Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O trago da seda(o trago da seda)

Independência, 1969- Di Cavalcante

Matriz, Quieto, São João,
Fallét, Fogueteiro,
Macacos e Gambá.
Pau da bandeira,
Juramento e Alemão,
Urubus, Salgueiro,
Casa Branca, Prazeres,
Tuiúti e Arará.

Reféns de quem?

São Carlos, Mangueira, Jacaré.
Jacarezinho, Muzenza, Chácara do Céu,
Santo Amaro, Mineira, Sapê
Do Zinco, Coroa, Coréia e Borel.
Cabritos, Formiga, Tabajaras,
Caniço, Pavão-Pavãozinho,
Do Castro, Baronesa e Das Araras,
Telégrafo, Rocinha, Escondidinho.

Reféns de quem?

Batan, Bispo, Fubá e Pedra Lisa
Indiana, Engenho da Rainha.
Dona Marta, Do Adeus, Camarista
Arrelia, Cruzeiro, Catrambí e  Carobinha.
Do amor, Padilha, Dendê, Curupatí
Praia da Rosa, Favela Tijuquinha,
Coqueiro, Bela vista, Vila Jurarí
Cachambí, Barro Preto e Lagoinha.

Reféns de quem?


Angú Duro, Turano,Vai quem quer,
Buraco Quente, Da Ilha, Bananal.
Chacrinha, Serinha,Querosene, Da Maré
Tavares Bastos, Carrapeto, Vidigal
Humaitá, Anil, Sossego e Sumaré
Do Galo, Do Rato, Do Urubu,
Da Bacia, Babilônia, Timbaú,
Mata Machado, Tijuáçu,

Reféns de quem?

Da Moreninha, do  Caramujo,
Chapéu Mangueira, Mandala, Do Estado,
Nova Cintra, Santa Alexandrina
São Januário, Capim, Ferreira de Araújo,
Araticum, Rato Molhado,
Mangueirinha, Maloca, Caxambú,
Cerro Corá. e Cabuçú, Borda do Mato,
Rebú, Cafubá, e Morro Azul.

Guetos fechados,
a olhos nus.
Para o Estado
Parecem pus.

Gente de origem pobre,
que tem caráter reto.
Vivendo por coragem,
a quem descaso encobre,
com muita autoridade.
Droga e legalidade.

Reféns de quem?


Tem que morar por perto
do trampo, viração,
transporte incompleto,
Te contei, Caracol e Grotão.

Nova Brasília e Frei Gaspar,
Da Alegria e do Sabão.
Cidadania, devia ter lugar,
Parque da Cidade,
morro do Cavalão.

Legalize, Porque não?

Morro da Liberdade,
Guararapes, Do Canal,
Parque Felicidade,              
Retiro, Vigário Geral.
Julio Otoni e Caxangá,
Da Cruz, Bpo e Pica-Pau,
Guaíba,  Carirí e  Changrilá,
Providência e a vila do general.


Reféns de quem?


Contra o dragão da maldade
não tem santo popular.
Legalize, legalize,
legalize já.

Reféns dos  rifles e das chacinas,
maconha, crack,
fuzil e cocaína,
juventude morta
é coisa que não rima.
Baixa escolaridade
também é assassina.

Reféns de quem?

O pente que solta bala
na cabeça da auto-estima,
também põe a pistola
nas portas e nas esquinas.

Quem não sabe a solução?
Quem vai viver para contar?
Quem atira em avião?
Quem é peão no lugar?

Se a vida não quer matar a Vintém,
só quer mostrar que respeito faz bem.
.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ofício de poeta(o trago da seda)

A Morte de Pablo Escobar-sem data- F. Botero
Nesse ofício de poeta
não há fácil nem difícil.
Juntar palavras em espaços, 
jogadas como procela,
do alto do edifício
do seu próprio precipício,
como os tiros nas favelas.

O que pensa um poeta,
é uma porta sem tramela,
uma casa sem paredes,
sem teto, só com janelas
diante do tiroteio.
O verso não tem rodeio,
a rima feio com feio
é o que faz poesia bela.

O que sente um poeta
na alma de cidadão,
é como se a palavra esteta,
com a beleza incompleta,
formasse a contradição.
Enquanto esse  estafeta
traz a mensagem certa,
por via da contramão.
.

domingo, 18 de outubro de 2009

Mudança(a puta me encantou)

Retrato de Sochsha- Lasar Segall- 1912
Mudei minha razão um dia,
passei a viver de emoção.
Em mim só sentido havia,
onde havia coração;
Mas aí veio o dia-a-dia,
cotidiano padrão.
Eu que era só poesia,
já no modal não cabia,
quase virei solidão.

A solidão é um desvario
de reclusão interior.
A convivência é difícil,
para quem tem no amor
a persistência do início,
como uma marca, um vetor,
de solstício a solstício,
como se fosse vício
dentro da sua própria dor.