Fotografia: Gritos surdos- Miguel Rio Branco
A língua mastiga a cria, a palavra,
como um fundamental alimento
oriundo da formação do discernimento.
Da possibilidade da palavra também se alimenta
a liberdade, da-se a expressão, dela a fala se cria e se sacia.
E expande a alma, e ganha espaço, qual o metro e a geometria.
Comuna assim a construção do pensamento,
e assume, imagética que é, qualquer poesia.
Aonde antes somente o silêncio estava,
somente o silêncio guardava tudo o que havia.
Na fala o sentimento avança, nessa brevidade se pronuncia.
Liberto, humano, lírico, rompe o real à força clava
aonde antes nenhum novo olhar sequer se atrevia.
Assim vai o poeta na solidão mais brava,
sem saber que ele é a seta, o possível nexo à raiz.
É ao mesmo tempo a criatura e a ventania,
contagiando com a escrita a respiração da raça.
Recombinando vidas, dando-lhes vastidão
na brevidade do existir, uma una fisionomia.