Tendo fome ela grita aos meus ouvidos
Despertando a sonolência dos justos
Ela gira a baiana em mil sentidos
Taca fogo no circo, o pavio é curto
Ela metralha o sono com dez mil tiros
Ela é light somente na margarina
Mas que fome há de haver nessa menina
sobrepondo à emergência os seus custos?
Todo dia ela faz tudo desigual
Acordando-me para fazer o café
Tem a fome dos monges lá do Nepal
Tem na fala as vantagens de ser mulher.
Todo dia ela insiste para eu levantar
Fica na cama mais tempo de colher
Quer um creme de queijo, quer se fartar
Três torradas ao ponto, quer Camembert
Se não tem iogurte do Panamá
Se não tem fruta fresca, ela quer Jambé
Se não tem pão fresquinho no samburá
Ela faz desatino ou coisa qualquer
Essa fome parece não se aplacar
Ela tira do sério a esse Zé Mané
Cuja vida se aplica em ser do lar
Às seis horas da manhã estará de pé
Para não engordar, ela come pouco
Pura satisfação de um passarinho
Mas se entorna em água o que era vinho
Meus ouvidos de ouvir vão ficando roucos
Se ela não come, a fúria toma lugar
Se preparo a comida, ela diz que não
Se tem papos de anjo, ela quer manjar
Se ofereço, ela diz que não faz questão
Vou botar a comida num alguidar
Para meu santo de maior devoção
Na esquina um despacho eu vou deitar
Em jejum vou pedir por nossa união
Amanhã quando o dia abrir janelas
Serei eu o motivo dos seus desejos
Pois café matinal não terá mazelas
Vou cobrir sua ira com os meus beijos
Essa ira é embira pra se amarrar
Essa birra é intriga de oposição
Esse papo não tem nem colher de chá
Vou fazer amor, essa é a refeição.
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