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A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sexta-feira, 13 de março de 2009

Perna bamba é do samba (perna bamba é do samba)

   Samba- 1967  Di Cavalcante

Eu fui ao samba,
ao monobloco na avenida,
Sambei e bebi feliz da vida,
até a coisa apertar.
Na multidão não tive jeito
nem saída,
a cerveja consumida,
insistia em vazar.

Fui contorcendo,
parecia até um mímico,
procurei banheiro químico
em tudo quanto é lugar.
Resilientente
juro que não sou um cínico,
sei que não era o único,
mas nada de encontrar.

Na multidão
a coisa foi ficando cheia,
quase estourei as veias,
sem medo de amarelar,
para distrair,
pensava em coisas alheias:
Olhar pra mulher feia,
chope quente
chato em bar.

No bloco grande
mais quinhentas mil pessoas,
sambando e bebendo a toa,
até ver o boi voar.
O engano é resto,
tudo certo gente boa,
Travei a força a urina,
mas convenhamos não da.

Por entre clóvis,
mulatas e bailarinas,
a cerveja vaticina,
eu já começo a suar.
Segui em frente,
dobrei todas as esquinas,
foi quando veio urgente
um desespero para urinar.

Sofrendo forte,
o esfíncter descontrolado,
a bexiga fez um surto personal,
de arrepiar.
Olhei um muro
neutro e desabitado,
corri num tal desaprontado
no ocasional pude então aliviar.

imaginando que a ninguém
o ato incomode,
escorre o fio,
vaza toda uma piscina.
Desce um rio 
entre as pernas como pode,
de tanto mijo que saiu ,
tanta urina.

Na solidão
balançando-me para os lados,
foi quando ouvi
semi-atento alguém chamar.
Eu estava leve
respirando aliviado,
diante do ocorrido,
demorei muito a notar.

Era um sujeito
baixinho mas poderoso,
atrapalhando o gozo,
de quem findou de mijar.
Com certo olhar
de desprezo rigoroso,
o excelente nervoso
era alcaide do lugar.

Ele então disse:
_ aprume-se e esteja preso.
Nas mãos estava
sem dúvidas a evidência,
pego em flagrante
ato de crime indefeso.
respondi:
_tolice
tenha a santa paciência.

Fui explicar
que leis tinha a natureza,
mas era pouco
não sugeria clemenência.
Então guardando
depressa meu pé de mesa.
Do ocorrido
foi lavrada a ocorrência.

Prevalecendo o poder da valentia,
fui delicado
para o moço não se assustar.
Pudico em público,
de fato ele assim agia,
escondendo que queria
com isso ser popular.

O feroz gajo
tinha à cara o destemido,
sem garbo levou-me nisso
ao delegado do dia.
Fui Preso em público
como a qualquer bandido,
assim impune
o fato não ficaria.

Então chegando já
algemado à delegacia,
teve início que ardia
um tal de sapeca iaiá.
Por crime bárbaro
usa-se a democracia,
muito elegante a chefia
fizera-me confessar.

Sendo a verdade
dita enfim a todo time,
o que quiseram
não abstive de declarar.
Mas o homem teima
em querer ver a arma do crime,
contar assim me deprime,
mas não me neguei a mostrar.

Interrogado
para saber da minha culpa,
por atitude e conduta
de natureza vulgar,
da incontinência,
a prova era nua e crua
vista sem usar lupa,
Eu não podia negar.

Sou réu confesso
sem pudor, em violência.
Fui preso armado
de tamanha indecência.
fato de  grosso calibre em manifesto.
sem ter de resto um juiz probo e togado 
para julgar causa de tão longa evidência 
o fato é grave e transitou em julgado.

Não Permitindo o merecer perdoado,
No carmelitas daria pano para monjas.
Se o samba chama nossa festa de quizomba,
agora sou um homem menos depravado,
vou dar um nó bem forte na minha tromba,
sambar e beber à sombra sem trauma despreocupado.