Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

terça-feira, 17 de agosto de 2010

De mãos dadas para o vazio ( O analfabeto poético)

                                                                                    Fotografia: De mãos dadas para o vazio- Sisse


Por um momento único nossos olhos se tocaram.
Por um segundo de calor em  um lapso instigante.
De vitrinas vivas houvera o reclame rápido,
como um raio involuntário.
Enquanto nossas mãos chamaram pela união dos corpos.
Mas eles não estavam prontos.
Detiveram-se nas fronteiras da negação fria, éramos só normais.
Num labirinto de formas nos desintegramos, se tanto.
Como a um estalo de ferro, comum ao ranger dos músculos armados.
Como a uma inversão dos brios, comum à descrença dos inacabados.
Como a barragem dos rios corrompidos na energia, para validar a luz
na cidades dos sonhos dos seres de terra.
Devastamos aguas e morremos na praia.

Ah! Se não houvessem tantas regras, tantas ideias prévias,
tantas banalidades de solidão.
Ah! se houvessem só coragem e coração.
Mas houvera apenas um único segundo desvairado,
num olhar único, denunciante. O olhar de um beijo.
Por um momento de segredo infiel, fugidio e passado.
Amamos-nos, como a onda quebrada  no momento do mar,
é da areia.
Porque é da areia e do mar  o tempo de sal de todo e qualquer amor,
por menos ou quase.

Nós que não soubemos ser do desejo, não beberemos desse sol,
dessa coragem. Fomos fracos.
Mas nós dois, por um átimo de instante rápido qualquer,
nos amamos.
O amor vem primeiro nos pequenos atos falhos,
quando fogem sussurros no silêncio.
O amor vem bem antes na sedução, inesperado.
Amamos no que houvera de perdido e assustador,
amamos onde o amor nos saiu  do controle,
antes de se esvaziar no ar.
Como dois abandonados em temor.
Ficamos desligados, estancamos no inacabado.
Mas amamos.
Nesse espaço vazio, nesse início finado, que agora é desbota.
Nessa cortina de fumaça que nos afasta, e desenlaça,
desfazemos como a uma réstia ácida
encoberta em suas cascas de medo,
como as couraças e seus segredos.

Resta agora a distância, como é longa a distância! diz o poéta!
Como é vazia!
Se não soubemos amar, amamos a dúvida.
Hoje não restamos dádiva do delírio, e talvez nunca o sintamos.
Não soubemos mais que esse couro sem pele de nossos pobres estáticos braços.
Esse será o nosso pecado replicante.
Não soubemos mais que o prévio combinado de medo,
na delicadeza dos infelizes.
Talvez já o saibamos.

Estivemos nus desse desejo encabulado dentro das nossas roupas de carne,
dentro dos preconceitos pétreos, dentro de nossas censuras.
Fomos só distantes, e de distantes ficamos pequenos.
Com nossas poucas palavras exiladas, mas condenadas à libido.
Nossa nobreza será essa, desperta de disparates entre os dedos da elegância.
Nossa pobreza será essa, nossa união será essa,
essa será nossa extravagancia
Essa distância que nos aproxima, num brilho de erogenidade,
enquanto olhamos para o nada disso tudo,
pois o tempo do amor nos atos não se conta em ábacos.

http://www.mauro-paralerpoesiabastatercalma.blogspot.com/

Um comentário:

Poesia disse...

Desejar e amar com coragem. beijos