Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Bala 12 ( O analfabeto poético)

Bob Dylan por Bira Dantas


Diluí minha tristeza,
como se possível fosse.
Numa festa de poetas,
aonde bebi alegria.
Com farta e indiscreta
solução de várias doses,
da elegia incompleta
de alguma poesia.
Achando a Inêz já morta
com tiros de "Bala doze",
entrei no beco dos ratos
e atirei sem pontaria,
(a caçar entre os salvados,
um prazer focado em close).
Mas a tristeza essa faca
de lâmina dura e fria,
rasgou a carne da morte,
ressurgiu sem fazer pose,
penetrando na minha calma
com a avidez da agonia.
Incisiva como um decote
de mulher, que ousada o use.
Para relembrar-me dos fatos,
na foto ela é quem ria.



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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Caminho da troça ( O analfabeto poético)




Segue o baile.......
Você tão Brigitte Bardot,
sempre assim.
E eu de Antonin Artaud,
ai de mim.
Nosso duplo no amor não rolou,
é o fim.
do que não começou,
folhetim......

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O menino ( O analfabeto poético)

Cambalhota-1958- C. Potinari

Um dia meu menino partiu,
voou em um trem sem trilhos.
Navegou num avião sem asas,
viajou num barco sem rio.

Caminhou pisando em brasas,
no horizonte dos vazios.
Foi buscar seu próprio brilho,
bem longe, longe de casa.

Na linha arriscada dos olhos,
com pouca  apreensão.
Passou em carinhos mornos,
paragens para a solidão.

Mas tinha a cumprir um todo
do tal rito de passagem.
Meu menino tinha seus modos
diferentes, suas verdades.

De sério tornou-se interno,
para suportar privações.
Como se fosse ao inferno
e voltasse sem ter lesões.

Pois as lesões residentes,
frutos de seus guardados,
tornaram-no resiliente,
no  que lhe restou salvado.

Indo assim pouco a pouco,
no amor forjou-se pelado,
pagando com o seu corpo
o preço do rumo errado.

O meu menino no tempo
deixou a vida ao sabor,
mesmo passando lento,
ela cobrou-lhe um valor.

Seguiu viagem de doido
ao saber qual o calor,
da dor que as feras sentem
no chicote do domador.

O mundo, esse domador,
mostrou-lhe algo de tristeza,
Marcada a força e a flor,
para que ele não as esqueça.

Nos tempos da vadiagem,
se for contar faltam dedos.
A parte sem ter contagem,
de tanta aparau-lhe os medos.

Meu menino virou rua,
à noite varou o sereno.
Girou como gira a lua,
depois se safou crescendo.

Mas com o tamanho da idade,
assim com o rosto no vento,
numa caixa de saudades
guardou os acontecimentos.

Com olhos mais comovidos
vagou no templo dos cultos.
Não notou o que era havido,
meu menino ficou adulto.

Danou-se de ler os livros
dos sábios para a cabeça.
Até ter com um ato falho
no baralho da natureza.

Compôs os cabelos grisalhos,
e a vida posta na mesa.
Espantou os espantalhos,
desentendeu-se com as certezas.

Como num passo de dança
depois de uns copos de vinho,
voltou a ser a criança,
desfazendo seu caminho.

Passou a olhar no outro
a si, como um falso esteta.
Já de infância envolto,
renasceu pequeno e poeta.

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domingo, 4 de julho de 2010

Poemapoesia (o analfabeto poético)

                                                       Fotografia:    afecto aéreo- David Sousa


Ando por aí quase caindo,
tropeço nos degraus das minhas pernas.
Mas continuo o passo e vou seguindo,
agora tenho o corpo de um poema.
Eu mesmo não o vejo, ele me enxerga,
escora-se em mim sem linhas retas,
meus olhos passam a ver por suas nesgas,                                      
as mais vastas visões irrequietas.

Mais vesgo já não tenho as vistas mesmas,
assim dizem a mim que sou um poeta.
Se a poesia é algo que eu não vejo,
seu beijo em minha boca, me desperta.

A bela saciada do desejo,
vai embora pela porta entreaberta.
so vem quando convem ao seu ensejo,
de ter comigo sem ser hora certa.


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