconde no que esconjura
na falta do acontecer.
Sou eu apenas rosa boto
parente do capiroto
tenho o olhar para te ler
Sou detetive do Belotto
o que não me dizem noto
desvendando-me em você.
Simbolismo
Banalidades do porão.
Karaokê de salão.
Qualquer bobagem
Sem cabimento é criação.
A poesia é a ciclista
atropelando o caminhão.
É o fulano arrivista
abocanhando o seu quinhão.
Tudo detém o conhecimento
dentro daquilo a que se finde.
Vértice refém do universal alento,
é a biblioteca do José Mindlin.
Qualquer abordagem
do sentimento é coração,
até um falso Baudelaire na contramão.
Democratizar conhecimento é fazer nação.
Por que não?
Todo poeta é franco atirador.
Tudo na poesia é dor e solução.
Na mais gramatical tradução.
A terra seca e a alfombra.
A devastação e a bomba.
Será a bala?
Será o dedo?
Será o cão?
Será a literatura um segredo á sombra?
O poema tem o condão
de ser a realidade
fantasiada de abstração.
Lucilúdico
Lucidez é precisão
no escárnio do destino
É a pedra, é a água, é o limo
na insensatez da acepção.
Representar não é a realidade
ou dela é somente parte
imagem base, o alarde.
pedaço da confusão.
Lucidez é na verdade
a mais pura comunhão
pensamento e coração,
loucura e felicidade.
Desafeta da ilusão
do ouro em velocino.
Lucidez muro de arrimo
do delírio é contenção.
Pisando com os pés no chão,
há quem faça o desatino
de colher dela o fascínio,
embriagado de razão.
-
Ociosidades
Ociosidades
A ociosidade da tarde aparece nas nuvens azuis do outono.
Como uma brisa sem guisa, segue esse dia sem dono.
Aprendi a voar com as gaivotas que pousam em meus olhos.
Elas é que deram asas ás minhas inutilidades de Barros
Alegria
Levanta essa cabeça
Tira isso de letra
Esse papo tão careta
Não è algo que a mereça
Que a tristeza derreta
Qualquer dor desaqueça
Apagada em cometa
Que a alegria é dileta
Venha mais que completa
Vida não é quieta
Nem segue em linha reta
Não é porrete, é porreta
largue essa dor memória
Assumindo sua história
Faça-a publica e notória
Enfrente a divisória
Mude a trajetória
Venha sem promissória
E por dedicatória
Rompa a fita vitória
Sonar
Sonar
Quem ama não se preocupa com a forma justa
do amor se portar.
porque quando o amor acontece, é como a aranha,
tece a teia no ar.
Nunca se faz necessário único comentário,
não cabe lugar.
Quando o amor nos aquece, ao se nos despe,
formamos o par.
Seja de noite ou de dia, sou eu e Maria,
girando o tear,
cujo tecido é a vida. Faz vela, faz guia
nas brumas do mar.
Férias
Férias
Nas terras por onde desce o rio Tejo,
da língua que herdamos de Camões.
Calipígios portugueses oferecem,
à visita habitude em privilégio.
Bagaceira aveludada sem limões,
sob o câmbio favorável dos centavos,
ombreando por ser par, dois corações,
pois espero, o meu amigo acompanhado.
Por amor que lhe motive as razões,
com as bençãos do poeta José Régio.
Privilégio estar entre os aldeões
que produzem um tal vinho tão sobejo.
Esbanjando o bacalhau entre glutões,
depois disso, na amada cabe um beijo.
E no desejo a mais feliz das uniões.
Embalados pela uva Trincadeira,
sob o cantos destemido de um fado,
façam jus melhor dessa brincadeira.
Esbaldando nesses merecidos fatos.
Foi ao fim, amigo meu, Luiz Gustavo.
Ousou tempo com um prazer sem recato
Bebeu um gole em Vila nova de Gaia
Espero eu que essa coisa bem te caia,
para melhor cuidar de tanto agravo.
Fez um tour pelas adegas também.
Com umas ginjas e o bom serra D'estrela
Foi ao tombo, lá na torre de Belém.
Depois disso foi ver casa de Pessoa.
Se curtas foram ferias, bom vive-las
em tudo que te seja coisa boa.
Em paz
Em paz
O que está vivo continua vivo em fato recente
Permanece no tempo dos filhos os seus pais
Onde não há o abraço do corpo, o vai na mente.
Haverá sempre na lembrança o que guardado esvai
Na guarda do pai cabe o mel no seu melhor sustento
É pátrio o amor real quando foi feito na história
Láctido calor celeste vem do seu original provento
Todo o patrimônio agora é veste a despir memória
Dançam os momentos no recordo pertinentes
Não cansa, a saudade, quando é gerada em paz.
O que nos move em vida guardada é comovente
Na memória o que a história fez uma outra se refaz
Parece uma história
Natureza
Parece uma história
Então formou se a roda para os lados da praça de lá.
E ela se sentou ao centro , e de pronto começou a falar . Falava com uma voz calma, mas com a firmeza no ar. De modo que suas palavras chegavam toda aos ouvidos desse lugar.
Como a calma é uma forma de mostrar veracidade, aí ela falou sobre um caso havido, com um especial paladar.
Como as palavras bem ditas salivam os ouvidos muito, a sua estória bonita foi puxando mais o assunto.
Quando o assunto era sério, todos ficavam sérios, sendo o assunto difícil, faziam expressão de mistério. De repente, quando ficou perigoso, a estória em seu gozo, ganhou ares de precaução e todos se olhavam atentos.
Num certo momento dado o fato foi engraçado, então todos se relaxaram e se fartaram de tanto gargalhar.
De uma hora para outra a moça se enterneceu, ao notarem todos pararam de súbito, como quem brinca de estátua. Alguém até notou que uma gotinha de lágrima desceu do seu olhar, e solta foi se espalhando no olhar do outro, do outro, doutro e do outro ao lado.
A praça inteirinha foi se consternando em uma forte emoção, não em lástima, mas em compaixão.
É que contar uma história não é nada fácil, requer da pessoa que o faz, como árdua tarefa, muita, mas muita competência no trabalho de saber como tocar as pessoas, como emocionar.
A moça fez direitinho, com tamanha forma e carinho, que até quem estava passando quis também participar.
Assim foi juntando gente, mais gente, e mais, e mais .
A história ficou famosa a medida que foi conhecida, como os casos nos jornais.
A moça então contou para todos daquela cidade, como o caso tinha crescido e se enchido de alegria.
Sendo a alegria uma forma, no caso, contagiante, a praça da moça do caso se encheu de felicidade.
Enquanto o caso crescia dessa forma galopante, a moça do caso da praça foi contando o caso gigante.
E o caso ficou de tamanho tal, que todos daquela praça puseram nele uma parte, e assim ele foi crescendo.
Depois dele bem encorpado, como muitas outras palavras, até umas bem mais raras, o caso virou mais que um assunto. Se achando nele beleza, todos falavam juntos aquilo como certeza.
Por achar isso, um foi contando para o outro como se havia passado, sendo que ao fazê-lo, ia acrescentando um bocado, para que não restasse dúvida, e assim foi se espichando em mais gente.
O caso ia para um lado, depois para o outro lado,dependendo muito da forma como ele era contado.
A moça então notou que seu caso tinha aumentado, alem de ter nesse caso ganhado imaginação. Ela achou aquilo bem bom para a sua contação.
Pois agora não era mais caso de conto seu, era sim um relato maior até que a imaginação.
Era um fato oral, do tamanho popular, do tamanho da Nação. Sem ler, o analfabeto sabia todo ele de cor, já fazia parte de si.
Como era na filosofia, a praça virou escola e o caso ganhou mais nome, ficou sendo assim, uma ideia.
A moça se foi embora, agora, o caso famoso, virou jeito de pensar.
Como havia muita gente na praça, e gente é diferente, de acordo com o lugar em que cada grupo é sentado, o caso mudou de lado e virou então discórdia.
Para explicar o ocorrido na confusão que acontecia, deram ao caso um nome que ele mesmo não pedia. Passaram a chama-lo pela alcunha de ideologia.
A ser tudo de verdade, os vencedores do certo puseram no caso um H, de forma assim, bem maiúscula.
A história mudou de boca, passeou de mãos em mãos, foi se alisando o relato até se formar em razão.
Eu juro que que nunca minto, como se deu de fato, entrou na boca do pinto, saiu na outra do pato.
Quem quiser que conte cinco, quem quizer que conte quatro.
...
E ela se sentou ao centro , e de pronto começou a falar . Falava com uma voz calma, mas com a firmeza no ar. De modo que suas palavras chegavam toda aos ouvidos desse lugar.
Como a calma é uma forma de mostrar veracidade, aí ela falou sobre um caso havido, com um especial paladar.
Como as palavras bem ditas salivam os ouvidos muito, a sua estória bonita foi puxando mais o assunto.
Quando o assunto era sério, todos ficavam sérios, sendo o assunto difícil, faziam expressão de mistério. De repente, quando ficou perigoso, a estória em seu gozo, ganhou ares de precaução e todos se olhavam atentos.
Num certo momento dado o fato foi engraçado, então todos se relaxaram e se fartaram de tanto gargalhar.
De uma hora para outra a moça se enterneceu, ao notarem todos pararam de súbito, como quem brinca de estátua. Alguém até notou que uma gotinha de lágrima desceu do seu olhar, e solta foi se espalhando no olhar do outro, do outro, doutro e do outro ao lado.
A praça inteirinha foi se consternando em uma forte emoção, não em lástima, mas em compaixão.
É que contar uma história não é nada fácil, requer da pessoa que o faz, como árdua tarefa, muita, mas muita competência no trabalho de saber como tocar as pessoas, como emocionar.
A moça fez direitinho, com tamanha forma e carinho, que até quem estava passando quis também participar.
Assim foi juntando gente, mais gente, e mais, e mais .
A história ficou famosa a medida que foi conhecida, como os casos nos jornais.
A moça então contou para todos daquela cidade, como o caso tinha crescido e se enchido de alegria.
Sendo a alegria uma forma, no caso, contagiante, a praça da moça do caso se encheu de felicidade.
Enquanto o caso crescia dessa forma galopante, a moça do caso da praça foi contando o caso gigante.
E o caso ficou de tamanho tal, que todos daquela praça puseram nele uma parte, e assim ele foi crescendo.
Depois dele bem encorpado, como muitas outras palavras, até umas bem mais raras, o caso virou mais que um assunto. Se achando nele beleza, todos falavam juntos aquilo como certeza.
Por achar isso, um foi contando para o outro como se havia passado, sendo que ao fazê-lo, ia acrescentando um bocado, para que não restasse dúvida, e assim foi se espichando em mais gente.
O caso ia para um lado, depois para o outro lado,dependendo muito da forma como ele era contado.
A moça então notou que seu caso tinha aumentado, alem de ter nesse caso ganhado imaginação. Ela achou aquilo bem bom para a sua contação.
Pois agora não era mais caso de conto seu, era sim um relato maior até que a imaginação.
Era um fato oral, do tamanho popular, do tamanho da Nação. Sem ler, o analfabeto sabia todo ele de cor, já fazia parte de si.
Como era na filosofia, a praça virou escola e o caso ganhou mais nome, ficou sendo assim, uma ideia.
A moça se foi embora, agora, o caso famoso, virou jeito de pensar.
Como havia muita gente na praça, e gente é diferente, de acordo com o lugar em que cada grupo é sentado, o caso mudou de lado e virou então discórdia.
Para explicar o ocorrido na confusão que acontecia, deram ao caso um nome que ele mesmo não pedia. Passaram a chama-lo pela alcunha de ideologia.
A ser tudo de verdade, os vencedores do certo puseram no caso um H, de forma assim, bem maiúscula.
A história mudou de boca, passeou de mãos em mãos, foi se alisando o relato até se formar em razão.
Eu juro que que nunca minto, como se deu de fato, entrou na boca do pinto, saiu na outra do pato.
Quem quiser que conte cinco, quem quizer que conte quatro.
...
No mais
Ifá e os ancestrais
dos animais humanos,
derramaram seus desejos
nos herdeiros lusitanos.
Em cada lábio um beijo,
em cada vela de pano,
queima o sol tão almejo,
deixando no corpo os danos.
O tempo é o maior parceiro
para o reparo de enganos.
Viver é um fato primeiro,
depois se forjam os planos.
Residente num arcano,
qual os arquétipos mentais.
Tambor de mina afina
a trilha aonde passamos.
A fé é coisa divina
nos indivíduos grupais,
ou uma Cafiaspirina
para quem não vê nada mais.
Amar é mais que estima
O amor é um braseiro,
só queima se é inteiro,
só arde se está em paz.
Poetododia
Poetododia
Para ser poeta a gente
Tem que ter sangue quente.
Tem que ser eloquente
Ter a bala no pente
Para ser poeta tente
Ser alguém diferente
Ter palavra aparente
Ser assim simplesmente
Para ser poeta invente
Veja com outra lente
Com olhar abrangente
Sendo assim vá em frente
O poeta é vidente
Quando vê o evidente
O comum recorrente
Não mais que de repente.
Simples
Simples
Sou um poeta, portanto não insista
pois o óbvio
é apenas mais um ponto de vista
Hálito verbo
Hálito verbo
Sobre as tulipas e as rosas
Os Antúrios e as gloriosas
Suponho antigas prosas
Gravatas e Helicônias
Sobre essas prosas ricas
Sobre essas prosas ricas
Como antigos relicários
busco a palavra errónea
A que anda, vai, que não fica
Gravada nos dicionários
A palavra é o que nos entrosa
Ventosa colada à vida
Significando coisas.
Com jeito de roupa nova.
Com jeito de roupa nova.
Dando signo na loisa.
Faz posse de venenosa,
zelosa ou sem vergonha.
Na boca humana é mucosa
Íris, lxias, Begonias,
Celósias ou Cerejeiras
Palavras têm um perfume
Naquilo a que são propícias.
Naquilo que as posiciona.
Naquilo que as posiciona.
Sonoras impuras delícias,
informação mais ligeira.
Em uma forma de lume
vestem os fatos, trepadeiras.
Quando uma é encoberta na lona,
ou quando nos abandona,
vem outra aonde a uma estava.
A língua sempre funciona.
Até o silêncio é palavra.
Até o silêncio é palavra.
Somando no seu volume
Mais solta em outra maneira.
Trafega nossos costumes,
Traduz a pessoa inteira
Dia a dia
Dia a dia
A tarde alarde o sol na pele despida dos dias.
Tem sobre a face de gente fútil a queimadura
de uma vida fria, inútil, apenas triste e obscura.
Sobre todas as outras irradia plural sua Poesia.
O pio da coruja
O pio da coruja
Oswáld era os seus manifestos
atropofagicamente.
Os inteiros dos seus restos,
são contradições das sementes.
Germinam no que é moderno,
no inverso do indiferente.
Instigantes como pesto
na vanguarda da massa ao dente,
de um Pau Brasil mais honesto.
Do seu tempo um pertinente.
Cubismo, futurismo, Polinésias,
os Afros vão à Europa.
No leite de magnésia,
de novo a arte se dobra,
nos cenários das falésias,
sanatório das desovas.
Nas antropotarsilas telas,
todo indio quer apito.
Quem volta também retorna
Ao Ipiranga no grito.
A literatura, essa bela,
se banha em agua morna.
Sem fazer muito agito,
para não haver mais marola.
Enquanto come sardinha,
no amburguer da causa humana,
repondo antropoasia,
pastel e caldo de cana.
Vendida traz mais valia,
a Tropicália bacana.
A moda autopsía
aonde a pessoa urbana
mastigou sua poesia.
Modernismo é uma alegria
morena como o bombom.
O Cacau é da Bahia,
as ideias "ton sur ton".
Onde a coruja pia,
tem Marx, Freud e Breton
Baixa
Baixa
Parece absurdo e até desvario,
coisa do demônio, do inferno.
Inesperado como faz frio
no centro do Rio, um gelo eterno.
Ascendam o sol pelo pavio
Preciso casaco, preciso de terno,
uma cana, caneca ou uma taça de vinho.
De costela e coberta, me alterno,
para espantar esse frio vadio.
O frio aqui não é nada moderno.
O Carioca é a ele arredio,
ninguém gosta, e eu não quero.
Qualquer lugar fica vazio.
No susto eu mesmo hiberno.
Tudo é abandono, é baldio.
Brrrr! Que frio no Rio, que inverno!
Natureza
O sal e o sol
temperam seu corpo,
tal e qual
o céu e o mel.
Nos olhos do poeta
forma-se o escopo,
sobe a Torre de Babel.
No que a descreve esse louco,
gozando bem mais que pouco,
descortina-se o seu véu.
E desse olhar de raio novo,
surge o verso, desse ovo,
numa folha de papel.
.
Das coisas
Assim
Dia do poeta
Das coisas
No ceu azul do inverno,
aguardo sozinho apenas
o seu sorriso interno,
sem as tristezas pequenas.
Nada mais me discerne,
ao ver no seu vago olhar
distancia quase perene,
mas que desmancha no ar.
No seu vetusto inferno
por uma casa vazia,
cerrando veu do desterro
para onde foi a alegria,
uma casa é uma coisa,
noção maior, e só fria,
não sofra, nem fique doida
por conta de sua valia.
Não se acerta sempre,
tambem nem tudo se erra.
Se o fogo da vida é quente,
o inverno esfria a terra.
A alegria da gente
quando se vive o que há,
é rente ao que se sente
com perfume de sonhar.
Não perca a noção em nada!
Também não pare, sorria!
Não pare como um imóvel
de paredes táo vazias.
A solidão que há nas coisas
sem face se irradia,
A calma não é afoita,
e o amanhã é outro dia.
Assim
Leia alguma literatura todo dia,
ou desista.
Escute alguma música todo dia,
ou desista.
Informe-se da realidade todo dia,
ou desista.
Esteja inserido no mundo todo dia,
ou desista.
Vista a sua própria pele todo dia,
ou desista.
Sofra mortalmente pela vida todo dia,
ou desista.
Ao morrer assim, novo, renasça todo dia,
ou desista.
Escreva uma palavra qualquer todo dia,
ou desista
Resista ao modelo fácil todo dia,
ou desista
Evite o superficial factível todo dia,
ou desista.
Fuja da miséria das ideias todo dia,
ou desista.
Sumariamente assim venha a fundo,
todo dia.
Somente assim vale a poesia à sua volta,
todo dia...
Semente assim germina a poesia
todo dia...
Sumamente assim poesia.
Todo dia...
Dia todo...
Todo dia...
Ou desista!
Senhora dos navegantes
Senhora dos navegantes
Senhora dos navegantes
o mar lavou todo meu peito,
o mar lavou todo meu peito,
levando magoas nas águas,
trazendo paz desse jeito.
Senhora Iemanjá
rainha do mar inteiro.
rainha do mar inteiro.
Divina Iorubá
canta o dois de Fevereiro.
canta o dois de Fevereiro.
Senhora de todas as ondas
dedico aqui o meu feito.
Janina de cuja estima
sai um poema em respeito.
Nossa senhora do mar
navegue com os pescadores,
se houver nos barcos lugar,
leve também seus amores.
Senhora da felicidade
distribua a todos de si.
Mãe de nossas cabeças
azuis dos mantos daqui.
Senhora de tantos nomes
e de tantas alusões,
dedique-se também aos poetas,
às suas rogações
Poesia é um manjar branco
e um prato de acaça
essa rima mesmo que pobre
foi feita pra te abraçar.
Dia do poeta
Ontem foi feriado.
Não fui a sarau,
não escrevi nada,
não li nenhum poema.
Fechei a fábrica de versos,
dei a mão pra minha namorada
e saí por aí.
Ontem eu fui normal,
ninguém nem notou,
acho que consegui!
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