Guernica-1937- Pablo Picasso
Escrever é um sacrifício de esculpir palavras em papel, pois a leitura, quando tida por pobre ou não, limita-se a um ato de classe. Funcional, sofisticado, Inteligente. Origem do pensamento acadêmico.Como o espelho nas cavernas de Platão. Reflete em signos, o saber aos indigentes, dignos de luz na escuridão.
Os miúdos, de baixos olhos quase mudos, quase mudos, diante do mar de ouvidos, na leitura ficam surdos onde há boca, na oralidade que é a fala, constroem o único cais de amarrar na observação.
São essas imagens caladas, as fundas do absurdo.
A escrita é sempre depositária das idéias. Lutar na inclusão, é escrever para os de cultura acadêmica cegos, tendo a poesia na pedrada palavra, sendo as letras fixadas com os pregos, num registro afiado a cinzel, tudo isto num pedaço de papel.
Registro do que o humano pensa, porfia entre esse pedaço de papel e a desgraça de ser poeta.
A vida é massa renascente nessa sofrida solidão de intelectual, labuta para qualquer escritor, quando um povo não lê, a imolação é nacional.
Não sei, mas é mesmo do não saber, desse vazio da mente, que surgem as ideias. Não saber ler, ou o saber um mínimo, quase menor que o próprio nome, sempre mantem o menos que é necessário.
Curto limite discriminado, individualmente. Ler é um ato arbitral, sem o qual o homem some, se apaga, perde cidadania desumanizado, mantendo-se apenas peça.
Mais o sei, sei bem dos seus custos coletivos, suas pagas, nada se guarda na horda multidão de desaparecidos, pessoas perdidas das páginas são números, alieno-gráficos aqui nessa terra, nas ruas, é claro no ato de resistência vulgar.
Como um outro lado da gente, Um custo equivocado desse lugar torrente, dessa gente que é a gente, farto de não leitores infelizmente.
Na cultura da oralidade se defendem, estamos assim. Mais ainda, mesmo assim, uma oralidade desdentada, meia boca, na beirada, uma população deserdada do instrumento crítico. Palavras de banguelas nas ladeiras por onde a poesia não tem freios. A vida invade o verso na estrada, com o tropel do seu alarde, é seu meio.
A cultura oral é linda, maravilhosa, ancestral em sua forma, é fundamental.
Perfume que descreve as rosa, com as cores híbridas, mas só as que vê.
Oralidade é cultura de consumo rápido hoje, absorvida e descartada de forma instantânea, na pressa contemporânea.
Possuir um saber sem ter escritura, é aprender por sutileza da língua em si e per si, é tocar de ouvido a prosa, sem saber o que é partitura.
Poesia da observação, da televisão, gestual de impacto rápido e esquecimento. Por isso mesmo tem o tamanho do bordão. pela ancestralidade curta das antenas e dos vãos.
Pela envergadura a língua do poeta é sua arte.
Bate abaixo da cintura, parte o interior das outras partes. Lá de onde saem as idéias e seus quilates, entre as paredes do mundo, é aonde esta o combate.
Quem quiser ler um romance, ter de um poema a dor ou o sabor, tem que beber uma quantidade maior de cultura anterior. Tem que decifrar os seus destinos dentro da palavra escrita ou interdita.
Porque assim a própria cultura cresce, mastigando o novo pleonasmo não "fake", mitigando a ignorância de estepe para alem da boca, da oralidade, para alem do estrangeirismo pobre.
Fazendo a interface do futuro, cultura é como ter saudade, algo tem que acontecer, para ela existir.
Como vamos tirar os meninos do tráfego do tráfico? Será que alguns desses sabem ler um jornal ? Um manual? Há que abrir caminhos, numa trilha educacional.
O que fazer se à margem da margem, há casamatas nas matas do marginal.
Como parar as balas sem estiagem. Da chuva de pólvora, floresce o paiol desse que ainda verde, liga ao fornecedor, para saber como se monta um Fal.
Quando há um outro menino, assim quisera o seu destino, o de ser bacana, ser legal. Como não é lama, nunca vai preso, mesmo quando da tecos, aperta um fino.
O bacana brilha, o bacana fica aceso, ele o faz quando quer, playboy ileso.
Enquanto o outro, aquele lixo de gente, da um tiro, sem saber pra onde.
Porque quem não sabe nem ler, como vai apreender essa guerra?
Esse morre amarelo nos dois lados da esfera de um mesmo matagal.
Cão de briga é um animal adestrado. Protegido nas alvenarias alheias, habitadas por outros, aos outros atrelados. Também franzinos, centelhas, sobrados escudos sem blindagem.
Esse não faz o outro movimento, mas involuntariamente é seu cimento, é a parede, a barreira, a barricada de proteção, o excremento.
Se esses três meninos pudessem se dar as mãos, haveriam notar o quanto já se conhecem, pois fazem parte da mesma solidão.
Um deles da tiros a esmo, o outro tem de corpo só escudo, o terceiro, melhor detém capital, movimento, endola girando essa flama negra, cheirando a fama branca dos que podem e querem se drogar. Esse desejo milenar histórico, esse beijo transnacional. Socorro dos melancólicos. É livre ao homem o seu mal.
Cumpre o seu sustento aquele outro arauto menino estigma, num exílio outdoor.
Comum à secular cidadania ocre e sem o emboço que lhe pinte a face, na carne de dores está a sua casa sem cores. Vive com o que arranca do asfalto, sempre que lá haja o que lhe cave. Um trabalho de cunho popular.
Junta-se a esse Jovem, senhores, homens e mulheres, pessoas dignas. Descem dos seus castelos e penhores, toda manhã pra trabalhar, é a estiva.
Frentistas, copeiros porteiros, zeladores, cozinheiros, garçonetes, enfermeiras, motores, quituteiras de sabores, gente que vai ao fim da feira desce a pirambeira. Gente faxineira, que quer aprender, gente que quer estudar.
Descem das tradicionais ladeiras, encaracoladas vielas arrumadas à maneira habituada das favelas.
Adutores exclusos, inclusos trabalhadores, reservas baratas, oficial barrela.
Eles é que vão sentir nos lombos detratores, os erráticos e seus filhos, vivendo na linha dos tiros, famílias, pessoas, moradores.
Esses castelos fincados são ilhas em um mar de gente, que vive e faz o Rio.
Esses transitam sem ter atalho, no desafio de se encontrar com o outro Rio,
esse que passa a caminho do mar.
Gente guardada nas encostas, gente na condução. Peão que roda no calo, cola os movimentos na mão.
Talvez fossem mais exigentes, se tivessem um pouco mais de instrução.
Talvez as coisas não teriam esse jeito valentão. Talvez um pouco mais de formação, Talvez então, não seriam reféns, como hoje são esses cidadãos.
Mas pra isso é preciso ler, ler é a cultura da escola, é a varanda.
Da mesma forma há de ser, com nossas escolas de samba.
Quando se lê um livro, a consciência desfila, anda.
Essa gente não tem o Estado, na sua responsabilidade. Não pode esperar o favor, como sendo um helicóptero, caindo sobre as suas próprias cabeças, suas ainda baixas cabeças.
Têm mais que ser pensantes, no alvejar dos tiros de toda a cidade, com o cravejar maluco dos brilhantes.
Traços dados por aquele outro menino, empunhando a arma, que não soube montar.
Para depois com ela mesmo atirar no próprio pé. A morte esta no ar, respira aos desatinos.
Até para montar uma arma, usa-se a arma do saber, não só uma das mãos.
Não saber ler um livro, saber o que é ? Esse é o tiro no próprio pé.
Então em qualquer lugar, com qualquer pessoa que tenha vida, muitas das vezes a vida anda para o lado errado, na hora errada, da manhã à noite, da tarde à madrugada. Pessoas podem aguardar para si, balas perdidas, balas mulambas, balas achadas.
Nessa estica de vida havendo quem compre o cal, quem pagará a larica há de morrer no final.
Fica faltando um pedaço, é uma fratura exposta, como fruta mordida, alguém perdera a aposta.
Assim vai uma vida acabada, rompida, estancar a marra, nas paginas do jornal.
Aquele menino rico, aquele do capital, de tudo. Vai saber de tiros havidos, longe e perto do seu quintal, apenas vai achar nessa notícia, o cúmulo daquele absurdo. Um absurdo escancarado, sem apartes, no seu café matinal.
Aquele, que disso tudo escapa, tem uma festa nessa noite.
Vai levar uma presença para a galera brilhar.
ainda bem que a lei esta seca, assim não vai melar.
Mas se a coisa não vai melar, Porque não legalizar?
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