Citações

A palavra é o fio de ouro do pensamento.


SÓCRATES

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sem Limão ( Beco da fome)


O sol sobre as barracas dos homens.
Verdura, a três por um, provoca empurro.
Tempero é urucum, vermelho puro.
O alho, a granel, é roxo escuro
e as frutas damas doces que se come.
Um olho na freguesa, lá vem ela!
Maçã, morango doce ou melão,
chicória, rabanete ou salsão.
Pechincha pode ser: Já esta na mão,
alface, cebolinha, berinjela.

Os gritos são cantigas pregoeiras.
Carrinhos se atropelam por saúde.
Legumes veneráveis de amplitude
na festa das sardinhas, dos quitutes,
bem cedo se barulha toda a feira.

Ao tempo da manhã, o abacate.
Mascate traz nas mãos maracujás.
Tem coco da Bahia e tem cajás.
Giló, abobora boa pro Jabá.
Cebola pra quem quer levar tomates.

Quem come o pede, frango no caixote,
quem gosta do Carré ou das bananas,
laranja e tangerina são Veganas,
Pastel olímpico e o caldo de cana,
ao som do fruteiro que é um Pavarotti.

Mas antes que o festim descubra a tarde,
como um filé de peixe assado em brasa,
os preços caem todos, perdem asas,
e  a xepa abastece tantas casas,
ao fim tudo se vale ao que arrecade.

Já pouca flor nos baldes do florista.
Da salsa, do agrião, já  pouco resta.
E a couve meio murcha manifesta,
deitada ao tabuleiro faz a sesta,
qual renegada ao sabor consumista.

O feirante arrima com a gelada,
num cantinho de copo americano.
Depois da luta, como um espartano,
depois que a barraca fecha o pano,
relaxa da missão que lhe foi dada.

Por fim o chão consome tanta sobra,
para a alimentação pode ser útil!
Jogada ao não, como objeto fútil,
riqueza sem limão, mas inconsútil,
onde a questão dos ciclos não desdobra.
Os cheiros, como magica, já somem.
Peixeiro já levou seu caminhão.
E a rua desvanece, perde o nome.
Agora é só um caminho e todos vão.
sem cheiros, sem perfume, solidão.

Nenhum comentário: