Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sábado, 18 de agosto de 2012

Um pão de Queijo e um beijo (Beco da fome)

                                                  Fotografia: Pão de queijo- Sandra Lapertosa

Vou dizer o que aprendi para aguçar o desejo
afrodisíaco souvenir, o afamado  pão de queijo
feitos por vovó Bibi, a quem de cá mando beijos.

Tem que ter três copos cheios alem da borda sem medo.
O beijo pode ser doce, mas o polvilho é o azedo.
Um óleo que já bem quente, a mais de um  copo, dois dedos.

Escaldada essa fécula com o calor do óleo quente,
deve-se também fazer, com outro tanto em água fervente,
para a goma então formar quase a massa eminente.

Pois que o bom sabor mineiro, seja o que se o aproveite
quem de água não gostar pode usar opção leite.
Uma colher vai de sal, que ao carimã se deite.

Observe o principal, que vem dar ao pão o nome
também é o fundamento do prazer de quem o come
Queijo Minas, Roquefor, Parmesão ou Provolone.
Mussarela, Emmental, misturado ou Mascarpone.
Qualquer queijo vale a pena para o tamanho da fome.

Depois disso vem os ovos, para início quebre cinco
No prato ou batedeira, bata e espume com afinco.
Junte tudo e mão na massa, nosso pão já vem surgindo.

Apalpe, amasse, aperte, use a força se quiser.
Sove, alise, deslize como em bunda de mulher .
Use toda a expertise, a massa pede, ela quer.

Depois, ainda batidos, mais três ovos e vontade.
Continue, mão na massa, até dar cremosidade,
dar leveza ao pãozinho, dar memória, dar saudade.
Para tal, ponha carinho, ponha amor, mas de verdade.

Feito isso não se esqueça de pré aquecer o forno.
Deixe-o quente, quente mesmo, ele não pode ser morno.
Pois se acaso ficar frio, a receita é sem retorno.

Prepare os tabuleiros para receber nosso pão
faça bolinhas esparsas usando as duas mãos
redondas ou ovaladas, a forma não faz questão.

Deixe espaço entre elas para haver crescimento.
ponha então tudo ao forno e dê tempo ao próprio tempo.
De vinte a trinta minutos sem abrir pra não ter vento.

Depois disso é a hora de retirar a iguaria.
Agora deixe ao descanso dois minutos na bacia.
Com café, suco ou chá, fiz o mimo pra Maria.







quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Aqui jaz Samba 1925-2012 ( Perna bamba é do samba)

                                                     Samba- Di Cavalcante 1925

O Samba tinha negritude.
O Samba tinha sol na saia
das femininas virtudes,
também de chapéu de palha.
No brilho a pele morena,
bem antes era toda nua,
o Samba ganhou a cena
nas roupas alvas e cruas.

O Samba era brasileiro
de corpos tão elegantes.
Pierrete veio primeiro,
22  e modernizante.
Antecedeu ao Pierrô,
sem ser menos importante.
Só depois Di Cavalcante
no Samba pôs azul cor.

Havia-lhe um sol maneiro,
pictórico no sabor,
tão mulato, tão inteiro,
cheirando a trabalhador.
À direita um violeiro,
ao fundo um estivador,
dois corpos luzem brejeiros,
são duas mulatas em flor.

Os homens sentados fitam
o que hoje é uma tristeza.
Fumaças ao fundo ditam
o destino dessa riqueza.
Queimada na intimidade
das coleções de cultura,
a irônica privacidade
do patrimônio é a clausura.

Na fuligem, no braseiro,
o azul virou fumaça.
Arquiva a Barata Ribeiro
mais uma ode à desgraça.
Perde um povo em ignorância,
as referências de laia.
nas paredes dessa instância
a relevância desmaia.

O Brasil perde altaneiro
mais uma peça notória.
Num destino traiçoeiro
O Samba virou memória
Do outro lado da praça,
quase de frente ao Metrô.
distante do olhar da massa.
a arte se suicidou.