Para ler poesia basta ter calma, Para ler Poesia basta ter paixão, deixe-a incidir subcutânea, trama das retinas à veia aorta para faxina do coração.
Citações
A palavra é o fio de ouro do pensamento.
SÓCRATES
domingo, 26 de outubro de 2014
Natureza quase morta ( O olhar da carranca)
Quando o importante é sobreviver, pequenas coisas, pequenas atitudes ganham valor inestimável; Uma fruta sobre a mesa, imprecisa, a ser descascada, a força sensibilidade perdida, precisa achar uma solução. Aonde a naturalidade é agora o impossível, a laranja é no momento só o olhar, silencioso, solar, brilhante, impassível sobre a mesa. Exala um perfume explosivo, entre o desejo, esse olhar e o tato.
A textura reluzente e a frutose contida ficam mais exuberantes e explosivas.
O interior de carne é fibra imaginária adocicada intimamente, sua pele lisa e nova externa o interior. Carne desejada entre os gomos, entre os lábios a maciez de dama, cujo hálito cítrico entra na língua, entre os dentes há sedução de açúcar desenhada em palavras.
Simplesmente, nesse querer, se instala a impossibilidade, em crua casca rude escamada na nervura da cor inexplicável do fato realidade, o mundo fica no que é inalcançável pelo inexpressivo das mãos. O perfume prazer é uma ilusão fotográfica em três dimensões. A frágil armadura imóvel, impávida do impossível.
A faca, a falta do toque, o corte, o sangue, a ausência de dor aonde há ferida.
A pequena palavra desconectada do cérebro, a mão esquerda move apenas insensibilidade, um rasgo no dedo indicador é quase nada.
A mão esquerda é seda, a mão esquerda é a sede, Mas cede sua própria má sorte; E a laranja é dia, a laranja em sua solidariedade de sabores repousa insólita sobre a mesa.
A pura sobremesa radiante e tão composta, circunferência de alto valor e caloria circunspecta em quietude.
Aqui estou eu e ela, aqui eu e ela juntos à janela azul do céu, essa cobertura inabitável. Agora glicose azul, agora a laranja é o inacessível, ela é seu próprio erro de sabor, agora ela é o inabalável de minha dor. A laranja de cera, de beleza intocável, a laranja mecânica e seu suicídio imaginário, jamais a verei nua, jamais tocarei sua carne brasa, aqui a tortura e a vitamina comum , aqui você e eu, aqui a idade avançada e a juventude com seus riscos de endorfina guardados e incalculados no corpo.
Juntos, se afagados, libertaríamos o sumo que se espalharia invasivo sobre a casa; Mas, o lado esquerdo dorme. Só e o braço direito é vigília, e a observa desatenta sobre aquele lençol quadriculado. O desejo se instala como quem transpõe a última porta. Sou eu, sou meu abdômen, saliva é o meu corpo de homem; E ela tonificada em energia, ela desinibida imagem da natureza, ela inapelavelmente quase morta.
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