Minha senhora!
Dizem meus amigos que peco por timidez.
Aonde chego, chega meu corpo primeiro.
Quem vês primeiro é ele, de batedor; Eu mesmo sou pouco ligeiro, venho depois, pois sou carregado de amor.
Tenho sentimentos em excesso, interrogações em excesso, vivo na marra, e tenho poesia na verve ordinária!
Trago depois do corpo, todas as cores da vida, pinturas de toda história nele contida; Todos os lugares, todas as doses dos bares, todos os dissabores nos copos do caos que ingeri.
Venho de tantos os abraços desatados, aonde todos os vãos da paixão viraram mormaço. Unidos pelo cansaço, todos os laços, todos os beijos devaços, desavisados e degenerados, toda desilusão safada, que sai derramada de dentro da gente e acaba ficando no relatório sentimental de tudo que foi certeza um dia.
São tatuagens invisíveis a olhos nus. Trago também lonjuras no olhar, distâncias transparentes, alem de muitas, muitas saudades sem valor.
Para não magoar tuas verdades, por isso é que ando devagar, para que ela a vida, me encarregue agora do nosso tempo; Que sei tão breve, tão físico de curvas, lânguido e líquido, lisérgico e casto de amarguras tolas.
Para que ela , a vida, traga-nos o seu grito, eu venho depois do meu corpo de granito, entornado em ato incontrito tornado leve, ao contato úmido do teu calor.
Mas minha senhora!
Como podes ver, estar com o meu corpo apenas, não é estar comigo inteiro.
De meu tens à hora só as armas do guerreiro, de meu tens um trailer de carne, e pele, e acasos. Eu mesmo não sou cotidiano nem de mim.
Ficamos assim:
Para estar comigo inteiro tens que passar da indiferença morna dos teus dias. Tens que gostar de amar na madrugada e dormir pelas manhãs. Tens que rasgar as tardes trêmulas dos teus medos. Tens que passear em segredos com o prazer pela clave incerta do poeta, esse homem deselegante de olhar palavras no que nelas há de incorreto.
Viver é mesmo assim, não tem garantias.
Viver é consumar riscos de busca à uma felicidade a saber.
É o enigma de um desejo anterior; Ao largo disso então, é que vai sugerir o nosso amor. Fora isso eu não fico, eu vou.
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