Poeminha A vida é universo desabrido. Aos poetas, lhes cabe criar nela, os novos sentidos. Poeminha II Toda palavra é psíquica no seu momento de vida Todo poema é um sentimento na visão dela rompida O mar quando quebra Tem Hora que o mar de dentro da gente é maior que o mar Lá de fora O mar inconsciente É rede É rente Fervente Ressaca quando evapora É sede Vidente E sente O outro é indiferente Somente quebra Insolente Ontem amanhã E agora. Universo mundo O mundo é imperfeito. Deus é o complementar. A simetria tem defeitos, do quântico ao relativizar. No espaço há nove dimensões, sendo seis a se procurar. Qual o pedaço das noções? quem é o tempo esse super star? Mutações, falhas perfeitas na história ambiental. Não sei porque a vida foi feita, mas o mundo conspira no quintal. Nos somos raros desse jeito, ao compara-se o resto. A natureza é frágil, o verídico é honesto. Da curiosidade mais ágil, o universo é um veludo. O nosso olhar retrátil, sem ter respostas ao susto, mantem a imaginação fértil. viver é volátil e vetusto.
Ilú
Para quem tem olhar de araque!
Recomendo ouvir O Mundo, na voz da banda do André, o Karnak. Para se olhar, para se enchergar a valer. Para ouvir-se, ouvindo o Ilú, o Atabaque. No que soa Candomblé na fala Alabê.
Menino
Um dia meu menino partiu,
voou em um trem sem trilhos. Navegou num avião sem asas, viajou num barco sem rio. Caminhou pisando em brasas, no horizonte dos vazios. Foi buscar seu próprio brilho, bem longe, longe de casa. Na linha arriscada dos olhos, com pouca apreensão. Passou em carinhos mornos, paragens para a solidão. Mas tinha a cumprir um todo do tal rito de passagem. Meu menino tinha seus modos diferentes, suas verdades. De sério tornou-se interno, para suportar privações. Como se fosse ao inferno e voltasse sem ter lesões. Pois as lesões residentes, frutos de seus guardados, tornaram-no resiliente, no que lhe restou salvado. Indo assim pouco a pouco, no amor forjou-se pelado, pagando com o seu corpo o preço do rumo errado. O meu menino no tempo deixou a vida ao sabor, mesmo passando lento, ela cobrou-lhe um valor. Seguiu viagem de doido ao saber qual o calor, da dor que as feras sentem no chicote do domador. O mundo, esse domador, mostrou-lhe algo de tristeza, Marcada a força e a flor, para que ele não as esqueça. Nos tempos da vadiagem, se for contar faltam dedos. A parte sem ter contagem, de tanta aparau-lhe os medos. Meu menino virou rua, à noite varou o sereno. Girou como gira a lua, depois se safou crescendo. Mas com o tamanho da idade, assim com o rosto no vento, numa caixa de saudades guardou os acontecimentos. Com olhos mais comovidos vagou no templo dos cultos. Não notou o que era havido, meu menino ficou adulto. Danou-se de ler os livros dos sábios para a cabeça. Até ter com um ato falho no baralho da natureza. Compôs os cabelos grisalhos, e a vida posta na mesa. Espantou os espantalhos, desentendeu-se com as certezas. Como num passo de dança depois de uns copos de vinho, voltou a ser a criança, desfazendo seu caminho. Passou a olhar no outro a si, como um falso esteta. Já de infância envolto, renasceu pequeno e poeta. Um olhar Para Jean C. Brasileiro Dos sapatos de ferro da infância, talvez eu traga na lembrança, mais que os passos da memória. Com eles perdi arrogâncias, devido às circunstâncias de um outro modo de andar. A vida sob outros ângulos, ensinou-me a persistência, em cada chão novo de pisar. Com ela me fiz homem de corpo e de consciência. Errático, erótico, erudito e popular. Direto mesmo ao assunto construí um homem ímpar, um corpo ereto, de cara limpa Roubei beijos, subi grimpas quebrei medos, criei fundo. Em mim não há o que minta. Vivi meus anacolutos, abandonei os absolutos, até o amor me acalmar. Se trago ainda alguns sustos, com o tempo são diminutos, eu os acalento no olhar. Crianças Todo mundo é criança Todo mundo pinta a cara Todo mundo brinca e dança Todo mundo da risada Todo mundo vê palhaços Todo mundo chuta latas Todo mundo quer abraços Mariola ou marmelada Todo mundo deita e rola Todo mundo vai à praça Todo mundo chuta bola Todo mundo faz pirraça Todo mundo da beijinhos Todo mundo acha graça Todo mundo é novinho Quando a novidade passa Todo mundo quer um cheiro Todo mundo da as mãos Todo mundo quer brinquedo Todo mundo é coração Todo mundo chora medos Quando o bicho é papão Todo mundo tem segredos Pra contar na escuridão Todo mundo come o doce Todo mundo quer prazer Todo mundo vê gigantes Quando para de crescer Todo mundo fica grande Passa anel de Bambolê Todo mundo tem instantes De desenhos na TV Todo mundo vê princesas Todo mundo lambe o prato Todo mundo é sobremesa Todo príncipe é sapo Todo mundo tem estima Todo mundo é short ou trança Todo mundo tem esquinas De retratar na lembrança.
Passado
A lembrança é uma caixinha mágica
onde se pode guardar o tempo.
De costas ao mar
Amanhã,
de um país virá seu povo!
Essa manhã vira seu povo!
A manhã de um país.
O verá seu povo!
O amanhã de um país!
O viverá seu povo!
Qual amanhã?
Em que Manhã?
De onde virá?
O que verá?
Em que lugar
desse país?
O que será que será
Nação matriz?
Que povo há de chegar
desses "Brasis",
de costas ao mar?
Eram só vidas meninas
O quanto custa o descaso é quanto vale o desrespeito.
No jeito desse atraso, da impunidade, no feito,
tragédia é pouco caso, porque no caso, o cheiro
dessa fumaça em tom negro, matou todo brasileiro.
No tarô da cartomante chacina à juventude;
Massacre de atitude, essa ode à ilicitude,
mostra a inclinação talude do abuso ignorante.
No silêncio não sabia, na busca da mais valia,
na autoridade tardia, do crime é coadjuvante.
Crime de cidadania, covardia, mais covardia
na noite sul, noite fria, matando aos estudantes.
O quanto vale a vida é o quanto dela se cuida,
não é preciso ser Druida, é quanto dela se importa,
é quanto dela se estima, enquanto não está morta.
Mil vidas não se confina de forma tão idiota.
Criminosa, lúgubre, vil, feia, insana e torta.
Eram só vidas meninas trancafiadas de costas.
Eram só vidas meninas despostiçadas e mortas.
Eram só vidas meninas que não tiveram mais portas.
Será a tarde?
Quando a primavera chega,
é claro, é cor.
Iluminação de todos,
claridade de entrudo.
Calor de felicidade.
Vaidosa a natureza
invade em delicadeza
tudo, tudo, tudo.
Perfume de todo mundo,
semeadura de liberdade.
Estação de alegria
Violinos de Vivaldi
na flor da diversidade.
Quando a primavera chega,
é claro e estou.
Ouvidos, visão, olfatos, sentidos....
No tato do seu calor,
alguma parte me arde.
Será a tarde?
Será Gullar?
Será?
O carteiro é o poeta
O poeta exprime pessoas em personatos de si mesmos,
talvez por isso resiste se enganando.
Às vezes parece ser o bobo, o leso
por divergências sobre como as coisas acontecem,
no tempo de todos.
Tendo que olha-las de forma única se passando.
Observador da vida sob uma ótica outra que não estão olhando,
falante da existência humana com palavras que não estão nos planos.
Sintáxico nessa forma de olhar diferente, o novo, o comum, o fulano.
Vendo o mar na terra e a terra nos oceanos,
despido quando vai ao amor, e sofre dele todos os seus danos.
Tecendo pulmões de respirar a noite no cetim negro da morte
às vezes nas estrelas dela mesma, se afogando.
Sendo só um, dentre tantas outras personalidades.
Simples tradutor de sonhos, irmanados de humildade
como quem joga com as pernas tortas e vai driblando.
Morrendo de viver vida de drible em adversidades,
renasce no que está morrendo, se reumanizando,
refaz-se da poesia assim o "baypass", a propriedade
caindo no samba ao seguir sambando.
Na solidão de si ser de tantos,
um palhaço de olhar ligeiro,
passaporte para as palavras.
Estafeta de um saber primeiro,
um outro jeito de pensar, outro paradeiro.
Viver nos versos é luta dos troveiros,
ou para rimar,
bater na sua porta
e poder entrar,
da forma mais prazeirosa
que você gostar,
até a significação molhada
de chover na madrugada
de se amar.
Arpas
Certas amizades criam aspas,
outras criam farpas.
Quando quero subo escarpas,
para buscar as minhas íntimas amizades.
São as arpas !
Bom dia
Quando saíres de casa mulher,
põe felicidade em tua necessaire.
Junta também par de brincos,
que sejam dois pingos de luz.
Para os lábios pinte sorrisos,
se puderes mais que cinco.
Pois o dia será longo,
carregado de azuis.
Nos olhos põe um jeito
de desejo feminino.
Ao andar faça gracejos
de praia com sol a pino.
Se o dia for cansativo,
de estourar bueiro da Light,
pensamentos positivos.
Na escolha that's alright.
No andar usa passos lentos,
não deixa de olhar os lados.
Para não perderes o tempo
de achar um namorado.
Quando a tardinha chegar
com jeito de tai chi chuan.
Nos bolsos, leves pecados
para comer com maçã.
Com o abraço doce da noite
tira o diabo do corpo,
junto com as peças íntimas.
Para isso deves a um coito
dedicar tuas estimas.
Depois, só depois, já serena.
Com a alma e o corpo em rima,
fecha o olhos e dorme,
o sono de uma menina.
Prazer importado
Faremos tudo que quisermos,
mas somente se estivermos juntos.
Um conjunto em desconjunto.
Segura o leme, e veremos
um mar, de homem e mulher
num bar, boteco bunda em pé.
Isso e tudo, nem mais, nem menos.
passemos assim o tempo,
ele não da marcha ré.
Mas se você quer dinheiro,
deixe dizer-lhe na fé:
Cuidado ele é de comprar.
Toma-lhe o Tao todo, inteiro,
dinheiro é tempo primeiro.
Depois é que vem solidão.
Vê como é passageiro?
Retranca qualquer de zagueiro,
fila do ponto em 'buzão",
currículo de ter carreira,
carteira de por coração.
Se você der mole ele abraça,
passa a lhe comer mulher.
Se perceber, perde a graça,
você fica sem pau na mão,
sem ter quem lhe faça em brasa,
sem dividir manhãs e pão.
Para alem do sucesso pandeiro,
ou dos percalços de paradeiro,
da sua própria profissão.
Olha bem onde a vida lhe engana,
joga você na cama,
então não põe mais ninguém não.
lá onde você se molha
pelas entradas e encolhas,
pondo um Rabbit na paixão.
Gozou coração
Essa moça chegou mansinho,
quebrou a louça dentro de mim.
Temendo que alguém nos ouça,
cantamos Lorca em Mandarim.
Essa moça tem um trejeito,
que me fascina ao se despir.
Rebola a bunda de um jeito,
pra calça apertada poder sair.
Depois que pula na cama,
traz é uma dama de cabaré.
Fatal e de carne quente,
passa-me ao dente, essa mulher.
Essa louca fala baixinho,
diz-me carinhos de por em pé.
Depois abre os seus lábios,
todos molhados de frente e ré.
Seguro bem apertado
como um tarado as suas ancas
de jeito inusitado meto de lado
a perna que não manca
Os nomes ditos e ouvidos,
são sustenidos, chuva de prata.
Mexem com a minha libido,
os seus gemidos de vira lata.
Veludo tem a canina,
com a boca rima capa e espada.
Depois se aninha em cima,
dançando o corpo de namorada.
Volto, desço ainda,
aonde me acho, a nua senda.
grelo de guardar língua
só para vê-la alagar a fenda.
De mim ela engole tudo,
como charuto de degustação.
Eu nela entro bem fundo,
então pergunto, gozou coração?
Fim de papo
Amor só começa onde a paixão finda
Quem sofre apaixonado
Não sente o perfume do amor ainda
Estima rima enigma
A cada dia mais se faz estima à poesia feminina,
há nela um rasgo de intimidade pessoal.
em seus versos germinam mais generosidade, mais força,
posto que em toda mulher há poesia, na sua verdade mais real.
Porque em toda mulher há o encanto de mais sentimento.
Porque em toda mulher há entrega, portanto há sofrimento.
porque em toda mulher há crença, há confiança, há intento.
Porque em toda mulher há solidão, unicidade, há perdão,
há a unicidade, o alento.
Em todo olhar feminino há a tecitura do momento.
Porque em toda mulher há a resposta da natureza á esperança.
Porque em toda mulher há o labor da multiplicidade.
Porque sob a visão feminina nunca é a vida algo que se apequena.
Porque é em toda mulher que ela, a vida, se origina e se expande.
É é nelas que o sonho humanidade se fabrica em tempo, em corpo e em gente.
Porque na mulher, os sentimentos predominam desde todos os inícios.
Ainda que todas se ajoelhem a um poema do Vinicius.
Quando a natureza humana nelas se instala, a força se reinicia e se completa.
Porque a concretude dos desejos esta nelas, O útero da vida é delas.
Nelas o eterno se aloja, aguardando a luz do novo homem multiplicada.
No escuro do silêncio uterino das transparências do trazer humano.
Ainda que chorem de calor por alguém em vigília interna.
Ainda que alguém de dentro lhes pule o muro transitório
e esse choro permeie a vida também.
Aonde uma mulher guarda tristeza, se deve desfazer as presas, nas quais
se agarram todas as mágoas, talvez de quando desfeitas as tramas da primeira
união, a ausente destreza de algum amor desarrumado, dos carinhos ou
descaminhos da cumplicidade.
A mulher é feita de sentimentos, arquiva todos os momentos de desilusão.
Toda arranhadura da entrega, sem esquecimento.
Ninguém se entrega tanto ou mais ao amor que ela ninguém confia tanto
ou mais no amor quanto ela , ninguém se dedica com tal carinho à tamanha empresa e razão que ela, ninguém trilha mais os caminhos do coração quanto ela, e ninguém sente a desilusão da separação tanto quanto ela.
Quando a intimidade feminina doí, a dor se evidencia de modo tal que mesmo
com a leveza de um sorriso souto, mesmo com o charme luminoso ou as cores de um vestido novo, os olhos denunciam se há mágoa, se há dor, ou se há marcas cativas dessa desilusão, uma lasca de cristal partido no olhar feminino quando chora. Os olhos femininos têm mais força para o abraço, para a o aconchego da verdade, para o colo, para a evidência do desejo, para o beijo, para o calor, para o sexo.
A sensibilidade se evidencia sempre, diante do que é frágil na consistência
do amor, diante da dedicação que se transtorne em sofrimento, diante do hiato de afeto entre um antes e um depois.
Talvez diante da mágoa, da perda, talvez do esfriar silencioso do distanciamento.
Talvez o sismo diante do imaturo acabar de uma paixão, algo de inexplicável
e íntimo lhe dói mais.
Nela o afeto embaçado fica mais evidente, nela a tristeza ganha um tom
diferente, afiado, interno, inteiro.
Como é intima a tristeza feminina nos seus claros aparentes.
Não há algo que a vende à uma atenção mais apurada.
Nela não há fascínio, porque não há fascínio em tristeza, mas há beleza,
há delicadeza, há dignidade, algo comum à dedicação maior à sua verdade,
nua e clara.
Porque toda mulher é para o amor, toda mulher é para a beleza,
toda mulher é para a vida, a mulher é artífice máxima da própria vida .
Cuidados de amar
Dissolução de amor vive de bares.
É próprio ao desamor o esquecimento.
O desamor separa os seus pares,
depois de se passar como um vento.
O desamor faz pouco e nunca muito,
ele vive de se fazer de desatento.
O desamor se esconde nos assuntos.
Desmorona de andar a passos lentos.
O desamor progride com os abalos,
neles se abstrai, perde o momento.
Se o desamor é cinza de cigarros,
a solidão é seu melhor rebento.
Não perca seu amor pelos lugares,
para que ele também não se perca.
Não descuide em atitudes vulgares,
o amor só resiste a quem mereça.
Não o deixe no descaso, não o risque.
Fique atento aos detalhes sem caretas.
Nunca o afogue em doses de wisque.
Amar é abrir os mares à trombetas.
Não deixe que o amor cultive raiva.
Se amor é compromisso, comprometa.
Não pense que o amor vive de laiva,
O amor queima qual calda de cometa.
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Mamulengo
O universo do universo,
deixo para os astrônomos.
O universo da terra,
Cava-o os agrônomos.
Uni o verso de peito,
ao peito de quem é anônimo
ao sub do sol que é urbano.
Fulano, Beltrano, Sicrano.
Sou um poeta mamulengo,
solto no corpo de pano.
A costura do meu poema
é o universo humano.
Aonde o poeta não é poesia
Onde o poeta não é poesia,
é onde não há solidariedade.
Aonde o reino inútil da ironia,
toma lugar da humanidade.
Não há nobreza na monarquia,
mas pequeneza de sua parte.
Não há fascínio na omissão,
só a solidão da adversidade.
Quando um homem pede a mão,
demonstra precisão, necessidade.
Pobre é o espírito de quem diz não,
cercado de imbecis na realidade.
Custos maiores puxam o cão,
que irá abater essa inutilidade.
Homem não se faz por herdade,
herança pobre ou pusilânime.
Negar socorro é mais que maldade,
é fraqueza, é fragilidade, e vexame.
A fotografia que fica, é de um nada.
Justa é a causa de que se reclame.
Cegar um poeta com uma pedrada,
diante de fúteis espectadores,
é ser da poesia a idiotice ladra.
Os que não enxergam as suas cores,
dos seus sentidos não são senhores,
jamais souberam os seus valores.
A esses restaram as barras da lei,
na qual se apure responsabilidades.
Aqui nesses versos finalizarei,
repudiando aos falsos poetas e aos covardes.
Olhar paisagem
Ficam-me olhando com esse olhar de janelas.
Pessoas como eu quebram no corpo, suas fronteiras.
Fazem-no, eles, os que não conseguem passar por elas.
Mas quem enfim não as têm?
São precipícios!
Aquém de si próprios tangem
-se nas falésias, pelas beiras.
Miram assustados o universo do tudo que não sabem.
Preservam-se do que não sabem, protegidos pelo sossego,
garantido do que é o óbvio, é paisagem.
São as fumaças do medo.
Santas essas pessoas calmas, distraídas nos recatos dos seus centros.
Sem correr riscos imponderáveis por princípios.
Protegem seus rostos de vidro, contra desconhecidos ventos.
Quem de si não sai por um único momento, viverá apenas normal,
viverá apenas morrendo.
Caos
Minha estética é a do caos
Mistério é minha chama
A alegria de um Carnaval
Desfilo às vezes na cama
Se amo é amor de muito
Desolo quem não me quer
Com o mundo tenho assunto
maior é meu canto de fé
Meu canto é canto profundo
Feito de raiz no chão
Quem esta comigo esta junto
Quem não está é vazão
Os sábios são quase poucos
Silêncio rouco é palavra.
Tenho-a tatuada no corpo
Como rosto da estrada
Trago no delta do rio
Caminho de mar sem retorno
O mar tem o sal dos navios
E o mundo tem seus contornos
Meu verso quando te cala
Vias de fato ou canção
É coração de aba larga
Apara de desilusão
Do caos puro se projeta
Refazendo o conjunto
Na vida de visão reta
Poesia e curva de fundo.
Olhos de pedra
Meu poema ambiental teve a palavra queimada.
Meu verso de ouro teve a impureza lavada no mercúrio fluvial.
Minha rima caçada de tráfico, veio silvestre bioma passarada.
O meu rio se sorrio, é assoreo; Ausência ciliar no capinzal.
Minha poesia foi sina, foi biodiversidade menina, roubada de prima,
foi mina de lavra, foi palavra de eucalípto no Fantástico.
Sou um poeta de usina suja e natureza alagada, fogo e matagal.
Há amor em mim, eu o acho, entre o chorume e o lençol freático.
Comi da genética poética, com o semem transmodificado Monsanto.
A energia fóssil queimou meus olhos monóxidos.
A industria suja surge rude na fronteira Bric de araque.
Fazendo a palavra mais fácil de ser comprada, é prático.
A lógica não precisa da realidade, mas do Descartes mágico.
A vida é simples quando vem com lacre, plastificada.
A face do homem que sou, teve a numeração raspada.
A beleza do consumo é a classe média engalanada.
Mídia Deusa minha, bem ou mal, boca falada.
A madeira dessa farpa no meu peito,
teve algum jeito de nunca ser certificada.
O ar de sobra do amianto fez chiar meu canto.
De fuligem, de barro, de cigarro e de carros,
fez-se a vida na fumaça sonora.
Máxima alegoria no ouvido culto dos satisfeitos.
O lixo estrangeiro veio perfumar narinas com seu cheiro.
Nos containeres fazem rima aqui na Bolívia ou na África.
Na extinção do animal humano o poeta sobra.
A sirene avisa o avanço das águas fáticas
O mar pega fogo de óleo negro e morte,
talvez a vida resista sobre meus olhos de pedra.
Manhã dos homens
Ao primeiro sinal de partida sonorizado, a realidade é urgente.
A manhã dos homens surge como uma lâmina iluminada.
Há que correr atrás do tempo reproduzindo de novo suas pegadas.
Na urbe os cidadãos procuram em jogo, suas cadeiras numeradas.
Atrofiam a vida pela global fábula dos emergentes, desastrada.
Ao segundo sinal, senhores, religuem seus celulares.
Mastiguem o pão nas commodities do balcão à frente.
Preparem seus diafragmas de mergulho, prendam os gases,
para que as surpresas da pressa se acumulem, travem os dentes.
Diante da possibilidade do que é fútil pareçam inteligentes e populares.
Anonímem-se em avatares, aos reclames
enquanto uma floresta em chamas será queimada,
na multiplicidade ignorante de um povo.
Amarrem-se ao cais salarial com seus cordames
Em hipóteses ou Iphones, não respirem ar novo.
Se for povo, leia antes o manual de instrução.
Socorram-se nos bares.
sendo tolos, fiquem quietos, é o mais conveniente, não reclamem.
Mantenham-se rígidos nos plexos solares.
Não cedam de si nada, nem por um minuto.
Sob nenhuma possibilidade dêem-se ao outro,
essa entrega seria um vexame de atos vulgares, e até libidinosos.
Paguem o dízimo à receita federal, evitem incômodos perigosos.
Ao terceiro sinal.......
Êpa!!
Um ipê sorriu de cor,
em abusado azul turquesa.
Chamou para si a natureza do dia,
essa cena não estava combinada.
Iluminou toda a calçada.
Consumo presumido de delicadeza?
Quem diria!
Uma criança corre escrachando-se em beleza animada.
Vai aprender necessidades na escola dos homens.
Resiste a praia, mesmo que magoada de ecologia.
Nas suas línguas negras ensaiadas, está vazia de areia e de ontem.
Cedo demais para as utopias físicas do mar em sua alegria.
A moça bonita negou-se ao namorado à noite,
agora nervosa passa perdida, em lamento.
Há um qualquer de tristeza em seus olhos,
parecem que choram para dentro
um restinho de amor ou de ressentimento.
Agora ela vai correndo apressada
em seu terninho arrependido de advogada,
pedir hábeas corpus ao juizado da vênia.
Não fala da noite passada. Não coitada!
O amor é assim,
faz silêncio ao fim,
nas paredes de um beijo.
Êpa!!!!
Desejo não se discute, evitem a poesia de cada um,
em situações limite ceguem os olhos do poeta,
mesmo que eles saibam ver na escuridão.
Guardem bem suas emoções, aguardem o lançamento.
Nas páginas octogenárias, em alguma parte alguma.
Pois um dinossauro de metal se esfrega nas ruas.
Em seu ponto final chegou, cheio de gente na barriga de bilhete único.
Gente que vale o transporte, gente igual, gente só rosto, gente só gente.
Cadastros, grotões, pingentes.
Correm à sorte!
Corram, corram, corram todos para o dia de hoje.
Dizem que é de quem chegar primeiro.
Mas atenção sejam felizes, porque esse dia também será único.
Até o próximo sinal.....
Mágica
Consegue ver?
Olhe devagar.
É a realidade,
vai passando
aí por você!
Miame
AH Cuba!
Deixa que eu entre com meus iPhones, com meus Hamburguers,
com meus dinheiros.
Deixa que eu te abrace de amante pelas commodietes primeiro.
Faremos amor em Guantanamo e atravessaremos o mar, sem precisar de
balseiros.
Lembra do Al Capone? O Corleone?
Ainda trago esse perfume, esse cheiro, deixa eu voltar!
Abre a porta de trás , chegarei sorrateiro.
Se você deixar eu juro que não brigo, vamos tratar nossas manchas
com solução pra vitiligo.
De presentinho, pra te agradar, trago um sotaque de gringo Flórida,
para misturar com rebolado Habaneiro.
Juro que não embargo mais no seu traseiro, me chame de charme,
me chame, me chame. Ouça esse reclame!
Dou-lhe meu nome latino agora, é Miami!
Pobre e de pouca idade
Pode parecer algo torto
estranho e até esquisito
homem falar de aborto
se é um feminino conflito
Porem sendo eu maldito,
esse tema é desconforto.
Pobres morrem, acredito,
não ocorre entre os ricos.
Se é da mulher coisa única.
No seu singular pode ser.
Mas por baixo dessa túnica
tem gente plural, pode crer.
A saúde é coisa pública.
Mulher merece viver.
Quantas delas ainda morrem,
tendo que se esconder?
Que vida há que defender?
Quando aos açougues recorrem?
Que povo é esse, e porque
esconder os fatos num totem?
Quando morre uma mulher,
morre um pouco a humanidade.
Não na fé, mas de verdade.
Pobre e de pouca idade.
Poema para o desempregado
No tempo do pós- moderno
o ocorrido é o ultrapassado.
Não é como deve ser,
um tempo dos ocupados.
Precocidade em velhice,
como uma esquisitisse,
comuna aos desempregados.
Nesses senhores, que hoje
tão jovens miram a si pesados,
galopa um tempo no outro.
Quando perece o emprego,
há precisão de coragem,
no tempo a cego arriscado.
Passada a janela e o vento,
ter que inventar o momento
nos seus próprios de dentro,
para produzir nova vida,
virada de jeito interface.
De si um novo invento.
Um homem sem ser ocupado,
tende a manter-se ativo,
cativo de seu vazio
de produtor amputado.
Não amputado de um pedaço seu,
do seu próprio corpo.
Mas amputado de sua própria valia,
onde o trabalho desaconteceu,
com um ofício morto.
Mais preocupado em reinventar os dias.
Acorda às segundas feiras,
mastiga uma semana,
namora uma fria cama,
passa o ano preocupado.
O tempo não tem retorno.
O tempo nem tem passado.
Não passaria se é tempo.
O tempo só muda de lado,
porque para o proprio tempo,
tempo nem é contado.
A hora que foi vivida,
fecha para sempre a ferida,
mas deixa o corpo marcado.
Na explosão das pedras,
Sísifo perde a montanha.
Agora sem mais alento,
sobe ao apartamento,
mergulhando no vasado.
Quando o acordar das manhãs
era sair e trabalhar,
Como acordar amanhã?
Agora a cor da manhã
é cor de espuma da praia,
para quem já não vai ao mar.
Um capitão sem navio
tem as lembranças salgadas,
na ausência da maresia,
da hora do corte a fio.
Assim é que é
Nenhuma poesia vale a pena
se a musa
é menor que o poema
Não
No raso do pensamento
onde a palavra se esconde.
Por trás do alumbramento
com a estatura de longe
Os olhos que te descrevem,
no que a boca repudia,
são desejos roçando a pele,
na face que os negaria.
No temor do novo intento,
aonde o amor se queria,
o corpo comportamento
guardou sua poesia.
Desnuda pelves palavra,
tão clara no seu silêncio.
Mostrando cara com cara,
um assustado intenso.
Comum ao lenço do medo,
cuja vontade escondia.
O olhar pedinte dos beijos,
atravessando a harmonia.
Nesse íntimo tal universo
onde o humano se fia,
temeu o seu próprio verso,
traiu sua própria alegria.
Lá vem! Esse ser abissal.
Sorrateiro que é o homem,
entrando pelo quintal,
pronunciando seu nome.
Mesmo que não se faça,
o amor que o olhar pedia.
Mesmo que se acovarde,
o abraço na coisa fria.
Restará nesse um olhar
certezas mais que pungentes,
do sal que há nesse mar,
no sol que houvera quente.
O desejo quando defeito,
deixa um rastro, um rio.
É fogo que implode o peito
sem acender o pavio.
Então se rompeu o afeto,
no que dele é a esquiva.
Derivamos no incerto,
descemos no ralo do dia.
Mas esse olhar inquieto,
fecundo e sem calmaria.
No que falar de completo,
vai dizer o que queria.
Fui
Fui daqui embora,
tendo pouco pra falar.
Mais que pouco tendo nada,
que possa compartilhar.
Levei metade de abraços,
um quadro do Síloé,
lembranças e embaraços.
Carranca que não assusta,
e os espíritos do Rio.
Um São Jorge, nenhum tusta.
No fim eu me principío.
Você vai ficar com o Fusca.
Eu vou de peito baldio
do seu apreço de mulher.
Na despedida que custa,
Se a saudade lhe vier,
aperte-a com uma das mãos.
Ponha um calço no fogão,
e aprenda a fazer café.
A vida reinicío
num bico de pena leve,
que se asa tambem tivesse,
não ia me acompanhar.
Voaria em céu Brigadeiro
antes de mim primeiro,
numa corrente de ar.
Ah...escultura de neve
que é o amor!
Vive tão breve
e tem o sabor
derretendo-se no olhar.
Não levarei nenhum tempo,
que o tempo nunca se leva.
O tempo anda sozinho,
não sei para que lado vai.
Também não levo os carinhos,
que foram feitos em par.
Pois todos foram doados,
aos ventos apaixonados
dessa janela sobre o mar.
Ménage a trair
Sabe quando uma mulher se aproxima de um poeta e se abre?
O poeta, esse tolo de idéias fora do lugar, acha que é para o homem.
Os heterónimos das pessoas às vezes têm outros planos, e neles se escondem.
E o que acontece?
É um engano!
Um engano de hormônios, um erro dos demónios mais sacanas.
Do que ela gostou ? Foi da poesia !
Então recorre naturalmente ao poeta, na sua jugular interna humana.
Atinge assim o sangue quente do homem, sem deseja-lo no ato.
Ela então diz alguma coisa sobre ser amiga, quando de fato sequer se conhecem.
Mas isso acontece.
A fêmea foi atraída pela carne quente da poesia, pela sua trama muscular
subjetiva.
O homem então é só um cavalo dessa entidade afetiva, que passa a ser
agora o guia.
Em seguida acontece com o afeto masculino uma azia de quem comeu
torresmo e não podia.
Pronto!
Mais uma vez o poema traiu o poeta que traiu o homem.
O poema quase venceu o homem, como criatura subjulgando o criador.
como se nessa interface ele, o criador, se sentisse corneado consigo mesmo.
Num Ménage a trair, onde no final, ninguém ficou com ninguém dentro de sí.
Ou quase é isto, quando cada um sai consigo mesmo e algum saldo de poesia.
Para que se entenda, que ser poeta não é sempre o ocasional de pura alegria.
E a moral dessa história?
É que a desatenção em literatura pode fazer chifres em cabeças de cavalos.
Portanto caros poetas:
_ Cuidado.
Vadia
A poesia é uma namorada vadia.
Beija a boca da gente,
some no meio da noite,
volta depois de alguns dias.
Não fala ao poeta aonde foi,
mas vem cheia de alegria.
Neruda
O primeiro poeta que admirei foi Neruda.
Com seu chapéu de mundo,
com suas palavras de sal
e aconchego de ventanias.
Havia na sua pele queimada de salitre e cobre,
a conduta de luta na vertente da sua poesia.
Falante nos signos probos;
"Caliente"no afligir de um povo,
pura esperança empesteada de alegria.
Solidária e sólida, tamanha de natureza libertária,
pródiga voz de amor irrigada.
Sendo poeta popular tem nos versos vastidão.
Intimidades acessíveis a todos, e ao desespero da agonia.
Neruda e seus olhos sem beiras.
Vinha de palavras a serem bebidas
no cálice do nosso tempo,
trazia o mar na soleira da humana fisionomia.
O mar de sua casa de pedras, com suas portas abertas,
com as janelas escotilha miradas para lua.
Descanso de ilha negra nessas portas que abertas continuam.
Seu lugar na poesia é simples de gente, é semente de sol,
é estrelado de céu.
Uma decupagem das noites de amor,
no infinito rápido da humanidade.
Neruda de todos, fecundos das palavras suas:
Camponeses e operários, desempregados e trabalhadores,
amantes e apaixonados.
Poeta serviçal de toda gente Neruda.
Viajante e senhor de estradas, e de sonhos.
Senhor também das tristezas pátrias e de partidas tantas,
poeta do mundo e das ruas do seu Chile regenerado.
Foi quem desenhou amores, na arquitetura dos meus beijos,
no aconchego das bocas queridas de calor enamorado.
Neruda que quando foi, deixou por derradeiro aqui sua vida.
Ainda que a tenha confessado como tendo sido vivida.
Poema vazio
Aqui apenas o poema vazio,
vazio de suas vontades.
Vazio de todo sentido,
vazio de ter saudade.
Vazio poema de estima,
vazio de seus tropeços.
Vazio que te alucina,
vazio de rél confesso.
Vazio verso sem ética,
vazio de contradição,
vazio tambem de estética,
vazio poema em perdão.
Vazio poema sem corpo.
Um poema vazio em palavras.
um poema no espaço corso,
vazio aonde não estava.
Vazio de heresia,
vazio de tronco duro,
vazio de amor maduro,
vazio de poesia.
Vazio seca de rio,
vazio da imensidão,
vazio de mar é o navio.
Poema vazio dissolução.
Vazio poema fracasso,
vazia terra de cava.
Poema vazio de aço,
poema vazio de travas.
Um vazio de ametria,
vazio total de amores.
Vazio todo de dores,
vazio de covardia.
Poema vazio de abraços,
vazio de companhia.
Vazio poema dos fatos,
poema vazio em alegrias.
Poema opaco, vazio de cores,
um poema vazio de olhar.
Vazio poema sem flôres,
vazio poema de bar.
Vazio poema sem face,
Vazio poema sem teto.
Vazio poema trespasse.
Poema vazio incompleto.
Vazio poema sem ar,
vazio de toda ausência,
vazio de olhos em par,
vazio de malemolência.
Poema vazio de medos,
poema vazio inquieto.
Poema vazio deserto,
poema vazio tão cedo.
Um poema vazio de afetos,
poema vazio em delito.
Poema vazio incompleto,
Poema vazio é não dito.
Poema um vazio ereto,
poema vazio de estado.
Um poema vazio incorreto,
um poema vazio coitado.
Vazio poema abandonado,
poema vazio de anoitecer.
Vazio, o poema vazado,
O vazio poema em você.
Poema desocupado,
um poema vazio sem medo.
Poema vazio de recado,
poema vazio brinquedo.
Vazio poema adrenalina,
um poema vazio desfarço.
Vazio de poema é esquina,
vazio poema de ser escasso.
Vazio de braz de pina,
vazio poema de abraços.
Vazio de coisa divina,
poema vazio sem laços.
Poema é um vazio de rimas,
poema vazio solidão.
Um poema vazio em barriga,
poema sim vazio diz não.
vazio poema de briga,
vazio devassidão.
Poema vazio de liga,
vazio poema de pão.
Vazio poema de figa,
vazio de desalinho.
Vazio feito intriga,
vazio de taça de vinho.
Vazio do que continha,
vazio de vagão de trem.
Vazio de fim de linha,
vazio do que não tem.
Poema vazio diz tudo,
vazio de querer bem.
Vazio de olhar desnudo,
poema vazio ninguem.
poema bem vaziozinho,
poema desguarnecido.
Vazio, vazio, sozinho.
Um poema vazio esquecido.
Poema vazio de sem,
poema calado, sem pio,
poema que eu desconfio
que nem poeta ele tem.
Propaganda enganosa
Campeão do infortúnio
na ilusão do desejo,
desperdicei pecúlio
na esperança de um beijo.
Toquei fogo em gasolina,
fiquei nu de alma suja,
dei vexame na esquina,
pelo amor da dita cuja.
Pratiquei piores vícios,
Para ver se a seduzia.
Li poemas do Vinicius,
atolei-me em vaca fria.
Errei todas as cantadas,
acumulei prejuizos.
As cartas do amor são marcadas.
Meu peito não tem juizo.
De fato se preconiza,
mudar o rumo da prosa.
Do amor eu aviso amigos.
É Propaganda enganosa.
Lacan de língua
Às vezes eu cismo.
Poesia e Psicanálise
vivem um lesbianismo!
Caldinho de feijão
Meu amor tenho olhos tristes agora,
de onde venho a saudade se demora.
Os meus braços te desejam abraçar.
Rodei mundos de chão noites afora,
na Serrinha namorei outra senhora.
A solidão enganou o meu olhar.
Meu amor se vestiu de dama fina,
maltratando um vadio de esquina.
Fiz-lhe um samba bem facinho de cantar.
Ela disse esse samba não tem rima,
seu desejo, poeta, é só estima,
seu abraço é de balcão de bar.
Meu amor fez um sorriso de atriz,
desdenhando dos beijos como esfinge.
Muito esnobe no mundo de quem finge.
Pôs o encontro vazado na ilusão,
foi-se embora, de mim, porque não quis,
esse samba com feitio de raiz
num torresmo no caldinho de feijão.
Mora ao lado
O amor jamais tem forma, é sentimento.
Também não tem preço e nem mercado.
Mas nenhum amor é puro, pois é ato.
Ele acontece, independe dos ventos
Recende felicidade, aprimoramento.
O amor é dádiva ao outro presente.
No ato não tem moral, é indecente.
Amar só não resiste ao rompimento
O amor é maduro fruto no palato.
É calor do outro dentro da gente.
Se vive não há que ser urgente.
O amor é o seu alheio delicado.
O perdão é do amor mais consagrado
Não é vazio, nem pavio dependente.
No seu fato não comove, é residente
O amor vive na gente, mas mora ao lado.
Amor embriagado
Caipirinhas de sonhos
Dois chopes de ilusão
Wiskys em gelo banho
Sakê congela a razão
Magníficas amigas
Dois cognacs bons de briga
Taças de vinho à mão
Vodka junto com lima
Também pode ter limão
Doses de Gin na auto estima
Rum cubano sem embargo
Stainheguer na língua
Tequila de um belo trago
Outra Aguardente bem vinda
Bagaceira Saramago
Cevejas em neve alpina
Um kirsch de adrenalina
Em um cointreau de afagos
Goladas muito absinto
Aquavit à felina
Pisco ao dizer que minto
Cachaça de meia esquina
Genebra do meu afinco
Licor de ver as meninas
Grappa saudosa paixão
Armagnac sustenido
Champagne cheia de rimas
Calvados meu coração
Mais todo remédio vindo
do boteco do Arlindo
Eu trago ao pedir perdão
Fim de papo
O amor só começa onde a paixão finda
Quem sofre apaixonado
Não sente o perfume do amor ainda.
Público alvo
Nunca gostei de escrever à toa, algo barato, apenas busco descobrir nas letras
o que haja de sentimento, para alem do recato.
Não os sentimentos claros, mas os evasivos, os escondidos das palavras;
As travas; Nem mesmo os sentimentos elegantes ou bonitos, mas o desacato. No momento quero aqui, o que há de delicado no palavrão mais falado.
Essa canção e para aquele que teve educação desiludida , canta aos deseducados,
aos excluídos dessa palavra graduada, a contra mão de uma nação.
O meu canto é para eles, que reproduzem no pancadão dos bailes suas mazelas
e crenças, de forma brava e rebolados.
Quero o momento cidadão que há de surgir no trem lotado, no sufoco
do vale transporte.
Da dívida na agiotagem involuntária do sujeito de olerite precário.
Na correria que vem do rapa perseguindo o subemprego, um e outro
mal arranjados.
Meu poema vai dizer do olhar opaco do desempregado.
Desejo e esperança tenho, de tocar-lhes na alma com o que é simples poesia,
que alguma coisa lhes diga, ao jeito do desamparo.
Faço o verso agora, a quem é a menina e a fome, que ao consumo vende
bem barato o seu corpo novo e inacabado. Verso carne em fogo, verso carne queimada, no lugar e na hora errada. Verso forte de juventude esbulhada.
Vem se juntar à poesia o franzino e amarelo menino, menor ainda,
com seus olhos marcados de chão e sono . Ele e o crack da bola de pedra a cinco reais , baque e enfoque rápido da morte. Entulho humano eliminado de forma mágica em sua última balada infante e trágica.
Para esse é sim o meu poema, mesmo que dito a quem jamais saberá,
pois tem a vida corroída na má sorte viva de ter sido inesperado, veio do ralo.
Com esse verso quero espargir em todos os rostos a poesia necessária
e itinerante, dos ambulatórios públicos feitos de saúde precária e gente nobre e mal paga. Borrifar de rimas a pequena professora e sua escola de comunidade sitiada na milícia armada. De livros poucos e abnegação de ideias
Levo a poesia agora às delegacias lotadas, dos pequenos furtos de
possibilidades futuras perdidas, ou quem sabe mesmo roubadas, nas sequelas dos que ao fim da linha pagam a carcomida corrupção nativa dos que podem.
Meu poema agora é a dengue, é a ausência sanitária , uma poesia malária,
ressurgida com seu rosto vinculado ás consequências de vida deficitária.
Poema esse que cresce com as moças e com os moços empoçados,
encurralados nas favelas planas das cidades, sem planos , sem a plena solução de felicidade. É poema Josilene e Cleonilson, é poema Vila Kelson's, Nova Holanda , Baixa do sapateiro, Vilas do Pinheiro e do João.
Esse é o poema ligado no povo da Maré e do Cruzeiro, complexo do Alemão.
Esse é meu poema bom, o bacana! Ele se desdobrando em bicos de avião,
ela mete os peitos jovens no calçadão de Copacabana. Sobrevivência chicana.
Êta poema bonito, êta que a vida é sacana.
Com a carência de rima na jovem mãe prematura trazendo no colo outro
que ainda mama.
Êta poema bonito, êta poema sacana.
Quem sabe ao poema caiba, assim deixar um recado nos bancos
da pouca escola, nos trancos dessa história, pois é o que ele sabe antes de ir embora.
.
Do amor
O amor dói como a dor de um samba Unindo o olhar de duas pessoas pelas pontas de uma corda bamba Música A língua da música esta lambendo meus ouvidos agora, Isso tira cracas de dentro dos meus pensamentos. Notas musicais organizam minha paz de dentro para fora. Mudam os gabaritos que engenharam o indivíduo a tempos. Quando uma música toca, em mim dilui qualquer tormento, restaurando os tons à vida pelas claves soltas mais sonoras. Se um instrumento toca é algo maior que brisa a vento. Sobre as pautas dançam em harmonias, minha alma junto com o meu centro. Um solo de guitarra grafa a fender fotos de porta retratos; Prometendo o salto surpresa implícito no rítimo dessa nau felicidade. Entra o conversar de cordas, couros, paletas e metais, tudo me invade. Metamorfoses singram meu espírito e a calma é o tento. Até que esse velho marinheiro de cais, cidadão de corpo hiato, voe emoções chorando um improviso Sebastian Bach de alarde. Como um pássaro de sons impregnado desses instrumentos. Tudo então se alinha ao salto, à solução fina do sax Pixinguinha. Ciclo Quando acordo ontem, tenho muito trabalho. Refazer a vida em um dia novinho em folha, para aguardar a memória amanhã. Cadê Talvez o que procuro, esteja nos olhos do ciclone. Se talvez lá não esteja, esteja na língua sem nome, dos lábios finos de sorrisos. Como a esconder avisos. Nas ondas do mar mais maduro, no escuro arriscado esconjuro, no caminhar casuísmo, do meu próprio tsunami. Talvez o que procuro, seja eu mesmo nesse escuro, já tendo perdido o liame. Por isso, caso não me encontre, ao pronunciar o meu nome, eu tenha um codinome, para acomodar os cinismos. Caminhos de passos duros, sem as aparas dos seguros. Modo estrangeiro de viver. Talvez o que procuro, eu traga nos olhos dos murros, dados nas pontas das facas, com o perfume de alfavaca, na carne dos inseguros, para fazer o acontecer. Nos tratos de submundo os rasgos calam profundo, quebrando pontas de estacas, com as gargalhadas de prazer. Inquietude Vivo do absurdo que sou. Respiro o alívio da desilusão. A cada ausência lúdica me refaço, no abraço da sabedoria dos cansaços, olhando com o olhar inteiro a amplidão. Nela me assenhoro dos meus passos. Vou no enlace frouxo da razão. Corre no meu pulso sangue brasio. Sempre há algo em mim que principio. No peito trago nua essa paixão. O tempo de lonjuras e mormaços discorre nesse misto o seu condão. Na solidão dos homens me repasto. Por hombridade faço a solução, a ter que prosseguir passo por passo. Vivo de existir no que conquisto, sem ter o passaporte das certezas. Nem garantias trago nos meus vícios. Minha alegria é carta sobre a mesa, dos sorrisos da contradição. Um dia no outro dia me completa. Entre os dois a noite me abandona. O ciclo da vida não é rota certa. O inesperado sempre vem à tona, contrariando o solo dos anacoretas. Sobre os contornos da indiferença, às vezes quase morto vou à lona. Abatido por um olhar destro e esteta. Amasso o barro impuro da existência, com as minhas mãos, assim ela desperta. Pouco a pouco, delirante e férrea. Como uma festa itinerante de querências, marcada por suas próprias consequências a questionar-me telúrica e etérea. Mantendo a esperança irrequieta. De mãos dadas para o vazio Nós que não soubemos ser do desejo, não beberemos desse sol, dessa coragem. Fomos fracos. Mas nós dois, por um átimo de instante rápido qualquer, nos amamos. O amor vem primeiro nos pequenos atos falhos, quando fogem sussurros no silêncio. O amor vem bem antes na sedução, inesperado. Amamos no que houvera de perdido e assustador, amamos onde o amor nos saiu do controle, antes de se esvaziar no ar. Como dois abandonados em temor. Ficamos desligados, estancamos no inacabado. Mas amamos. Nesse espaço vazio, nesse início finado, que agora é desbota. Nessa cortina de fumaça que nos afasta, e desenlaça, desfazemos como a uma réstia ácida encoberta em suas cascas de medo, como as couraças e seus segredos. Resta agora a distância, como é longa a distância! diz o poeta! Como é vazia! Se não soubemos amar, amamos a dúvida. Hoje não restamos dádiva do delírio, e talvez nunca o sintamos. Não soubemos mais que esse couro sem pele de nossos pobres estáticos braços. Esse será o nosso pecado replicante. Não soubemos mais que o prévio combinado de medo, na delicadeza dos infelizes. Talvez já o saibamos. Estivemos nus desse desejo encabulado, dentro das nossas roupas de carne, dentro dos preconceitos pétreo, dentro de nossas censuras. Fomos só distantes, e de distantes ficamos pequenos. Com nossas poucas palavras exiladas, mas condenadas à libido. Nossa nobreza será essa, desperta de disparates entre os dedos da elegância. Nossa pobreza será essa, nossa união será essa, essa será nossa extravagância. Essa distância que nos aproxima, num brilho de erogenidade, enquanto olhamos para o nada disso tudo, pois o tempo do amor nos atos não se conta em ábacos. Hapa-Nui Talvez eu morra, de sorte que ficamos assim. Vou dessa porra de vida, no que ela é chinfrim. Mesmo que ocorra, da noite dos meus dias chegar por fim. Bala Camorra, sobre meu rosto um tiro, não é festim. depois de morto. Talvez eu volte, para o meu gurufim. Num samba torto solando cuíca no que sobrou de mim. Serei encosto. Amigos tomarão porre de Gim sobre o meu corpo. Uma mulher há de chorar o homem que fui. Na sua fé, dirá adeus a quem já se conclui. Se Deus quiser, sairá ladeada por um ser de luz. Ou outro qualquer, serei um incógnito Moia Hapa-Nui. Poema para a deusa de ébano Eu não posso fazer-lhe um funk meu amor. Deus deu-me o pecado branco na cor. A cor negra eu preciso buscar em você. No terreiro dos meus olhos há tambor, no desejo do seu, ponho o meu prazer. Nessa pele aonde o samba é só calor, sua boca na minha boca vai dizer. Nas suas pétalas abertas beijo a flor, vendo a noite, no dia, derreter. Nosso amor discorre assim, sem hora, não há tempo acertado para ele ser, para viver, para ficar, para ir embora. Sob as bençãos de Pierre Verger, nos devotos de Abaluaiê, o melhor do amor é ser agora. Versos dela Ela tem olhos de seda Ela vem cheirando a mar Ela é manha de rede Ela é abraço de luar Tanto é sábia e sede Ela vive a cada hora Agora pergunto quede Seu sorriso de agora Tanto ama de repente Tem calor de ser vadia Tanto quanto pouca gente Vive a calma da alegria Ela tem sons de desejo Ela tem amor de amar Ela afaga boca e beijo Tem um nome popular Ela vem Minas de queijo Tem silêncios de falar Tem a voz de um solfejo Será ela ? Quem será ? No seu corpo liberdade A pele e de tato livre Sua vida é ser verdade Dela não há quem se prive Ela é íntimo segredo De agregar ela é pública Não padece de arremedo Ela é uma mulher única Sonetinho para Maria Maria teima em trazer um triste olhar no peito. Desses de fim de amor, quando sobra tristeza. Fita um desvario danado, de algo desfeito. Dizendo que não pode amar sem uma certeza. Maria pensa que o amor é sempre dor sobre a mesa? Algo que não lhe valha algum outro proveito? Espero que mude de ideia, pense outra natureza. Venha para os meus braços reinar a melhor fraqueza. Maria venha brincar! O amor é mesmo imperfeito! Deixa essa tristeza pra lá, venha para a surpresa. Às vezes para ir ao mar, um rio muda de leito. Venha ser feliz agora, não tenha tanta rijeza Ficar por aí sozinha, isso não é direito. Não me faça mais esperar, faça essa fineza. Negra Agora o amor se despede, chega o sol. Eu que deitei minha pele na cor dessa noite, quando as estrelas formaram o lençol, onde para ela meu corpo inteiro fizera a corte. Sei que também tenho um lado amoral, como este que insiste em mim agora, cultivei no seu corpo o meu quintal, E colhi os beijos que a madrugada endola. O meu silencio exibe um grito curdo, um verso duro, teso e temperamental. Quando a negritude cobre o céu em tudo, nada é ilícito, todo amor vive um ato marginal. Eu gostaria de te-la sempre em meus braços, onde o tempo não tem valor de penhora. Caminhos tortos formaram nossos passos, e o ultimo poema vai, quando a noite evapora. com os seus próprios passos também, mais restam as lembranças de alguém, Com o calor que tem essa jovem senhora, que a realidade diz ter ido embora. Posso ler o poema XX do Neruda, desesperar na canção, não vale nada. O tempo novo noutro tempo vai a muda, nesse instinto explode nova madrugada. viver é um ato de ter a vida às mãos, sem luvas. Posso também lembrar, o que é de breve e suave. A bela negra ao meu lado fizera-se desnuda. Em tempo de amor, em voo noturno de ave, seus lábios gemeram livres de todas as regras. Perfumara o sereno como uma flor em brilho. As estrelas miúdas na manhã ficarão cegas, ainda me povoa o peito o pensamento vadio. Poderia ter aqui algum pincel e tela nova, para pintar esse nu, delineando suas curvas. Mas já é dia e o amor passou, vazada a hora. No coração terei as tintas da aquarela turvas, Com o calor que tem essa jovem senhora, mais restam as lembranças de alguém, que a realidade diz ter ido embora, Com os seus próprios passos também. Sem planos
Sigo com passos de pedra,
sigo compassos de samba.
Madureira em mim emana,
comigo vem a Portela.
Minha poesia é discreta,
Carioca e suburbana.
Mulata que a mim profana,
tornando a carne concreta.
Também ela fica em brasas,
minha poesia é de cama.
A mim ela me devassa,
transpassa com sua chama.
Quando a musa é a massa,
minha poesia é fulana.
Assim ela vem e me abraça,
com suas pernas de dama.
No ar a poesia tem asas,
voa, ferve, fere e plana.
Suada quando é amada,
tem corpo sujo de lama.
Minha poesia tem norte,
tem palavra que esfola,
deixa em mim tantos cortes,
sempre que tento ir embora.
Ela é a mesma cigana,
Quizomba de minha sorte.
Retoma em mim sua trama,
sem ela há risco de morte.
Assusta a minha poesia,
delira, derrama, expele.
Quem um pouco dela bebe,
pode sofrer de alegria.
Clamando é outra a poesia:
"Ela há de ser um sol tão novo,
como a gema de um ovo,
dentro da clara do dia."
Martelo por seu destino,
poema, porre, porrete.
Garganta d'agua na sede,
nela sou homem e menino.
Então sobrevivo dela,
sem ela nem vou prás ruas.
Segredos meus á desvenda,
meus versos são pele nua.
Estão nos rastros que deixo,
tatuados nos enganos,
por caminhar com desleixo,
os faço versos sem planos.
|
Para ler poesia basta ter calma, Para ler Poesia basta ter paixão, deixe-a incidir subcutânea, trama das retinas à veia aorta para faxina do coração.
Citações
A palavra é o fio de ouro do pensamento.
SÓCRATES
Mamulengo
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