Fghting Forms- 1914- Frans Marc
A poesia me acompanha como sombra,
deixa arquivos, marcas, desde a pouca idade.
Todo poeta tem esse olhar que o assombra.
Visão incomum de plural liberdade.
Posseira de mim, deita em minha cama,
bole meu corpo, e como febre ela arde.
Amando, goza rindo essa cigana,
depois do orgasmo fica a soledade.
Desafio de gosto quente, triste alegria,
despida em publico por veleidade.
O que escrevo já não é o que queria,
mas o que ela diz a mim, outra vontade.
Quando acordo e a vejo ao lado, noutro dia,
desconfio que eu estava bêbado e agora é tarde.
Posto que ela fez comigo o que queria.
Eu fui um vassalo nu de sua propriedade.
No papel vazio trançaram pernas as palavras,
então darão sentidos outros à linguagem.
Livre e permissivo o pensamento sai sem travas.
Escrita, a poesia nova evoca outras imagens.
Ela vai sorrindo, trai a mim, ela corre, ela é de lua.
Depois de pronta, vai sozinha, perco a exclusividade.
Da poesia sou somente corno amante, ela é das ruas.
A palavra é o peito, é a pedra em alta volatilidade.
Não sendo minha, ao mundo vai quebrar vidraças.
Das bocas dos outros sai e corre em fé pública.
Desata os ventos nos sete mares de quem a laça.
A cada um se da em carne única.
Ataca ao coração, e o incendeia, de novo é outra.
Na boca do povo cai, de amor queima tão rubra.
Invasiva a todos grita, é Maria a rainha louca.
Cospe um dragão, que Jorge guerreiro derruba.
Não tem credo, nem cor, nem lugar ou paradeiro.
Dos sentimentos faz brasa, fogo e fumaça.
Poeta algum com ela ganha dinheiro,
mas não pode viver sem o ar da sua graça.