Nas noites em que buscamos poesia boa
A tábua rasa da cultura ficou quase nula
Drogadiços navegaram ao fim em falsas bocas
Enfermos fizeram de palavras rotas só charruas
O feitiço do amor inverteu o melhor do sexo
Marqueteiros fizeram das trovas remos de canoas
Assoreando o que já raso e ténue não é léxico.
Na noite em que jogamos nossa sorte à lua
A vida veio com a rapidez hoje contemporânea
O que era paz virou deslumbre de cisânea
Ao desfazer o rumo deslizou sem prumo e sem norte
Num abraço a solidão armou o rodilhar de um bote
passando por menor estima em lote a solução tacanha
Radicalização do querer bem assim não se situa
O prazer do momento se reduziu à carne crua
O senso critico locutor ficou sem nexo
de tudo nada vale a pena e ficou o resto
Diz que diz é poesia, e vale tudo, e pode.
Melhor que ser surdo é esse manifesto
Com esse verso provocante, tão molesto,
àqueles incapazes, com os quais a arte se recua.
Na noite em que o amor se fez no orifício que evacua
a vida pela vida transmitiu o odor do som sarau que vem da rua.
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