Favela-1967-Teruz
Nunca gostei de escrever à toa, algo barato, apenas busco descobrir nas letras o que haja de sentimento, para alem do recato.
Não os sentimentos claros, mas os evasivos, os escondidos das palavras, as travas; Nem mesmo os sentimentos elegantes ou bonitos, mas o desacato.
No momento quero aqui, o que há de delicado no palavrão mais falado.
Essa canção e para aquele que teve educação desiludida , canta aos deseducados, aos excluídos dessa palavra graduada, a contra mão de uma nação, o grão.
O meu canto é para eles, que reproduzem no pancadão dos bailes suas mazelas e crenças, de forma brava e rebolados.
Quero o momento cidadão que há de surgir no trem lotado, no sufoco do vale transporte.
Da dívida na agiotagem involuntária do sujeito de olerite precário.
Na correria que vem do rapa perseguindo o subemprego, um e outro mal arranjados.
Meu poema vai dizer do olhar opaco do desempregado.
Desejo e esperança tenho, de tocar-lhes na alma com o que é simples poesia, que alguma coisa lhes diga, ao jeito do desamparo.
Faço o verso agora, a quem é a menina e a fome, que ao consumo vende bem barato o seu corpo novo e inacabado. Verso carne em fogo, verso carne queimada, no lugar e na hora errada. Verso forte de juventude esbulhada.
Vem se juntar à poesia o franzino e amarelo menino, menor ainda, com seus olhos marcados de chão e sono . Ele e o crack da bola de pedra a cinco reais , baque e enfoque rápido da morte. Entulho humano eliminado de forma mágica em sua última balada infante e trágica.
Para esse é sim o meu poema, mesmo que dito a quem jamais saberá, pois tem a vida corroída na má sorte viva de ter sido inesperado, veio do ralo.
Com esse verso quero espargir em todos os rostos a poesia necessária e itinerante, dos ambulatórios públicos feitos de saúde precária e gente nobre e mal paga. Borrifar de rimas a pequena professora e sua escola de comunidade sitiada na milícia armada. De livros poucos e abnegação de ideias
Levo a poesia agora às delegacias lotadas, dos pequenos furtos de possibilidades futuras perdidas, ou quem sabe mesmo roubadas, nas sequelas dos que ao fim da linha pagam a carcomida corrupção nativa dos que podem.
Meu poema agora é a dengue, é a ausência sanitária , uma poesia malária, ressurgida com seu rosto vinculado ás conseguencias de vida deficitária.
Poema esse que cresce com as moças e com os moços empoçados, encurralados nas favelas planas das cidades, sem planos , sem a plena solução de felicidade. É poema Josilene e Cleonilson, é poema Vila Kelson's, Nova Holanda , Baixa do sapateiro, Vilas do Pinheiro e do João.
Esse é o poema ligado no povo da Maré e do Cruzeiro, compléxo do Alemão.
Esse é meu poema bom, o bacana! Ele se desdobrando em bicos de avião, ela mete os peitos jovens no calçadão de Copacabana. Sobrevivência chicana.
Êta poema bonito, êta que a vida é sacana.
Com a carência de rima na jovem mãe prematura trazendo no colo outro que ainda mama.
Êta poema bonito, êta poema sacana.
Quem sabe ao poema caiba, assim deixar um recado nos bancos da pouca escola, nos trancos dessa história, pois é o que ele sabe antes de ir embora.
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