Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Esse samba não tem Bis ( perna bamba é do samba)

                                                         Caricatura: Lupicínio Rodrigues- JB caricaturas
Foi você quem não me quis
Apagou-me feito um giz
Bagunçou meu coração

Seu desejo era verniz
Só palpite, era infeliz
Logo dizendo que não

Bebo um gole de cachaça
Pra ver se a vontade passa
Quase perco é a razão

Outra vem e me abraça
Mas não acho a menor graça
Remendar desilusão

Tergiverso e faço um samba
Mas minha verve de bamba
Volta pro mesmo refrão

Hoje vou voltar pra Lapa
Onde o samba não escapa
Largar-me na fundição

Vou cantar la no Semente
Mais uma mulher que mente
Caida em contradição

Outro gole e vou na raça
No suor e na pirraça
Procurar outra Paixão

 Ah! E esse samba não tem bis...

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

De mãos dadas para o vazio ( O analfabeto poético)

                                                                                    Fotografia: De mãos dadas para o vazio- Sisse


Por um momento único nossos olhos se tocaram.
Por um segundo de calor em  um lapso instigante.
De vitrinas vivas houvera o reclame rápido,
como um raio involuntário.
Enquanto nossas mãos chamaram pela união dos corpos.
Mas eles não estavam prontos.
Detiveram-se nas fronteiras da negação fria, éramos só normais.
Num labirinto de formas nos desintegramos, se tanto.
Como a um estalo de ferro, comum ao ranger dos músculos armados.
Como a uma inversão dos brios, comum à descrença dos inacabados.
Como a barragem dos rios corrompidos na energia, para validar a luz
na cidades dos sonhos dos seres de terra.
Devastamos aguas e morremos na praia.

Ah! Se não houvessem tantas regras, tantas ideias prévias,
tantas banalidades de solidão.
Ah! se houvessem só coragem e coração.
Mas houvera apenas um único segundo desvairado,
num olhar único, denunciante. O olhar de um beijo.
Por um momento de segredo infiel, fugidio e passado.
Amamos-nos, como a onda quebrada  no momento do mar,
é da areia.
Porque é da areia e do mar  o tempo de sal de todo e qualquer amor,
por menos ou quase.

Nós que não soubemos ser do desejo, não beberemos desse sol,
dessa coragem. Fomos fracos.
Mas nós dois, por um átimo de instante rápido qualquer,
nos amamos.
O amor vem primeiro nos pequenos atos falhos,
quando fogem sussurros no silêncio.
O amor vem bem antes na sedução, inesperado.
Amamos no que houvera de perdido e assustador,
amamos onde o amor nos saiu  do controle,
antes de se esvaziar no ar.
Como dois abandonados em temor.
Ficamos desligados, estancamos no inacabado.
Mas amamos.
Nesse espaço vazio, nesse início finado, que agora é desbota.
Nessa cortina de fumaça que nos afasta, e desenlaça,
desfazemos como a uma réstia ácida
encoberta em suas cascas de medo,
como as couraças e seus segredos.

Resta agora a distância, como é longa a distância! diz o poéta!
Como é vazia!
Se não soubemos amar, amamos a dúvida.
Hoje não restamos dádiva do delírio, e talvez nunca o sintamos.
Não soubemos mais que esse couro sem pele de nossos pobres estáticos braços.
Esse será o nosso pecado replicante.
Não soubemos mais que o prévio combinado de medo,
na delicadeza dos infelizes.
Talvez já o saibamos.

Estivemos nus desse desejo encabulado dentro das nossas roupas de carne,
dentro dos preconceitos pétreos, dentro de nossas censuras.
Fomos só distantes, e de distantes ficamos pequenos.
Com nossas poucas palavras exiladas, mas condenadas à libido.
Nossa nobreza será essa, desperta de disparates entre os dedos da elegância.
Nossa pobreza será essa, nossa união será essa,
essa será nossa extravagancia
Essa distância que nos aproxima, num brilho de erogenidade,
enquanto olhamos para o nada disso tudo,
pois o tempo do amor nos atos não se conta em ábacos.

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Inquietude ( O analfabeto poético)



                 Fotografia: Artéria paulistana- Gal Oppido



Vivo do absurdo que sou.
Respiro o alívio da desilusão.
A cada ausência lúdica me refaço,
no abraço da sabedoria dos cansaços,
olhando com o olhar inteiro a amplidão.

Nela me assenhoro dos meus passos.
Vou no enlace frouxo da razão.
Corre no meu pulso sangue brasio.
Sempre há algo em mim que principio.
No peito trago nua essa paixão.

O tempo de lonjuras e mormaços
discorre nesse misto o seu condão.
Na solidão dos homens me repasto.
Por hombridade faço a solução,
a ter que prosseguir passo por passo.

Vivo de existir no que conquisto,
sem ter o passaporte das certezas.
Nem garantias trago nos meus vícios.
Minha alegria é carta sobre a mesa,
dos sorrisos da contradição.

Um dia no outro dia me completa.
Entre os dois a noite me abandona.
O ciclo da vida não é rota certa.
O inesperado sempre vem à tona,
contrariando o solo dos anacoretas.

Sobre os contornos da indiferença,
às vezes quase morto vou à lona.
Abatido por um olhar destro e esteta.
Amasso o barro impuro da existência,
com as minhas mãos, assim ela desperta.

Pouco a pouco, delirante e férrea.
Como uma festa itinerante de querências,
marcada por suas próprias consequências
a questionar-me telúrica e etérea.
Mantendo a esperança irrequieta.

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