Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Disenteria(o trago da seda)

O bobo da corte- Diego Velasques 1644
Quem diria
Quem diria
A espetacular
Oral alergia
Verborragia
Pura gritaria
Auto-psicoterapia
Ira de irar, desvalia.

Gastronomia
Do lamentável
No momento
A servir
Pastel de vento

Sem sentimento
Ou compromisso,
quando isso tudo é só isso.
Sem nada no interior.
Sem fato de fato,
sem nenhum valor.
Soe somente reboliço,
frases no ventilador.
Perfórmance de arte destituída.
Como uma rede sem peixes,
num rio sem pescador.

A palavra corrompida.
Marra morta, combalida,
Na fúria vazia, se é show,
em um  verso sem combate.
Tato que é tatibitate.
E o cão não morde nem late.
O ouro é de tolo quilate,
diverso de versos, estupor.

Quem diria nada disse
Se não disse não falou
Mais que velha e vazia
Tagarelice mais fria
Abaixo do estômago
nos intestinos do leitor

Quase asnice
Ser cretino.
Cretinice.
Cabotino.
A mesmice.
Vira hino.
De conteúdo ruim,
berro
chinfrin.
Birra.
Borra.
Barulhim
bobo,
mirim.

Uma chatice
a mais agrada
à Cleonice?
Um poeta
de pastiche
sem fim.

Ai como é horrivel
um poema previsivel,
fazendo pose de incrível.

Quem quer
disse me disse,
de um  verso
basbaquisse.
Na voz
maritaca
Insiste.
Retite ai é o fim.

Ao ouvido
a patetice.
Bate estaca.
Esquisitice.
Macaco
faz macaquice,
fanfarrão
fanfarronice,
o idiota
a idiotice.
Gaiato
faz gaiatice,
maluco
faz maluquice,
paspalho
Faz paspalhice,
insano
Diz a sandice.

Esse poema tolice,
Maria com melancia.
Quem diria!
Quem diria!
Essa mera porcaria,
cheirando a disenteria,
ia chamar
Poesia.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Poeminha(o trago da seda)

Bira
A vida é universo desabrido.
Aos poetas, lhes cabe
criar nela, os novos sentidos.
.

Zé Limeira no samba(perna bamba é do samba)

Briga de galos- 1951-Djanira
Zé Limeira pediu licença
a Deus para descer do céu
disse que tinha peleja
mas foi é beber cerveja
gelada nas redondezas
do boteco do Leonel

Violeiro bacharel
Lá encontrou Tereza
bonita por natureza
mulata de cama e mesa
Rainha bem globeleza
da comuna do Borel

Vestindo mais de um anel
Zé não foi pra Paraiba
evitando mais intrigas
deu o braço à rapariga
rumou com a tal amiga
a quem chamou de pitél

De provar daquele mel
Tinha vontade inteiro
mas antes foi no Salgueiro
buscar uma agua de cheiro
ouvir o som de um pandeiro
num samba em verso fiel

O cantador menestrel
sem ser um bamba na escrita
pra moça em laço de fita
fêz poesia bonita
deixando a mulher aflita
Limeira fêz um cordel.

Ao homem da Borborema
versador de mote à hora
repique caixa e surdo
ao poéta do absurdo
num galope de entrudo
foram mostrar a escola

A noite rasgou seu vel
Com cheiro de praia Ipanema
furos de estrelas pequenas
do céu desceu lua plena
no firmamento da teima
do brilho de um papel.

Pra ver Zé Limeira cantar
de todas as cercanias
surgiram tantas Marias
o sol já paria o dia
quando o pagode insistia
seu gosto mais popular.

Martelo de baira mar
com rimas da boa aposta
foi uma pequena amostra
o samba é só prá quem gosta
levanta a saia das moças
deixando alegria no ar

Depois de ouvir o pagode
Zé Limeira deu um mote
tirado da sua cachola
Sem querer ser nada esnobe
perguntau pro rip- hop
se sabe cantar Cartola

Como num drible de bola
enquanto ninguem responde
no traficar de um bonde
O rep é o repente longe
com a postura de um conde
Limeira pega a viola

Chamando pra um desafio
A alegria foi tanta
os versos soltam gargantas
mas cantador sacripanta
com a morena se adianta
provocando disvarios

Por conta dos seus carinhos
falava com voz bem mansa
que rimou o fio da lança
com a cavidade da entrança
casando o desejo e a dança
de macho e fêmea no cio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Verão( a puta me encantou)

Lan
O verão chegou à tarde.
Avisou-me pela janela,
usando sandálias chinelas.
Com sua pele que arde

Belas mulheres quase nuas
trafegarão suas belezas.
Com o sol delas com certeza
caminhando pelas ruas

O calor mitiga as tristezas.
No verão brilham alegrias.
Os corpos lotam as praias
como toalhas de mesa.

Então eu saio de casa
descalço de avarezas,
Sunga afeita à firmeza
Procuro chapéu prá calvo

Camisa uso sem mangas
Um pouco volto ao menino
para lavar meu destino
Busco um boteco à sombra

Postar-me onde passem tais moças.
Cumprindo um só ritual,
morenadas por igual,
queimarem-se qual terracota

No verão o sol faz o abraço
de se conter tropical,
faz estima levanta o astral.
Assim com o seu mormaço

Comum é o tempero do sal,
libertando a endorfina,
aumento de adrenalina
para ferver no carnaval.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Garatuja(a puta me encantou)

                                 Trabalho B- 1976-Bernardo Cid

Aqora tenho meu verso feio,
a rima pobre rota e suja.
Caligrafia ou garatuja
descrevendo ao que não veio.
O verso é feito do receio,
palavra escrita de lambuja.
Transpassando com seus veios,
os sustos  intimos das desculpas.
Sou homem feito de outro jeito.
De roupas a poesia me desnuda,
nas nuas palavras sem arreios,
a desafiar as trovas mudas.
.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Gol( perna bamba é do samba)

Gol: Homenagem a Garrincha Newton Rezende

Uma bola bem colocada,
pressupoe uma defesa mal colocada.
mesmo quando ninguém errou,
é o ballét do gol.

sábado, 28 de novembro de 2009

Aluvião( a puta me encantou)

                                Cabeça de proa- Ciron Franco-1982
Amada minha a quem peço perdão.
É do amante, ser obra incompleta.
Do incondicional fluiu a ilusão.
Essa névoa que perpassa o desejo,
olhando para alem de nossos corpos,
dizendo quando há medo, o quanto não.
No vão concreto entre mim e o seu beijo,
tão sério quanto o realejo,
brilha o amor de aluvião.

Ecológico( o trago da seda)

Retirantes-1947-Candido Portinari

A casa é o concreto privado do homem.
Para onde se vai quando o mundo some.
Se ele não tem casa, há que ver seu ontem.
Se ele não tem terra, há que ver seus pés.
Sem terra aonde é que se pisa?
Pensa junto, assim se organiza,
ele se agrupa, e em grupo voa.
Voa sem brisa, ousadia boa.
ainda que o evento estiver quase à toa.
Quando não venta, abafa.
Então o movimento não some,
no barco que se chama terra.
Nessa terra que nivela o mar.
O mar de veras tem caprichos.
Iemanjá, feminina, tem seus vícios.
Mulher é assim, solta os bichos.
Para o Co2 abaixar.

As ondas do mar são salgadas.
Vagas saltam, aonde não têm que molhar.
Encharcam, quando vão ao cume,
queimam de sal, alagam de ciúme,
até ficaram cheias de febre.
Aí onde a Gaia é movimento, é greve,
só o homem pra lhe salvar.
Tem terra, há que ter bioma inteiro.
Tem mata a proteger, aléia,
mateiro gosta de embrenhar.
Mas deram de raspar tudo ligeiro,
acerca desse lugar.

O lavrador que é sem terra,
na lona é que se encerra,
mas nela não quer ficar.
Então ele pula a cerca.
Mas seja com habilidade,
assim vai cavar quimera,
nela plantar semente,
de olhar olho no olho,
colhendo sem ter ferrolho,
sem dela ser penitente.

domingo, 22 de novembro de 2009

Circo literal(perna bamba é do samba)

O grande Circo- 1997- Juarez M\chado

Sempre andei por aí meio bambo.
Nunca tenho ninguém por traz de mim.
Levanto-me maior quando caio
no mundo, esse grande balaio,
"quem quiser gostar de mim eu sou assim".
Com os passos afinados nesse samba.
Quando faço um verso, mordo raios,
na poesia do cordel da corda bamba.

Se eu fosse um anão de circo,
seria alem do palhaço e o equilibrista,
também seria o atirador de facas.
O combo disso tudo é o poeta ativista
Espadachim afiado das palavras,
ilusionista de rimas na avenida dos riscos.
Mas não o poeta maior, o hedonista,
o literato de seda, no papel de capa.

Caudilho dos livros, das academias,
dos chás, das alfazemas.
Outrossim o poeta pequeno,
surgido do dia a dia,
no poema solar e pleno
das licenças de corriqueiras fisionomia.
Essas licenças poéticas sempre eternas,
porquanto valem a pena.

A poesia popular tem pernas,
quando a todo mundo encanta.
Mesmo com pouca rima, é tanta.
Enquanto houver poesia, eu a quero terna
Mesmo quando ela passa por minhas ruas,
e me desdenha com suas mantas.
Parece a mim ela estar nua.
Ela não me espanta, ela canta, canta, canta...
.

sábado, 21 de novembro de 2009

Lei seca(o trago da seda)

Guernica-1937- Pablo Picasso
Escrever é um sacrifício de esculpir palavras em papel, pois a leitura, quando tida por pobre ou não, limita-se a  um ato de classe. Funcional, sofisticado, Inteligente. Origem do pensamento  acadêmico.
Como o espelho nas cavernas de Platão. Reflete em signos, o saber aos  indigentes, dignos de luz na escuridão.
Os miúdos, de baixos olhos quase mudos, quase mudos, diante do mar de ouvidos, na leitura ficam surdos onde há boca, na oralidade que é a fala, constroem o único cais de amarrar na observação.
São essas imagens caladas, as fundas do absurdo.
A escrita é sempre depositária das idéias. Lutar na inclusão, é escrever para os de cultura acadêmica cegos, tendo a poesia na pedrada palavra, sendo as letras fixadas com os pregos, num registro afiado a cinzel, tudo isto num pedaço de papel.
Registro do que o humano pensa, porfia entre esse pedaço de papel  e a desgraça de ser poeta.
A vida é massa renascente nessa sofrida solidão de intelectual, labuta para qualquer escritor, quando um povo não lê, a imolação é nacional.
Não sei, mas é mesmo do não saber, desse vazio da mente, que surgem as ideias. Não saber ler, ou o saber  um mínimo, quase menor que o próprio nome, sempre mantem o menos que é necessário.
Curto limite discriminado, individualmente. Ler é um ato arbitral, sem o qual o homem some, se apaga, perde cidadania desumanizado, mantendo-se apenas peça.
Mais o sei, sei bem dos seus custos  coletivos, suas pagas, nada se guarda na horda multidão de desaparecidos, pessoas perdidas das páginas são números, alieno-gráficos aqui nessa terra, nas ruas, é claro no ato de resistência vulgar.
Como um outro lado da gente, Um custo equivocado desse lugar torrente, dessa gente que é a gente, farto de não leitores infelizmente.
Na cultura da oralidade se defendem, estamos assim. Mais ainda, mesmo assim, uma oralidade desdentada, meia boca, na beirada, uma população deserdada do instrumento crítico. Palavras de banguelas nas ladeiras por onde  a poesia não tem freios. A vida invade o verso na estrada, com o tropel do seu alarde, é seu meio.
A cultura oral é linda, maravilhosa, ancestral em sua forma, é fundamental.
Perfume que descreve as rosa, com as cores híbridas, mas só as que vê.
Oralidade é cultura de consumo rápido hoje, absorvida e descartada de forma instantânea, na pressa contemporânea.
Possuir um saber  sem ter escritura, é aprender por sutileza da língua em si e per si, é tocar de ouvido a prosa, sem saber o que é partitura.
Poesia da observação, da televisão, gestual de impacto rápido e esquecimento. Por isso mesmo tem o tamanho do bordão. pela ancestralidade curta das antenas e dos vãos.
Pela envergadura a língua do poeta é sua arte. 
Bate abaixo da cintura, parte o interior das outras partes. Lá de onde saem as idéias e seus quilates, entre as paredes do mundo, é aonde esta o combate.
Quem quiser ler um romance, ter de um poema a dor ou o sabor, tem que beber uma quantidade maior de cultura anterior. Tem que decifrar os seus destinos dentro da palavra escrita ou interdita.
Porque assim a própria cultura cresce, mastigando o novo pleonasmo não "fake", mitigando a ignorância de estepe para alem da boca, da oralidade, para alem do estrangeirismo pobre.
Fazendo a interface do futuro, cultura é como ter saudade, algo tem que acontecer, para ela existir.
Como vamos tirar os meninos do tráfego do tráfico? Será que alguns desses sabem ler um jornal ? Um manual? Há que abrir caminhos, numa trilha educacional.
O que fazer se à margem da margem, há casamatas nas matas do marginal.
Como parar as balas sem estiagem. Da chuva de pólvora, floresce o paiol desse que ainda verde, liga ao fornecedor, para saber como se monta um Fal.
Quando há um outro menino, assim quisera o seu destino, o de ser bacana, ser legal. Como não é lama, nunca vai preso, mesmo quando da tecos, aperta um fino.
O bacana brilha, o bacana fica aceso, ele o faz quando quer, playboy ileso.
Enquanto o outro, aquele lixo de gente, da um tiro, sem saber pra onde.
Porque quem não sabe nem ler, como vai apreender essa guerra?
Esse morre amarelo nos dois lados da esfera de um mesmo matagal.
Cão de briga é um animal adestrado. Protegido nas alvenarias alheias, habitadas por outros, aos outros atrelados. Também franzinos, centelhas, sobrados escudos sem blindagem.
Esse não faz o outro movimento, mas involuntariamente é seu cimento, é a parede, a barreira, a barricada de proteção, o excremento.
Se esses três meninos pudessem se dar as mãos, haveriam notar o quanto já se conhecem, pois fazem parte da mesma solidão.
Um deles da tiros a esmo, o outro tem de corpo só escudo, o terceiro, melhor  detém capital,  movimento, endola girando essa flama negra, cheirando a fama branca dos que podem e querem se drogar. Esse desejo milenar histórico, esse beijo transnacional. Socorro dos melancólicos. É livre ao homem o seu mal.
Cumpre o seu sustento aquele outro arauto menino estigma, num exílio outdoor.
Comum à secular cidadania ocre e sem o emboço que lhe pinte a face, na carne de dores está a sua casa sem cores. Vive com o que arranca do asfalto, sempre que lá haja o que lhe cave. Um trabalho de cunho popular.
Junta-se a esse Jovem, senhores, homens e mulheres, pessoas dignas. Descem dos seus castelos e penhores, toda manhã pra trabalhar, é a estiva.
Frentistas, copeiros porteiros, zeladores, cozinheiros, garçonetes, enfermeiras, motores, quituteiras de sabores, gente que vai ao fim da feira desce a pirambeira. Gente faxineira, que quer aprender, gente que quer estudar.
Descem das tradicionais ladeiras, encaracoladas vielas arrumadas à maneira habituada das favelas.
Adutores exclusos, inclusos trabalhadores, reservas baratas, oficial barrela.
Eles é que vão sentir nos lombos detratores, os erráticos e seus filhos, vivendo na linha dos tiros, famílias, pessoas, moradores.
Esses castelos fincados são ilhas em um mar de gente, que vive e faz o Rio.
Esses transitam sem ter atalho, no desafio de se encontrar com o outro Rio,
esse que passa a caminho do mar.
Gente guardada nas  encostas, gente na condução. Peão que roda no calo, cola os movimentos na mão.
Talvez fossem mais exigentes, se tivessem um pouco mais de instrução.
Talvez as coisas não teriam esse jeito valentão. Talvez um pouco mais de formação, Talvez então, não seriam reféns, como hoje são esses cidadãos.
Mas pra isso é preciso ler, ler é a cultura da escola, é a varanda.
Da mesma forma há de ser, com nossas escolas de samba.
Quando se lê um livro, a consciência desfila, anda.
Essa gente não tem o Estado, na sua responsabilidade. Não pode esperar o favor, como sendo um helicóptero, caindo sobre as suas próprias cabeças, suas ainda baixas cabeças.
Têm mais que ser pensantes, no alvejar dos tiros de toda a cidade, com o cravejar maluco dos brilhantes.
Traços dados por aquele outro menino, empunhando a arma, que não soube montar.
Para depois com ela mesmo atirar no próprio pé. A morte esta no ar, respira aos desatinos.
Até para montar uma arma, usa-se a arma do saber, não só uma das mãos.
Não saber ler um livro, saber o que é ? Esse é o tiro no próprio pé.
Então em qualquer lugar, com qualquer pessoa que tenha vida, muitas das vezes a vida anda para o lado errado, na hora errada, da manhã à noite, da tarde à madrugada. Pessoas podem aguardar para si, balas perdidas, balas mulambas, balas achadas.
Nessa estica de vida havendo quem compre o cal, quem pagará a larica há de morrer no final.
Fica faltando um pedaço, é uma fratura exposta, como fruta mordida, alguém perdera a aposta.
Assim vai uma vida acabada, rompida,  estancar a marra, nas  paginas do jornal.
Aquele menino rico, aquele do capital, de tudo. Vai saber de tiros havidos, longe e perto do seu quintal, apenas vai achar nessa notícia, o cúmulo daquele absurdo. Um absurdo escancarado, sem apartes, no seu café matinal.
Aquele, que disso tudo escapa, tem uma festa nessa noite. 
Vai levar uma presença para a galera brilhar.
ainda bem que a lei esta seca, assim não vai melar.
Mas se a coisa não vai melar, Porque não legalizar?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mil gols(a puta me encantou)


Polaróide de Pelé feito por Andy Warhol em 1977

Pelé faz mil gols às criançinhas.
Nessa época eu só tinha onze anos.
Driblava a bola dos enganos.
Hoje a já quarenta anos de rinha.

No futebol prá levar a bola,
o corpo tem de se equilibrar.
E o rei negro reina até agora,
em qualquer lugar que se vá.

Quanto a mim sou de mim sem planos,
sou de mim só o ar.
Homem metropolitano,
homem de pedra , mundano,
homem de mesa de bar.

Faço um verso, e sigamos.
tudo que sou vou levando,
até o carnaval chegar.

Tenho em mim o tempo do samba,
vivo sem fazer muamba,
futebol não posso jogar.

Lembro-me só de um rei,
numa noite, colocada a bola,
de máxima penalidade, direi,
do milésimo gol era a hora.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Banho Turco(a puta me encantou)

Serigrafia: João Sena (7 contos tradicionais)


Quarta feira é um dia de paz e tranquilidade, é dia de de jogo, na semana de qualquer cidadão desses que existem. Precisam todos da quarta feira, para respirar mais meia semana de vida ainda a vir pela frente.
É o dia do guerreiro.Noite da cerveja ou do chopinho, noite dos amigos do futebol, noite das notas do cavaquinho, no samba depois do sol, noite do habias-corpus das namoradas, esposas, concubinas, estabilizadas, amadas de toda a ordem; Noite dos homens de rua.
Assim é que a vida segue para quem nela se situa.
Quirino, depois do expediente, já não jogava mais a pelada do Umuarama das quartas,. Mas gostava de frequenta-la por filosofia de vida, pela cervejada com os amigos, pela sauna imbatível e principalmente pela lei da quarta feira. Lei essa que não podia ser desrespeitada, para não perder seus direitos adquiridos por jurisprudência.
Nessa semana convidara o amigo Salieri Junior para acompanhá-lo ao clube, onde pretendia encontrar os amigos do futebol e fazer a sauninha de sempre, fundamental ao preparo do corpo para o segundo tempo de luta da semana.
Depois de um engarrafamento tradicional no jardim Botânico, sobem a Marquês de São Vicente e nas portas de fundos da Rocinha, encravado nas alturas, chegam ao Umuarama. O clube estava às escuras e nenhum sinal de movimento se via , alguma coisa havia de estranho naquela noite. Peralta não estava na portaria como de costume, e até já havia se recolhido á birosca de dona Socorro, certo de que era também sua a  folga nessa quarta.
Embora já tivesse calibrado as idéias com umas goladas de soluço da cobra, cana de garrafão vinda diretamente "da roça" de Cantagalo. Ao ver de longe os faróis se aproximando desce a ladeira às pressas, para atender ao suposto desinformado que, supunha ele,  não sabia da obra nas dependências da casa.
_Boa noite seu Quirino!
_Boa noite Peralta!
_Ô seu Quirino, hoje não tem futebol não, por causa da obra na sauna!
_ O Dr. Ney não falou com o Senhor não?
_Não Peralta ele deve ter esquecido.
_Pegamos um engarrafamento enorme para chegar aqui e esta tudo fechado, mas tudo bem!
Quirino já fazia o contorno na ladeira para voltar, quando Salieri Junior, de supetão, teve uma idéia que a princípio parecia bastante razoável.
_ Quirino! Eu sei de um lugar onde meu pai fazia sauna antigamente, quem sabe se ainda funciona?  Podemos ir até lá tentar?
_onde fica Salieri?
_Eu não conheço nenhum lugar a não ser os clubes, seria o Paissandu ? Lá não é Leblon?
_vamos lá, eu sei que fica no Leblon!
Descem a Marquês de São Vicente, Jardim Botânico, Rumam para o Leblon em busca da quarta feira.
Estacinamento cheio, flanelinha a postos, tudo parece se encaminhar para o objetivo final tranquilo.
Sem muita preocupação, e também sem observar o local, os amigos adentram ao recinto.
Na entrada um balcão simples, com uma iluminação baixa, onde um senhor de meia idade, com discrição habitual dos porteiros, entrega um par de chaves de armário, sem nenhum comentário ou orientação sobre o reduto.
Era um vestiário comum a qualquer clube, com bancos longos e armários numerados nas paredes, onde eles começam a procurar os números correspondentes às suas chaves, sem nenhuma preocupação. De fato distraídos.
Comentando sobre a partida de mais tarde, entre Botafogo e Flamengo, a ser transmitida naquela noite  por cabo. Sem dúvidas merecia uma aposta  em cervejas à altura do evento esportivo.
Despidos, já vestem os roupões brancos e se encaminham distraidamente para um grande salão, onde em um bar de canto, a frente, um pequeno grupo de homens bebem sem muito alarde.
À esquerda três potentes chuveiros em boxes abertos são usados por jovens, que supostamentes saiam da sauna seca logo ao lado.
À direita desse amplo salão havia um grupo de cadeiras, espreguiçadeiras longas e pequenas mesas ao lado de cada uma delas. Também algumas, ocupadas por senhores em silêncio de repouso.
Ao lado direito, próximo ao corredor de entrada, uma escada caracol dava acesso ao segundo pavimento, onde, segundo um atendente nordestino meio sonolento informara a Salieri,  estavam as dependências de sauna a vapor e outros cômodos.
O misto de atendente, garçom e faz tudo, era um magrelo baixinho com fisionomia de nordestino.
Ele atende, sem muita pressa, enquanto organiza um monte de toalhas usadas em um armário, ao pedido de Quirino de um aparelho de barbear para seu uso, e sabonete para o banho e a sauna.
No meio desse grande salão havia uma mesa redonda, rodeada de cinco cadeiras onde rapazes jogavam cartas também no silêncio, sem despertar nenhuma suspeita, enquanto conversavam em voz baixa, provavelmente sobre o jogo.
Quirino e seu amigo se dirigem aos chuveiros para uma ducha, apos isso encaminham-se ao bar para o primeiro pedido de abertura dos trabalhos: Uma gelada para tirar a zoeira do dia, esquecer os engarrafamentos,  e matar a sede do espírito.
O garçom, em si mesmo ocupado, abre a cerveja e entrega aos amigos, que se servem e procuram as cadeiras de repouso para saboreá-las, com a garantia dos direitos naturais e inapeláveis das  quartas feiras.
Companheiros, cerveja vai, cerveja vem, cerveja vai, cerveja vem, cerveja via, cerveja ia, cervejaria não via, cerveja iguaria, cerveja não sabia, cerveja é alegria, cerveja já não cabia, pausa inevitável para o banheiro.
Sauna, eucalipto, Flamengo, Botafogo, zagueiros, barba feita, ducha, impedimento mal marcado, e um certo mistério no ar que se respira.
Cervejas um pouco mais, hora de começar a pensar em um local adequado para assistir a contenda.
Ainda tendo dois quartos de hora para isso,  Quirino resolve então fazer um banho turco, e convoca o velho amigo para acompanhá-lo no andar superior para a sala a vapor ali localizada segundo as informações.
Quirino sobe as escadas caracol bem lentamente, ao chegar ao segundo pavimento, vê um conjunto de três pequenas salas com iluminação vermelha e baixa, onde podiam ser notadas outras cadeiras de repouso ladeadas por pequenas macas no canto de cada uma delas, todas vazias.
A princípio não é possível identificar o tipo de uso que se pode dar a tais salas tão escuras e inóspitas, a princípio é claro!
Para que serviriam? Pensa Quirino consigo mesmo.
_Que estranho!
Apos as salas uma ducha e a porta que conduz enfim à sauna a vapor que procuravam.
Muito ampla e funcionando com perfeição, tem vapor suficiente para não se ver os presentes, por conta da grande quantidade que era liberada nos pontos abaixo das arquibancadas, feitas de concreto e com ladrilhos brancos, onde um tempo depois de entrarem puderam notar um senhor sentado em um dos cantos superiores, embrulhado em uma toalha branca.
Era um homem de idade relativamente avançada, muito gordo, e de cabelos fartos e esbranquiçados ainda mais que o normal, pelo branco vapor enfumaçado que o escondia.
_ Boa noite!
_Boa noite!
Cumprimentos que têm vários  objetivos, de acordo com o local : Marcar a chegada educadamente, observar com a sonoridade, onde possam estar os presentes e também iniciar uma conversa  com a importância das reuniões entre amigos no calor das saunas em qualquer lugar que elas existam. Na pauta: Piadas, brigas provenientes do racha anterior, quando houver um, políticas públicas, falar dos ausentes em geral, mulheres bonitas e gostosas, mulheres não tão bonitas, mas gostosas, mulheres dos amigos e gostosas, mulheres que são feias mas gostosas, mulheres que para alguns são gostosas, mulheres indiscutíveis de gostosas, mulheres que você comeu que são gostosas, mulheres que você não comeu que são gostosas, mulheres que você gostaria de comer e são gostosas, mulheres que querem te comer e por isso são gostosas, mulheres que você não comeria mas são gostosas, mulheres gostosas que você não pode comer por estar em posição de impedimento, mas são gostosas, situações gostosas com as mulheres gostosas em momentos gostosos, qualquer tipo de conversa, desde que seja gostosa, e aquele gol discutivel aos 48 minutos do segundo tempo, claramente um erro grosseiro do juiz que apitava de forma tendenciosa, é claro!
Assim sendo, cabia o início fiado do papo com o presente que estava postado como um Buda fumegante ao fundo da fumaça, quase imóvel. Mas o silêncio era gritante.
Nesse momento entra no ambiente de forma rápida como tem que ser para que o calor não se perca com o ar frio externo, um jovem rapaz de porte atlético, largas espáduas, marcadas por evidente consumo de anabolizantes e esteróides secretos, que são conhecidos dos praticantes das esquisitices fisiculturistas populares um pouco distantes do atletismo. Senta-se ao lado de Buda como quem já o conheça e observa ao Quirino e seu amigo, esses são novos na casa.
Nota tratar-se de pessoas desconhecidas do local, mas mesmo assim, é de pouca fala e fica calado.
Como quem quer puxar um assunto, Quirino, que não obtivera com sua conversa nenhum sucesso com o grande Buda, faz a mais ingênua pergunta ao jovem; Com a curiosidade de uma criança, pergunta:
Para que servem aquelas salas iluminadas de vermelho que havia visto na entrada, próximo à escada caracol?
Pergunta que causa um certo desdém professoral ao jovem, que de forma clara e objetiva responde:
Aquilo é local para foder meu caro, Você está em uma sauna guey, ainda não percebeu o ambiente?
Cinco segundos patéticos ocorrem, silêncio, e Quirino não consegue segurar uma larga e estrondosa gargalhada, que é ouvida até na calçada do estacionamento em frente à casa.
Nessa crise de risos ininterupta, olha para o amigo Salieri que assustado com a informação ouvida, se desespera em um estado de nervos tão grave quanto a sua própria necessidade de ir embora dali, como se sua masculinidade e sua sexualidade, tivessem sofrido o abalo irreparável de um terremoto.
Salieri desesperava-se a olhos e corpos nus. O que?????
Diante do espanto da cena, Buda que até o momento mantivera-se como um monumento estático de pedra pronuncia a frase mais Confuciana que poderia ocorrer naquele momento:
 _ O que é que tem de mais meus amigos?
_ Qual o problema?
_ Fiquem tranquilos, aqui isso não tem nada de mais!
Mas para Salieri tinha tudo, e demais na conta, depunha contra a fama de sua masculinidade, e de seu próprio pai, já senil e aposentado.
_Ra rararararararararararara!!!!!!!
Quirino não segurava o riso, não conseguia o fazer diante da resposta, inusitada para ele, Raarararararar!
_Calma, falava buda com a fleuma de um monge homossexual em seu templo de culto e meditação, aos dois incautos, novos possíveis dicípulos.
Estes por sua vez tinham atitudes díspares diante do equívoco de estarem naquela  situação disparatada para ambos.
Enquanto Quirino não conseguia parar de rir em nenhum momento, Salieri se asustara tanto, que esforçava para estar longe daquele lugar, o mais rápido que pudessem, num estado de nervos que poucas vezes seu amigo o havia visto.
Desceram as escadas com velocidade, diante do olhar de uma platéia de homens que não acreditavam no que estavam assistindo.
Era, sobretudo uma comédia.
_ E se alguem reconhecer o meu carro aqui na porta? Dizia Salieri desconsertado com a situação.
_ Rarararararararara !!! Os risos ininterruptos de Quirino.
_ Calma meu rapaz, você esta numa casa de amigos, pode ficar tranquilinho, dizia Buda, enquanto junto com seu amigo informante, também descia as escadas. O que mais ainda provocava os nervos de um rigoroso e aterrorizado Salieri, se contrapondo às inevitáveis gargalhadas de Quirino.
Esse de fato ainda não tinha percebido a gravidade do momento e do local, não tinha a menor pressa em correr por isso.
Nada de banho, nada de papo, rapidêz para evadir do local e não deixar nenhuma marca de sua presença em evidência, vamos, vamos, vamos rápido sair daqui.
_ Vambora, vambora, vambora daqui rápido e agora!
_ Ahhhhhhhhhhhhh! Calma, repetia Buda. Rararararararararar!!!! Gargalhava Quirino.
_ O que é que tem bobo! Não tem nada de mais aqui! Pode ficar calmo.
Entram no vestiário onde agora outros jovens chegavam e não entendiam a confusão. Todos ohavam atônitos para a bagunça criada, para aquela confusão.
Quirino vestia-se devagar pois não conseguia parar de rir, Salieri vestia-se com a pressa de um corredor dos 100 metros rasos, tamanha era a sua urgência de ir embora. Isso já era hilário.
Salieri pagava já a conta sem questionamento e sem querer o troco, enquanto Quirino ainda rindo, calçava as meias e os sapatos, sentado num banco diante do espanto geral da plateia.
Nada de cartão meu amigo, vou pagar é no dinheiro, mas seja breve nos cálculos por favor, tenho que sair daqui o mais rápido que poder, minha vinda foi um engano, um lamentável engano.
Vamos embora Quirino, eu já paguei a conta, vamos sair daqui.
Perdi a vontade de ver esse jogo, eu vou para casa.
_Rararararararararararararar...

sábado, 31 de outubro de 2009

Herança(perna bamba é do samba)

José Spaniol, Cadeiras

 Não se chega a Leminski,
sem trafegar em Quintana.
Um dia eu vi que Lya,
comeu dos doces de Cora.
Paulinho não é Paulinho,
Se não bebesse Cartola.
Cacaso não teria mar,
acaso não houvesse Cecília.
Até mesmo Gullar,
esse poeta  dos bons,
uma noite o ouvi falar
do apreço por Drumond.
Em todo contemporâneo,
esta a marca, a quilha.
Tem sempre um pouco do crânio,
do que o antecede na história.
A poesia desencadeia livre,
pagina após página,
o instantâneo.
O caminho é mesmo assim,
revive, comove e move seu id.
Isto é pulsão, arquivo,
depósitos da memória.

Riscos de amar VI(a puta me encantou)

                                                                                       1925 - 1930 / Lipchitz
Pierrot com Bandolim

Dói o amor não há morfina, graduação, não há unguento.
Ninguém pode avaliar nessa dor individual, seu sofrimento.
É uma dor tanto maior, quanto menor é o esquecimento.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Augustos Anjos ( a puta me encantou)

Nú em Pé - Elvira - 1918- A.Modigliani

Com o caráter que a necessidade clama,
seguem  com os olhos firmes de guerreiras.
Buscam nas ânsias do desejo, passageiras,
o bônus a lucrar na forma financeira
das saias curtas, ao despir Copacabana.

Mulheres que ganham vida com os corpos,
introjetando os desejos de outras damas,
Jésicas, Íngreds, Doris, Yasmins, Alanas,
com seus portes de aluguel, flanam ciganas,
assim chamadas nas efígies dos devotos.

São corpos belos de servis augustos anjos
a contemplar a mais ansiosa solidão,
das ambulantes circulando o calçadão,
por  poucas cédulas jogam-se ao chão
intimas peças, divulgando-se  em esbanjo.

Nesse esforço de bons serviços prestados,
produzem chamas incendiando a terceiros,
cantam proclamas dos amantes trapaceiros,
retumbam forte o som bumbo dos legueiros,
nas poucas horas de estartar apaixonados.

E nessas tardes de tão traídas esposas,
sem muito alarde caminham as poderosas.
Têm o segredo de adúlteras pétalas de rosa,
vestidas do vermelho vulto das gostosas,
nesse horário de verão das mariposas.

Fazem tão bem, sem olhar mesmo a quem,
num pegue e pague dos músculos d'alegria.
Mucosas portas abertas sem a alergia,
dos preconceitos que a própria vida procria
neste ato, alegres às vezes o são também.

Felicidade que se conta contra as horas,
tudo que finda desfaz em si os segredos,
como as fadas amantes dos arremedos.
Essas moças reproduzem seus enredos
depois apenas simplesmente vão embora.
.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Anjo da guarda(perna bamba é do samba)

Péricles

Um ser divino e bom.
Como uma cerveja gelada.
Para os boêmios veio garçom,
vestido de todo branco.
Lembrando o dia no tom.
Da noite é o anjo da guarda.

Não é um anjo qualquer,
o cargo exige a idade.
Quanto mais velho estiver
o paletó e a gravata,
é prova de autoridade.
Nele se deve por fé.

Esse guardião da noite,
nas mesas foi consagrado,
forja e senhor da corte,
dos lábios de embriagados.
Testemunha de toda sorte
de breu dos apaixonados.

Estertor que a si encera,
arriba o  sol com portas de aço,
lavando os pés dos homens,
como a dizer-lhes os passos,
diante do que já é ontem.
A rodada é última, a do abraço.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Pressa(o trago da seda)

Desintegração da percistência da memória 1954
Salvador Dali


Os dias não têm pressa de passar ligeiro.
Isso é coisa dos homens que correm,
para o lugar onde o tempo é do dinheiro.

Será que lá a sensatez chega primeiro?

Poemeu(a puta me encantou)

                    
Palhaço- 1980- A. Poteiro
Que mico !
Demorei muito tempo para aprender a cair no chão,
como palhaço de circo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Lamento( a puta me encantou)

 
                  Os Amantes Desenho Bateau-Lavoir 1904 Oca-P. Picasso

Busquei em mim uma saudade
do fato, e ela não havia.
Amei seu corpo num ato
de procura da alegria.
Como quem toma um café
numa manhã de padaria.

No som agudo do trompete,
um passaro chamando o dia.
Você vestida num corpete,
menor do que lhe cabia,
fazia sexo, mas não ardia.
Tudo fazia o nexo das terapias.
Todo quase nesse momento,
Quase acontecia.

Vadiamos no cumprimento
do prazer, da liberdade.
Mas quem não sente saudade,
perdeu os espelhos de dentro.
É Por isso meu bem que na verdade,
eu lamento, eu lamento.....

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O trago da seda(o trago da seda)

Independência, 1969- Di Cavalcante

Matriz, Quieto, São João,
Fallét, Fogueteiro,
Macacos e Gambá.
Pau da bandeira,
Juramento e Alemão,
Urubus, Salgueiro,
Casa Branca, Prazeres,
Tuiúti e Arará.

Reféns de quem?

São Carlos, Mangueira, Jacaré.
Jacarezinho, Muzenza, Chácara do Céu,
Santo Amaro, Mineira, Sapê
Do Zinco, Coroa, Coréia e Borel.
Cabritos, Formiga, Tabajaras,
Caniço, Pavão-Pavãozinho,
Do Castro, Baronesa e Das Araras,
Telégrafo, Rocinha, Escondidinho.

Reféns de quem?

Batan, Bispo, Fubá e Pedra Lisa
Indiana, Engenho da Rainha.
Dona Marta, Do Adeus, Camarista
Arrelia, Cruzeiro, Catrambí e  Carobinha.
Do amor, Padilha, Dendê, Curupatí
Praia da Rosa, Favela Tijuquinha,
Coqueiro, Bela vista, Vila Jurarí
Cachambí, Barro Preto e Lagoinha.

Reféns de quem?


Angú Duro, Turano,Vai quem quer,
Buraco Quente, Da Ilha, Bananal.
Chacrinha, Serinha,Querosene, Da Maré
Tavares Bastos, Carrapeto, Vidigal
Humaitá, Anil, Sossego e Sumaré
Do Galo, Do Rato, Do Urubu,
Da Bacia, Babilônia, Timbaú,
Mata Machado, Tijuáçu,

Reféns de quem?

Da Moreninha, do  Caramujo,
Chapéu Mangueira, Mandala, Do Estado,
Nova Cintra, Santa Alexandrina
São Januário, Capim, Ferreira de Araújo,
Araticum, Rato Molhado,
Mangueirinha, Maloca, Caxambú,
Cerro Corá. e Cabuçú, Borda do Mato,
Rebú, Cafubá, e Morro Azul.

Guetos fechados,
a olhos nus.
Para o Estado
Parecem pus.

Gente de origem pobre,
que tem caráter reto.
Vivendo por coragem,
a quem descaso encobre,
com muita autoridade.
Droga e legalidade.

Reféns de quem?


Tem que morar por perto
do trampo, viração,
transporte incompleto,
Te contei, Caracol e Grotão.

Nova Brasília e Frei Gaspar,
Da Alegria e do Sabão.
Cidadania, devia ter lugar,
Parque da Cidade,
morro do Cavalão.

Legalize, Porque não?

Morro da Liberdade,
Guararapes, Do Canal,
Parque Felicidade,              
Retiro, Vigário Geral.
Julio Otoni e Caxangá,
Da Cruz, Bpo e Pica-Pau,
Guaíba,  Carirí e  Changrilá,
Providência e a vila do general.


Reféns de quem?


Contra o dragão da maldade
não tem santo popular.
Legalize, legalize,
legalize já.

Reféns dos  rifles e das chacinas,
maconha, crack,
fuzil e cocaína,
juventude morta
é coisa que não rima.
Baixa escolaridade
também é assassina.

Reféns de quem?

O pente que solta bala
na cabeça da auto-estima,
também põe a pistola
nas portas e nas esquinas.

Quem não sabe a solução?
Quem vai viver para contar?
Quem atira em avião?
Quem é peão no lugar?

Se a vida não quer matar a Vintém,
só quer mostrar que respeito faz bem.
.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ofício de poeta(o trago da seda)

A Morte de Pablo Escobar-sem data- F. Botero
Nesse ofício de poeta
não há fácil nem difícil.
Juntar palavras em espaços, 
jogadas como procela,
do alto do edifício
do seu próprio precipício,
como os tiros nas favelas.

O que pensa um poeta,
é uma porta sem tramela,
uma casa sem paredes,
sem teto, só com janelas
diante do tiroteio.
O verso não tem rodeio,
a rima feio com feio
é o que faz poesia bela.

O que sente um poeta
na alma de cidadão,
é como se a palavra esteta,
com a beleza incompleta,
formasse a contradição.
Enquanto esse  estafeta
traz a mensagem certa,
por via da contramão.
.

domingo, 18 de outubro de 2009

Mudança(a puta me encantou)

Retrato de Sochsha- Lasar Segall- 1912
Mudei minha razão um dia,
passei a viver de emoção.
Em mim só sentido havia,
onde havia coração;
Mas aí veio o dia-a-dia,
cotidiano padrão.
Eu que era só poesia,
já no modal não cabia,
quase virei solidão.

A solidão é um desvario
de reclusão interior.
A convivência é difícil,
para quem tem no amor
a persistência do início,
como uma marca, um vetor,
de solstício a solstício,
como se fosse vício
dentro da sua própria dor.

sábado, 17 de outubro de 2009

Viradavida(o trago da seda)


                 
Foto-Marcel Gautherot

Vida o que é isso,
o pai que me pariu,
depois sumiu 
sem compromisso.

É mágico da vida
reproduzir seu feitiço.
Vida... vida... vida...
Enquanto ela acontece,
eu aqui so me espreguiço.

Vida... vida....vida...
Da nascente ao sumiço
parte parece o mel ,
parte padece ouriço.

No pé que pisa valsa,
tambem pisa suplício.
quem é parido sem calças,
resiliênte é no víço.

Vida... vida... vida.....
o que é isso...

O tempo contado no início,
meio, metade e fim.
Se o existir é movediço,
mede-se assim... assim....

Mede-se assim... assim...
No compasso dos seus feitos,
nada há de ser perfeito,
seja de bom ou ruim.

Um tanto é de ser abraços
o outro é de ser sozinho
só o contar desses laços
pode medir os passos
que fazem surgir caminhos.

meta de sol é sol
meta de lua é lua
metade da vida é sonho
outra metade é crua

A terra gira em seu tempo,
a vida é nele que atua.
Quem não tem medo de cama,
se não tiver quem o ama
ama quem passa na rua.

Viradavida é vida...
Vida o que é isso....
.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Você(a puta me encantou)

            Mulher nua-1984- Luiz P. Baravelli

A moça de traços finos
olhava como quem esgrima,
tinha olhos pequeninos,
no olhar tinha auto-estima.

A moça de traços finos,
tinha dois namorados,
na verdade eram meninos,
nem foram apaixonados.

A moça de traços finos,
inquieta como as artistas,
trazia olhares alpinos,
como quem olha delícias.

A moça de traços finos,
gostava de ouvir os livros,
nutria por eles mimos,
passava-lhes olhos vivos.

A moça de traços finos,
seu nome não sei dizer,
chegou como desatino,
dei-lhe o nome de você.

Você tinha pele pêssego,
cheirava a cheiro de prosa.
Era de tirar o fôlego,
na langerie cor de rosa.

Sabia que era gostosa,
você falava idiomas,
tinha o olhar de gulosa,
beleza de fogo em Roma.

você molestava o silêncio,
aguava o corpo também,
como um poema de Ascenso,
na cama logo de quem?

Sorria como um anjo,
que um dia fugiu do céu,
para gozar com esbanjo,
os prazeres de um bordel.

O vento ao ve-la nua,
bateu forte na janela,
soprou no ouvido d'árvores,
dizendo o quanto era bela.

Choveu muito, e a tarde chora,
a noite chegou quieta.
Você me disse: _ Vou embora!
levando o olhar do poeta.

Levou o corpo com os olhos.
Contente, calma e completa,
mas levou tambem recordos,
dura poesia concreta.
.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

É lis(perna bamba é do samba)


                           Estudo para retrato de moça. Caneta esferográfica sobre papel
                                        Siron Franco


O tato expõe seu corpo à minha pele,
em dedos deslisantes de verniz.
A graça do seu beijo voa garça,
no enleio da aventura de aprendiz.
O sol queimou o ceu furando nuvens,
arrasta ao ralo a tristeza matriz,
na ideia de que a vida so tem graça,
se é viva por motivo de pirraça,
na massa que compõe sua matiz.

Viver é mesmo muito parir gozo,
nas veias desse afan de ser feliz,
nem todo dia tem de ser gostoso,
e o outro apos a noite, nunca é bis.
Eu que nunca quiz ser corajoso,
covarde tambem nunca eu o quiz.
Espelho-me no mirar do seus olhos,
visão de tão efémeros esporos,
onde germina e doura a flôr- de- lis.

domingo, 11 de outubro de 2009

Pois é(a puta me encantou)

Bordel-1982- Carybé
O coração de um solitário peito,
na falta de um grande  amor,
fica repartido entre amigas do leito.

sábado, 10 de outubro de 2009

Subúrbio(a puta me encantou)

O beijo.
      Rubem Gerchman




Comeu uma língua de seda,
bebeu uma dose de Sade.
Ela então subiu ao céu,
mordeu um tanto de estrelas.

Verteu mel entre as pernas,
gemeu doce e brilhante.
Trazia os olhos de eterna,
enquanto inspirava ofegante.

Quis tudo aquilo que  fosse,
o amor tem suas veleidades.
De mim mesmo tomou posse,
seu corpo cheirava à saudade.

Tinha as nuvens do tempo
nas marcas da realidade.
Era inteira, era toda.
Era idade da loba.
Era bela mão boba.

Boque de amor cama e gozo;
era a mulher radiante.
Mas nesse seu instante todo,
Deixou  uma verdade elegante.

Tomara que de novo a tenha,
antes porem que ela vá embora,
para o distante da Vila da penha,
e eu fique  na escada da  gloria.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O trampolim(perna bamba é do samba)


Os gêmeos

Quando faltam as palavras,
mas sobram sentimentos,
fico prisioneiro de mim.
Nas  grades de ferro, os fatos,
sem conseguirem relatos,
Condenam os pensamentos.

Com um cárcere nas ideias,
as vozes desses momentos
uivam intestinas;
Lobos em alcatéia,
sem ter por onde sair.
Eu trago a tarde nos olhos,
as falas exalam poros,
de absorver existir.

Nos meus desejos de ir,
mergulho em mar de abrolhos,
querendo exilar, partir.
Então Crio o verso e o entorno
como um salto de trampolim .

Olho com olhos de ventos,
Ciclones, tufões, tormentos,
paredes de apartamentos,
lembrando-me do poeta.
Que  saltou intranquilamente,
de si próprio descontente,
na vida demais inquieta,
em todas as horas do fim.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Na fé(a puta me encantou)

Abstrato, 1984- Manabu Mabe







Da o papo, solta a língua,
manda qual o proceder.
Na disciplina da vida,
a real é o vamos ver.

Fica atento na malícia,
na moral, no apontamento,
pra não passar o momento,
da sua hora propícia.

Existir é uma inteira,
mas tem que pagar pra ver,
mesmo com desilusão,
nas paradas de sofrer.

Não da mole de bobeira,
evite a vacilação.
Gavião que é de fronteira
fica atento na missão.

O tempo, meu bom,não erra,
é fera ferindo fera,
no bonde do acontecer.
Tá ligado na guarida,
fica atento se aplica,
tá na lida, vai viver.

Ta  maneiro, então fica,
no amor a bola quica,
se tem medo mete o pé.
Vai na fé e não complica,
vê se acha a saída,
na deriva da maré.

Deixa  de onda , se liga,
vai na paz de frente siga,
sai da fila quem quiser.

Central do Brasil( perna bamba é do samba)




Grafite- Vermelhoqueimado


O trem na central tem lotação esgotada.
A porta se abriu,
Sociedade civil paga pra levar porrada.

O trem pegou fogo em Triagem
de novo
Transporte público não é bobagem

O trem de Japerí pegou fogo
de novo.
Queimou a paciência do povo

O trem queimou Saracuruna
de novo.
Pegou fogo na comuna

O trem descarrilou aonde moro
de novo
Bem pertinho lá de Deodoro

O trem do metrô também ganha fama
de novo
quebrou la na Uruguaiana

Descaso, abandono e muita tristeza
descarrilaram de novo
com mortes em Santa Tereza.

Outro descaso evidente reluz
O trem para súbito
antes de Oswaldo Cruz
.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Yang-yin(a puta me encantou)


Yin Young-2002-Dinho Fonseca


Primeiro você é amiga,
ai vem se dar para mim.
Depois então você briga,
vai embora, faz intriga,
parece até que é o fim.

Briga porque quebro barreiras,
supero preconceitos em você.
Quebrando-as, a faço inteira,
quer você queira ou não queira,
eu passo a ser um prazer.

Quando a conheço por dentro,
entro e saio, saio e entro,
reviro seu pensamento,
rasgando seu corpo jasmim.
Penetro bem nesse corte,
mas não resumo tal sorte,
a um lençol de cetim.

Não entro só no seu corpo,
gosto de invadir coração.
nessa terra, nesse horto,
germinam os sentimentos,
onde com calma e intento,
procuro  plantar emoção.

Por isso é que você volta,
E nos viramos folhetim.
Paixão não tem escolta
guardiã em terracota,
então ficamos assim.

Assim sem pé nem cabeça,
para que você não se zangue
para que você não se esqueça,
o tao é espontânea natureza,
e o ato do amor yang-yin.   
                        .
 mauro-paralerpoesiabastatercalma.blogspot.com

sábado, 26 de setembro de 2009

A fala estende o corpo( o trago da seda)

                         
                                                                                                Edvard Munche _ O grito



A palavra rasga a cara,
a faca da boca é a vóz.
O silêncio que te mata,
reproduz nó na garganta.
Pois tira do medo a manta.
Conta,  relaxa e canta.

A fala  afrouxa a gravata,
 liberta, humaniza, relata
o pensamento, não é algoz.
A lingua bem empregada,
na sintaxe faz passeata
do sentimentos e da razão.

Quando uma vóz a mais fala,
relata o humano instante.
Desnuda os significados,
inpacta os significantes,
num discurso coordenado,
retratando essa união.

Por isso fala !
Mas fala a palavra inteira,
não deixa que ela fique na beira,
não a perca no cadafalso
de sua própria repressão.

A palavra que pisa em falso,
vira ato falho.
como um recorte ou retalho,
que deixa faltar pedaços,
na clareza da direção.

A pessoa articulada,
sabe domar a lingua que fala,
o que não é coisa pouca.
Quem fala tem o domínio
completo do raciocínio,
exposto com lucidez de opinião

Fala, abre essa boca,
da assim liberdade à alma.
Respira e fala com calma,
que fala e corpo é um todo,
refratário á solidão.

Porque só veados e mulheres Andam falando de homens ( o trago da seda)

Festa-1992-Gregroy Fink

Estávamos ali sozinhos bebendo a Magnífica, enquanto pensávamos de quão pouco hoje algum homem fala do próprio homem.
Que solidão de macho! Que custo ao patriarcado!
Qual o universo desse guerreiro que recebeu a mulher no seu espaço e generosamente, ou não, o dividiu.
Ali com leveza e inteligência ela se instalou. Mas o feminino não é nenhum animal diferente, é gênero, embora às vezes pareça que sim. É que homem não discute relação, homem relaciona bem sem isso e pronto.
Tão bem instalada foi, que ela, a mulher, é de longe a maior frequência nesses encontros de estudos da masculinidade. Encontros esses bem raros.
Olha que situação....
Acho até certa essa situação, mas o pessoal do encontro deve demitir a assessoria de imprensa dessa organização, ... Fazer um encontro legal, dessa maguinitude , encher a casa de mulheres, e não chamar  a rapaziada? 
_Hum! Sei  não!!!!!
No mínimo isso é uma indelicadeza de género.
_ Sei não!!!!!
Será que essa moçada não sabe ainda que não dá mais pra seguir sozinhos sem a presença tão fundamental delas?
E depois tem o seguinte:
Homem que é homem discute masculinidade é no meio delas, sempre foi assim, A mim me parece bom.
Isso mostra quanto ainda temos que caminhar.
Então vamos apoiar os encontro de homens com os homens,  e também com as mulheres, delas com elas mesmas, enfim, de quem quiser com quem quiser de fato, Com honestidade e clareza.
Sem pensar muito, a coisa é o seguinte: Os homens devem se discutir sim, mas com as comadres ao lado, senão vira clube das bolas.
Fico meio bolado com isso; Vira assunto de cunho delicado.
A coisa é simples ......Tim Maia já dizia:
_Agora vale tudo!!
A mulher aprendeu masculinidade com os homens, não foi com as árvores, está na hora de aprender a falar de homens com as mulheres.
-

Assim é que é- III(a puta me encantou)

Roda de capoeira- 1953-Santa Rosa


Eu te dei o braço,
quase fui ao chão.
Você perdeu o abraço,
eu perdi  tesão.
Passo um laço aperto,
eu e o João.

Pode ser mormaço,
larva  de vulcão.
Pode queimar laços;
Mesmo com os esgarço,
eu não caio não.

Por que chão eu conheço,
como as palmas das mãos.
So  com meu alento,
vou pagando o preço
vivo da razão.
Pois com ela pago,
outro passo a passo,
ando coração.


Quanto ao seu olhar,
vai levar tristezas
todas prá  chorar.
Clara é a certeza,
nunca ter firmeza,
em visão vulgar.

Vai cair por terra,
com sua vida besta.
Verdade se expõe à mesa,
da existência destra.

O  cancer vai  chegar,
em  seu peito mesquinho,
morto sem carinho,
solidão sem par.

Enquanto você vaga
sua vida no que caga,
sem ser gente, so parecer.
Vocè é mesmo uma merda,
que estraga com seu cheiro,
Qualquer olfato parceiro,
de quem se deu prá você.

Farinha podre é pirão azedo.
Aprendeu roubar no estrangeiro,
da honestidade tem medo,
infeliz sem paradeiro,

Veio  então ladra e burra.
ponta em faca esmurra
só prá ver sangrar
falsa criatura
má fé na postura
não é se postar.

Ao meu lado fazendo feio,
roubando a paz que te recebe.
Bebe da desgraça e mente,
que é mesmo o que prefere.
Daqui vai sem nunca ser gente,
ferir-se com o ferro que fere,
que a morte te parta ao meio.

Vadia filha da puta,
que sua vida seja curta,
doída para sofrer.
Vá com o diabo agora,
pessoa de se jogar fora,
Pois vá com ele se foder.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pequeno prazer( o trago da seda)

“Uma Noite Estrelada sobre o Ródano”-1988- V. Van Gohg


Gostava muito de olhar para o ceu á noite.
Era um desses prazeres simples da vida, desses que às vêzes a gente perde dentro da gente mesmo, escondido num canto interno de arquivo do tempo,  guardado noutro espaço da história.
Ainda assim se segue vivo apesar da perda acontecida, malgrado essa falta de sorte, onde é dela, da perda, a vitória; Tem certas coisas que imprimem na memória, e essa era uma delas.
Hoje  se tem a vista mais curta, no entanto me parece que se vê mais por isso.
Porque se o olhar ficou pequeno, ficou mais íntimo, instintivo, e até minimalista mesmo.
fugiu do sereno, não  bebe mais lua no meio da rua.
Houve um tempo em que Ipanema brilhava nua, houve outro em que a felicidade até andava ao seu par.
Acho que  ela caiu no chão, e sem querer arrastou as estrelas, como quem puxa a toalha bordada da mesa do ceu para tentar se equilibrar.
Elas cairam então consigo e deixaram la em cima só o negrume nublado.
Agora parece que não existe mais brilho, a vida virou um breu, é o dia.
Entrou mesmo a existência em estágio de sítio, se redefiniu na tristeza e seguiu em frente; Triste, doida, mas mesmo assim simplesmente viva.
Apenas viva e mais nada, mais ainda assim, ficara na lembrança a ideia de gostar de olhar para cima e ver uma luz,  qualquer coisa de brilho naif por lá.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Se Drika vier(a puta me encantou)

Estudo de Nú Saindo do Banho-1984- Enrico-Bianco


Drika Carvalho veio com a chuva
Pecuniária tinha uma vulva
Trazia a boca como uma luva
Terá marido? Será viúva?

Drika Carvalho tem olhar sábio
Segue as estrelas sem astrolábio
Tem um sorriso dentro dos lábios
Nos meios, outro, belo cenário

Quem será ela? Tem namorado?
Quem lhe abraça apaixonado?
Se solidão, isso é errado
Agora então a quero ao lado

Se disser sim, serei seu mago
Farei um samba, tocarei fado
Para seu gozo serei tarado
Dar-lhe-ei colo, serei beijado

Quando seu corpo sentir mais frio
Vou esquenta-lo num rodopio
Serei parceiro, serei seu cío
Nessa explosão serei pavio

Mas se a vida for coisa pouca
A poesia lhe tira a roupa
Vai  lhe chupar com toda boca
Até ela gritar de ficar rouca

E quando o tempo mais acalmar
Seguir seu rumo de alto mar
Levarei Drika pra passear
Se ela vier, vou  me casar

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sex! Sex! Sex!(a puta me encantou)

Fausto-1976-H. Carybé


_Eu gosto muito de você, disse -me ela ao pé do ouvido com voz de cumplicidade, sem que ninguem notasse alem de mim.
Isso não era de todo surpresa, pois viviamos juntos para todo lado, e ela sempre deixava brechas de desejo em seus gestos e em suas atitudes sempre carinhosas.
Mas ali estavamos a trabalho,  a tia nos indicara com as garantias de satisfação.
A tia era ela mesma uma garantia, uma tradição na Mauà, era certeza de trabalho, sua palavra era empenho e trabalho certo, uma agente confiável, e alem disso havia recebido antecipadamente pelo atendimento Vip; Portanto o Momento e o desejo mais adequado nessa situação,  é o do cliente. No caso , os Chinas.
O casal de orientais pagou, e muito bem diga-se de passagem, pela noite que queriam. Resolviam parte de meus custos aqui no Rio por um mês, isso já descontados os cinquenta por cento, e ainda sobraria algum para o "braith". Não cabia paixão alí. Eu estava resolvido a não prestar atenção a nada que pudesse desconcentrar minha atuação para alem de minha própria ereção necessária.
O prédio era discreto, com uma portaria austera e um vidro blindéx que tomava toda a fachada de pé direito alta, demonstrando um aspécto arquitetônico da década de cinquenta modificado pelo conceito de vidro da atualidade.
Após o anúncio pelo interfone externo, por onde o porteiro demorou um pouco para entender quem éramos, onde íamos e nossos nomes, só então subimos por um elevador amplo e com um grande espelho ao fundo, ela aproveitou para dar um último retoque nos cabelos com as mãos, e retocar também o brilho nos lábios, acentuando a aparência "Pin-up produzida". Um toque de sensualidade que lhe caia bem para o ofício, afinal a aparência é o que se compra.
502 é aqui! disse-lhe secamente em um tom que não fosse muito alto para o corredor escuro e desconhecido.
Uma porta com poucos detalhes em cor de jacarandá estava em nossa frente, não sabíamos o que ou quem estava nos aguardando por trás dela; O primeiro contato visual é sempre uma surpresa para ambas as partes, acompanhada do sentimento de primeira vêz novamente. É sempre assim quando se abrem as cortinas do desejo alheio.
_Sex! sex! sex!
Gritava a madame em português mal acabado, num desarranjo de sonoridade gutural mandarim. Pareciam Coreanos de Taiwan, sei lá...
_Sim! Sim! Se sex em mim! Respondi em tom de brincadeira infantil, afinal todo turista é um pouco mimado como uma criança.
Enquanto tirava minhas calças, eu deixava o corpo disponível para o prazer aos desígnos da senhorinha de aparência fina, pele clara, cabelos negros e curtos cortados à moda ocidental, mas tão lisos que deixavam a evidência de sua origem asiática escorrer pelos ombros.
Os olhos eram  miúdos e pareciam ávidos pelas aventuras e os  segredos íntimos do universo da sacanagem. Um sinal universal de que sacanagem é como o dinheiro, não tem pátria.
O corpo era pequeno e muito esguio, embora demonstrasse já passada meia idade. Parecia querer expulsar desejos que a mim não cabia discutir quais, mas no fim da questão satisfaze-los dura e o mais plenamente possível.
Vestia um traje exótico de seda vermelha bordada com minúsculas flores douradas na parte superior, com uma gola curta no entorno do pescoço fino, adornado com uma gargantilha onde se podia ver um pingente; Um anagrama indecifrável em um decote aberto generosamente no pequeno busto, deixando-o quase livre, pois notava-se os bicos endurecidos dos seios evidenciados na seda lisa que descia até o tornozelo.
Estava sem peças íntimas por baixo dessa veste delicada, com aberturas laterais ao longo das coxas finas e brancas, tão brancas que era possivel notar os traços de alguma veia saliente sobre a pele.
Calçava uma pequena sapatilha aveludada preta, com um camafêu de pedras na pala superior que cobria quase a totalidade dos pés pequenos e delicados ali calçados. Tinha um corpo balzaqueano de aparência agradavel aos meus olhos, o que era a princípio um bom sinal....
Após as apresentações sentamos, e com poucas palavras recostamos juntos, em um sofá de curvas nos cantos, que separava dois ambientes de uma sala enorme, pouco iluminada e sóbria. Belas luminárias do tipo lanternas chinesas pendentes do  teto  iluminavam o ambiente de forma discreta, davam um ar de segredo a tudo, mais, deixando uma penúmbra semelhante a um antigo cabaré dos anos vinte.Era uma confusão de sombras, algo lúdico se não existisse de fato.
Foi rápida !
Sem muita cerimônia acariciava meu peito e trazia meu corpo para junto ao seu em um movimento leve mas decidido, não permitindo que minha atenção se fixasse no ambiente, mas em seus atos.
Sua  mão direita já palmeava o membro, embora pequena, fazia-o com destreza de quem conhece os tatos adequados às suas intenções do prazer, parecia conferir com um gosto íntimo a uma encomenda comprada, adquirida pela internet, que acabara de receber naquele momento e desempacotava com avidez.
Tinha pressa, embora tivessemos toda a noite pela frente para o que bem entendesse de realizar em seu proveito próprio.
Ali eu era seu, estava à disposição para satisfaze-la em tudo; Toda fantasia é carnaval.
Não sei dizer exatamente como, mas com sua lingua curta e boca pequena a asiática tinha elasticidade para abocanhar toda a minha virilidade em riste, pois tamanha era sua oralidade que parecia opiônoma em gozo louco e em muita pressa.
Gemia, chupava, mordiscava, mamava, sugava, engolia, lambia, salivava, labiava, mastigava, voltava a mordiscar levemente e a gemer estridentemente. Zunia e falava em um dialeto que eu não conhecia.
Após isso , subindo a cabeça entre as  minhas pernas, passou a lamber tambem meu peito e morder delicadamente o mamilo direito respirando ofegante, até chegar enfim á minha boca.
Era um pouco diferente pois sua estatura pequena contrastava com tamanha agilidade, voracidade e apetite naquele momento. Tinha fúria no corpo quente.
Tinha esse corpo franzino mas todo proporcional, o que quer dizer, cavidades pequenas para tanto desejo acumulado, guardado.
A anatomia de sua boca encaixava-se perfeitamente. Depois de um bom tempo de oralidades variadas, sentou-se delicadamente sobre a minha pélvis, sem camisinha, que lástima, e com movimentos ondulares fazia o seu corpo girar de forma flúida mas consistente.
Seu rosto brilhava de um prazer luzidio e radiante de mil candelas, embora no limite, de uma forma individual e toda sua.
Enquanto beijava-me fodia, enquanto me fodia , beijava e vise-versa prá todo lado, movendo-se como um móbile com a sonoridade dos ventos da felicidade; Sua pequena boceta fazia um movimento contratório de sucssão, esganando a piroca no tronco entumecido até o talo e soltando os pequenos e grandes lábios na ponta, pouco antes da glande, era grande a pequena, era gigante nesse instante.
Era mágica de circo, era engolidora de espadas, era equilibrista na corda, era pirotécnica, era fêmea, e pedia  _sex!, Sex! Sex!..
Anazalava gritos em vibrações idiomáticas desconhecidas e respiração ofegante:
_sex! Sex! Séx!
***
Ela acompanhava o senhor de estatura baixa e atarracado em uma dose de wisque Buchannas 15 anos aberto na ocasião;Não era um malte.
Parecia precisar de inspiração para a missão. Era decidida. Precisava de dinheiro.
Ele bebia sem gelo em doses generosas e tendo a atenção voltada para o que acontecia no outro canto da sala, parecia sentir prazer em observar, algo ali o animava estranhamente. Delirava com os olhos, desejava com os olhos, com eles se embreagava enquanto olhava, quase gozava.
O gozo nos olhos era tudo  que ela podia notar, pois  o China não tinha aparência de um devasso, parecia mais um adépto do voyeurismo clássico.
Os devassos têm a prudência aparente dos vendavais formados na alma, por isso podem ter a lucidez da calma externada e a fúria dos ciclones explodindo na mente, de repente...
Tirou-lhe a saia com a delicadeza de um monge zazen, com suavidade acariciava com as pontas dos dedos as entranças baixas entre suas pernas, até penetrar nos pequenos lábios de onde brotava leve umidade como uma nascente.
Fazia-o com grande prazer, mas não tirava os olhos do outro canto da sala nunca.
Enquanto agia, bebia sem gelo em goles curtos, de quando em vêz olhava com zelo e apalpava aquela rosa aberta em pétalas. Fazia-o como se tratasse de um animal de estimação, cheio de desumanidade fria.
Com a atitude de um guerreiro samurai crava então a espada em sua boca já um tanto anestesiada, adormecida pelo wisque, sem dó nem piedade.
Muito rápido e antes que ela pudesse opinar a respeito de sua própria vontade, que no caso pouco importava naquela hora.
Recebera pela boca adentro a benga roliça, até com um pouco de preguiça talvez. Não teve jeito, estava feito e pronto, não havia o que discutir, dinheiro na mão calcinha no chão. Faltou a camisinha, uma falha lastimável.
O homensinho já havia entrado sem pedir, havia comprado a atitude, como a uma passagem para viagem na carne trêmula.
Quanto álcool caberia naquela noite?  Pensava ela, quanta noite caberia numa garrafa de buchannas? quanto haveria de se fazer de sacana de aluguel?
A farra bucaneira seria longa ? Quanto sereno  de sexo numa noite um nariz cheira? quanta carreira? Quanto vou ter que respirar pela carteira?
Quanta besteira! quanta besteira!
Qualquer coisa vinha-lhe à cabeça enquanto recebia pela boca adentro aquele fardo endurecido e sem leveza, sem vontade, sequer, sem possibilidade de desejo próprio, sem um mínimo de autoestima, só restava atender ao fazer de um sexo unilateral.
Como e quando pode o amor ser solitário?
Como é difícil sem afetos preliminares, é preciso muita concentração para suportar. Se não fosse o profissionalismo ela não aguentaria aquela situação por seus buracos pessoais adentro, invasão pura e dura nas entranhas.
Sexo sem vontade é mesmo uma coisa muito, muito estranha, coisa tacanha.
Mas estava tudo dentro.
_sex! Sex! Sex!
O que sera que esta acontecendo com ele agora do outro lado da sala? estará pensando em mim? divagava em silêncio enquanto fingia o tanto necessário ao ofício.
Teria alguma alegria na carne para alem da minha?
Agora o China põe-me de quatro, quer mais, mais e mais.
_Dog! dog! gog!
Em mandarim português, em inglês,  em  japones, javanês, sei lá!
Nessa hora tanto faz!
À margem do corpo, é livre o pensamento.
_Dog! Dog! Dog! Sim, sim, sim.......
_Anal doí, não! Não! Naaaaaão...... _Aaaiiiiii......Filho da puta!!!
_Quem não sabe comer um cú, não brinca de tatú!
A sua lingua não era arisca, a sua boca não era bisca, ele não chupava bem, não achava o ponto, também não o procurava, estava bêbado e suado, estava mesmo brutalizado por dentro. Chupava de modo indelicado, era só um tarado fútil e impessoal, era inútil, era estupro consentido.
Perdia o melhor da tara humana que é o querer do outro, a outa pessoa.
Dava para  sentir o peso e o cansaço das doses da noite, e também da solidão do fato, acompanhada a quatro, de quatro, sob aquela luz bruxa de tudo errado.
Mas queria mais, e mais, o insaciavel oriental, cheio de muralhas, pedia aquilo que realmente não aguentava mais, e ela sabia disso.
Sentia o peso do trabalho feito, da missão cumprida, até já pressentia um pouco de asco na cituação toda.
As vêzes é assim com o sexo, pode ser anti-higiênico no profundo vazio da alma.
Pedia ao sono que se avizinhasse em  seus olhos agora, quando o ceu ja azulava atras da cortina das janelas semi abertas do novo dia. enquanto isso o homem queria... queria....queria..... Algo que nem ele em si mesmo sabia.
Ela por dentro, tinha sono e no íntimo, a tempos já dormia.
 Ela já obedecera todas as formas de penetração possiveis com o corpo já semi-acordado, no limiar da fadiga dos restos físicos.
Com conhecimento de causa sabia seus limites, mas ainda não tinha atingido as profundezas do sossego alheio contratado.
É que os desejos alheios são dízimas periódicas que se encontram no infinito das forças do corpo,  e essas já se desprendiam desse morto humano, feito de cansado corpo jovem, da flacidez do fim das batálhas,  de suor, da queimadura das carências materiais, nesse fogo de palha.
Ela queria mais luta, e mais, e mais...
Nessa diciplina da vida a cara do destino é mesmo puta.
Também aos guerreiros é dada a fadiga da guerra, era essa agora a hora!
O fio da espada já não rasgava a carne, não transpassava os muros o aríete baixo era  imóvel, enquanto ela pedia:
_sex!! Sex! Sex!
Como quem chupa cachorro morto. Era ímpia da realidade.
Pausa para o descanço, termo da folga, talvêz um pouco de calma refaçam as forças desgastadas. O desgaste humano não tem limites.
Sem saida, sem energia, sem tesão e sem solução, a caminho do banheiro vem então o auxílio luxuoso da amiga de sempre, da companheira de trabalho, parceira das fadigas de profissão da vida.
Ela já entendera com um olhar a situação, pusera-se apostos para resolver com a dedicação que só quem ama consegue imprimir no corpo do amado.
Com lábios de sudário trouxe à vida o morto, como uma luva vestiu-lhe da energia que faltava antes.
Sua boca como uma vulva trouxe-lhe às cavernas do corpo, o sangue que reduzira o flúxo a pouco; Isso deixava-o louco de prazer.
Voltava com força renovada para a função final do espetáculo circense a que se submetera, metera mais, e ademais, não queria se eximir da responsabilidade contratada afinal, é trabalho.
Após o embate durmiram todos, de acordo com o sol que chegara ao longe no pano azul do ceu.
Ao acordarem o dia hávia se partido ao meio, reinava a tarde, os insassiaveis queriam mais sex ! Sex! Sex!....
Ela em estado de sono ainda, disse com a rapidez e a autoridade que a necessidade exigia:
_Vamos embora, tire-me daqui e vamos rápido e agora.
_"Vamos vazar, meter o pé".
Com pressa de fundista ele abriu a porta de jacarandá e sairam, desceram o elevador como jogadores que descem o túnel apos a partida de futebol.
Ela ainda aprontava os cabelos quando a pantogáfica se abriu.
Sairam pela calçada larga da avenida Beira mar, sentindo o gosto acordado da brisa limpando as marcas de uso nos seus corpos cansados.
Seguiram em busca de algum boteco vazio que lhes permitissem um café da manhã em paz de final de expediente, uma média com pão na chapa.
Algum alimento que resgatasse seus corpos para o universo da diguinidade dos próprios.
_Eu gosto muito de você:
Disse-me ele ao pé do ouvido com a vóz da cumplicidade, para que ninguem notasse alem de mim..