Fotografia: Light Battle- David Rochas
Francamente discuto com o poeta sua arte inacabada.
Com fragmentos de vida ele rebate essa desimportancia.
Se o preço do feijão não cabe nas estrofes do poema,
o poema se ilimita, na capacidade descrita nessa ânsia.
O poema não quita débitos anteriores das palavras.
O poema apenas berra, onde o silêncio do poeta o depara.
Pode até ser, que o poema escolha as palavras pouco claras.
Sua fragrância, francamente eu discuto, nessa flor inadequada.
O poema fura o ar do imaginário como a ponta de uma lança.
O poeta usa a palavra, no que dela, o diafragma é ofegante.
Um no outro se esfrega, corpo a corpo, em inafável contradança.
Ilusionista, ele aponta no espelho, o espelho do espelho.
Cuja imagem só reflete se há luz, no escuro é delirante.
Para que um haja no outro, o aviso é o impreciso da escala.
Discuto, eu com o poeta, se ele é sua palavra nesse instante;
Ou se aponta simplesmente, nesse escuro, um olhar ignorante.
O poeta é caótico, e o seu sorriso patológico é vermelho.
Sua boca diz a mim, o quanto, em mim, o seu poema é interessante.
Digo então para o poeta, aonde a ausência da palavra é seu destelho.
O poema quer passar pelo buraco da agulha, paquidérmico, gigante.
Eu discuto com o poeta, se a palavra é ele mesmo em vocábulo elegante.
Se na ponta da caneta, a ele mesmo, a palavra é um cinismo provocante.
O poeta me revida com uma rima de palavras proeminentes,
me instiga, ao me dizer que elas são feitas da união tempo e história.
Ele briga com as palavras boca a boca, olho a olho, dente a dente;
Até que elas saltem quentes, diferentes, da barriga da memória.
A poesia é mulher nessa palavra iluminada, ela é parturiente.
Quando nua, a poesia, é coisa viva, é erogenia humana, é glória.
O poema, insistente em ser poema, sai sem pena, inconsciente à trajetória.
Vão poema e poeta, estão, bebidos de sentido e aguardente, vão embora.
O poeta e o poema se esfaqueiam numa briga em sangue quente;
Pelos pulsos do poeta, o poema, ganha vida alucinante nessa hora.
Eu discuto com o poeta se a palavra é de tamanho elefante.
O poema e o poeta se percutem um no outro em codinome.
Eles são, os dois unidos, o som de mil auto-falantes.
Já eu sei que o poema é o humano, na razão pura de Kant.
Ao poeta eu fustigo, para que ponha logo fogo no poema, e nesse fogo o detone.
Ele diz que as palavras são compostas no real, são o real com outro nome.
Assim cada uma delas tem um ciclo, nesse ciclo se consomem.
Da cultura o poema nos acena, como magma nos aquece.
Se o poeta e a poesia vivem juntos, é como a crença e a prece.
A poesia e o poeta se conduzem, em ambas partes dessa ponte.
Se atravessam no caminho com o amor de um casal que se merece.
Depois disso cada um vai pro seu lado, como a vida fosse ontem.
Mas traduzem nesse encontro, tão presente, o futuro que há no homem.