Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

Perna bamba é do samba



Esses maços

Peço licença ao amor,
sussurro na madrugada.
Peço só isso e mais nada,
diante de um dissabor.
O samba que hoje faço
na cama sem namorada,
rimando a lua com nada,
é louco de tocar tambor.

Sem a ter mais nos meus braços,
canto ao que aconteceu:
A moça ficou zangada,
por uma palavra aleijada,
levou-me algo de seu.
Fez ir embora o abraço,
por conta de um embaraço,
sem  beijos entre ela e eu.

O vício de amar é sacana;
Vou também sem errar passos.
Vazio ficou o espaço
ao lado na minha cama.
Quanto mal faz esse maço,
mas não tenho os nervos de aço,
deixem passar essa dama.

Arrais

Maria, minha Maria que dia você vai voltar
a ter aquela alegria, me diga venha de lá.
Tristeza é uma vilania na alma, é algo sem par.
Me lembro, você sorria e encantava o lugar.
A sua fisionomia fazia a gente cantar,
agora minha Maria, me diga, pode falar.

Maria você sabia sorrir como ondas do mar.
Agora é só afonia, cizânia por não fumar.
Já fui até na Bahia pedir lá no Afonjá,
que me arranjem umas guias com força Iorubá. 
Fui num terreiro em Caxias, fiz promessa popular
para ver se a coisa tardia saia a deixando paz.

Eu digo nessa porfia, do desejo que ela traz,
pois quando você sorri Maria, o mundo sorri a mais.
Que volte sua alegria, que você volte Maria.
Espia em torno, espia a falta que você faz.
Sem você tudo esfria, em mim fica a falta do cais
Volta depressa Maria, o seu sorriso é meu arrais.

Vai Barbosa


Vai Barbosa
Veste essa toga e mostra ao povo seu valor
Vai, vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Põe na cadeia quem virou corruptor
Vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Passa o rodo em quem foi um Mensaleiro
Vai, vai, vai Barbosa ...
Faça a faxina pelo povo brasileiro
É camburão...
Vai Barbosa...
Mostra pra gente que é valente sem perdão
Vai, vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Bota algemas no punho do Mensalão
Vai, vai, vai...
Vai Barbosa...
Põe na cadeia quem pagou quem recebeu
Vai negão, vai prosa.
Tem sol quadrado na quadrilha do Dirceu
É camburão... 
Vai Barbosa...vai, vai, vai, vai...
    
Vida na dobra

Levei minha nega para uma fita legal no cinema,
numa sala bacana e pequena lá perto do Galo.
Aonde a coruja dorme o barulho é a boca pequena.
Nesse bairro elegante e charmoso que é  Ipanema,
a levei com carinho pois eu sei que a santa é de barro.

A fita estrelava o Bezerra da Silva como ator na cena.
Ela disse vou ver esse filme porque ele é um desagravo.
Mas o samba povão deixou minha moça de fato grilada.
Ela chega a fechar os olhos por motivo de grande emoção,
quando viu na telona o sambista real na sua vida privada.

Na primeira cena, o começo, é ligado com um rabecão.
Eu falei: Minha nega o samba é coisa de gente bem séria.
Garateia de ideias do censo comum do mundo povão,
aonde a cultura rasga o verso no código João da Gomea,
quando a crítica vem do olhar afinado do homem peão.

Segue em frente o pagode tocado em cavaco de ouvido,
descrevendo o cotidiano do morro e de seus cidadãos.
Na caixinha de fosforo o toque é bemol sustenido,
despistando a lei que não vem com a macaca e o bandido.
Porque o bicho que pega aparece é com um Tresoitão.

O Jeitinho é a forma mais publica desses barretes.
Nas vielas e becos e bicos de tantas Catraias.
Solução é silencio melhor do que ser "caguete".
O Pagode provem desses duros e dos rabos de saia.
Minha nega se assusta com a justa nesses palacetes.

Essa laje elegante é pro samba do mestre  da obra,
a poesia ali esta longe de qualquer verbete.
O malandro é malandro e o mané é aquele calhorda.
ser gourmet é legal, mas na fome farofa de areia é banquete.
Quem não quer entender faz carinho no peito peludo da sogra.

Para sede do espírito um salgado e conhaque sovaco de cobra.
Quem discute a origem da erva é o Genoma semente.
Se tem gente safada no morro, essa gente manobra.
Pois procure mudar o olhar com a visão dessa fala latente,
sem ter constrangimento diante da vida na dobra.

Aqui jaz Samba

O Samba tinha negritude.
O Samba tinha sol na saia
das femininas virtudes,
também de chapéu de palha.
No brilho a pele morena,
bem antes era toda nua,
o Samba ganhou a cena
nas roupas alvas e cruas.

O Samba era brasileiro
de corpos tão elegantes.
Pierrete veio primeiro,
22  e modernizante.
Antecedeu ao Pierrô,
sem ser menos importante.
Só depois Di Cavalcante
no Samba pôs azul cor.

Havia-lhe um sol maneiro,
pictórico no sabor,
tão mulato, tão inteiro,
cheirando a trabalhador.
À direita um violeiro,
ao fundo um estivador,
dois corpos luzem brejeiros,
são duas mulatas em flor.

Os homens sentados fitam
o que hoje é uma tristeza.
Fumaças ao fundo ditam
o destino dessa riqueza.
Queimada na intimidade
das coleções de cultura,
a irônica privacidade
do patrimônio é a clausura.

Na fuligem, no braseiro,
o azul virou fumaça.
Arquiva a Barata Ribeiro
mais uma ode à desgraça.
Perde um povo em ignorância,
as referências de laia.
nas paredes dessa instância
a relevância desmaia.

O Brasil perde altaneiro
mais uma peça notória.
Num destino traiçoeiro
O Samba virou memória
Do outro lado da praça,
quase de frente ao Metrô.
distante do olhar da massa.
a arte se suicidou.

Silente

Ai como dói uma ausência  na gente,
como machuca um estrago de amor.
Quando eu trago um sorriso nos dentes,
tão somente evidente, escondendo a dor.
Se a alegria que vês é janela aparente,
tem semente em algo que machucou.
Essa festa do fim é dos quase contentes,
são as sobras frias e silentes de calor.
Como reflete esse espelho, essa lente,
mostrando o real fato no fino pente,
essa imagem restante, sem sal, sem sabor.
Nem de longe lembra as juras ardentes,
ai como dói esse fim comovente,
quando não se sabe sequer quem errou.
Nessa farsa em brinde o chope é quente,
quem saúda o ruim da paixão diferente,
quebra um verso onde a rima assim acabou.

Micróbio do samba

Se o seu peito chorar baixinho,
com a sequencia afinada em Si,
vá nas cordas de um cavaquinho,
até a tristeza cansar, desistir.
Ouvir samba pode ser caminho,
para a vida voltar a sorrir,
no perfume sonoro do pinho,
um bom samba vai te redimir,
Sincopado ou no Miudinho.
No contágio maior da alegria.
Se o dissabor se tornar vizinho,
houver dor onde não mais havia,
deixe o samba assumir seus carinhos
melhor mesmo é cair na folia
e deixar o sofrimento sozinho.

É o bicho pagando

Sobre o céu azul das terras brasileiras,
na asa delta do descobridor Cabral.
Nas cascatas e nas grandes cachoeiras,
tanta agua e tanta sede nos jornais.
Contra o vento banham muitos animais,
avestruz, águia, burro, borboleta,
nessa nau fantasma qual Catarineta,
o zoológico contábil faz Carnaval,.

Tem cachorro, tem cabra, e tem carneiro,
tem político atolado em atoleiro,
tem perilo, pirâmide, tem um mal cheiro,
empreiteiro fornicando no quintal.
Na corcova do camelo entra a cobra,
superfaturando a custo nossas obras,
Da cartola do coelho o capital.
Agneologia é algo escondido,
a cidade de Queiroz tem um zumbido,
tem cavalo dado com cela e estribo,
solapando o fràgil erário nacional.

Pra cacique cavalgar como elegante,
misto público e privado é gritante.
O elefante esta escondido no embornal.
Senador ganhando mimos de regalo,
esse almoço devo lhes dizer é caro,
cada cidadão aqui perde um galo,
para o gato ficar rico no final.
Desse jeito a sociedade é ré,
sofre o custo da mordida ao Jacaré.
Nos impostos, e em tantos outros custos,
onde a seca faz sofrer lá no Assaré.

Aonde a agua molha a mão mais que aos pés,
a saúde e educação tem gastos curtos.
É preciso desvendar a solução.
O desvio morde mais que o leão,
tem macaco pendurado no arbusto.
As divisas decolam do aeroporto,
depois voltam da offshore bem mais limpinhas.
São de ouro os ovos dessa galinha,
A tomada não é focinho do porco.
O ladrão de colarinho não tem rosto,
se me perguntarem, nego, eu digo não.

O meu voto anda valendo tão pouco,
colorida e azul é a calda do pavão.
CPI é um senado em fogo morto,
cheio de pau velho que já nasceu torto,
pleiteando a arte na televisão.
Nessa jogatina o pobre entra com o cu,
sete e sete à oitenta entra peru.
A gaiola das loucas toma o tesouro,
do eleitor presado que não é panaca.
A gente não tem cara de babaca,
aceitar isso é aparecer mais tolo.

É preciso tourear, vencer o touro,
é melhor chutar o pau dessa barraca.
Na vitória e no feijão ficam os louros,
para ver se a política progride.
Tantas fezes ha nos ombros desse tigre,
pois escrevo indignado com a caca.
Nos sabemos distinguir o amigo urso,
quando descobrimos  roubo deslavado.
Depois vem o senador e o deputado
dizer aquilo que lhes parece justo.
Às dezenas, ás centenas, blá, blá,blá.

Corrupção é algo feito em par.
Nas apostas desse assunto delicado,
servidor anda se servindo um bocado,
faz a vida na propina do milhar.
Ha mais chifre de cavalo em veado,
por consórcio os quatro lados são cercados,
dominando o sistema do cerrado,
basta olhar num sobrevoo ao governar.
Poesia é uma absurda maritaca,
a palavra é um bom drible da vaca,
conta a história do Real de algum lugar.

Natal sem umbral

Gurufim do Natal
O samba ressurgindo
nos subúrbios da Central

O golfinho afinal
levará o mais findo
exorcizando o mal.

No trago da pinga
se desfaz mandinga
desproporcional.

Gurufim nos diz
nesse vis-à-vis
que ele irá feliz
para outro local

Madureira enfim
vai a si redimindo
nesse tal festim
Gurufim vai indo.

Para o mar sumindo
no culto mais lindo
Delfim abissal

Vem do povo Banto
todo esse canto
todo o comensal

Boca na moringa
Que o samba faz manto
Portela caminha
quebre esse encanto

Tira essa morrinha
do azul e branco
e ganha o Carnaval.

De sapato branco

Sou fã do Funk,                             
sou fã do Hip- Hop.
E vou te dar um toque
antes que você se zangue.

Não me atrapalho
antes mesmo com os pés,
para os ouvidos faço
gosto com o Jazz

Até no Blues
ouvidos pus.
Nos atabaques
sou da tribo dos Malés

Por outro enfoque
a olhos nus,
não me equivoco
com o Afro-Spiritus.

Se não me fecho,
no estilo como o TOC,
porque de resto
haverá dia de Rock

Por isso digo não se feche,
eu repito, não se empanque
com a acides meio Trash
dos Ingleses, dos Ianques.

Para os ouvidos percorrerem os caminhos,
para encontrar o X certo da canção.
Até o prazer carinhoso dos Chorinhos,
até sentir o acridoce  de um Baião.

Deixando isso pra lá,
sem deixar isso de lado.
Vem se arrastar
no Calango,
no Xaxado.
Do Cubano Chachachá,
ao Miudinho delicado.

Mas o meu gosto
por Catira e por Milonga,
tem por arrosto
as tongas dessas mirongas.

para encurtar essa bruma,
essa história que está longa,
cheia de Rumbas,
de instrumentais e Congas.

Além dos clássicos que dão paz
á alma humana,
tem os Boleros, jogam mais
à ela na lama.

Tendo isso dito,
enquanto um Mambo mamba.
Eu vou amigo
mantendo acesa a chama,
e te dedico
um poema feito em Samba. 

Suor

Esse zagueiro no jogo chamado vida,
as vezes bate um pouco,
as vezes causa ferida.
Quem não vacila no troco em dividida,
sabe sair desse toco,
com a cabeça erguida.
Para quem joga de forma destemida,
basta uma ginga de corpo,
e a partida é vencida.
Desfaz  com drible a dor da torcida,
cava a jogada no coco,
marca o gol e revida.
Vence ao se cuidar do bobo perigoso.
Entre um passe fantástico,
entre o lençol e o elástico,
a arquibancada delira e vai ao gozo.
com uma bola de couro,
com uma bola de plástico.
Mas há que suar camisa no gramado,
há que correr lado a lado,
Olho no peixe e no gato.
porque se alem da corrida, tem o baque,
Vida não vem em almanaque.
não se pratica de araque.
Ela só não vale a pena pra quem minta,
nem quem se cansa nos trinta,
ou só carrega na tinta.
Não há receita perfeita ao seu gosto.
em cada marca do rosto,
o placar fica exposto
Descuido tem sempre o risco em bola alta,
entre a pressão e o ataque,
sola quando vem, se salta.
Encobre a zaga perdida e sempre incauta.
corre do drible da vaca,
quem joga bem se destaca.
É do incomum  que brota a vez do craque,
sempre a seguir centro avante
como Didi, o elegante.
Salva  da trava o tornozelo da falta.
Na perna entorta o Garrincha,
Na folha seca ou na finta.
No meio campo às vezes embola o jogo,
tem que sair desse logro,
Juiz tem ouvido mouco.
Categoria de quem não é mesmo de quinta.
Quem resiste  esse foco,
Sabe o quanto a vida é linda.

Parceira

Todos estão indo depressa,
onde eu vou bem devagar.
Uns têm o sorriso de fresta,
da coerência as avessas,
comum ao medo de amar.
Avesso ao gatilho da besta,
desprezo o que não presta,
pois se a vida  me resta,
habita o seu olhar.
Com a virtude canhestra
exposta e manifesta,
é dessa forma modesta
que eu vivo de te amar.

Pré carnavalesco

Todos os blocos desfilam com a certeza,
entre as rodas o samba é o principal.
A alegria toma copo e ganha vida,
derramando na tristeza a pá de cal.
Muita gente se esparrama na bebida,
muitas bandas se proclamam na avenida,
fantasias dão um clima original.

Na alegria em cada corpo refletida,
muito samba, batucada e o escambau.
Multidões fazem dos blocos, correnteza.
A cidade é uma ode à beleza,
cada esquina é felicidade acesa,
todo mundo se desperta no anormal.

Os camelôs trazem suas bugigangas,
um chapel, uma rosa, umas cangas,
um repique, um surdo, um agogô.
Um trombone de vara põe o valor,
desta forma vai em frente uma charanga.
Arrastando com seus ditos de harmonia,
os sobrinhos, as sobrinhas, tios,tias,
Em sorrisos se abraçam com a orgia,
num fascínio da cultura tropical.


O astral sonoro encara as baterias,
no asfalto é  dada a senha da folia,
todos buscam o calor que contagia,
pra viver um grande amor de carnaval.
Se com menos ou com mais, qualquer destreza,
nesses dias nada causa estranheza,
cinco dias de folia nacional.

São Sebastião

O sol lá fora e o céu inteiro.
O Estácio em par no coração.
Quem tem no Santo padroeiro
O guardião do Rio de janeiro
Saúda a São Sebastião.
Oxóssi, Orixá da fartura,
sincretizando une a cultura,
fundada no Cara de Cão.

Essa cidade prazenteira,
cheia de praias pelas beiras,
florestas e a pedra do Pão.
Nos subúrbios, na baixada,
tem namorado e namorada,
e o Samba faz habitação.
Pelos botecos nas calçadas,
O churrasquinho e a gelada
lavando a comemoração.

O dia escorre em feriado.
Serpenteando a procissão
O cardeal engalanado.
O redentor sempre ao seu lado,
faz da cidade um só cordão.
No asfalto ou nas colinas,
nas casas ou nas esquinas,
o Rio é o olhar da Nação

Sebastião esse soldado,
guerreiro mor municipal,
protege do Leme ao Pontal,
do Jacaré ao Encantado.
Com o corpo assim todo flechado,
guarda o Rio em quatro lados,
prenunciando o Carnaval.


Via superior

_Aí Cabral!
Não o pai, mas o filho.
Tudo bem?
Pega o trem
da Central!
Pega, vem!
Vem no Rusch pros trilhos.
A Marechal!
Vem comigo.
Vai ser legal,
vem amigo.

_Aí Cabral!
Vai rolar alegria,
Supervia?
Nem liga!
Assovia!
É!  Na moral!
Que que tem?
Contagia a moçada!
Eu não tô fazendo nada,
Você também!
Na Geral?
Vem Cabral!

Vem pra ver que bonito!
Tanta gente!
É tão quente.
caminhar nos dormentes.
Nem parece um conflito.
Marginal?
Irmão, não tem perigo.
Lotação sem castigo!
Vem curtir o apito!
Nada mal,
natural!
Vem Cabral
Vem meu bem!

Haicai de balcão

No boteco o assunto gira
em futebol, 
em mulher ou em mentira.

Sem miolos

Nas palavras do  Valfrido:
Em Copacabana o couro come,
ou o couro é comido,
no prato cheio da fome.

Ás vezes parece tolo,
não faz mesmo nem sentido.
Filósofo sem miolo
chamado de Rei do Lido.

Carola esse dito cujo,
já do tempo encardido.
Adepto do pé sujo,
a Gota lhe tem doído.

Calado não fica mudo
onde se aprende de ouvido,
um pouco, um quase tudo.
Um todo louco varrido

Moela boia no molho;
Sardinha nada no mesmo.
Tem cor na casca do ovo,
quebra dente de torresmo.

O tamanho de solidão
encurtando o vestido,
faz do velho um babão,
se a moça não tem marido.

Nos olhos esbugalhados 
vê-se um fígado sofrido.
A sobra do escumalho,
copo e sede embebidos.


No mais

Ifá e os ancestrais
dos animais humanos,
derramaram seus desejos
nos herdeiros lusitanos.

Em cada lábio um beijo,
em cada vela de pano,
queima o sol tão almejo,
deixando no corpo os danos.

O tempo é o maior parceiro
para o reparo de enganos.
Viver é um fato primeiro,
depois se forjam os planos.

Residente num arcano,
qual os arquétipos mentais.
Tambor de mina afina
a trilha aonde passamos.

A fé é coisa divina
nos indivíduos grupais,
ou uma Cafiaspirina
para quem não vê nada mais.

Amar é mais que estima
O amor é um braseiro,
só queima se é inteiro,
só arde se está em paz.

Limança

No estilo bom Zé Limeira
Contemporânea é a praia
Tem confusão lá na feira
Tem gente de toda laia
Razão de rabo de arraia
No Fal Fuzil ou Biqueira
Ferro de fogo é Catraia
Bom é não marcar bobeira

Crack tem morte ligeira
Antes que a casa te caia
Depois da pedra primeira
Quem for esperto que saia
Ong tem maracutaia
Dinheiro não tem fronteira
Time sem jogo tem vaia
Febeapa de asneiras

Alô alô tia Léia
Como já disse o Ben
Tem confusão Europeia
Tem no Correia também
Mel de abelha é colmeia
Ministro cai da boléia
Erraram lá no Enem
Completando a verborréia
Malandro nunca bobeia
Peão só anda de trem

Agora o santo tem cara
Os homens correm do arresto
Cuidado pouco é vala
Bagana fraca é esterco
Se a venda é livre isso para
Sem repressão ignara
Se a violência está clara
A vida perde no preço

Bala achada tem pista
Basta fazer o cerco
Quem vai prender a polícia,
Melhor calar pelo resto
denunciando o xaveco
Na foto vem a milícia
Se vida é doce delícia
Depende de para quem


Festa de salão

O camelô levou muita porrada
Pedras portuguesas no chão
Perdeu féria confiscada
Quinquilharia no camburão
O cambista furou fila por nada
Bilhete falso nas mãos
Churrasquinho de gato na entrada
Um segurança pediu perdão
Tumulto na fila  complicada
O bicho é contravenção
O show acaba de madrugada
A volta é sem condução
Alguma coisa parece errada
Nã, nã, nã, nã, nã, nã, não
A boca já foi fechada
Não entra mais Camarão
Um carro fechou calçada
Aguarda um guarda e talão
A coisa está animada
Tem cerveja de latão
Ensino público é nada
Lá não se aprende a lição
Se não tem chá com torradas
Vamos de graxa no pão
Aquela falta foi cavada
E claro, o juiz é ladrão
O jogo é carta marcada
Apareceu no telão
Também mineral gelada
Amendoim no carvão
Sai por cinco e mais nada
Lei seca é o X da questão
Bolacha doce ou salgada
Pra chuva tem familhão
A moça tem namorada
O moço tem solidão
No Leme às quartas pelada
Poesia é pura paixão
A lua foi camarada
Violência é mundo cão
Carteira foi expropriada
Algazarra é confusão
Agora não tem escada
para subir no Alemão
A noite segue a balada
O beijo é boca e tesão
Eu disse que esta errada
Mas ela é de opinião
O amor é de madrugada
Nessa  festa de salão


O meu amor

Meu amor me ama com a graça
transparente e nua da alegria
Vem com a fúria da boa ventania
com a lua da noite me abraça

Meu amor é uma mulher tão viva
atiça meu corpo e o devassa
Reinventa a vida e me laça
invadindo assim minha preguiça

Tem o charme da malabarista
O sorriso mais lindo que há na praça
Sua atitude  é sempre a mim bem quista
O seu beijo é vinho em minha taça

Meu amor diz que à ela eu trago paz
quando nela a paz já esta contida
Seu desejo desfila na avenida
com um brilho luminoso e sagaz

Ela tem a calma humana por ofício
Desse amor sou simples ladravas
Eu devolvo esses versos ao início
Nessa graça eu a amo muito mais

Poema na pele

Desço eu de mim mesmo
no passo de um trancelim.
No que me desconheço
ao meu lado, quase assim.

Vejo no silêncio o começo,
se o poema é trampolim. 
Seu destino web a esmo,
temperado em botequim.

Palavras de sal, torresmo,
arrimam em boa ou ruim,
cobrando em sentido, o arresto.
Pedaços de mim em mim.

Um do outro me descrevo.
Eixo virabrequim,
na explosão dos apreços,
sou o rosto do arlequim.

Flutuo no chão o tropeço,
o destro do Bandolim.
No meu corpo de Hefesto,
cruza o poema carmim.

Rimando o amor honesto
com sua pele de cetim.
Não me preocupa o resto,
pois volto a me estar no fim.

Poema em bloco

Se não quer me dar me empresta
com simpatia é quase amor
Só o cume interessa
tá pirando, pirado, pirou.

Quem não guenta bebe água
ou escorrega mas não cai.


Vou no bloco rua larga
que concentra mas não sai

Nem muda nem sai de cima
mas imprensa que eu gamo
Das amigas da esquina
Já comi pior pagando

Vou sair no escangalha
sou escravo da Mauá
Rola tarda mas não falha
vou treinar é volto já.

Vem ni mim que sou facinha
senta aí que eu empurro
Desfilando só na minha
então vem que eu estou duro. 

Não demoro

O amor deflagra o calor nos amantes. 
Com a brasa lambida do fogo ateado no corpo.
Condena em silêncio fatal aos seus, aos replicantes.
No outro o desejo de amar traz o mar, Cais do porto.
O amor faz reclame a todos,  a todo instante.
Mesmo na descrença se é dele decano ou devoto.
Arrasa com a solidão num desvão, vendaval, num rompante.
Seja no beijo da foto, na brisa ou bagaço do terremoto.
Por vezes a forma de amor é tal deselegante.
Seja ele um pé de chinelos, novelo ou  angu de caroço.
Da forma que for, se é amor, é sempre mais edificante.
Seja ele atuante, ofegante, na  idade de velhos ou moços.
Amar é um ato afoito, é coito de fé delirante.
Na guerra do corpo a corpo respiram suados destroços.
Á tarde , na rua, na lua na mesa do restaurante.
Num chope gelado, bem acompanhado de pobres tremoços.
Assim quando já não há mais nada a perder, ele vem assaltante.
Ele entra por dentro da gente, delinquente, por todos os poros.
Seja certo que amar é medir pelo metro maior dos errantes.
Quando ouvem nos lábios das bocas suspiros e sinais sonoros.
Ele esta onde não caberia, por ser de tamanho tão grande.
Depois põe fogo em toda Roma e conclama povo no foro.
Mas meu, amor, sendo noite, eu te peço que espere um instante.
Vou lá fora comprar um cigarro, juro que eu não me demoro. 

Solução

Quando a tristeza persiste Te fazendo triste 
não tem jeito não.
Tem que beber de um samba fundo de quintal 
para achar solução.

Solução....

Quando o desejo é um beijo, deseja desejos  
de um samba canção.
O amor esbarra nas línguas vibrando
como cordas de violão.

Solução....

Você que o olha  de longe, no olhar esconde
o calor da paixão.
Não vê que a vida te abraça no corpo aonde
há um toque com as mãos.

Solução...

Vê, vai seguindo sozinha, sem entrar na minha
não tem solução.
Pois este olhar continua te fazendo nua 
em exposição.

Solução...

Exposta como lua atravessando a rua
do meu coração.
Tente mudar a conduta que vida é curta
e tem solução.

Estações

Vem chegando o outono
Tirando o meu sono
Às nove da manhã

Mesmo que alague
Que você me largue
No Maracanã

Nosso amor gigante 
É quase elegante
Feito a atriz e o fã

Mesmo que a prosódia
Nessa rapsódia
Pareça tão vã

Vasa o Guandú
Então apaga a Light
A gente se sente "socite"
Na pagina um
Do jornal

Engarrafados 
Em pleno bleckout
E dizem que a zona norte
É lama medicinal

Vem chegando o outono
Como o patrono
Desse temporal

Só por um milagre
Não foi pro vinagre
O nosso Carnaval 

Surreal

Eu danço na corda bamba desde o dia em que nasci,
pois no ritmo desse samba eu cheguei até aqui.
Se há amores que choram, também há neles que rir.
Tsunami ou pororoca em New York ou Merití.
Dedo de moça arde e o espinho vem no Pequi.
O amor é coisa de louco em peito de Juquerí,
quem não se arrisca ao seu gozo tem medo de Piriri,
não se dispondo ao outro, não saberá nem de si.
Ceição queria um Antônio e Joaquim amava Lili
O beijo que traz Maria tem gosto de Açaí.
O mundo treme la longe e se aquieta logo ali.
Quando um verso vai embora é que não tinha que vir. 

Folia

Foi dada a largada,
libera o cordão.
Vai ter feijoada,
vai ter multidão.
Repique e retreta,
Cacique e Doidão.
Vem pro Bola preta
trombone e trombeta,
polícia e mijão.

Tem banda e bandinha,
Bloco sem noção.
Princesa e rainha,
desfile e ilusão.
Tem carro que enguiça
Badalo ou Sainha,
Desliga a justiça,
turista e punguista,
Vem que sou facinha.

Meninos de Cloves
ou de Bate-bola.
Calor se não chove.
Tem bunda de fora.
Meu bem volto já,
Eu disse que ia.
Vem cá e me da.
Escravos da Mauá
ou Dá cá,dá tia.

Vai ter fantasia.
Mas salvo o engano,
Tristeza é alegria,
Imprensa que eu gamo.
Vou beijar-te agora,
Pirado ou pirando.
Quem mama não chora,
tem samba lá fora,
e eu caio sambando. 

Vai

Menina não me complique!
Eu sei que você é Punk
mas é que eu sou Mangue,
caso não me identifique
.
Mistura de dinamite,
versa explosão bumerangue.
O amor não tem forma exangue,
é veia de romper limites.

Desejo não é ofício,
coisa de pele é sacana.
Amar é transcender cama,
passa alem do sexo início.

Se a tara é grande demais, 
parece mesmo difícil.
Meu corpo não é seu vício,
porto ou beira de cais.

Não sou poesia chique.
Sou breu, fundo de mar.
Não sei se você vai gostar,
mas eu não sou beatnick.

Estar junto não é estar perto,
depois haverá quem se zangue.
Afetos perdem o sangue,
quando o amor não da certo.

Vá procurar outro porto.
O amor acabou, ficou torto.
Agora que já é morto,
não há mais o que acordar

Senhora dos navegantes


Senhora dos navegantes o mar lavou todo meu peito,
levando magoas nas águas, trazendo paz desse jeito.

Senhora Yemanjá rainha do mar inteiro.
Divina yorubá canta o dois de Fevereiro.

Senhora de todas as ondas dedico aqui o meu feito.
Janaina de cuja estima sai um poema em respeito.

Nossa senhora do mar navegue com os pescadores,
se houver nos barcos lugar, leve também seus amores.

Senhora da felicidade distribua a todos  de si.
Mãe de nossas cabeças azuis dos mantos daqui.

Senhora de tantos nomes e de tantas alusões,
dedique-se também aos poetas, às suas rogações

Poesia é um manjar branco e um prato de acaça
essa rima mesmo que pobre foi feita pra te abraçar.

Com o balançar das cadeiras

Quem não verá, 
não saberá! 
Os trejeitos nas cadeiras, 
que ela sabe dar...

É remelexo de Caruru, 
tempero de Vatapá. 
É Rabada com Angu. 
Farofa de Alguidar. 
Pimenta de arder Tutu, 
É doce de Araçá, 
Moqueca com Urucum, 
cachaça de Pau Canela.
Batuque de Olodum,
feitiço quente, panela.

Abraço de ser feliz,
no corpo de quem a quis, 
cintura de tremer fundo.
É Carnaval de entrudo. 
Depois de entrar com tudo 
dentro da brincadeira, 
ela ainda me deixa mudo, 
duro, vesgo, bicudo, 
com o balançar das cadeiras...


Vou pro samba

Vou pro samba na esquina do pé sujo.
Vou levando a cuíca na sacola.
O pé sujo fica lá no Caramujo.
Me acompanham um tantan e uma viola.

Vou pro samba porque o samba é da hora.
Tem Arlindo, Paulinho e tem Cartola.
No Samba ponho o coração pra fora.
"Cantando eu  mando a tristeza embora."

Vou pro samba pra festejar o Cacique.
Vou tocar pra uma moça que rebola.
Quando ela samba algo em mim liga num Clik!
No repenique me anima essa senhora

Vou pro samba que o samba esta me esperando,
quando ele chama tem que ser, é sua glória.
Se eu não fosse seria homem que desiste.
Isso não existe, porque vou pro samba agora.

Caldinho de feijão

Meu amor tenho olhos tristes agora,
de onde venho a saudade se demora.

                                       Os meus braços te desejam abraçar.

Rodei mundos de chão noites afora,
na Serrinha namorei outra senhora.

                                      A solidão enganou o meu olhar.

Meu amor se vestiu de dama fina,
maltratando um vadio de esquina.

                                      Fiz-lhe um samba facinho de cantar.

Ela disse esse samba não tem rima,
seu desejo poeta é só estima,

                                    seu abraço é de balcão de bar.

Meu amor fez um sorriso de atriz,
desdenhando  dos beijos como esfinge.

                                      Muito esnobe no mundo de quem finge.

Pôs o encontro vazado na ilusão,
foi-se  embora de mim porque não quis,

                                    um torresmo no caldinho de feijão.

Cacique

Meu coração é Cacique em mim,
é de Ramos. 
Minhas veias de tamarineira 
são as chamas. 
Já tenho nas pernas passos beiras,
Suburbanos.
Bira e seu celeiro
só de bambas.
Sambando vamos, 
seguir o caminho da rua Uranus.

Arte da tarde

A tarde espreguiça lá fora.
Aqui dentro a arte é senhora.
Vai à cozinha, 
faz um pão quente.
Come-o como a mim.
Vai ao banheiro,
escova os dentes.
Lava o corpo no chuveiro.
que bem lhe caia
Passa nos cabelos
meu velho pente.
Veste uma saia,
bem displicente.
Escolhe camisa no camiseiro.
Da-me um cheiro,
de seu primeiro.
deixa a toalha no secador
e vai embora dizendo
tchau amor.

Aos poetas que a Portela espera

Aos meninos que não sabem Samba,
Às meninas que só querem sambar.
Pois o Samba tem mesmo uma trama,
quem o souber viver, sarava.

Os meninos bem vêm a farra,
mas não respeitam o alguidar.
Tremem com as pernas bambas,
Eles não sabem sambar.

As meninas querem Portela.
Querem no azul amar.
Mas o amor tem tramelas,
comuns em toda favela
com segredos para entrar.

A porta que existe nelas 
É cultura de sentinela.
Têm na linhagem do samba,
a língua mais popular.
Bonitas, passam à verá.
Mas o que mais lhes apressa,
é mesmo o presságio de amar.

Para isso não tem tempo certo,
sejam melhor incorretos,
tropecem de bar em bar.
Nos corpos mais prediletos,
bebam todas as doses.
Cirrose de amor é saudável
depois do amor, é sonhar.

Talvez no caminho errado
posto que o errar vicia,
O tempo da bateria,
se mede no couro aquentar.
Não no que dele se estoura,
com mais um beijo na lista.
Couro que estoura na pista 
não vê a rainha passar.

Viver o amor é um feitiço.
Ninguém tem nada com isso, 
se outros quiseram gozar.
Meninos não fechem as portas,
porque amar é o que importa.
O samba do amor não tem volta,
feliz de quem o cantar. 

Esse samba não tem bis

Foi você quem não me quis
Apagou-me feito um giz
Bagunçou meu coração

Seu desejo era verniz
Só palpite, era infeliz
Logo dizendo que não

Bebo um gole de cachaça
Pra ver se a vontade passa
Quase perco é a razão

Outra vem e me abraça
Mas não acho a menor graça
Remendar desilusão

Tergiverso e faço um samba
Mas minha verve de bamba
Volta pro mesmo refrão

Hoje vou voltar pra Lapa
Onde o samba não escapa
Largar-me na fundição

Vou cantar la no Semente
Mais uma mulher que mente
Caida em contradição

Outro gole e vou na raça
No suor e na pirraça
Procurar outra Paixão

 Ah! E esse samba não tem bis...


Poema para Deusa de ébano

Eu não posso fazer-lhe um funk meu amor.
Deus deu-me o pecado branco na cor.
A cor negra eu preciso buscar em você.
No terreiro dos meus olhos há tambor,
no desejo do teu, ponho o meu prazer,
nessa roda onde o samba é só calor.
Sua boca na minha vai dizer,
nas suas pétalas abertas beijo a flor,
vendo a noite no dia derreter.
Nosso amor discorre assim sem hora,
não há tempo acertado para ele ser,
para viver, para ficar, para ir embora.
sob as bençãos de Pierre Verger,
nos devotos de Abaluaiê,
o melhor do amor é ser agora.

As de copas As de ouros

Jogaram água por cima.
Molhar os couros é inútil,
chamaram então a polícia,
para resolver algo fútil.

O tempo volta no tempo,
Quando sambar der prisão.
Prisão são os apartamentos
O samba é libertaçaõ.

Jogaram um líguido bento,
a guisa de calar a todos,
gritaram os gritos bobos,
molharam os instrumentos.

A raiz do samba é a raça,
 Não é acanhar  ninguem.
Só se invergonham os praças,
quando a patrulha vasa,
querem pagode tambem.

As moças requebram em chamas.
Os moços chamam, e elas vêm.
Na  roda de Copacabana,
todos os  fins de semana
o samba é um canto do bem.

O amor embriagado

Caipirinhas de sonhos
Dois chopes de ilusão
Wiskys em gelo banho
Sakê congela a razão
Magníficas amigas
Dois cognacs bons de briga
Taças de vinho à mão
Vodka junto com lima
Também pode ter limão
Doses de Gin na auto estima
Rum cubano sem embargo
Stainheguer na língua 
Tequila de um belo trago
Outra Aguardente bem vinda 
Bagaceira Saramago
Cevejas em neve alpina
Um kirsch de adrenalina 
Em um cointreau de afagos
Goladas muito absinto
Aquavit à felina
Pisco ao dizer que minto
Cachaça de meia esquina
Genebra do meu afinco
Licor de ver as meninas
Grappa saudosa paixão
armagnac sustenido
Champagne cheia de rimas
Calvados meu coração
Mais todo remédio vindo
do boteco do Arlindo
Eu trago ao pedir perdão

Noturno I

Eu que não vou à praia
venho com a pele da lua.
Trago uma noite que caiba
entre as pernas das suas.

Zé Limeira no samba

Zé Limeira pediu licença
a Deus para descer do céu
disse que tinha peleja
mas foi é beber cerveja
gelada nas redondezas
do boteco do Leonel

Violeiro bacharel
Lá encontrou Tereza
bonita por natureza
mulata de cama e mesa
Rainha bem globeleza
da comuna do Borel

Vestindo mais de um anel
Zé não foi pra Paraiba
evitando mais intrigas
deu o braço à rapariga
rumou com a tal amiga
a quem chamou de pitél

De provar daquele mel
Tinha vontade inteiro
mas antes foi no Salgueiro
buscar uma agua de cheiro
ouvir o som de um pandeiro
num samba em verso fiel

O cantador menestrel
sem ser um bamba na escrita
pra moça em laço de fita
fêz poesia bonita
deixando a mulher aflita
Limeira fêz um cordel.

Ao homem da Borborema
versador de mote à hora
repique caixa e surdo
ao poéta do absurdo
num galope de entrudo
foram mostrar a escola

A noite rasgou seu vel
Com cheiro de praia Ipanema
furos de estrelas pequenas
do céu desceu lua plena
no firmamento da teima
do brilho de um papel.

Pra ver Zé Limeira cantar
de todas as cercanias
surgiram tantas Marias
o sol já paria o dia
quando o pagode insistia
seu gosto mais popular.

Martelo de beira mar
com rimas da boa aposta
foi uma pequena amostra
o samba é só pra quem gosta
levanta a saia das moças
deixando alegria no ar

Depois de ouvir o pagode
Zé Limeira deu um mote
tirado da sua cachola
Sem querer ser nada esnobe
perguntou pro Rip- Hop
se sabe cantar Cartola

Como num drible de bola
enquanto ninguém responde
no traficar de um bonde
O Rep é o repente longe
com a postura de um conde
Limeira pega a viola

Chamando pra um desafio
A alegria foi tanta
os versos soltam gargantas
mas cantador sacripanta
com a morena se adianta
provocando desvarios

Por conta dos seus carinhos
falava com voz bem mansa
que rimou o fio da lança
com a cavidade da entrança
casando o desejo e a dança
de macho e fêmea no cio. 

Circo literal

Sempre andei por aí meio bambo.
Nunca tenho ninguém por traz de mim. 
Levanto-me maior quando caio 
no mundo, esse grande balaio,
"quem quiser gostar de mim eu sou assim".
Com os passos afinados nesse samba. 
Quando faço um verso, mordo raios,
na poesia do cordel da corda bamba.

Se eu fosse um anão de circo,
seria alem do palhaço e o equilibrista,
também seria o atirador de facas.
O combo disso tudo é o poeta ativista
Espadachim afiado das palavras,
ilusionista de rimas na avenida dos riscos.
Mas não o poeta maior, o hedonista,
o literato de seda, no papel de capa.

Caudilho dos livros, das academias,
dos chás, das alfazemas.
Outrossim o poeta pequeno, 
surgido do dia a dia,
no poema solar e pleno
das licenças de corriqueiras fisionomia.
Essas licenças poéticas sempre eternas,
porquanto valem a pena.

A poesia popular tem pernas,
quando a todo mundo encanta.
Mesmo com pouca rima, é tanta.
Enquanto houver poesia, eu a quero terna
Mesmo quando ela passa por minhas ruas,
e me desdenha com suas mantas.
Parece a mim ela esta nua.
Ela não me espanta, ela canta, canta, canta...

Herança

 Não se chega a Leminski, 
sem trafegar em Quintana.
Um dia eu vi que Lya,
comeu dos doces de Cora.
Paulinho não é Paulinho,
Se não bebesse Cartola.
Cacaso não teria mar,
acaso não houvesse Cecília.
Até mesmo Gullar,
esse poeta  dos bons,
uma noite o ouvi falar 
do apreço por Drumond.
Em todo contemporâneo,
esta a marca, a quilha.
Tem sempre um pouco do crânio,
do que o antecede na história.
A poesia desencadeia livre,
pagina após página, 
o instantâneo.
O caminho é mesmo assim,
revive, comove e move seu Id.
Isto é pulsão, arquivo, 
depósitos da memória. 

Anjo da guarda

Um ser divino e bom. 
Como uma cerveja gelada.
Para os boêmios veio garçom,
vestido de todo branco.
Lembrando o dia no tom.
Da noite é o anjo da guarda.

Não é um anjo qualquer,
o cargo exige a idade.
Quanto mais velho estiver
o paletó e a gravata,
é prova de autoridade.
Nele se deve por fé.

Esse guardião da noite,
nas mesas foi consagrado,
forja e senhor da corte,
dos lábios de embriagados.
Testemunha de toda sorte
de breu dos apaixonados.

Estertor que a si encera,
arriba o  sol com portas de aço,
lavando os pés dos homens,
como a dizer-lhes os passos,
diante do que já é ontem.
A rodada é última, a do abraço.

É lis

O tato expõe seu corpo à minha pele,
em dedos deslisantes de verniz.
A graça do seu beijo voa garça,
no enleio da aventura de aprendiz.
O sol queimou o céu furando nuvens,
arrasta ao ralo a tristeza matriz,
na ideia de que a vida  tem graça,
se é viva por motivo de pirraça,
na massa que compõe sua matiz.

Viver é mesmo muito parir gozo,
nas veias desse afan de ser feliz,
nem todo dia tem de ser gostoso,
e o outro apos a noite, nunca é bis.
Eu que nunca quis Quiz ser corajoso,
covarde também nunca eu o quis.
Espelho-me no mirar do seus olhos,
visão de tão efémeros esporos,
onde germina e doura a flor- de- lis.  

Iansã é quarta feira


Sou um poeta de verve ordinária,
lançando a você um desafio.
Sou chuva, sou poça, sou lago, sou rio,
sou mar procurando a sua fúria.
Mas não consegui um comentário
sequer, em nenhum momento.
Ou meu verso é Paraguaio,
ou Oyá não quer os ventos.

Ode Wawá tem a fartura
de rimas nos seus intentos,
Iyá-Ory tem encantamentos,
nesse amante da arte mais pura.
Caçador do axé in natura,
nos compassos da escritura,
da criação do firmamento.

Dizem que Iansã tem uma espada,
aprendeu a usar com Ogum.
Nos reinos por mais de um,
dos orixás foi amada.
Mas agora está cansada,
num desafio de nada,
a divina se esquivou.
Sinta-se pois desafiada,
a responder com palavras,
que sei estarem guardadas
num verso dentro da flor.

Sem planos

Sigo com passos de pedra,
sigo compassos de samba.
Madureira em mim emana,
comigo vem a Portela.

Minha poesia é discreta,
Carioca e suburbana.
Mulata que a mim profana,
tornando a carne concreta.

Também ela fica em brasas,
minha poesia é de cama.
A mim ela me devassa,
transpassa com sua chama.

Quando a musa é a massa,
minha poesia é fulana.
Assim ela vem e me abraça,
com suas pernas de dama.

No ar a poesia tem asas,
voa, ferve, fere e plana.
Suada quando é amada,
tem corpo sujo de lama.

Minha poesia tem norte,
tem palavra que esfola,
deixa em mim tantos cortes,
sempre que tento ir embora.

Ela é a mesma cigana,
Quizomba de minha sorte.
Retoma em mim sua trama,
sem ela há risco de morte.

Assusta a minha poesia,
delira, derrama, expele.
Quem um pouco dela bebe,
pode sofrer de alegria.

Clamando é outra a poesia:
"Ela há de ser um sol tão novo,
como a gema de um ovo,
dentro da clara do dia."

Martelo por seu destino,
poema, porre, porrete.
Garganta d'água na sede,
nela sou homem e menino.

Então sobrevivo dela,
sem ela nem vou ás ruas.
Segredos meus á desvenda,
meus versos são pele nua.

Estão nos rastros que deixo,
tatuados nos enganos,
por caminhar com desleixo,
os faço versos sem planos.

Abraço ao Tabajaras

Não vou hoje ao Tabajaras
saber das suas ladeiras.
Ontem cidadania cara,
hoje busca primeira.

Onde a força da marra
amarra numa cadeia,
o morador que trabalha
ao outro da bandalheira.

Tabajara é um povo
de descendência guerreira,
há de quebrar esse ovo
que a serpente arreia.

Nessa atitude há quem queira
apagar todo estorvo
desta guerra de trincheira,
impostando algo novo.

Não vou, mas o abraço te chega
como um olhar de criança,
trocando algo que espreita
por gesto de esperança.

Cidadania na mesa
é prato dessa festança,
alimento das certezas
havendo de encher pança.

Uma ação certeira à hora
tirando gente da beira,
Para por no meio da roda,
fazendo-a pessoa inteira.

Tabajaras, essa escarpa.
Não cai no esquecimento,
por hoje não vou, lamento,
mas da próxima não escapa. 

E agora

Como é que eu faço agora?
Como é que eu posso fazer?
Seu nome não sai da memoria,
eu vou tentar te esquecer.
Ouço Paulinho da viola,
próximo á Duvivier.

Com ele a paixão evapora.
Tenta se desfazer.
Bebo Paulinho da viola,
e o mar navega você.
Fui eu o soldado raso.
Eu que evitei te prender.

Prendo-me a mim nesse caso,
qual o alvará passo a ter?
Num samba que agora é traço,
pergunto ao meu peito cedê,
o cheiro do seu abraço,
ou o seu olhar de tiê.

Será que voa no espaço?
Ou sabe amar por prazer?
Esse é um poema escasso,
eu disse que é pra te esquecer.
Ficou vagando, eu acho,
tentando poema não ser.

Do que não houve, não há resto,
auge, ou algo a dizer.
Canto por que manifesto
o que o peito quis tecer.
Ao meu afeto eu adestro,
então não há do que sofrer. 

Se eu pudesse dizer que te amo

Quando ao mar revolto veio a calmaria,
nessa hora eu homem quedei-me aos seus braços.
Como a rocha firme adere ao sargaço,
trouxe nesse enlace o limo da poesia.

Cantei à espuma branca molhando seus passos,
tanto quanto canto ao corpo que traziam.
Ressurgiu inteira nesse meu mormaço,
Eu simples pedaço diante da alegria.

Nada mais havendo de grande valia,
seguiu a tarde, e o tempo e o cansaço.
onde o amor não arde, a carne exigia.

A mulher que quero é a que não acho,
Como pescador com a rede vazia.
vagas são os carinhos, e esse mar devasso. 



Copacabana à princesinha do bar

A fulaninha é popular
nas noites da cervejinha.
Fim de semana à tardinha
é tão sua a luz solar.

Finda a praia, eu a observo
como servo dessa beleza.
Quando ela vem com certeza,
sou obrigado a olhar.

Parado como o trânsito,
em transe com o meu sangue.
Vendo esse corpo Não exangue,
o meu é que fica aflito.

Roubando minha atenção,
vem ela de jeito clássico.
Cativa em mim tal visão,
acho que a acho o máximo.

Meus olhos de bumerangue
em mim fazem notado,
ereta palmeira do mangue,
que o sangue tinha baixado.

Os passos caminham lentos,
são mesmo de apaixonar.
Cabelos molham os ventos,
deixando pra quem olhar

ideias de bons desejos,
esguios vindos do mar.
Num requebrar de lampejo,
gostoso de observar.

Será que o oceano ao lado
sabe o caminhar da moça,
fazendo quebrar a louça
de um coração machucado ?

Quando ela passa desvia,
para onde não sei dizer,
a calma que em mim havia,
antes disso acontecer.

Então fico eu bolado,
peço mais uma cerveja,
em solidão sertaneja
bebo o líquido gelado.

Quando ela aos meus olhos olha
por dentro de óculos escuros,
na timidez da memória
meus óculos quebram os muros.

Ainda seguindo a história
desse fato consumado,
ela vem e bebe ao meu lado,
provocando uma alegria.

bebo uma duas e três,
para irrigar os meus sustos,
olhando de quando em vez
a solidão do seu busto.

São dois pássaros presos,
acho que doem como siso,
pois imagino-os acesos,
em mim fazendo o sorriso.

Depois seus cabelos secos,
em meu olhar sem desvio,
penso os meus dedos presos ,
por entre aqueles fios.

É mais que corpo essa mulher,
trazendo bela o que lhe é próprio.
Feliz quem dela mais tiver
extraído que o ópio.

por modo dele acabar,
sai o verso dessa esquina,
nesse amor de morfina,
tirando a dor ao passar.

Não é uma escolha sua,
ser poeta é sem escolha.
Apenas escreve em folhas,
o que o homem vê nas ruas. 


A cuíca

cuíca esse instrumento genial,
misteriosa como é uma mulher,
quando mal tocada é agressão total.
Não se deve bolinar de forma qualquer.
Umedecida sob o pano tem de ser,
ela é a doce fala em lábios de atrevida.
Sente o tato e abre-se a planger,
sons de amor que doem como ferida.
Feminina também tem o seu ponto G,
íntima aos toques da marcação grita.
Em seu tom o gemido é de prazer.
Freme a vara, e o grelo em pele vibra.
Na cama da percussão, gargalhada,
vence ao recato, em sons lhe domina.
Privada è gozo de namorada,
em namoro é agito de esquina.
Se por dentro ferve toda molhada,
por fora é pura; Vestal de adrenalina.
Se fala algo é logo notada,
calada é observação que intriga.
Por baixo do latão inox da saia,
será ela dama ou rapariga?


Boladão

Acabam em samba essas muanbas do senado, com senadores passeando em Paris.
A moça linda acompanhando o deputado, o outro ainda fez castelo em meu pais.

Se atraso as contas o meu nome é manchado, e se não pago quebro a cara e o nariz.
lá no oriente cortam mãos com um machado, aqui quem rouba, ganhou os votos que quis.

talvez o assunto seja mesmo delicado, nem adianta discutir em CPIS.
Se o governante de um estado foi caçado, tudo é tão velho nas ruas de São Luiz.

Agora é a mesma antiga prosa eu já sei. Sou calejado nesse grande randevu.
So usa as saias a outra face do Sarney, depois que pinta os cabelos de acajú.

parece linda a capital Brasileira, as esplanadas da calada capital.
Seu mar esconde nas conchas a roubalheira, alas exalam um cheiro forte e fecal.

eu canto um samba resistindo como posso, faço meus versos com o que leio no jornal.
Sou brasileiro e disso não tenho remorso, um dia, aviso, vamos ver ponto final.

haverá sabre de feitiço em feiticeiro. O cheiro podre não vai mais salientar.
Mocinhos vão sacar as armas de brinquedo, então a história nessa hora vai mudar.

Como é que pode todo dia um Carnaval? Olhando a vista até que parece chique.
Fantasiada essa ilha é o meu quintal, maracutaias, picaretas e trambiques.

Sequem em jatos cujo barulho eu ouço, desfaçatez com meu ouvido absoluto .
As passagens eu as paguei com o meu bouço, um dia desses me revolto e fico puto

Soneto do adeus

Muito você quer, eu a conheço.
Do que ofereço, você não quer.
Daquilo que sei, paguei o preço.
do seu preço não serei esmoler.

De mim ficará publico endereço,
de você faça tudo o que quiser.
Desdenho sua vida no desprezo,
aqueço o coração de outra mulher.

Se arruinei seus sonhos, faltou fé.
Na vida a fé não é um adereço.
Perdemos o amor, coisa qualquer.

Às vezes a outra vez é o avesso.
O destino da queda é por-se em pé.
Como o poeta, é manhã e anoiteço. 


Salve Jorge

O meu samba tem as veias
no cavaco,
ele tem sangue no peito
do tan -tan.
Do Cristo o meu samba tem
o sovaco,
também tem na bola,
Maracanã.
Tenho prazer dele hoje estar
bombando,
ao cair o sol de fato,
fica bom.
Pagode em todo lado vem
rolando.
O Leme é cincopado
até o Leblon.
Pode ter mesa, no beco
do rato,
também tem na ladeira
Sacopã.
Com o bom samba não vem
tempo errado.
Em santa Teresa tem
gente que é fã,
Mas sobrenatural é
batucado.
As morenas balançam
iansã.
Como outras rodas,
a pedra do sal,
onde a história canta e
não é vã.
Outro pagode é maneiro
la na muda,
tem tambem da arruda ou
no largo do IBAM.
Dor de amor quando doi, o samba
cuida.
Saudade, tristeza ou
ferbre terçã.
Mas se quer mesmo sambar
vento em proa,
pode vir, pois rola até
de manhã.
Na prainha tem bom samba
da Gamboa,
essa roda é sem ondas
campeã.
Também tem nosso chorinho
da feira,
essa turma, é do samba
co- irmã.
Se quiser mais ao norte,
Madureira.
Serrinha eu afirmo, celeiro
de ogans,
onde o samba acontece
de primeira.
Tanto pode que ele agora,
tem elã.
Tamborin esta tocando
na mangueira,
o Estácio foi seu berço
e o divã.
Procurando esse tal
José Pereira,
é cuíca em couro de
cabrito.
Nesse ronco levanta-se
poeira,
ele atende quem samba ao som
do apito.
Ainda há outro estilo,
gafieira.
Os metais fazem pista,
é bonito.
São Jorge esta com a nação
mandingueira,
protegendo aos sambistas
e seus ritos.
No seu dia ha fé madrugada
inteira .
chama que não se apaga
em conflitos.
Pois o samba tem maior força
guerreira,
pedindo a proteção
para os seus filhos. 


Malandro Playground


Quem é o tolo malandro,
que a tudo que ela diz, critica?
Parece esperto brigando,
mas compra agua de cuíca.
Olha como ele é bobo,
não sabe que o amor é fé.
Só no grito da esporro,
assim vai perder a mulher.
Se o pagode não apeteceu,
não faça papel de estorvo.
Agora o problema é seu,
assim é que nasce um corno.
Do samba ele não tem larica,
no samba ele não tá ligado.
Quando houve o som da cuíca,
o cabrão fica grilado.
Se ele não gosta de samba,
não sabe mesmo o que é bom,
vai beber agua de bamba,
vendida pelo o Neon.
Esparro no pagode é mal,
parece que manda, o voyeur,
mas lá no fundo de quintal,
ela faz o que ela quer.
Deixe a morena sambar mané,
vê se chega depois da hora,
depois do pagode em pé,
você quer leva-la embora?
Vem com esse nariz de bronze,
sambando pisa no ouriço.
Preste atenção nesse bonde,
samba requer compromisso
Tome mais agua de cuíca,
deixe a moça sambar rapaz.
No samba ela é coisa rica,
do samba ela gosta mais.
Esse malandro é um otário,
vem cheio de coisa e tal.
Peça de anedotário,
é mesmo malandro playgraund.
A baiana tem tabuleiro,
a carioca tem gingado,
tirar a moça do samba,
deixa um homem mal falado.

Perna bamba é do samba


Eu fui ao samba,
ao monobloco na avenida,
Sambei e bebi feliz da vida,
até a coisa apertar.
Na multidão não tive jeito
nem saída,
a cerveja consumida,
insistia em vazar.
Fui contorcendo,
parecia até um mímico,
procurei banheiro químico
em tudo quanto é lugar.
Resilientente
juro que não sou um cínico,
sei que não era o único,
mas nada de encontrar.
Na multidão
a coisa foi ficando cheia,
quase estourei as veias,
sem medo de amarelar,
para distrair,
pensava em coisas alheias:
Olhar pra mulher feia,
chope quente
chato em bar.
No bloco grande
mais quinhentas mil pessoas,
sambando e bebendo a toa,
até ver o boi voar.
O engano é resto,
tudo certo gente boa,
Travei a força a urina,
mas convenhamos não da.
Por entre clóvis,
mulatas e bailarinas,
a cerveja vaticina,
eu já começo a suar.
Segui em frente,
dobrei todas as esquinas,
foi quando veio urgente
um desespero para urinar.
Sofrendo forte,
o esfíncter descontrolado,
a bexiga fez um surto personal,
de arrepiar.
Olhei um muro
neutro e desabitado,
corri num tal desaprontado
no ocasional pude então aliviar.
imaginando que a ninguém
o ato incomode,
escorre o fio,
vaza toda uma piscina.
Desce um rio 
entre as pernas como pode,
de tanto mijo que saiu ,
tanta urina.
Na solidão
balançando-me para os lados,
foi quando ouvi
semi-atento alguém chamar.
Eu estava leve
respirando aliviado,
diante do ocorrido,
demorei muito a notar.
Era um sujeito
baixinho mas poderoso,
atrapalhando o gozo,
de quem findou de mijar.
Com certo olhar
de desprezo rigoroso,
o excelente nervoso
era alcaide do lugar.
Ele então disse:
_ aprume-se e esteja preso.
Nas mãos estava
sem dúvidas a evidência,
pego em flagrante
ato de crime indefeso.
respondi:
_tolice
tenha a santa paciência.
Fui explicar
que leis tinha a natureza,
mas era pouco
não sugeria clemenência.
Então guardando
depressa meu pé de mesa.
Do ocorrido
foi lavrada a ocorrência.
Prevalecendo o poder da valentia,
fui delicado
para o moço não se assustar.
Pudico em público,
de fato ele assim agia,
escondendo que queria
com isso ser popular.
O feroz gajo
tinha à cara o destemido,
sem garbo levou-me nisso
ao delegado do dia.
Fui Preso em público
como a qualquer bandido,
assim impune
o fato não ficaria.
Então chegando já
algemado à delegacia,
teve início que ardia
um tal de sapeca iaiá.
Por crime bárbaro
usa-se a democracia,
muito elegante a chefia
fizera-me confessar.
Sendo a verdade
dita enfim a todo time,
o que quiseram
não abstive de declarar.
Mas o homem teima
em querer ver a arma do crime,
contar assim me deprime,
mas não me neguei a mostrar.
Interrogado
para saber da minha culpa,
por atitude e conduta
de natureza vulgar,
da incontinência,
a prova era nua e crua
vista sem usar lupa,
Eu não podia negar.
Sou réu confesso
sem pudor, em violência.
Fui preso armado
de tamanha indecência.
fato de  grosso calibre em manifesto.
sem ter de resto um juiz probo e togado 
para julgar causa de tão longa evidência 
o fato é grave e transitou em julgado.
Não Permitindo o merecer perdoado,
No carmelitas daria pano para monjas.
Se o samba chama nossa festa de quizomba,
agora sou um homem menos depravado,
vou dar um nó bem forte na minha tromba,
sambar e beber à sombra sem trauma despreocupado.


Essa eu fiz para você

Eu procuro alguém,
que saiba engenhar
outros limites.
que entenda o som do silêncio,
quando ele habita em mim.
será quem eu ouça dizer
o que não sei
em seus palpites,
de cujos lábios
saiam sorrisos simples,
por estar feliz assim.
E assim sorrindo
preencha qualquer possibilidade
de alma vazia.
Quem saiba que pra as verdades
não há treino ou improviso.
Há que esse alguém,
ter seu valor próprio
por moradia,
gostando de mim
pelo mesmo que sou
sem muito sismo.
procuro alguém,
que não se esconda
das outras pessoas.
Quem saiba que o sentido do amor
esta no outro e nela inteira.
Quando a encontre,
alguma coisa bem dentro
a dois pareça que voa,
alguém que busque amar
como o outono
e a flor, a quaresmeira .
procuro alguém
com a calma lúcida e louca
da poesia,
com quem o meu destino se cruze
pelo menos uma vez,
pois o amor é substantivo
na forma imprecisa,
unindo almas e corpos
para muito alem
da lucidez.


Dia do samba

Tem samba na central
Tem samba na central
Tem samba na central

Dezembro tem carnaval
No vagão minha Portela
Paulinho é a fera
E o Paulo é fatal
A velha guarda se esmera
Caminho das pedras
Mostrando o sinal.

Mangueira outra primeira
Estação Cartola.
Cachaça total.
Lá vem cacique de ramos
Dona Ivone Lara
Fundo de quintal
Salgueiro trouxe o Aldir
No vagão botequim
Que é o seu hospital
Mestre na arte do samba
Cana de gurufim
Ginga de futebol

Quem bem nasce lá na vila
No vagão estréia
Matinália é gol
Martinho vê essa filha
Luiz Carlos brilha
A escola chegou.

Tem também bafo da onça
Onde o samba desponta
Cheio de moral
Sob o sovaco do Cristo
Vadico feitiço
Dia nacional

Império serrano já tinha
O vagão da serrinha
Num jongo dileto
Moças sambando agora
Lembrando das rodas
Do Grande Aniceto

Outro vagão desatina
Na Leopoldina
Mostrando que é
Uma escola de samba
Descolada e bamba
Sambando no pé

Novo vagão vai enchendo
Gente vem surgindo
Olha o galocantô
Trazendo no cavaquinho
Um Zeca pagodinho
É com nesse que eu vou.

Trem da Tereza Cristina
Esse tambor de mina
Cantando somente
Um novo samba que brota
Tocando em volta
Comuna semente

Lá no vagão de Nilópolis
Trazendo própolis
Neguinho entrou
Era um vagão passarinho
Parecia ninho
Para beija flor.

No vagão apaixonado
Um samba apertado
Fazia calor
Tinha marido enganado
Pois se é simpatia
É quase amor.

Outro vagão vai de letra
Cordão bola preta
Arrastando gente
Todos seguram chupetas
Não é micareta
É o samba somente

Olha o Bezerra que canta
Falando de planta
Que é bem popular
Mas da uma fome danada
Que o vagão cala
Pra se alimentar.

Quando fazia zoeira
A Cantar João nogueira
Num outro vagão
Era o clube do samba
Lembrando o poeta
Só era emoção.

Vindo lá de Niterói
Mesmo vendo que dói
O vagão vale ouro
Num samba que nos encanta
A sair da garganta
Lá do Viradouro.

Tem um vagão que delira
Os gigantes da lira
Meninada quente
Com seus palhaços e banda
A todos encanta
Assim miudamente.

Outro vagão a lotar
Escravos da Mauá
Velha beira do cais
É tanta gente a cantar
Lara lá laraia.....
Mas ainda chega mais.

Vinha tão cheio e indolente
O Vagão mocidade
De Padre Miguel
Era de felicidade
Cantando contente
Um samba fiel.

Oswaldo cruz é o caminho
Surdo e cavaquinho
Há pandeiros por lá
Onde o samba não dorme
Todo dia é do samba
Pra gente acordar



Feijoada

Se o samba me convidasse,
pra meter minha colher.
Tiraria assim a dor,
de ser um poeta soturno.
A solidão fria que dista
aos internautas noturnos.
Punha-lhe minha amada
em saia rodada de mulher.
Também pra poder tirá-la,
quando o oportuno vier.
Porque o samba só é bom
se tem calor e a pele sua.
Cantado no céu das bocas
sagradas dos blocos de rua,
Encontra o claro da lua,
e só acaba quando o sol quer.
Tocaria feito o que ouvi,
Donga fazer a prato e faca.
Num encontro de flauta doce,
violões e cavaquinho,
tantã, repique, pandeiro,
surdo e banjo no miudinho,
Trazendo mais alegria,
ao requebrar Lan das mulatas.
Tempero forte que uma tia
herdeira de Ciáta faça,
Charque, feijão, costela,
orelha, pé, couve fininha,
Pimenta, lombo, cebola,
toucinho, paio e cebolinha
Laranja cortada e cerveja,
boa, farta e gelada.
Limão, açúcar e gelo
em boa dose da malvada.


Sambabaca


O sambista
jamais esta fora de moda.
Como o samba de roda
de bater na mão.
Mesmo que se cante
agora marmota,
um mal samba
sem nota,
bastante idiota,
sem fé, sem excitação.


Roubaram o nome bonito,
pagode.
Fazendo a mesmice
de um canto ladrão.
Quero mesmo é saber
se a carola sacode,
aonde os novos Cartolas
das sombras virão.

Se o samba agoniza,
pode crer não morre.
Ocorre nas veias,
ruma ao coração.
Se os tolos não sabem,
onde fica o Estácio.
De Ismael
não duvido,
jamais saberão.

Bom samba resiste
como por pirraça,
Juntando quem o faça,
tristeza e paixão.
Se alguns esqueceram
os cantos da raça,
podem ir a Portela
e reaprenderão.

Aqueles que cantam
um Samba babaca,
Sempre devem,
enfim, temer o cavaco.
Porque o samba
não é uma falsa bravata,
bola sete é em vão
quando escapa do taco.

Portela querida ,
escola de águia,
quero ver esse azul
de novo campeão.
Com um samba que faça
rodarem as saias,
enchendo de alegria
a nova geração.

Samba tem mesmo,
que fazer sentido,
ser ouvido no peito,
falando à razão.
Pois senão,
será só um canto perdido,
um vazio,
um hiato,
uma ilusão.

Samba frio é trégua
não pede passagem,
cantam todos,
ou levanta a multidão.
O sambista nega
essa falsa roupagem
Refazendo o feitio
em forma de oração.



Um samba para o meu amor

No ronco a cuíca grita.
Soalhas atiçam pandeiros.
Soprada a flauta fica aflita.
O piano é um mandingueiro.

Repique vem fazendo finta.
Cavaco é pirão primeiro.
Tan-tan faz coro em voz retinta.
Violão tenor é brasileiro,

Também tem o de sete cordas;
De seis é o violão guerreiro.
Íntima ao baixo a bateria aborda
o franzino tamborim ligeiro.

Trompete arrasa em desafio,
os agogôs são seus parceiros,
ganzás em profusão gentios,
a caixa vem de mensageiro.

O bandolim num solo acorda.
O surdo é pênalti certeiro.
Trombone arrombando a porta.
Nos vocais o Rio de Janeiro.

Clarinete e sax sopram em par.
No prato o samba vem com fome.
Tudo isso pra te ver chegar,
Sambando pra amar seu homem.


Fogo na roupa

Vamos lá galera chegou o carnaval.
Agora é à vera do Leme ao pontal.
Alô Madureira, ligou o Vidigal.
Até quarta feira liberou geral.

Serrinha, Mangueira, cuíca brejeira
e a tamarineira, alô pedra do sal.

A Bandida ligeira, até a multidão.
A cidade inteira puxando o cordão.
Do menino à menina, da moça ao ancião.
Todos sassaricando, suando em tesão.
Em banda ou em bando, com o copo na mão.

 O trombone é de vara, o tarol caixa seca.
A cidade desvaira segura a chupeta.
Se empurra não para, pé quebra a moleta.
Todo mundo à farra total, na retreta.
Quem sofrer tristeza guarde-a na gaveta.

Vá a Santa Tereza e de beijos na boca.
Vista a camiseta se a vergonha é pouca.
De cara ou careta, de peruca louca
Dê fogo ao capeta até a voz ficar rouca.
Caia na folia, o samba é a alegria tirando a roupa.



É Portela

O mundo é uma grande esfera
girando o seu corpo nu.
Nobreza tem a Portela
escola de sangue azul.
Todos sabem quem é ela.
Mais alta por relevância.
Na hora do samba à vera
nenhuma outra se esmera
ao ponto de sua elegância.
Seu canto é vós altaneira,
ecoa de Madureira
ouvido a toda distância.
De toda forma ou maneira
Portela é escola de luz
pertinho de Osvaldo Cruz
do Paulo, Paulinho e Candeia.
Aonde se reproduz
cultura a quem faz jus
por ter o samba nas veias.
A todas as outras respeito,
carinho dedico ao resto.
Mas claro que não tem jeito,
a águia que tenho ao peito,
celestial por seus feitos
domina todo o universo.



X da questão

Às vezes parece que a vida me passa
por entre os dedos abertos das mãos
A vida é vasta e parece a caça
correndo na raça  em busca do em vão
O futuro é o tempo de caráter misto
de fato não passa de uma abstração
Assim também é o passado, é um rabisco,
já foi o presente e é um rastro no chão.

Às vezes não sei o que ocorre comigo
O crime e o castigo é a solidão
Se os braços dela não são mais abrigo
o que hoje me abraça é somente a razão

E sendo a razão só uma filosofia
que muda com o tempo conforme a ilusão
Não sei mais o que possa ser alegria
Nem o que fazer com o meu coração.
Sem os seus abraços as noites são frias
parecem um freezer gelando o colchão
Em toda manhã é nublado o dia
e essa saudade é o X da questão



Tucano de paletó



O candidato deu
aquele sorriso amarelo,
dizendo pro pé de chinelo
que a vida vai ser um brinco.
Mas é que ele se esqueceu,
de fato de ser sincero.
Malandro no lero, lero,
papo torto quarenta e cinco.

Com uma pinta de bonito,
tinha olhar de matreiro,
no nariz trazia um cheiro
que o deixava bem aflito.
Dizia ser solução,
mas era um boquirroto,
Sujeito quase escroto,
parecia vendidão.

Bicho selvagem tucano,
em plumagem de gravata,
tem linguagem de bravata,
tem paleto de urbano.
Alimenta o próprio gosto,
de caráter leviano,
de madeira tem o rosto,
mas falta-lhe mais tutano.

Pensa que leva o povo
só no gogó da Jurema,
falseando faz a cena,
da serpente traz o ovo.
Mas o povo tem antena,
seu próprio discernimento,
não quer coisa tão pequena,
não vai permitir tal intento.

Acordar defunto morto
de outras legislaturas,
construir aeroporto,
em terra sem prefeitura.
Todos sabem quem ele é,
vai perder essa contenda,
vai apanhar de mulher,
com maria da penha se entenda.



Todos juntos vamos



Alegria, alegria,
chegou a copa
da oligarquia
que ninguém nota.

Temos legados,
não temos não,
seu delegado
prende o ladrão.

Sem os estádios,
vemos arenas.
No imaginário
coisa pequena.

A coisa é feia,
mesmo uma pena.
Brasil precário
virou areia.

Chegou a copa
com muito gosto,
que bom pra Fifa
não ter imposto.

Assim denota
qual é o jogo.
Qual a aposta,
qual o engodo.

Para quem gosta,
festa do povo.
a velha bosta,
tudo de novo.

Na velha roça,
tudo legal,
bico calado.
Custo plural.

Lucro privado,
coisa e tal...
Grato ao Estado
policial.

Vamos gastar,
que o povo aguenta.
Se reclamar,
gás de pimenta.

Muito cuidado,
assim decúbito,
Já é um dado,
o gasto público.

Ação Global
é a água benta.
Muito cuidado
torcida penta.

Tudo é legal.
Mas com cuidado,
pois o passado
já foi cinquenta.



Nagôas e Guaiamuns




O samba sem ironia, sem alguma picardia,
é café com água fria, algum amor sem tesão.
Do samba a verdade é filha como uma luz que brilha,
em forma de redondilha acessa a emoção.
Na trilha de Noel Rosa, Poeta que é pai da Vila,
outro vem é se perfila com a sua melhor roupa.
Sambar de alma dedicada, de um jeito que não recata,
é como amar na madrugada, nunca fala coisa pouca.
A rima é arma perigosa nessa canção venenosa.
Quando não calam as rosas, vem mais conscientização.
Assim a alegria entrosa, fazendo a vida mais prosa,
insinuante e gostosa, antídoto à solidão.
Legado de valentia é o  recado dessa alegria.
O samba é a fotografia do fato feito em crônicas.
A resistência sem  o recato é a barricada da folia,
Guaiamuns em suas brigas, Nagôas em fé sardônica.



Moral de homem


Só quem conhece opina
Viva Paulo Vanzoline
que deu a volta pra cima




Estações




Vem chegando o outono
Tirando o meu sono
Às nove da manhã

Mesmo que alague
Que você me largue
No Maracanã

Nosso amor gigante
É quase elegante
Feito a atriz e o fã

Mesmo que a prosódia
Nessa rapsódia
Pareça tão vã

Vasa o Guandú
Então apaga a Light
A gente se sente "socite"
Na pagina um
Do jornal

Engarrafados
Em pleno bleckout
E dizem que a zona norte
É lama medicinal

Vem chegando o outono
Como o patrono
Desse temporal

Só por um milagre
Não foi pro vinagre

O nosso Carnaval



Tandrilax



Há pouco sorriso no caminho,
como o cavaquinho já falou.
Solidão, por força do destino,
faz de todo o tempo um céu sem brilho,
é luz negra em palhaço do amor.
A mulher quer sempre ser feliz,
seu desejo em mim já não se faz.
Meus cabelos brancos de aprendiz
mostram minha historia visa à vis,
quando eu for saudade, serei paz.
Já não sei o sol, tão pouco a lua.
Rugas no meu rosto em tanta dor.
Meus pés falseando vão à rua,
e a realidade fica nua,
sem a fantasia e o esplendor.
Eu só tenho o pranto do poeta.
Os meus braços já não sentem nada.
No meu horizonte não tem reta,
um vazio em mim se introjeta,
bebo à solidão da madrugada.








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