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A vida é em si mesma um absurdo, a natureza dela, pelo que se saiba até o momento, é privilégio do planeta terra. Agora, com ela se organiza é uma outra história.
Sendo gregário o ser humano se socializa para sobreviver e exercer a mais importante tarefa que a natureza lhe confere, que é a reprodução da espécie.
Nessa organização social uma superestrutura se faz necessária, aonde as regras e ideais também são produzidas e reproduzidas seguindo as necessidades do grupo social a que se destinam.
A mais bem elaborada ideia , ou menos ruim forma de se organizar conhecida é a democracia e seu conjunto de preceitos e regras de convivência de um povo.
Mas, é importante salientar que sendo um atributo do plano das ideias ela não existe fisicamente.
Ninguém jamais a viu atravessando a rua Delfim Moreira vestida para ir á praia pegar um sol, O seu corpo escultural jamais foi observado de biquini jogando altinho na orla de Ipanema, nem tão pouco jamais alguém viu esta suposta senhora que por definição tem origem na Grécia, vestida com trajes de turista fotografando as ruelas da Comunidade do Pavão- Pavãozinho, agora oferecida nas agências de viagem como roteiro turístico Carioca.
Parece óbvio que isso não ocorra, Mas Porque?
A resposta também é óbvia: A democracia tem seu corpo na escultura das idéias.
É uma Abstração humana, Ocupa um lugar nas Ideologias, a saber, no pensamento.
Mas para que a sociedade possa viver essa abstração precisa, como qualquer bem, ser produzida e reproduzida de acordo com o grupo social a que se destina.
A forma mais refinada dessa reprodução se da na organização de uma outra abstração, o Estado.
Este não é diferente, também ele não é visto atravessando a rua a caminho da praia no posto nove de Ipanema, como não é visto em certas comunidades pobres ainda reféns da violência e do poder discricionário do crime.
O Estado nada mais é que uma forma de aparelhar o grupo social a que se destina para manter domínio e controle de acordo com interesses de produção e reprodução da vida de forma determinada.
Quanto àquela moça escultural jogadora de altinho, ou a velha turista Grega chamadas, ambas, Democracia, podem também elas não serem tão belas ou idosas quanto imaginamos, podem se apresentar mais feias, mal vestidas, pouco atraentes e até fardadas, e ou armadas, para o confronto em litígio.
A democracia esta mulher invisível, e o estado este Deus poderoso, na verdade são organizações humanas com especificidades que refletem o grau de reconhecimento que um povo tem de si mesmo.
Quanto mais agregado, quanto mais solidário, quanto mais educado, quanto mais participativo, mais cheia estará a praia aonde a musa Democracia vai se banhar, ou aonde essa senhora caminha com maior ou menor desenvoltura.
Quanto ao poderio do Estado, este se organiza de forma a atender aos interesses de quem? Como instrumento de força, vai dar significação às necessidades sociais às quais representa. A pergunta que aqui se faz é: Quais são?
Se uma comunidade social se agrupa sobre o guarda-chuva da violência, se a nossa musa se apresenta mal trajada, acanhada, ou tem hábitos pouco sociais, estará ela encarcerada em dois tipos de habitáculo, a se observar:
Ou enclausurada em palácios, guardados por grades, excluídos em condomínios de elites, clubes fechados, carros blindados, e guardas, e regras, e insegurança, e guetos, num regime disciplinar diferenciado, ou na outra ponta estaremos diante de uma multidão de excluídos não cidadãos, também enclausurados em comunidades sitiadas por milícias ou em presídios, e regras de convivência mínima, e disciplina controlada pelo estado poderoso e indiferente, organizado por conveniência.
São dois pesos de uma mesma medida social, que se vigiam e se punem de modo violento, e regras de agressividade brutal, assim de algum modo se completam.
O ideário dessa organização é a desigualdade, é a violência que assim se reproduz alijando como descarte humano aqueles que não são necessários à primeira vista, mas de fato estam contribuindo para o barateamento da mão de obra em ultima instância. São responsáveis pela desqualificação do trabalho e pela distribuição altamente concentrada da riqueza material.
A forma como isso se da ? Esta intimamente ligada à correlação de forças que irão se espelhar na produção de leis. leis essas que serão aplicadas para atender a um maior ou menor grupo de poder, em maior ou menor peso, de acordo com as forças de interesses a que compõem.
Leis casuísticas não o são por acaso, ou incompetência de juristas ao produzi-las. Há quem diga que o acaso não existe.
Descaso social com suas variantes também não é coincidência.
O crime e o castigo são primos entre si, e se correspondem na frequência da organização de um povo que se pauta não por sua inclusão, mas por sua exclusão. As diferenças de um regime reproduzem seus danos, as vezes de forma irreversível, em corações e mentes.