Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Desforra ( Beco da fome)

Para Marta

Aquelas jabuticabas frondejantes,
com os caules revestidos em negritude,
floriam brancas flores, qual gigantes,
plantadas de alegria e altitude.

Toda a virtude, das arvores doces,
traziam ao farfalhar do tempo infante.
Ceifadas, desfolhadas, as elegantes,
ficaram só memória, e acabou-se.

Por conta dos tijolos e das paredes,
telhados como muros habitantes,
que vivem do progresso seco em sede,
contêm brutalidade impressionante.

Agora quem por lá passa, não sabe,
o quanto ali viveu tanta aventura.
Sobrou a cara dura da cidade,
de pedra, de descarte e de  clausura.

Desmata esconde na sua conjuntura,
amarras de uma história inacabada.
E a natureza perde em sua altura,
abaixo foram as jabuticabas.

A quem só vê no vento a cor do agora.
A lápide é a virtude, mesmo errada,
e as árvores tão sábias, tão senhoras,
nas tombas ignaras viram toras.

Com elas foi embora à luz dos tempos,
um outro tempo, o feito de outra hora.
Aqui chora o poema num lamento,
Pois a lembrança é  um tipo de desforra.






terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A dependência no circo da alma

                               Intermingling- Kandinsk

A dependência é um muro alto
para as exigências mais  básicas.
A sua natureza pode não ser mágica
para a existência, só um desfalque.
O hiato de viver não é atitude sabática,
é sim, o desvendar de coisas trágicas.
Por mais que se esteja incauto,
sob o céu azul do cobalto,
ou que a trilha seja errática.
Os fatos têm carne enfática.
e a dependência é antipática.
Há que se suprir do fácil,
descortinado sem palco.
O dependente, esse ilustre fidalgo,
ao não saber a gramática corporal,
em qualquer passada lunática,
desatenta ou pouco prática,
produz marcas em seu tátil.
É o corpo nos dizendo algo:
_Ah! Como a vida é frágil!

sábado, 29 de novembro de 2014

Apanhei de ovo frito ( 0 beco da fome)


Essa é para quem é Mané.
Até de ovo frito apanha.
Vou ensinar como é
o filét do Oswaldo do Aranha.
Vai impressionar a mulher.
Quem não a tiver, uma ganha.
Comer gostoso em talher,
Pois vou lhes mostrar a façanha

Precisa gostar da carne,
a boa é um filet Mignon.
Maciota, sem alarde,
Para comer é tão bom.
O corte é um bife alto
no modelo de chorizo.
Como a riqueza de Fausto
alarga qualquer sorriso.

Mas antes vêm as batatas,
cortadas à portuguesa.
Fininhas bem delicadas,
enxugadas, fritas e secas.
Também o alho laminado,
dourado, mas sem queimar.
Reservado em tanto farto,
vão dar gosto ao paladar.

O prato é coisa rica,
é uma tradição Carioca,
vem lá do Cosmopolita,
mas tem em qualquer birosca.
Prestem atenção meus amigos.
Concentrem, a ideia foca,
não vão se prender no visgo,
agora vem a farofa.

Manteiga clarificada,
não pode queimar jamais.
Juntar azeite é a sacada,
pois é assim que se faz.
Bacon, o bom venenoso,
bem pouco, para a saúde,
pois o danado é gostoso,
e artéria não tem virtude.

Suar cebola em cubinhos.
Um alho, e Jalapenã.
Também do reino, um pouquinho,
para não faltar em pimenta.
Farofa não tem amarras,
tudo vale é tudo pode.
Um pouco de alcaparras
vai ao gosto do bigode.

Picado vai um tomate,
rúcula rasgada a mão,
azeitonas pro arremate,
sem caroço à dentição.
Uma xícara de chá, padrão,
carregada em farinha crua.
Mexam, mexam, meus irmãos,
pra cozinhar com ternura.

Agora é fundamental
dois ovos, quebrados antes.
Corrijam o gosto do sal,
coisa muito importante.
Aqui ponho a banana,
ela entra sem censura.
Faz da farofa uma dama,
com a minha assinatura.

Peguem um pouco de arroz,
desse que tenha sobrado,
para ser usado depois,
replicante em outro prato.
Finalizando o serviço,
a cebolinha e a salsa,
para comer sem juízo,
como quem ouve uma valsa.

Na montagem cada prato
deve conter a beleza.
Os olhos comem de fato,
a carne, essa realeza.
Dediquem muito carinho
no serviço à la carte.
Um Cabernet é bom vinho,
harmonizando com arte.



















domingo, 23 de novembro de 2014

De menor ( A puta me contou)

Serigrafia: Juarez Machado

Perdi meu homem, assim,
na disputa
Fui procurar no jornal
por labuta
Sem ter o segundo grau
fui à luta
Pela criança topei
saia curta
Há quem me trate legal,
quem me furta
Sei esnobar no lençol,
fiquei puta
Levei porrada do cara
da justa
Falei que dói, mas ninguém
me escuta
Bebi mais um Red Bull
com cicuta
Só pra manter a atenção
na conduta

Topei cumprir a missão
la na praia
Agora entrei bem de linda
ordinária
Dei um doisinho, a bagana
era palha
Às vezes sou a sacana,
outra otária
Eu sobrevivo assim:
Candelária
Faço algum ganho no fim,
salafrária
Sou ninfetinha do rabo
de arraia
Foi sem querer, opção
necessária
Mas sobrevivo no fio
da navalha
Levo um din din, um capim,
sou primária
Meu top é tudo, é tomara
que caia.
Não aprendi, mas já sei
a matéria
Já fui obreira de cristo
com féria
Tenho quatorze, mas passo
mais velha
Pus la no Face outro nome:
Valéria.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Unidade multi ( Barril Diógenes)


Perder dois mestres em dois dias
é uma coisa muito doída
Vai na tarde a finitude, e depois é a vida.

Leandro me ensinou a pensar ao ser transformado.
Manuel, era mais sério, sabia fazer quintal, adubado
de palavras, perfumou meus olhos de pitanga.
Os dois eram una dialética da poesia.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Uma dose ( Barril Diógenes)

Fotografia: William Kentridge

Sou o que não há em mim,
não sou bom, não sou ruim,
vou alem, não sei pra onde.
O sonho que isso esconde,
é lavado em pedra-pome,
mil rasgos, eu sigo assim.

Se hoje o tempo está nublado,
sou o escuro, até pesado,
já não trago força em murro.
Algo dentro esta maduro
impreciso em tanto acuro,
sigo alerta e preocupado.

Quebro o muro em Berlim.
Sou eu mesmo em estado quente.
nem hilário nem comovente,
nem revoltado  em Pequim.
Sei que sou o olhar nos olhos
Insano ensejo senhores,
meu silêncio destrincha vozes,
sou  o extinto em botequins.
Eu sou mesmo tenebroso;
Sou o susto, sou o gozo,
o perigo e a cirrose.

Meu terreno é arenoso,
em razão e em psicose,
o periférico nervoso;
Curvado à realidade
possuído da saudade,
Sou um atributo da gnose.
E ao fim, sou ton-sur-ton,
sou amigo do garçom
e me destilo em uma dose.











domingo, 2 de novembro de 2014

Os fatos no circo da alma

Manabu Mabe

Os fatos, no circo da alma,
não têm gás paralisante.
Nos seus músculos inexatos
ressaltam os beijos dos atos,
num descarte deselegante.

O destaque mais provocante
quebra o salto na avenida,
e o ar que respira é a vida,
ocupada na sua própria lida,
em suas horas mais ofegantes.

Os fatos, no circo da alma,
deixam nos ossos desgastes
de cujas paredes resgates,
se avincam quaisquer semblantes,
no afogadilho do trauma.

Salvando o que pode ou pôde,
como andarilho errante,
se descobre, o itinerante,
que a vida ferve na calma
do que será sempre o hoje.



domingo, 26 de outubro de 2014

Natureza quase morta ( O olhar da carranca)


Quando o importante é sobreviver, pequenas coisas, pequenas atitudes ganham valor inestimável; Uma fruta sobre a mesa, imprecisa, a ser descascada, a força sensibilidade perdida, precisa achar uma solução. Aonde a naturalidade é agora o impossível, a laranja é no momento só o olhar, silencioso, solar, brilhante, impassível sobre a mesa. Exala um perfume explosivo, entre  o desejo, esse olhar e o tato.
A textura reluzente e a frutose contida ficam mais exuberantes e explosivas.
O interior de carne é  fibra imaginária adocicada intimamente, sua pele lisa e nova externa o interior. Carne desejada entre os gomos, entre os lábios a maciez de dama, cujo hálito cítrico entra na língua, entre os dentes  há sedução de açúcar desenhada em palavras.
Simplesmente, nesse querer, se instala a impossibilidade, em crua casca rude escamada na nervura da cor inexplicável do fato realidade, o mundo fica no que é  inalcançável pelo inexpressivo das mãos.  O perfume prazer é uma ilusão fotográfica em três dimensões. A frágil armadura imóvel, impávida do impossível.
A faca, a falta do toque, o corte, o sangue, a ausência de dor aonde há ferida.
A pequena palavra desconectada do cérebro, a mão esquerda move apenas insensibilidade, um rasgo no dedo indicador é quase nada.
A mão esquerda é seda, a mão esquerda é a sede, Mas cede sua própria má sorte; E a laranja é dia, a laranja em sua solidariedade de sabores repousa insólita sobre a mesa.
A pura sobremesa radiante e tão composta, circunferência de alto valor e caloria circunspecta em quietude.
Aqui estou eu e ela, aqui eu e ela juntos à janela azul do céu, essa cobertura inabitável. Agora glicose azul, agora a laranja é o inacessível,  ela é seu próprio erro de sabor, agora ela é o inabalável de minha dor. A laranja de cera, de beleza intocável, a laranja mecânica e seu suicídio imaginário, jamais a verei nua, jamais tocarei sua carne brasa, aqui a tortura e a vitamina comum , aqui você e eu, aqui a idade avançada e a juventude com seus riscos de endorfina guardados e incalculados no corpo.
Juntos, se afagados, libertaríamos o sumo que se espalharia invasivo sobre a casa; Mas, o lado esquerdo dorme. Só e o braço direito é vigília, e a observa desatenta sobre aquele lençol quadriculado. O desejo se instala como quem transpõe  a última porta. Sou eu, sou meu abdômen, saliva é o meu corpo de homem; E ela tonificada em energia, ela desinibida imagem da natureza, ela inapelavelmente quase morta.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Tucano de paletó ( Perna bamba é do samba)


O candidato deu
aquele sorriso amarelo,
dizendo pro pé de chinelo
que a vida vai ser um brinco.
Mas é que ele se esqueceu,
de fato de ser sincero.
Malandro no lero-lero,
papo torto quarenta e cinco.

Com uma pinta de bonito,
tinha olhar de matreiro,
no nariz trazia um cheiro
que o deixava bem aflito.
Dizia ser solução,
mas era um boquirroto,
Sujeito quase escroto,
parecia vendidão.

Bicho selvagem tucano,
em plumagem de gravata,
tem linguagem de bravata,
tem paleto de urbano.
Alimenta o próprio gosto,
de caráter leviano,
de madeira tem o rosto,
mas falta-lhe mais tutano.

Pensa que leva o povo
só no gogó da Jurema,
falseando faz a cena,
da serpente traz o ovo.
Mas o povo tem antena,
seu próprio discernimento,
não quer coisa tão pequena,
não vai permitir tal intento.

Acordar defunto morto
de outras legislaturas,
construir aeroporto,
em terra sem prefeitura.
Todos sabem quem ele é,
vai perder essa contenda,
vai apanhar de mulher,
com maria da penha se entenda.







quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Art nouveau ( Barril Diógenes)

Nature morte au vieux soulier 1974- Juan Miró



O fim do filme,
no fim da noite,
do fim da festa,
do sorriso que resta,
de festim, do amor.

Duas quadras,
é só isso,
e finda o mar
no fio da farça.
O corte ouriço

No corpo, o corte,
pressente a morte
do sol que eu não sou.

Então pergunto,
medo Art nouveau:
__O que foi doutor,
que de mim é o susto
que me sobrou?

domingo, 21 de setembro de 2014

Bilhete ( Barril Diógenes)

Fotografia: Alessandra Sanguinetti

Aquilo que temos vontade de ser
está emaranhado no desejo
Aquilo que nos permitimos ser
cercania nosso latifúndio vilarejo
Aquilo que de fato somos ao viver
é o histórico entre o olhar e o sobejo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sem Limão ( Beco da fome)


O sol sobre as barracas dos homens.
Verdura, a três por um, provoca empurro.
Tempero é urucum, vermelho puro.
O alho, a granel, é roxo escuro
e as frutas damas doces que se come.
Um olho na freguesa, lá vem ela!
Maçã, morango doce ou melão,
chicória, rabanete ou salsão.
Pechincha pode ser: Já esta na mão,
alface, cebolinha, berinjela.

Os gritos são cantigas pregoeiras.
Carrinhos se atropelam por saúde.
Legumes veneráveis de amplitude
na festa das sardinhas, dos quitutes,
bem cedo se barulha toda a feira.

Ao tempo da manhã, o abacate.
Mascate traz nas mãos maracujás.
Tem coco da Bahia e tem cajás.
Giló, abobora boa pro Jabá.
Cebola pra quem quer levar tomates.

Quem come o pede, frango no caixote,
quem gosta do Carré ou das bananas,
laranja e tangerina são Veganas,
Pastel olímpico e o caldo de cana,
ao som do fruteiro que é um Pavarotti.

Mas antes que o festim descubra a tarde,
como um filé de peixe assado em brasa,
os preços caem todos, perdem asas,
e  a xepa abastece tantas casas,
ao fim tudo se vale ao que arrecade.

Já pouca flor nos baldes do florista.
Da salsa, do agrião, já  pouco resta.
E a couve meio murcha manifesta,
deitada ao tabuleiro faz a sesta,
qual renegada ao sabor consumista.

O feirante arrima com a gelada,
num cantinho de copo americano.
Depois da luta, como um espartano,
depois que a barraca fecha o pano,
relaxa da missão que lhe foi dada.

Por fim o chão consome tanta sobra,
para a alimentação pode ser útil!
Jogada ao não, como objeto fútil,
riqueza sem limão, mas inconsútil,
onde a questão dos ciclos não desdobra.
Os cheiros, como magica, já somem.
Peixeiro já levou seu caminhão.
E a rua desvanece, perde o nome.
Agora é só um caminho e todos vão.
sem cheiros, sem perfume, solidão.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Bilhete ( O circo da alma)

Fotografia: Sienna n 1- Makan Emadi

Veja como é o edifício da intimidade
aonde a moral
é vizinha bisbilhoteira da sexualidade

domingo, 7 de setembro de 2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tatu daí ( Barril Diógenes)

Herbário de plantas artificiais  em estrutura pré Colombiana- Alberto Baraya

As pessoas, atualmente,
não compram um poema por ser bom.
Elas o fazem porque ele é do Drummond.
Asim mais, bem mais que de repente,
O poema se compara porque é mesmo legal.
Obviamente é comovente, porque é João Cabral.
Aos poemas, que bom, serem geniais desde o início,
viram mesmo até vício, desde que se vejam Vinícius.
O poema, quando sujo, é limpinho, é lunar.
Não existe nele entulho, se for Ferreira Gullar.
Como é bom um poema, em que todos façam links.
O bacana, o genial, é que é um Paulo Leminsk.
Por querer, mesmo num verso, a rima e os seus baratos,
beija-se a boca do inferno, lendo Gregório de Matos.
Ele toca muito a todos, de alguma tal maneira,
obviamente se, oxente, é do Manuel Bandeira.
Se alguns nos evoluem, neles há mesmo todo esbanjo,
mas somente nos concluem, se for  Augusto dos Anjos.
Outros sim. são viscerais, fervem muita hemoglobina.
Serão tão fenomenais, se são do Jorge de Lima.
Se um poema é um poema, uma coisa é uma cousa,
mais é mesmo o melhor, sendo assim um Cruz e Souza.
O poema é mesmo bom quando o nome se lhe pesa,
Como não se derramar cult Ana Cristina Cesar?
Para ser mesmo o tal, quem o fez será primeiro.
Para ter mesmo o sal, só o Geraldo Carneiro.
Cajuína neuronal destarte é  inquieto,
poesia só se vale em um Torquato Neto.
De mulher pra Mulher, fica dado o recado.
Não num poema qualquer, gerúndio de Adélia Prado.
Sendo ele um poema, há de ter sua autoestima.
Vale a pena o se dizer desde Cora Coralina.
Se foi dito a saber, pois então o desnovele;
Vamos lá, Vamos a ver, se é Cecília Meireles.

Algo novo, para que?
Hoje é tudo instantâneo.
Haicaiu  Karaokê

Tudo não faz mais sentido. Barulho é o desagrado
é poesia do enfado, teatro do oprimido.
Então perto do espasmo, então é o então sumindo.
para o seu duro deserto decerto o poema é lindo
lamberemos o sabão com essa grife do inquieto,
viva Waly Salomão, Tiririca até o teto.
Tudo é mesmo uma meta, ta cheirando, deixa perto,
é a poesia, é de salão, lepo,lepo,lepo,lepo.









segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A fala no circo da alma

Dalí

Seu instrumento é a palavra
o sopro, o  veio de luz.
se  é solo desafinado
o verbo é o que a traduz.
Às vezes parece escracho,
quando acha a todos tão nus.
de ouvidos tira o capuz
do silêncio, e assina embaixo.

Tal instrumento, falada,
é achada dentro de um verso,
Com ela eu digo o que penso,
no extenso e no frágil protesto.
Quando ela fica agachada,
guardada dentro do incerto,
parece expressão de um deserto,
aonde a cultivo de enxada.

Pura ideologia em suspenso,
do homem é mais que seus ossos.
Tem sonhos verbais e terrosos,
despidos dos pensamentos.
Palavra contem paradoxos,
solares por natureza,
denota visão de um mundo.
Quem a domina mais fundo
desbrava a tal da certeza.

domingo, 10 de agosto de 2014

Saga que se estraga ( Barril Diógenes)

    

        
                                                                                                                                                







Numa terra bem distante
depois do Maracanã,
de nome significante,
chamava-se Canaã.
Nesse pedaço de chão
chegou um sujeito um dia;
Seu nome era Abraão
gerador de ventania.

Por gostar muito de mulher,
por nelas ter alegria.
Em Sara tinha a fé,
mas com Agar bem dormia.

Com a segunda, Agar,
Abraão teve Ismael;
Mas não assinou papel
para não se complicar.
Para Sara não chiar,
deu-lhe outro filho, Isaac.
Como coisa de almanaque,
dividiu em dois o lar.

Ismael se foi embora,
deixando Isaac pra lá.
Depois de passada a hora
deram de se odiar.
Isaac gerou um filho,
deu-lhe o nome de Jacó.
Para complicar mesmo o nó,
tirar o carro do trilho.

Jacó chamou a si Israel,
pois foi como aconteceu,
estava escrito no céu,
que é meu, é nosso é ateu.
Também o bom Ismael,
no deserto de Becá,
construiu um canto seu
e se pôs a procriar.

Depois nasceu tanta gente,
tantos filhos, tantos filhos,
e a coisa ficou mais quente,
feito pólvora e rastilho.
Na terra peninsular,
sem pensar sobre a questão,
resolveram só brigar.
Um pregava o Alcorão
e o outro amava a Torá.

Por conta criaram muros,
para fazer a cisão.
Entre si, olhos casmurros,
teimosos de coração.
Um deles, de amigo rico,
ganhou um domo de ferro.
O outro por ser proscrito,
disse essa terra eu quero.

Jogam pedras palestinas,
foguetes sem precisão,
e a resposta vaticina
fogo, bomba e canhão.
Morrem meninos, meninas,
senhoras e anciãos.
O mundo vê na vitrina,
sem muito fazer questão.

Sem direito de nação
por geração concubina,
nas asas do avião,
as bombas vêm lá de cima.
Cercados por mar e terra,
morrem numa explosão.
Mas como sair então
dessa tão malvada guerra?

Entra um camelo no céu,
sete virgens há por lá.
Mistério sempre usa véu,
são coisas de Oxalá.
Irmão que mata irmão,
como Caim e Abel,
não vai achar solução
guardada no solidéu.

Javé que desça depressa.
Que venha um café tomar.
E traga para a conversa,
a destreza de Alá.
Na busca de mais amem,
Jesus chegou com seu trio.
Ao redor de Jerusalém
de sangue nasceu um rio.






















terça-feira, 5 de agosto de 2014

Chutes Barril (Diógenes)

Foto: Walter Carvalho -Peleja

De sorte que aqui a dona Fifa
resolveu conduzir a sua trama;
Por si reproduziu uma estica
deu areia no hotel Copacabana.
No jogo da purrinha zero é lona,
quem sabe vai dizer como é que fica,
otário sempre é mesmo  um cafona,
Chamaram um sujeito, o tal Fofana
e um inglês dirigiu essa titica.

Por vacilar na copa, feito zona,
o afro em bangu só se complica;
Mostrando o futebol jogado em lama,
o outro sumiu  pra não ter cana,
sem se tocar com o rumo dessa briga.

Mas toda a cidade os desabona,
achando que da festa fosse dona.
Doando tíckets a gente amiga,
agora a coisa fica leviana.
Em cana essa dupla de estrangeiros,
por causa de uma prática mundana,
que é a de enxaguar algum dinheiro.
Suíça financeira é um Nirvana.

Enquanto o Joseph  toca a sanfona,
os outros se confrontam na quadrilha,
e a nota verde é a que mais estribilha
no cofre do hotel formando pilhas,
o fair play do esporte aqui detona.

Enquanto a bola rola nos gramados
dos elefantes brancos de concreto,
alguns meninos ficam bem cercados,
por divergirem do que não é certo.
São presos por P M ou delegado.
Sininhos e sirenes fazem grita;
No jogo o Brasil só nos irrita,
e a gente se entorpece na birita,
dizendo que o centravante é culpado.

Essa pelada é coisa de onanista,
se  extravasando ao ver correr a bola,
mas o prazer vem das mãos do cambista,
e é pago sem perguntas moralistas,
desejo a se exercer pesando Dólar.

Por fim de um sete a um, deu Alemanha.
destrói-se  a farsa  do bom futebol.
Á sombra de cinquenta a gente apanha,
por dirigentes vivos no formol.
Enquanto cantam o hino nacional,
distantes dos problemas e patranhas,
ouvindo um alemão gritando é gol
a turma corre do pau dos meganhas,
e as vaias dos bacanas pegam mal.














sábado, 14 de junho de 2014

Todos juntos vamos...(Perna bamba é do samba)



Alegria, alegria,
chegou a copa
da oligarquia
que ninguém nota.

Temos legados,
não temos não,
seu delegado
prende o ladrão.

Sem os estádios,
vemos arenas.
No imaginário
coisa pequena.

A coisa é feia,
mesmo uma pena.
Brasil precário
virou areia.

Chegou a copa
com muito gosto,
que bom pra Fifa
não ter imposto.

Assim denota
qual é o jogo.
Qual a aposta,
qual o engodo.

Para quem gosta,
festa do povo.
a velha bosta,
tudo de novo.

Na velha roça,
tudo legal,
bico calado.
Custo plural.

Lucro privado,
coisa e tal...
Grato ao Estado
policial.

Vamos gastar,
que o povo aguenta.
Se reclamar,
gás de pimenta.

Muito cuidado,
assim decúbito,
Já é um dado,
o gasto público.

Ação Global
é a água benta.
Muito cuidado
torcida penta.

Tudo é legal.
Mas com cuidado,
pois o passado
já foi cinquenta.

domingo, 1 de junho de 2014

Sucata de amores ( Barril do Diógenes)

                                                                                                                                                  Fotografia: Tempo dr des-amores - José de Almeida


Sucata de amores é a lembrança,
dos guardados do depósito da memória.
Ao poeta o que resta é a farta história,
afora o que fora um dia já bonança.
A seta agora aponta a contradança
do que restou, por ser contraditória,
e ao corpo leva a mão à palmatoria,
ditando rumos tão sem governança.

Quem pensa que domina o tal destino,
se ilude com tamanha euforia,
não sabe o quanto em si desconhecido,
haverá de insurgir no rol dos dias.
Qual água sem desejo que nos molha,
qual o tempo esse farol esmaecido,
é o acaso se atrelando destemido,
mudando o rumo sem fazer escolhas.

Assim se vai vivendo, lado a lado,
o ser e a outra tal, a realidade.
O homem é de si mesmo só metade,
a outra parte é ao porvir destinado,
que invade a vida com brutalidade,
e ao tal destino traz força tamanha,
num jogo aqui se perde e aqui se ganha,
deixando por sobra o sal da saudade.











domingo, 18 de maio de 2014

Cerol ( Barril do Diógenes)

Fotografia CDI news

No tanto que o corpo é mente
em um sentimento combalido,
é o quando a gente não sente,
o que parece não ter sentido.

Se o lado esquerdo do peito
é o lado desguarnecido,
temos que achar algum jeito,
algum jeito, de se estar vivo.

É o quanto tão sem proveito,
em um tempo interrompido,
a despeito assim do desejo,
sortimento tão sobejo,
é assunto mesmo esquecido.

O afeto diz desrespeitos
á  nobreza de um cidadão.
Cama vazia, em  pulsão,
vira somente um leito;

Não, não, não, não, não.
Semente do que é ilusão.
Aquém do homem aguerrido,
forjado em exercer libido,
de fato é  inadequação.

A pele encobre o que foi
também elo corroído,
à sobra no corpo dói,
insana desses sentidos.

As mãos sem o tato em desuso
só um movimento ingrato
A existência diz tudo;
Sustenido senso-lato.

No patológico intruso,
se a bola já foi pro mato,
o tempo de vida é bem curto,
para a virtude dos fatos.

A reverter mais vazão,
descaso da sexualidade,
por absoluto é o tesão
fogo que sempre arde.
De tudo restante à tarde
toda e não  somente,
desdem da realidade.

O que move o amor mais crente,
na solidão da saudade,
no fundo do mar da gente,
é essa realidade urgente.

Ao se dobrar tão sozinha,
A pelves é  marginal,
no lençol branco do cal,
de olor sem rumo e sem linha.

Por ser desobediente,
na andança gestual de um rito,
ela é o que sobrou do grito,
lembrança irracional,
recordando o mais urgente,
do ultimo amor, o letal.

Rumando na contramão,
assim vai maior o tempo;
É uma linha bamba no vento
no invento da solução.

Com muito cerol de vidro,
a desferir movimento,
sobre o sol do carinho ido,
no ar da forma e do brilho,
no vendaval do momento.

Qual pipa solta em vacilo
quase penúltimo suspiro
no vendaval insuspeito,
e a vida segue sem jeito.
Ou ela é isso, ou aquilo.


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Geo ( Barril do diógenes)


Diógenis santos
                                                                                              Fotografia: Diógenis Santos
Não vamos nos esquecer que o nosso gás vem da Bolívia.
Que nós temos contratos com a Venezuela.
Nossa política interna ainda é um caso de polícia;
Na externa já não bate o " tamborzão" mais belo.

Nosso povo ainda está morrendo de icterícia.
E tem ladrão levando a vida só no lero-lero.
Até parece que aqui está muito bem, é uma delícia.
Sabão no chão, malandro, escorrega todo o mundo.
e todos pagam na geral a evasão de divisas,
e ainda sobra pra lavar qualquer dinheiro

Boca falada é menos medo do presunto.
E tem a vala pra ganhar nos ferros.
É uma questão, há que pensar, de fato, nesse assunto.
O cabrito vai e a gente fica só com os berros.
Enquanto o mundo queima, igual a qualquer "buzão".

Copa do mundo é pra ficar na pista.
Aqui se perde muita grana é pro Doleiro.
O papa é Argentino e Déus é um brasileiro.
Que a gente sai geral com a taça e o tal na mão.
e ainda paga a conta cara dos artistas.

Privatizando o fundamental ensino,
a escola pública cai com a nação no chão.
E assim vamos criando o futuro, como hino.
Vamos criando as meninas e os meninos,
ganhamos o concurso  é na corrupção.

A solução?
Só se lutar no meio das ruas,
pois não virá de um raio,
ou qualquer coisa de lua,
senão da fibra e a fé de um cidadão.                                      

quarta-feira, 26 de março de 2014

A clava ( Barril Diógenes)

                                                                                                                                                                                                Fotografia: Gritos surdos- Miguel Rio Branco
A língua mastiga a cria, a palavra,
como um fundamental alimento
oriundo da formação do  discernimento.
Da possibilidade da palavra também se alimenta
a liberdade, da-se a expressão, dela a fala se cria e se sacia.
E expande a alma, e ganha espaço, qual o metro e a geometria.

Comuna assim a construção do pensamento,
e assume, imagética que é, qualquer poesia.
Aonde antes somente o silêncio estava,
somente o silêncio guardava tudo o que havia.
Na fala o sentimento avança, nessa brevidade se pronuncia.

Liberto, humano, lírico, rompe o real à força clava
aonde antes nenhum novo olhar sequer se atrevia.
Assim vai o poeta na solidão mais brava,
sem saber que ele é a seta, o possível nexo à raiz.
É ao mesmo tempo a criatura e a ventania,
contagiando com a escrita  a respiração da raça.
Recombinando vidas, dando-lhes vastidão
na brevidade do existir, uma una fisionomia.

domingo, 9 de março de 2014

Hora da Razão ( Barril do Diógenes)

A vida que se segue,
é a que a gente faz.
Por mais que a coisa pegue,
no pulso ela quer mais.
Da energia alegre
à ventania audaz.
Ela não tem air-bag,
por isso desapegue
do que não lhe da paz.
                                                                                                  Instalação de Nuno Ramos
Por pouco que se enxergue,
o tempo sempre esvai.
Na carga sobre os ossos,
bacilos canibais.
Dos dias perigosos,
áridos e arenosos,
hashtags carnavais.
Dois olhos hoje laços
em latitude abraços,
e os restos são banais.

terça-feira, 4 de março de 2014

Frei de Freire ( Barril Diógenes)


Educar é transgredir o saber; É Invadir o conhecimento
para libertar a pessoa, é expandir assim sua própria vida.
Ao interagir com o real, vai-se  desenganar a ignorância.
Ao provocar a inquietude vai-se transformando a atitude
na ousadia, no arrebatamento da existência mais altiva.
Vai-se germinar no individual a consciência coletiva.
Mais plural, desnuda da mítica, menos residual,
menos paralítica. Mútuo social sem mágica, mas prática.

Aquele que sabe, transforma o momento
com o fio do sabre do seu pensamento.
Transforma o real reduzindo- lhe a estática,
de forma global na práxis da crítica.
De uma forma tal, e com total talento,
que deixa o seu brilho
espalhado no chão do tempo.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Nagôas e Guaiamuns ( Perna bamba é do samba)

Fotografia: Argemiro Patrocínio

O samba sem ironia, sem alguma picardia,
é café com água fria, algum amor sem tesão.
Do samba a verdade é filha como uma luz que brilha,
em forma de redondilha acessa a emoção.
Na trilha de Noel Rosa, Poeta que é pai da Vila,
outro vem é se perfila com a sua melhor roupa.
Sambar de alma dedicada, de um jeito que não recata,
é como amar na madrugada, nunca fala coisa pouca.
A rima é arma perigosa nessa canção venenosa.
Quando não calam as rosas, vem mais conscientização.
Assim a alegria entrosa, fazendo a vida mais prosa,
insinuante e gostosa, antídoto à solidão.
Legado de valentia é o  recado dessa alegria.
O samba é a fotografia do fato feito em crônicas.
A resistência sem  o recato é a barricada da folia,
Guaiamuns em suas brigas, Nagôas em fé sardônica.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

João bobo ( O olhar da carranca)

Fotografia: Pensare per Immagini - Luigi Ghirri

Mais uma vez vem a noite e me abraça;
Quente com seus braços de bruma e breu.
E a invalidez me ronda a calma, inata,
como imagem que passa, somos ela e eu.
Uma têmpora maior que três dias me exclui
de alguma alegria reflexo, no espelho.
A história está feita, ou serei eu a refazer
de novo, como fora antes, e o será.
Ainda dizem as crendices populares
que um raio nunca cai no mesmo lugar.
Tudo  que penso é que de novo não sei,
como de fato nunca me soube, num jogo.
Sou homem feito de minhas tentativas,
nenhum futuro me garante à frente por consenso.
Vencer recusas do corpo nunca foi tarefa fácil,
agora é o que me falta, é o que caminhar suspenso .
Não sei bem para onde, não sei nem como, se frágil.
Tenho que fazer o refazer da vida, não me açodo ao vento.
Às vezes tenho a impressão que há em mim, um mar todo.
A teimosia, a faísca alma, a queda de um João bobo.


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Banho de mar a fantasia.( Barril Diógenes)


O dia queima a pele em violeta ultra.
A cidadania é um canhão de bala curta,
enquanto explode a plebe toda em profusão.
Refrão após refrão, e a união de vozes  se avulta,
a exigir em qualidade a vida assim menos fajuta
a erigir bem mais que a existência por devolução.
Ao militante o militar, de arma em mão letal;
Se  lançam chamas no "buzão" do carnaval,
é a união da solidão e a força bruta.
Descarrilando a solução nessa permuta,
do que se pode e o que se fode no final.

O rolezinho esbarra em mim nessa conduta,
um diz que sim, enquanto o outro já refuta
com uma desculpa meio fora do lugar.
Seguimos juntos, vozerio sem escuta,
e a disfunção permite ficar como está.
Para o evidente do caroço falta fruta.
Pois quem quiser comer angu que vá a luta.
Ao que parece, aparece um apartar.
IDH é um índice filho da puta,
é o que constrói uma pessoa mais arguta,
e a fantasia acaba em um banho de mar.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Pula que é de graça! ( Barril Diógenes)




Já é hora de exercer cidadania
Já é hora, Já é tempo, Já é dia.
Minha pátria, sua pátria, pátria minha,
não quer ter somente voo de galinha.
Já senhora não quer ser só patriazinha.
Mas para tal tem que haver a ousadia.
Tem que haver maior rigor na valentia.
Sem as ruas volta tudo às vacas frias.

Já é hora dos cidadãos serem os guias.
Corrupção tem duas pontas nessa linha
e o silencio esconde a quem beneficia
Quem decide é quem exige, é realista.
Dessa força se constitui quem caminha.
Pátria nossa, pátria sua, pátria minha.

Já é hora de lutar por soluções
As cidades, as veredas, as florestas os sertões.
Todos juntos: Índios, negros e os herdeiros de Camões.
Zés, Antônios, as Marias, os Joões.
Ruas, praças, vilas, pistas, avenidas.
Só quem luta consciente faz a vida.
Pátria nossa, pátria sua, pátria minha..

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Assoalho Pélvico ( O olhar da carranca)

Fotografia: Evandro Teixeira

Para Helen, que busca dar forma ao pastelão
.
Quando o corpo em si limita,
encurta o rumo da estrada.
O comum é a vida finita,
no espaço que ela habita,
e no possível é reconquistada.
Por mais que assim seja aflita,
que a noite não seja bonita,
Há sempre um sol madrugada.

Sempre a esperança é esperada
n'alguma palavra que é dita,
diante da postura errada
perante o pó da passada,
haverá uma tal saída.
Haverá  de surgir, qual do nada,
realinhando a prumada,
uma seta que diga siga.

Como algo em que se mitiga
o percalço da jornada,
aliviando a fadiga,
reabilitando essa vida,
como prendendo a mijada.
Em  uma atitude amiga,
qual da Guiné venha figa,
com as mãos mais apropriadas.