Samba- Di Cavalcante 1925
O Samba tinha negritude.
O Samba tinha sol na saia
das femininas virtudes,
também de chapéu de palha.
No brilho a pele morena,
bem antes era toda nua,
o Samba ganhou a cena
nas roupas alvas e cruas.
O Samba era brasileiro
de corpos tão elegantes.
Pierrete veio primeiro,
22 e modernizante.
Antecedeu ao Pierrô,
sem ser menos importante.
Só depois Di Cavalcante
no Samba pôs azul cor.
Havia-lhe um sol maneiro,
pictórico no sabor,
tão mulato, tão inteiro,
cheirando a trabalhador.
À direita um violeiro,
ao fundo um estivador,
dois corpos luzem brejeiros,
são duas mulatas em flor.
Os homens sentados fitam
o que hoje é uma tristeza.
Fumaças ao fundo ditam
o destino dessa riqueza.
Queimada na intimidade
das coleções de cultura,
a irônica privacidade
do patrimônio é a clausura.
Na fuligem, no braseiro,
o azul virou fumaça.
Arquiva a Barata Ribeiro
mais uma ode à desgraça.
Perde um povo em ignorância,
as referências de laia.
nas paredes dessa instância
a relevância desmaia.
O Brasil perde altaneiro
mais uma peça notória.
Num destino traiçoeiro
O Samba virou memória
Do outro lado da praça,
quase de frente ao Metrô.
distante do olhar da massa.
a arte se suicidou.
Um comentário:
Adorei!!!!!!!
Texto muito bem escrito, atual e lindíssimo.
Grande poeta,
Maria
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