Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O beijo no circo da alma

Fotografia:O beijo- Sara Martins
.
Um beijo é a fala dos amantes
Ou mesmo o afeto dos amigos
Na face beijo é coisa elegante
Tradição na história, é bonito

Um beijo se dá a quem vai embora
A quem chega o beijo é bem vindo
Também se beija o rosto de quem chora
Beija-se em pares quando o amor é lindo

Beijar é ato de maior humana glória
Mostrando um ao outro em convite
Correspondido ele fica na memória
Beijo roubado não é algo que se evite

Beijo à face, beijo às costas, beijo à nuca
Beijo a filhos, do desejo e de novelas
Beijo bobo ou de língua, longa ou curta
Beijam-se eles e também se beijam elas

Todo tempo, todo dia, toda hora
Todos beijam desde o tempo de criança
Juventude de senhor e de senhora
Pois o beijo na idade não se cansa

Beijo aberto ou beijo de amor bandido
Beijo doce, beijo sempre tem sabor
Por vergonha tem o beijo escondido
Qualquer beijo vale a pena como for

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Voltei aos dezessete ( Mamulengo)

Fotografia -La Sebastiana- Valparaiso
Caros amigos

Desculpem demorar a responder aos emails, mas estive fora por uns dias.
Fomos  visitar a Dom Pablo, a quem não via já a algum tempo e queria o reencontrar .
Fui à La Chascona mas lá não estava, achamos à casa grená fechada e o caseiro não permitiu que o aguardássemos  pois não sabia quando voltaria. Também pudera, chegamos de madrugada  sem avisar que viríamos, um completo abuso.
Dom Pablo não poderia adivinhar.
Maria aproveitou para rever à Rosália, sua amiga de boemia e vizinha de La Chascona.
Vadiamos pela Providência, bebemos alguns Pisco-Sauers para aguçar a imaginação às estrelas no velho boteco Venézia, onde encontramos o amigo Jaime.
Encontrar o Jaime foi muito bom, ele sim parece que aguardava a nossa chegada no Venézia para um uns chopes Escudo, bebida muito apreciada por Maria, já nos estava ele aguardando na mesa de sempre.
Jaime nos disse que talvez pudesse o poeta ter se escondido em Valparaiso ou em sua casa de praia com Matilde para o fim de semana.
Para facilitar a nossa vida, o amigo reservara aposentos naquela cidade para o caso de não acharmos lá o nosso Neruda. Maria bebeu todos os Escudos que quis e mais alguns por conta de Jaime.
Optamos por procurar em Isla Negra primeiro, e assim voltamos ao nosso objetivo de viagem: Encontrar a Pablo.
O velho caseiro nos dera a hipótese de aguardar até segunda feira em Santiago, mas não tínhamos esse tempo todo, por isso rumamos ao mar, pois em se tratando de fim de semana o velho poeta poderia estar em sua casa de praia.
Tomamos o ônibus à tarde pois tínhamos que diluir na cama o coquetel de pisco e chopes da noite anterior.
viajamos por cerca de uma hora e meia ao lugarejo marítimo onde nos aguardava a velha amiga Braso-argentina Soledad; de fato encontramos nossa amiga um pouco triste, parecia sofrer com peso do próprio nome.
Soledad padecia de tristeza o bastante para brincar com sua própria desventura amorosa; Seu amor não viera junto com ela à Isla para nos receber. Fora sozinho ao Brasil assistir ao Jogo Botafogo e Boca Júnior pela Libertadores e estava em Búzios lamentando a derrota como bom Argentino.
O amor tem suas dificuldades de ofício nos afastamentos. Soledad que os decifre  na tristeza de sua solidão.
Mas enfim chegamos ao barco do Senhor Neruda.
Sua casa fundeada nas ondas do mar em meio às pedras estava vazia, somente os serviçais a ocupavam de gentilezas junto com seus objetos. Dom Pablo não estivera lá nesse fim de semana, pois estava meio gripado, foi o que nos informaram seus gentis empregados.
Maria ficara bastante preocupada com o estado de saúde de Pablo, isso a emocionara de forma a se levar às lágrimas.
Mas onde encontrá-lo? Teria viajado até à Birmânia? Estaria em Paris com sua Matilde?
Ah! Meus amigos, isso não sabemos.
Por hora o que pude fazer para abrandar a situação tanto de Maria quanto de Soledad, foi procurar o lugar mais próximo onde abrir uma garrafa de um bom vinho emergencial. Para lavar-lhes as almas e acalmar-lhes os corações apertados por motivos diferentes. Um por ausência e outro por compaixão.
Bebemos e nos despedimos das pedras e do mar do poeta sem a sua presença. Seguimos à sua busca após nos despedirmos de nossa amiga quase brasileira, é óbvio.
Voltamos a Santiago para organizar melhor nossa procura, restava ainda a possibilidade de achar à Pablo nos morros de Valparaiso, nossa última tentativa no Chile.
Já pensávamos em procurá-lo na Espanha ou no Ceilão caso não obtivéssemos sucesso.
Após um prato de mariscos no mercado municipal de Santiago fomos enfim ao último reduto aonde pudéssemos encontrar o Nobel poeta e amigo.
Atravessamos o sol dos vinhedos do Máipo e seguimos ao frio de Valpa. Cerro Bellavista nos aguardava com sua névoa.
Muito frio, muito frio meus amigos.
A cidade é um porto desse poeta colecionador de coisas do mar.
Ponto de observação náutica para esse marinheiro das palavras.
Cerro de altitude  bastante para se observar o mundo das armadas.
Lugar onde se pode viver as alturas de um beijo na mulher amada.
Foi lá nas grimpas de La Sebastiana que eu e Maria encontramos por fim ao poeta andarilho; Lá estava ele, como um capitão de sua torre de comando, sentado na nuvem a observar o Coro-coro vermelho enjaulado no ar de sua casa.
Maria o viu primeiro e correu a cumprimentá-lo mais próximo, antes mesmo de ver à Matilde que sentava-se à sua frente. Queria saber de sua saúde antes de tudo.
O velho preguiçoso de tintas verdes nos dedos pôs-se a acalma-la com sua voz rouca e funda.
_Tranquila menina, tranquila, eu estou bem!
Logo atrás vim caminhando lentamente, claudicando pelas escadas fui ao encontro de meu amigo, que ao me ver levantou o corpo de sua nuvem e veio para um abraço afetuoso.
Estou te procurando a três dias meu caro, estive em suas outras casas!
Estou aqui meu amigo, é sempre para onde venho quando quero ver o mundo, disse sorrindo em minha direção.
Dom Pablo perguntou de sopetão se tenho aproveitado seus ensinamentos no que escrevo, se estou escrevendo todos os dias e por fim se bebo alguma coisa para aliviar o cansaço da subida.
Expliquei-lhe que agora não bebo mais tanto assim, mas ele não aceitou minhas desculpas, dirigindo-se ao bar para iniciar o que acabou se transformando em uma festa.
Depois de algumas doses o mestre da poesia se dirigiu á cozinha para preparar uma costela de cerdo assada, à qual fez questão que eu guardasse a receita na memória.

Um quilo de costela de boi, preferencialmente a parte do dorso.
Deve-se, segundo Pablo, colocar na chapa quente para selar os pedaços da carne.
Assim não se perderá os sucos e a maciez no cozimento.
Uma parte de água para duas de vinho de boa qualidade.
Salsa, salsão, alho poró, um amarado de ervas a gosto.
Cebola, legumes, alho e sal também a gosto.
Cozinhar tudo por aproximadamente duas Horas e meia.
Esse é um tempo adequado para colocarmos os assuntos em dia, em boas doses de wisque.
Depois em uma frigideira devemos saltear champignons, shiitakes em molho ao funghi, feito na manteiga e engrossado com o vinhadalho por redução.
Segundo o chef Neruda deve ser esse prato degustado com o acompanhamento de um purê de batatas e salada.
Nunca esquecer de que o gosto se apura com um bom vinho chileno, casta especial Cabernet savignon  do melhor free-shop. Para encontrá-lo é preciso viajar na solidariedade dos homens.
Depois dessa aula iniciamos o nosso sarau gastronômico cultural, que só terminaria no Cinzano com um Pisco a mais de boa conversa fiada e muita gargalhada.
Após o café despedimo-nos Maria e eu de Matilde e Pablo.
Maria sorria feliz como sempre faz depois de um vinho, principalmente porque nosso amigo Neruda a tranquilizara de sua saúde e estava bem vivo ao lado de sua Matilde.
Quanto a mim, sentia como quem houvera cumprido um dever. Apenas voltei ao dezessete.
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