Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

Banguelê

Umbu das artes




Narrativa em Roland Barthes
é poesia, esse umbu das artes,
essa água sagrada de beber.
Esta viva em todas as partes.
Se maior, se menor, se encarte,
são as ideias da humanidade
quando fala de si ao se ver.

Poiesis da diversidade
é só uma forma de linguagem.
Despindo-se da sacralidade,
sua nudez equivale
a ter algo que é de todos a dizer.

Sua origem é sua cultura,
contaminando mais criaturas
unificadas à quem se versa.
Amarrada em nós no mundo,
como os fios de um tapete persa,
a narrativa é uma  conversa.
A poesia é só um jeito do ser humano a tecer.



Drones


Movediço,
O poderio na guerra se resume a isso:
Commódietes, produtos e serviços.



Banguelê



Andando pela calçada, tateando o chão com os pés.
O celular me toca no bolso seus gritos de bravura.
Uns reais, umas moedas, os compromissos com a mulher.
Todo abraço dado é sempre a humana mistura.
Pergunta- me aonde estou, a amada criatura;
Pressuponho que estou na vida, a viver o que ela é.

Já fui ao inferno aonde Dante fez sua aventura.
Virgílio não foi meu guia, a persistência foi mina fé.
O calor tinge meu rosto nesse jogo de cintura.
Se a ilusão queima à brasa, sempre um verso é mister.
Onde a existência for dura, de um amargo angustura;
Nos mistérios do universo, viver é um cafuné.

Quem a sua dor destila, em si cultiva clausura.
O amor é voo de liga, brisa às asas do prazer.
Coragem é necessária para viver essa jura.
Amar precisa bravura, de fato, para vencer.
É doce mas não é mole, conforme a rapadura.
Poesia é um bom remédio, sutura no entristecer.

O acaso nos torna vivos grafando a assinatura.
Sendo única aventura, é boa e não tem dublê.
O tempo ata o tempo, a história é a atadura.
Quem teme amar na vida, teme o céu sem ter porquê.
Aos olhos da solidão reina o comum da censura.
Capoeira solta corpo, Pixinguinha Banguelê.




Esqueletos



A tarde brinca de estátua.
Apenas a brisa do mar a denuncia.
A casa pendurada no ar sobre a rua,
silenciosa na solidão nua e crua,
deixa passar as horas pela janela do dia.

Sem angústia, leio as maldades do mundo;
Traduzidas de forma frouxa, feia e quase fria.
Com seus absurdos esqueletos profundos,
Reproduzidos, sem perceber o gene fecundo,
retornado em comuns, qual perene ácido de asia.

Respiro mais alongado por uns segundos.
Olho uma réstia de sol, ela me contagia
toma-me, por contradito, uma alegria de lua.
Assim, surge o contrapor da pequena poesia.



Noturno



hoje estou apenas noite, sopro e silêncio.
Não resgato dúvidas passadas, nem afago o futuro.
hoje respiro a vida apenas guardada no tempo.
Poderia ter feito muitas coisas nele, mas não as fiz,
e ao não faze-las paralisei desejos, abdiquei relatos,
cometi erros financeiros, levei tombos, perdi razão,
guardei sorrisos, desdenhei abraços, briguei no salão.
Guiando a história contra a maré acumulei escuros, hiatos.
Do que nunca me coube em outra época, não sou eu agora.
Ao meu amor dedico o perfume da pele da realidade.
trago no peito rabiscos sem rescunhos.
Mas relato que a realidade é sonora, é grande.
Tão vasta é a sua capacidade que ela abriga os sonhos,
desses sonhos eu nunca me salvei.
Hoje estou apenas noite quietude e silêncio.
Lavado dos rancores, sem alegrias nem tristezas,
sem ignorâncias nem sabedorias,
leve e vazio de plenitude;
Estou imerso no real incomensurável dos fatos.
Apenas um homem e seu silêncio
esvaziado de coragem e de medo.
Apenas um homem composto de suas horas, seus dias,
um homem construído do seu tempo.
Mas se essa é a asa da vida, o tempo é um voo inacabado.
Ele sempre se reinicia, que sempre é outro,
sempre é novo, nunca se repete, tão pouco é urgente.
Não tenho passos largos, mas tenho caminhos á frente,
ando apoiado no coração, apenas homem,
apenas me trago, lanterna, dentro da noite.



Cheesecake



No Pais do Bang-bang,
aonde a arma é sagrada,
liberdade lava a sangue
a infância desarmada.

O liberalismo à bala
Não cabe em eufemismo.
Na cultura mais privada
está  a origem do abismo.

Quando o valor das crianças
perante fatal cinismo
patenteia um mimetismo
perigoso e fatal;

Reproduz-se na matança
o tacanho niilismo,
emendando o civilismo
em armamento legal.

O ordenamento, a trança
do tecido social,
é permissivo no perigo
em favor do individuo,
faz da América o abrigo
do poderio letal.

Somente é a ponta da lança,
vista assim de modo tal,
conserva um terrorismo
de amplitude nacional.

Nas escolas, nos cinemas,
almejando o universal.
Qualquer mocinho oprimido,
qualquer desvio ao  normal
tem gatilho concedido,
apelo constitucional.

No Texas, na Califórnia,
em Oklahoma, na Flórida.
Luby's, Virgínia Tec, in memória.
Atlanta já não espanta
Amishs da Pensilvânia.
Wisconsin os acompanha.
Lá vai Rambo Columbine.

Em mira mal camuflada,
Batman do Colorado vai.
Ao massacre de Nevada.
A história só repete o"inside".
Com cristãos de Oakland,
os Sikhs de Oak Creek,
essa cultura e a sanha
Neo nazista do CheeseCake.




Corações e mentes

Abstração:   Operação intelectual por meio da qual se separam, apenas no pensamento, elementos ou aspectos de uma totalidade que não podem subsistir isoladamente. (Dicionário Aulete Digital).
...


A vida é em si mesma um absurdo, a natureza dela, pelo que se saiba até o momento, é privilégio do planeta terra. Agora, com ela se organiza é uma outra história.
Sendo gregário o ser humano se socializa para sobreviver  e exercer a mais importante tarefa que a natureza lhe confere, que é a reprodução da espécie.
Nessa organização social uma superestrutura se faz necessária, aonde as regras e ideais também são produzidas e reproduzidas seguindo as necessidades do grupo social a que se destinam.
A mais bem elaborada ideia , ou menos ruim forma de se organizar conhecida é a democracia e seu conjunto de preceitos e regras de convivência de um povo.
Mas, é importante salientar que sendo um atributo do plano das ideias ela não existe fisicamente.
Ninguém jamais a viu atravessando a rua Delfim Moreira vestida para ir á praia pegar um sol, O seu corpo escultural jamais foi observado de biquini jogando altinho na orla de Ipanema, nem tão pouco jamais alguém viu esta suposta senhora que por definição tem origem na Grécia, vestida com trajes de turista fotografando as ruelas da Comunidade do Pavão- Pavãozinho, agora oferecida nas agências de viagem como roteiro turístico Carioca.
Parece óbvio que isso não ocorra, Mas Porque?
A resposta também é óbvia: A democracia tem seu corpo na escultura das idéias.
É uma Abstração humana, Ocupa um lugar nas Ideologias, a saber, no pensamento.
Mas para que a sociedade possa viver essa abstração precisa, como qualquer bem, ser produzida e reproduzida de acordo com o grupo social a que se destina.
A forma mais refinada dessa reprodução se da na organização de uma outra abstração, o Estado.
Este não é diferente, também ele não é visto atravessando a rua a caminho da praia no posto nove de Ipanema, como não é visto em certas comunidades pobres ainda reféns da violência e do poder discricionário do crime.
O Estado nada mais é que uma forma de aparelhar o grupo social a que se destina para manter domínio e controle de acordo com interesses de produção e reprodução da vida de forma determinada.
Quanto àquela moça escultural jogadora de altinho, ou a velha turista Grega chamadas, ambas, Democracia, podem também elas não serem tão belas ou idosas quanto imaginamos, podem se apresentar mais feias, mal vestidas, pouco atraentes e até fardadas, e ou armadas, para o confronto em litígio.
A democracia, esta mulher invisível, e o estado este Deus poderoso, na verdade são organizações humanas com especificidades que refletem o grau de reconhecimento que um povo tem de si mesmo.
Quanto mais agregado, quanto mais solidário, quanto mais educado, quanto mais participativo, mais cheia estará a praia aonde a musa Democracia vai se banhar, ou aonde essa senhora caminha com maior ou menor desenvoltura.
Quanto ao poderio do Estado, este se organiza de forma a atender aos interesses de quem? Como instrumento de força, vai dar significação às necessidades  sociais às quais representa. A pergunta que aqui se faz é: Quais são?
Se uma comunidade social se agrupa sobre o guarda-chuva da violência, se a nossa musa se apresenta mal trajada, acanhada, ou tem hábitos pouco sociais, estará ela encarcerada em dois tipos de habitáculo, a se observar:
Ou enclausurada em palácios, guardados por grades, excluídos em condomínios de elites, clubes fechados, carros blindados, e guardas, e regras, e insegurança, e guetos, num regime disciplinar diferenciado, ou na outra ponta estaremos diante de uma multidão de  excluídos, não cidadãos, também enclausurados em comunidades sitiadas por milícias, ou  em presídios, em regras de convivência mínima e disciplina controlada pelo estado poderoso, e indiferente, organizado por conveniência.
São dois pesos de uma mesma medida social, que se vigiam e se punem de modo    violento e regras de agressividade brutal, assim de algum modo se completam.
O ideário dessa organização é a desigualdade, é a violência que assim se reproduz alijando como descarte humano aqueles que não são necessários à primeira vista, mas de fato estão contribuindo para o barateamento da mão de obra em ultima instância. São responsáveis pela desqualificação do trabalho e pela distribuição altamente concentrada da riqueza material.
A forma como isso se da ?  Esta intimamente ligada à correlação de forças que iram se espelhar na produção de leis. leis essas que serão aplicadas para atender a um maior ou menor grupo de poder, em maior ou menor peso, de acordo com as forças de interesses a que compõem.
Leis casuísticas não o são por acaso, ou incompetência de juristas ao produzi-las. Há quem diga que o acaso não existe.
Descaso social com suas variantes também não é coincidência.
O crime e o castigo são primos entre si, e se correspondem na frequência da organização  de um povo que se pauta não por sua inclusão, mas por sua exclusão. As diferenças de um regime reproduzem seus danos, as vezes de forma irreversível, em corações e mentes.



Hora tércia


Já se viu numa situação dessas?
Como se o mundo virasse ponta cabeça,
e a gente vivesse às avessas ?
O Talibã financeiro executando a Grécia.
Enquanto Cayman solar recebe outra remeça.
Um gol no Maracanã vai nos tirar da inércia ?
Não sei onde isso vai dar, nem bem aonde começa.
No flamboaiã Paqueta? No Aiatolá lá da Pérsia?
Se alguém quiser lá orar, deve se virar à Meca.
Morrer no jardim de Alá, aonde o Torá não versa.
Os clãs do mundo são o limo, são o destino da mércia.
O peixe que está no mar será a futura Muqueca.
Água de ser, camará, leio em Camões na hora tércia.



É aqui ó



A partícula de Deus
brevemente anunciada,
esta em qualquer calçada.
Já seguem suas pegadas
os cientistas e eu.

Argila pré-animada
Fração de Prometeu,
Divina tese ao ateu,
última vela no breu,
pedaço de quase nada.

O universo é meu e seu,
na origem despedaçada.
Da ciência revoltada,
até a próxima Intifada
entre a Judeia e o Caldeu.

Nas explosões do Nobel
da ciência consagrada
a vida surge atinada,
sai dúvida enamorada
de como o universo se deu.

Da heresia de Galileu
até a última charada.
Por vaticínio a escada,
assim vai, sendo escalada
ao Bóson de Higgs europeu



Suor



Esse zagueiro no jogo chamado vida,
as vezes bate um pouco,
as vezes causa ferida.
Quem não vacila no troco, em dividida,
sabe sair desse toco,
com a cabeça erguida.
Para quem joga, de forma destemida,
basta uma ginga de corpo,
e a partida é vencida.

Desfaz, com o drible, a dor da torcida;
Cava a jogada, no coco,
marca o gol e revida.
Vence, ao se cuidar do bobo perigoso.
Entre um passe fantástico,
entre o lençol e o elástico,
a arquibancada delira e vai ao gozo.

Com uma bola de couro,
ou com uma bola de plástico.
Mas há que suar camisa no gramado,
há que correr lado a lado;
Olho no peixe e no gato.

Porque, se alem da corrida, tem o baque,
vida não vem em almanaque,
não se pratica de araque;
Ela só não vale a pena, para quem minta,
nem quem se cansa nos trinta,
ou só carrega na tinta.

Não há receita perfeita, ao seu gosto.
Em cada marca do rosto,
todo o placar fica exposto.
Descuido tem sempre, risco em bola alta,
entre a pressão e o ataque.
Sola, quando vem, se salta.
Encobre a zaga perdida e sempre incauta.

Correr do drible da vaca,
quem joga bem, se destaca.
É do incomum  que brota a vez do craque,
sempre a seguir centro avante,
como Didi, o elegante.
Salva  da trava, o tornozelo da falta.
Na perna, entorta o Garrincha,
Na folha seca ou na finta.

No meio campo, às vezes, embola o jogo.
Tem que sair desse logro,
Juiz tem ouvido de mouco.
Categoria de quem, não é mesmo de quinta.
Quem resiste  a esse foco,
sabe sambar nesse bloco,
sabe o quanto a vida é linda.



A moura torta



A vanguarda ultrapassada em seu new look,
é indisposta ao mínimo senso crítico.
Não se afoba em discurso analítico,
Muda a foto como um click em Facebook.

Desinibe de uma forma contundente
num suposto saber que a sí diploma
Quem responde às perguntas foi a Roma
Ao sentar escolhe as cadeiras da frente

Pouco vale se pagou mais esse mico, 
ilustrando o ouvinte em brinde com o truque.
Inteligência abasta bem quem a cutuque.
O comentário não requer se ler o livro.

Toda cultura é por si só uma roupagem.
Seu corpo fetal está guardado em solução.
Bem costurada, pode qualquer sacanagem,
um bom discurso há de se ter sempre à mão.

A quem quiser pode estar aberta a porta,
pode entrar, e por seu bem dizer eu fico.
Com a nova roupa o pobre texto fica rico,
há muitas formas de enfeitar a Moura torta.



PODEMOS ou não




O jovem precário vai às ruas,
deteriorado dos direitos seus,
sai por aí sentando a pua,
buscando o que a nação não deu.
Suas efetivas demandas são reais,
e as leis abstrações, nomenclaturas,
na pulsão mais movediça do plebeu.
Se a lei é ilusão tem que haver cura.

Enquanto abstração, palavra fluida,
sem regulamentos, são banais.
Degradando a massa sem cultura,
negando-lhes sempre mais e mais.
A troica paranoica quer seu Braz ,
canta e decanta tudo o que não atura.
É a ineficácia dos direitos nacionais,
com a base da pirâmide não tem curva.
Considerando a todos como marginais,
ostenta os dotes ganhos patrimoniais
com a falta de decoro na Res pública.
Nos impostos seguem sempre desiguais
resumindo a revolta aos tribunais
Tendo nos policiais tanta ternura.

O sub emprego só restringe tais direitos,
erigindo o que a elite mais queria.
como um pais que quase quase não tem jeito,
distribui custos e reprime a gritaria.
Nessas tenções grita o fato, mais que o guia,
assim segue o Brasil por seus proveitos.
com a renda curta e os lucros multi tropicais.
Pimenta é gás e na borracha vai com o peito.




Alvorada


É noite e o cheiro de pele e verão vem do mar, entrando pelas janelas em busca de abrigo.
Com o silêncio escuro a cidade descansa em paz, no restauro de todas as suas fadigas humanas.
A lua desce sem cerimônia, vai tateando no escuro, até se agarrar á lâmina de concreto e vidro do edifício mais alto.
O tempo é lânguido agora, como um corpo macio de preguiça, de ausência, de vazio.
Tudo está tranquilo dentro da intranquilidade do amor, sem o infortúnio das intrigas, tudo dorme, menos eu, pois meus ouvidos se ressentem daquela voz como cantiga.
Tudo dorme, menos eu, fico na insônia, pois careço dela, e ela não esta comigo.
No escuro da noite o desejo é mais veloz, o desejo é companhia, é energia, é liga.
Sou como o mar que veio estar aqui, pois ele também á hora não dorme, por castigo de sal, pois ele também se move como quem busca afagar a pele estendida da praia.
Como dormir sem a maciez dos seus braços entrelaçados, ou o seu rosto no meu peito?
Como passar uma noite, sem ouvir sua respiração ressoar quando em sono profundo , sem alarde?
Não serei capaz de fazê-lo, se o fizer foi por descuido, pois resiste essa falta de jeito.
Reside agora em mim esse estado de solidão, essa vigília, sem sua rouquidão no leito. fico sem jeito.
Sem suas pernas em trança, sem os seus lábios quentes, sem seu calor natural de vontade.
A manhã pode chegar arrastando sua pressa, nada me interessa, nada está direito.
Se ela está longe, nesse longe me leva, aonde o amor transita, lá sempre estou consigo.
Meu amor dorme tão longe, que de longe traduziu-se imagética mas física, em fé, em falta em saudade.
Espero! E logo a alvorada do dia, clareia o sol, em novo, e de posto eu a encontre na felicidade.

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Dia D de Drummond



Carlos caminhava quieto com suas lembranças minerais
Fazia do seu tempo as crônicas publicas como pérolas
do niilismo latente colhera boas lembranças às malévolas
Desde criança vivera custos de insubordinações mentais
Deste adulto se via sustos como mistura varietal
Assim se passou na vida sem as firulas de academia
frustrou seu anonimato com sua própria caligrafia
Seus escritos fizeram cura à fissura que lhe era um mal

Teve a palavra certa como uma seta, rumo à ironia
Cultuou a fisionomia que traduziria na flor de um povo
Como o ovo da serpente contra corrente do estado novo
Esse velho arquivista grafou as pistas do que viria.
Poeta preso à vida, essa avenida de tão mãos dadas
Mago no seu silêncio onde engendrou solidariedade
Vivo em Copacabana habita o mar que escreve a cidade
Sem dizer dos suspiros que estão contidos na madrugada
Mesmo sendo o Andrade silêncio claustro de um diamante
Deus lhe deu diabruras nas aventuras dos santos dias
Fez em auto retrato a caricatura, a fotografia
Carlos amou calado todos pecados de um amante

Língua a lamber pétalas, rosas abertas, as comestíveis
Fora seguindo em frente como um José sem saber para onde
tendo uma pedra aos pés traçou como fé um olhar nos bondes
ponte de tontas pernas ficam eternas por serem criveis
Com jeito quase candura essa criatura de olhar interno
teve em tal atitude maior virtude, o melhor disfarce
Feitio nessas medidas pós num poema de sete faces
Um corte à modernidade para modelo dos próprios ternos
Ganha então Drummond um dia de seu com direito a doce
Hoje de sua mina tudo é útil e nada a mais sobra
Data que por estima se comemora o autor da obra
Trinta e um de Outubro   já se destina á vida de um Gauche



Relógio de sol II



As vasilhas sobre a pia
Um céu azul sobre o dia
Um terremoto na Turquia

Um santo que desconfia
Minha tristeza se alia
à tristeza de Maria

A vida é sem simetria
Sem meia bilheteria
Cultura tem alergia.

Ao som de Alegria, Alegria
Perdi o que não teria
na última ventania

A palavra poesia
veste muitas caligrafias
para despir ideologia

ONU é nula, é letargia
Por questão de entropia
vai sempre ser a titia

O homem aumenta a cria
Sete bilhões de antropogenias
Na próxima Segunda, você Sabia?

Em Brasília
Pip...Pip...Pip...Dezenove horas e cinquenta minutos.





Festa de salão




O camelô levou muita porrada
Pedras portuguesas no chão
Perdeu féria confiscada
Quinquilharia no camburão
O cambista furou fila por nada
Bilhete falso nas mãos
Churrasquinho de gato na entrada
Um segurança pediu perdão
Tumulto na fila  complicada
O bicho é contravenção
O show acaba de madrugada
A volta é sem condução
Alguma coisa parece errada
Nã, nã, nã, nã, nã, nã, não
A boca já foi fechada
Não entra mais Camarão
Um carro fechou calçada
Aguarda um guarda e talão
A coisa está animada
Tem cerveja de latão
Ensino público é nada
Lá não se aprende a lição
Se não tem chá com torradas
Vamos de graxa no pão
Aquela falta foi cavada
E claro, o juiz é ladrão
O jogo é carta marcada
Apareceu no telão
Também mineral gelada
Amendoim no carvão
Sai por cinco e mais nada
Lei seca é o X da questão
Bolacha doce ou salgada
Pra chuva tem familhão
A moça tem namorada
O moço tem solidão
No Leme às quartas pelada
Poesia é pura paixão
A lua foi camarada
Violência é mundo cão
Carteira foi expropriada
Algazarra é confusão
Agora não tem escada
para subir no Alemão
A noite segue a balada
O beijo é boca e tesão
Eu disse que esta errada
Mas ela é de opinião
O amor é de madrugada
Nessa festa de salão



Vacas sagradas



Como não prometi nada,
até aqui o que fiz é lucro.
Isso é coisa de maluco,
política é uma escada.
Sai noite vem madrugada,
o tempo é pavio curto.
Vocês querem marmelada?
Goiabada? Ou gelo enxuto?
Quanto mais fico calado,
esse é o tanto que eu escuto.
Ouvidos absolutos
fazem da vida o reparo.
Não que eu queira ser arguto
em tudo que esta errado.
Um tal de deixa que eu chuto,
sem tributo e sem passado.
No aço frio da faca
esse poema está doido.
O congresso é valhacoito,
um brejo cheio de vacas.
Corrupto lá tem acoito,
onde molha o seu biscoito,
faz o eleitor de babaca.




Carne de pescoço



Essa rima pode não ter a sina nobre,
mas se quer que o povo cobre
atitude ou solução.
Esse povo que é de maioria pobre,
leva a vida sem que sobre,
não quer mais corrupção.

Ninguém pode em estado paralítico,
nesse tão momento crítico,
ver sair pelo ladrão.
Tudo aquilo que amealham com impostos,
o que é meu, é seu, é nosso,
nas asas de um avião.

Empreiteiros têm adendo no contrato,
numa falta de recato,
político é regatão.
CGU tem que olhar para esses fatos,
mostrar limpos esses pratos,
por as culpas na prisão.

Quem roubou  no silêncio vídeo é bis,
tal pai tal filha Roriz,
o fez sem sentir remorso.
Já é hora de fazer uma faxina,
vamos todos para esquinas,
a resolver esse troço.

Dona Dilma por quem mantemos estima,
tem que agir mais as meninas,
sem ser apenas verniz.
Inativo o congresso é um infeliz,
desde os tempos do Assis,
essa carne é de pescoço.





Ressaca



Depois da esfera da arte nata que há em nós,
sobrou a fala que parte dos tranquilos medalhões.
cuja vida, metade, se esfoliou sem mais após,
outra metade, senil, se dedica a ser menos veloz,
fato que a natureza guia sem mais nos dar explicações.
A poesia e a palavra se divorciaram e agora vivem sós.
A ideia que mereça raciocínio tem o peso dos sermões.
Só o marketing define a arte, e é dela mesma seu algoz.
Rápida a inércia dourada da crítica marca sua posição,
definindo o que vale a pena ser ao fim o som da bela voz.
Nessa feira tão fugaz os cegos são os mágicos de Oz.
de maneira que talvez a massa, nisso tudo, seja pó aluvião.




Reza forte



Jorge, o santo guerreiro, hoje me guarda em sua altura,
nas rédeas do meu caminho de homem brasileiro.
Sem os determinismos do domínio do dinheiro,
põe sobre seu cavalo o ser, a sabedoria, a cura.
Com a lança da busca, que venha a maior ternura,
por onde meus pés procurem  caminhos mais inteiros.

Jorge me liberta sempre do meu único cativeiro,
quando parte as grades da melancolia com bravura.
Conduzindo de novo a mina vida à sua aventura,
fonte cristalina da diguinidade em águas mais puras,
cujo domínio com a coragem busco o paradeiro.

Quando tudo escurece, a ele acima me dirijo sempre.
Quando a paz me esquece, dela quero ser merecedor.
Quando minha amada vai embora deixa em mim a flor,
com o perfume da alegria dela mesma pertinente.
A calma volta com as armas, que ela me presenteou.

Quando miro a cor azul do Rio de Janeiro,
Jorge faz com que eu, de mim mesmo, seja o condutor.
Dando ordem ao meu caminho e força de estivador,
das mazelas me protege sempre esse guerreiro.
Trago a ele nesse poema pequeno meu louvor.




Flash


Á frente na realidade, o poema vence seus  limites,
pigmentando a palavra com cores de outra  ousadia,
perfuma com um olhar novo as humanas aletas.
Franqueando esse olhar díspar, o poeta insiste
em observar de forma diferente, o que antes dele não se via.
Na linguagem servida à forma crua, a gorjeta gorda é a poesia.

À frente da realidade o poeta nunca se copia,
quando fere a comodidade, quando rasga a noite e pare o dia.
O poema tem uma maldade, ao mostrar de forma eloquente,
onde o verso refaz outra metade, sorrindo ou rangendo dentes. 
Transforma a humanidade em outra de maior valia.

À frente da realidade o poeta é mesmo ignorante.
Estrábico, vesgo e delirante, conduz os crentes ao mirante,
de onde creem ver verdades, em outras verdades diferentes.
Assim,  sofrendo, diz sem dor, quando dor de fato não sente.
Assim fazendo, diz ser arte, o seu nariz sem palmo à frente.





Banguela



Toda preguiça se inicia com não
O cinismo é só um escárnio
 Autruismo é uma retidão
A solidão é um beijo sem lábio
A vida inventa sua solução
O tempo passado é relicário
No universo a terra é um peão
Amor sem afeto é um erro primário
Quem vive sem troca não aperta mão
A farinha é pouca na boca do otário
De toda palavra o poeta é ladrão
Criando sentidos de além dicionários




Kilamba



kilamba é um cego pisteiro,
sabe interpretar as sereias.
No canto do strike, o receio,
no fundo do mar tem areia.

Quem ama veleja em saveiros,
O straike é uma onda e golpeia.
O farol do amor é certeiro
Só teme amar quem se alheia

Se o medo do amor vem primeiro,
quem a ele temeu, não o tem.
Instiga à maré ao marinheiro,
mas nunca à si lança a alguém.

Kilamba, esse bom perdigueiro,
enxerga, esse cego, o além.
Sereia é canto prisioneiro,
seu canto não encanta ninguém.

Assim sem ninguém a si destro.
Ao tentar destruir o que não tem
Queimando-se em fogo aceso,
se destrói nesse Strike também





Luto




A mulher amada quando triste tem nos olhos cor de cisma,
tem silencio sem sorrisos, tem soluços no olhar.
A tristeza nesses olhos tem as tramas de um sofisma,
quando o sal que há nas lágrimas, lava os fatos como o mar.

Quando triste é a amada, o amor vai triste junto.
Cai a tarde e força a noite, como a boca força um beijo.
Por mais que assim se tente, ficam frios os assuntos,
distando na falta deles as lembranças dos desejos.

Se o desejo vai embora, então mais não estamos juntos.
Assim finda o quase amor,  queimado qual meteoro.
Já sem rima o poema também fina, e eu também choro.

Assim fica o coração sem afetos, inodoro.
no fim voltamos ao nada solitários, devolutos.
Quando acaba um grande amor resta viver o seu luto.




O sorriso do Esteves



O dono da tabacaria sorriu para o Esteves.
Não sei muito bem porque, a que propósito.
O universo humano tem suas infinitudes,
mesmo que a humanidade se detenha em paredes.
Certos princípios já nascem com o gene do seu óbito.
Até mesmo o pensamento é vulneravel. Tem latitude e longitude.
A vida é um fato que só se costura no tecido das suas próprias atitudes.
Ainda que o Esteves ganhe um sorriso óbvio,
ainda que a humanidade tenha se limitado em redes.
Tem-se que querer ousar, buscar aos afetos como quem tem sede.
Buscar a felicidade lavando os desejos com os próprios olhos,
a partir daí, somam-se o quantum das virtudes.
Eu não poderia amar à filha de minha empregada,
sequer tive a felicidade real de conhece-la.
Nem a ela e nem á menina de Cacau lambuzada.
Amo a mulher a quem divido com a psicanálise.
Desse amor me faço em chamas verdadeiras, a fundo.
Mais de mim á ela trago no pó da estrada.
Mais que isso, eu não poderei ser nada.
Nada alem do que há em mim, dos sonhos desse mundo.
Ela sim é capaz de ver as coisas que há por baixo das pedras dos seres.
Já eu sei apenas dos sonhos, no que são reais por dentro,
sei apenas dos outros, no que são reais por junto,
sei também dos tantos,  no que são reais por fora.
Pelo tempo, penso que já o saberia.
Saí de casa muito cedo, muito cedo verti poesia.
Eu que quando jovem fui descaso das certezas,
porquanto nunca as tive próximas.
Hoje conquisto o mundo todas as manhãs,
com ou sem a metafísica das pessoas.
Causa porque elas me são mais, sem ringue na sobrevivência,
sem "timing" da concorrência, também  sem proclamas de marketing,
e sem os estragos desumanos do universo financeiro.
Não trago em mim até agora nenhuma desonra nisso.
Quanto à Tabacaria !
Deixo-a aos fumantes que desejam a morte pelos pulmões,
pois o Esteves nunca lá esteve, morava longe de fato.
Por sintonia a mim mesmo, me deixo com os meus desejos
nos abraços de Maria.
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Aniversário



A felicidade é uma página humana,
quando se descreve no tempo da vida.
Comum churrasco na tendinha suburbana,
uma alegria que por pouco se edifica.

O aniversário é quando ela se proclama,
reclama a si os afetos e suas ligas.
A data é apenas um perfume dessa dama
Gregoriana, uma gincana divertida.

Pois ser feliz é uma bobagem distraida,
uma avenida em que transitam os corações.
Deixemos ser a pista, em nada interdita,
se houver tristezas, caipiras aos limões.

Viver é ser melhor que os tais aniversários.
No tempo verso, o engano faz a tinta.
O tempo é um guardião mais que lendário.
Quem se negar aos seus  ventos, faça a finta.





Procê



Deixe o menino,
ele será mais destino
feito do homem que vier.
Deixe-o aos hinos
que o encobrem
à  futura mulher.

Homem arrimo
É só um sino qualquer.
Não tendo rumo,
será só imsumo
da fé.

Não fé consumo,
massa do húmus que isto é.
Poetisa de prumo
venha com o verso que tu és.





Pizza



O que se faz de cultura de massa
Hoje é cultura em massa
Amassa, amassa, amassa
Uma pasta retrátil e elástica
Podendo romper ou conter cultura.




Folia de Reis



Tambores rufando as peles,
passam os garbos sobre as ruelas.
Na memoria da infância, de pedras,
toda lembrança do que já não sei.
A história segue, ninguém lhe segura as pernas.
Em seu um cortejo, de hoje, é dia de santos reis.
Senhores, toquem suas violas, fole em sanfonas,
talabares, cores, couros e  as platinelas.
Vibrem as cordas, Ternos da lira,
louvem na vida o que eu não salvei.
Tragam as rabecas, e os reco-recos,
paramentados, tradição mantida.
Coro em catira, peçam a mirra
mais caipira por tal gratidão.
Embaixadores, mestres da festa,
digam a seresta de toda grei.
Venham bandeiras, mui respeitosas,
com seus alferes cuidando delas.
Tempos festeiros, tempos pandeiros,
querem dinheiro para a nação.
Mas o diabo sempre aparece
em meio à prece, com o Bastião.
Tem poesia no mestre ajudante,
bem elegante dentro do fato.
Tipe e Retipe, mais Contratipe,
num picnic cantam, repic no ato.
Não há mulheres nessa folia,
suas alegrias cobrem janelas.
Tudo termina no improviso,
e em reboliço, segue a função.
Sem muito a viso, e lá se vão.




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