Auto-retrato-1972-P. Picasso
Plantei amizade com a vida, seu fruto tem gosto e tesão.
um pedaço cura as feridas, outro as farpas da ilusão.
Seu vinho bom é de Baco, bebido no ato com pão.
Sou único desse retrato, não tenho reprodução.
Olha que o mar tem um fato, em cada arrebentação.
Hoje nos somos hiato, aonde ontem fomos paixão.
Abri a janela em açoite, entrei pela porta humorada.
Na fenda solar de um corte, vibrei sua gargalhada.
Colhi da boa alegria, a muito encabulada.
Por uma paixão ventania, que deixa a paz dominada.
Fui homem de fino trato, sem patente e sem perdão.
Quem fica bem ao meu lado, aprende a cair no chão.
Beijar a boca da noite, deixando a manhã bem molhada,
enquanto ouve pandeiros, amando de madrugada.
Quando o sol vem pelo cheiro do corpo de quem é amada,
o amanhecer é um tinteiro, pintado na noite estrelada.
Vou caminhando de leve. A minha amizade é nua.
Se vou, sei que volto em breve, para regar a que é sua.
Há um samba que me descreve quando venho, é quando passo,
sinto meu peito em neve, por falta do seu abraço.
A minha vida é de rua, a quem ela é emprestada.
Mas como as pegadas na lua, eu deixo a amizade plantada.
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